Aula4 OBJETO(S) E MÉTODO(S), TRADIÇÕES CLÁSSICAS E ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS EM GEOGRAFIA. Rosana de Oliveira Santos Batista

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Aula4 OBJETO(S) E MÉTODO(S), TRADIÇÕES CLÁSSICAS E ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS EM GEOGRAFIA META Compreender a epistemologia da ciência geográfica desde a Modernidade OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: Refl etir o conceito de Modernidade; Discutir a geografia clássica no contexto de sua consolidação enquanto ciência; Destacar os objetos e métodos da ciência geográfi ca. Rosana de Oliveira Santos Batista

Teoria e Método da Geografia INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a), nesta aula veremos os processos que contribuíram com a formação do pensamento científico geográfico instaurado na modernidade. Nossa preocupação está atrelada aos objetos e métodos instaurados do período pré-científico aos dias atuais. OBJETOS E MÉTODOS: AS CONTRIBUIÇÕES AO PENSAMENTO GEOGRÁFICO O período pré-científico, no sentido da ciência geográfica, corresponde aos saberem desprovidos de sistematização e organização metodológicas produzidas pelos homens até a consolidação científica. Andrade (1987) considera que os povos que viviam na pré-história já desenvolviam conhecimentos que podem ser considerados geográficos. O autor cita como exemplo os Quéchuas na América Andina que possuíam a noção de orientação, visto que as estradas em direção a capital possuíam quatro pontos cardeais. Mediante o processo de desenvolvimento humano observou-se várias contribuições ao pensamento científico, a partir do século XVI. Dentre as principais contribuiçõesobservamos a medição do espaço, o estudo da física na superfície terrestre e, ainda, a discussão dos aspectos físico-espaciais. Durante os séculos XV e XVI destacam-se estudos ou relatos de viagens que sistematizavam fenômenos naturais e elaborações de mapas. Aos conhecimentos considerados geográficos estava fragmentados e desorganizados, cabendo a filosofia, a matemática e a física as discussões e debates pertinentes a organização científica que vai ocorrer somente a partir do século XIX. De acordo com Santos (1992), os fundamentos filosóficos-geográfico, no momento de sua construção científica,vai utilizara teoria do conhecimento de vários filósofos; a saber:r. Descartes, I. Kant, C. Darwin, A. Comte, F. Hegel e K. Marx, J.J. Rousseau.Assim, o rigor a ciência que estava surgindo deriva das várias observações, suposições, experimentações, etinha como ponto de chegada; definir os fenômenos estudados a fatos e formulações, mediante leis universais. O constructo do pensamento cientificoteve o desenvolvimento de modelos explicativos como base para se pensar a realidade, combinando os procedimentos racionalistas e empiristas e, acrescentando a ideia de conhecimento aproximativo e corrigível. Das inúmeras classificações propostas e utilizadas até o século XIX, os critérios dos cientistas franceses e alemães foram os mais utilizados. Baseando-se em três critérios, a saber: tipo de objeto, tipo de método empregado e tipo de resultado obtido. Assim, foram aplicadas simplificações feitas sobre várias classificações resultando 38

Objeto(s) e método(s), tradições clássicas e abordagens... Aula 4 em: ciências matemáticas ou lógica matemáticas, ciências naturais, ciências humanas e ciências aplicadas. O pensamento científico moderno tem como ponto principal esclarecer a fonte do verdadeiro conhecimento. Inúmeras teorias surgem para ler de forma diferenciada o objeto e o sujeito do conhecimento. Dentre as principais contribuições filosóficas a ciência geográfica observa-se os pensamentos de: Bacon, Descartes, Comte e Marx, que delinearam os principais objetos e métodos.francis Bacon, que trás em evidência do método indutivo, que utiliza os sentidos enquanto verdadeira fonte de conhecimento. R. Descartes tem como principal contribuição o racionalismo na relação sujeito-objeto. Outras contribuições surgiram no século XIX coma. Comte e K. Marx, os principais percussores das novas formas de ler a relaçãosociedadeespaço; a partir dos objetos e métodos científicos, que foram relevantes ao pensamento geográfico e o processo de institucionalização das ciências. FORMAÇÃO DOS OBJETOS E MÉTODOS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA A geografia Clássica surge como o projeto da revolução burguesa. Para Lacoste (2006), a geografia moderna no formato de base que conhecemos surge nas mãos do filósofo I. Kant. O filósofo iluminista preocupava-se com o estado degenerativo que se encontrava a filosofia e os avanços científicos desde o século XVIII. Esse avanço ocorre no campo da interpretação da natureza ao mesmo tempo mediante as investigações da astronomia copernicana e da física de Galileu e Newton.Kant buscou uma combinação sistemática do conhecimento no plano da natureza e numa incorporação do homem em seu discurso. Nesse sentido, seria necessário pensar o homem e a natureza nos planos empíricos e filosóficos, tendo como ponto de apoio a geografia e a história, já que a primeira vai buscar os conhecimentos empíricos concernentes à natureza e a história ao ser humano. Andrade (1993) salienta que no pensamento kantiano a geografia constitui um agregado de conhecimentos empíricos de todos os âmbitos, organizados em grupos de classificação, uma taxonomia do mundo físico, no sentido aristotélico do termo. O espaço geográfico em Kant é um dado a priori da percepção, um plano de tensão geométrica preexistente do olhar humano que já faz o fenômeno vir a percepção humana, ordenado nos parâmetros de uma ordem espacial. Nessa direção, a geografia surge no sentido de localização e distribuição, que foram utilizados no aperfeiçoamento da representação cartográfica, através da combinação: percepção sensível e precisão matemática.(santos, 2002). A primeira tarefa da geografia moderna foi o ajuste do conhecimento as exigências do discurso científico. Na modernidade, Kant analisou a relação tempo-espaço e Darwin apresentou a seleção natural que impactou 39

Teoria e Método da Geografia profundamente as ciências naturais. Augusto Comte elaborou o positivismo, Hegel o idealismo e K. Marx o materialismo histórico e dialético. Esses conhecimentos teórico-científicosforam o suporte ao desenvolvimento da ciência Geográfica na leitura da produção do espaço. A organização da geografia como ciência parte das obras do alemão Alexander Von Humboldt e do filósofo e historiador Karl Ritter. (CAPEL, 2004). Humboldt um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da geografia moderna contribuiu com as pesquisas acerca do reconhecimento das áreas, a partir da relação e causas genéticas comuns entre as paisagens em suas viagens pelo mundo durante os séculos XVIII e XIX. (CAPEL, 2004). Karl Ritte contribuiu de forma relevante aos estudos geográficos. Entre suas contribuições está o princípio essencial da geografia, calcado nos fenômenos e formas da natureza e sua relação com o homem. Assim, as contribuições de Humboldt e Ritter, foram decisivaspara o estabelecimento da ciência geográfica, que terá como base método e técnicas de abordagem positivista, quese restringiu apenas ao fenômeno visível, ao mensurável e palpável. Andrade (1987) explica que o surgimento da geografia como ciência sob nas bases positivistas deve-se,dentre outros fatores, as condições culturais, econômicas e políticas instauradas no século XIX. O surgimento desta ciência vai está relacionado ao processo imperialista e expansionista das potências europeias desse século. Já que a ciência tinha a preocupação de atender aos anseios capitalistas, voltados a expansão territorial e comercial. Assim, com grande apoio do Estado e do Capital, foram efetivados centros de pesquisa. (SANTOS, 2002). Nesse contexto, o determinismo ambiental foi o primeiro paradigma a caracterizar a geografia no século XIX, como explicativa expansionista da Europa nos continentes asiático e africano. As ideias deterministas, que tem por fundamento a interferência das condições naturais no comportamento humano, tiveram como precursor na ciência geográfica F. Ratzel. No pensamento geográfico clássico surgem ainda mais duas formas de observação dos fenômenos geográficos: oprimeiro está no pensamento possibilista com Vidal de La Blache, que define o objeto de estudo da geografia a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Nesse pensamento, o ser humano deve ser compreendido como ser ativo que sofre influencia do meio, mas atua sobre este, transformando-o. Osegundo foi o método regional, que busca a integração entre fenômenos heterogêneos em seções do espaço terrestre, apresentando-se como áreas de integração. Assim, temos inicialmente o determinismo, o possibilismo e o método regional, enquanto formas de ler os fenômenos geográficos no século XIX. Contemporâneo de Vidal de La Blache está ElisèeReclus, outro geógrafo, que vai contribuir com a discussão dos objetos e métodos nascentes. A geografia para Reclus é a forma pelo qual o homem ter a compreensão da natureza, bem como a história humana. O homem é a natureza tomando consciência de si própria afirma Reclus (RECLUS, 2010, p. 27). 40

Objeto(s) e método(s), tradições clássicas e abordagens... Aula 4 Com efeito, a geografia inicia com a tarefa fundamental de retomar a coerência que possa exprimir e explicar todas as causalidades, além de analisar os fenômenos terrestres e manifestações fenomenais; estabelecendo a relação lógica entre o todo e suas partes. Correa (2003) afirma que, o método regional que surge na geografia norte-americana buscou a integração entre os fenômenos heterogêneos nas seções do espaço geográfico, enquanto áreas de integração. Após a segunda guerra mundial inicia-se um movimento de renovação que advém do rompimento de grande parte dos geógrafos com os paradigmas da geografia Clássica. A Nova Geografia surge através da quantificação e da abordagem sistêmica. De acordo com Santos(1994), a quantificação ocorreu em razão da procura de uma linguagem matemática para dar cientificidade a geografia. A geografia quantitativa se caracterizou pelo maior rigor na aplicação metodológica, embasado no positivismo lógico e neopositivista com suas técnicas estatísticas e matemáticas, na abordagem sistêmica e no uso de modelos. A partir da segunda metade do século XX essa nova forma de ler os fenômenos da ciência geográfica é questionada pela geografia de abordagem crítica, a qual tem como método de análise principal o materialismo histórico e dialético, elaborado pelos filósofos F. Engels e K. Marx.A geografia crítica vai buscar o entendimento das contradições inerentes ao sistema capitalista de produção e as divisões de classe social. Outra contribuição metódica da ciência geográfica é a análise da fenomenologia, a partir da filosofia de B. Hurssel, Merleau-Ponty e Heidegger. Este pensamento procura valorizar a experiência do indivíduo ou de um grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir as concepções categóricas de análise do espaço e do lugar.(santos, 1996). A geografia com abordagem cultural, inserida na vertente humanista, tem origem nos estudos sobre a paisagem, nas análises de Carl Sauer. Atualmente, a geografia tecnológica surge como um novo paradigma da ciência geográfica, que tem o ciberespaço vem no contexto das discussões geográficas. Mediada pela informática, objetiva apresentar uma visão espacial, a partir da incorporação de seus conceitos emétodos nos sistemas computacionais inclusos no interior a geotecnologias. CONCLUSÃO Conforme visto nesta aula, os processos que contribuíram com a formação da ciência geográfica, tiveram influência do pensamento científico instaurado desde a modernidade. A geografia Clássica vai ser fundamentada inicialmente pelos métodos indutivo de Bacon e dedutivo de Descartes, sobretudo, pela filosofia Kantiana. Após a institucionalização da geografia instauram-se outras formas de ler a relação sociedade-natureza. 41

Teoria e Método da Geografia Paradigmas são destacados no processo de desenvolvimento da geografia como ciência, a saber: o determinismo e o possibilismo com Ratzel e Vidal de La Blache, tornam-se fio condutor na leitura de mundo.contribuições metódicas surgem na geografia como o positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico e dialético, promovendo um desenvolvimento da ciência nos grandes centros de pesquisa, fortalecendo o poder dos Estados e o sistema capitalista. RESUMO As contribuições a ciência geográfica são impulsionadas a partir do pensamento científico moderno. A partir das discussões e formações do pensamento científico, que se inicia a formação do pensamento geográfico. Grosso modo, podemos afirmar que o naturalismo, o idealismo, o determinismo e o possibilismo surgem enquanto chave de entendimento da geografia enquanto ciência. Assim, a modernidade impulsionou o surgimento de vários métodos e técnicas de análise da relação sociedade-natureza e a geografia é o conhecimento útil ao desenvolvimento das sociedades nascentes, já que a localização seria crucial ao desenvolvimento dosestados, que seriamgrandes potências mundiais. ATIVIDADES Conceitue determinismo e possibilismo geográfico. Indique por que os dois conceitos foram relevantes ao desenvolvimento da geografia enquanto ciência. AUTOAVALIAÇÃO Depois de ter lido todo o conteúdo exposto nesta aula, você deverá ser capaz de selecionar quais os conceitos são passíveis de serem analisados, enquanto contribuição ao pensamento da ciência geográfica. 42

Objeto(s) e método(s), tradições clássicas e abordagens... Aula 4 PRÓXIMA AULA Na próxima aula, veremos os principais objetos e métodos da geografia humana e da geografia física. REFERÊNCIAS ANDRADE. M. C. de. Geografia Ciência e Sociedade. São Paulo: Ed. Atlas. 1987. ANDRADE, M. C, de. Uma Geografia Para o Séc. XXI. Recife: CEPE. 1993. CAPEL, Horacio. Filosofia y Ciência en la Geografia Contemporânea. Espanha: Barcanova, p. 245-509, 1981 CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. S.P.: Editora Ática, 2003. LACOSTE, Y. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema Político para os pesquisadores, estudantes e Cidadãos. Boletim paulista de geografia. S.P, 2006. LACOSTE, Yves. A Geografia - Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 3ª edição. Campinas: Papirus, 1993. SANTOS, M. Por Uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec. 1978. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. S. Paulo: Editora HUCITEC, 1996. 308 p.24 SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. 3ª ed. S. P. Editora HUCITEC, 1994. SANTOS, Milton. Espaço e Método. 3ª ed. São Paulo: Livros Studio Nobel, 1992. RECLUS, Élisée. Do Sentimento da Natureza nas Sociedades Modernas. São Paulo: Expressão e Arte: Ed. Imaginário, 2010. 43