ESCALA DE CONCEPÇÕES ACERCA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO ESPECIAL E SUA APLICAÇÃO EM PESQUISA Carla Cristina Marinho Sadao Omote Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, campus de Marília Eixo Temático: Pesquisa e inovação metodológica Agência Financiadora: CNPq Palavras-chave: Educação especial. Educação inclusiva. Concepções. Estudantes universitários. Escala de mensuração. 1 Introdução Para a compreensão do fenômeno psicossocial referente às concepções de estudantes de Pedagogia sobre Educação Inclusiva e Educação Especial considerou-se relevante a construção de um instrumento confiável de coleta de dados, os quais representassem o mais fielmente possível a realidade a ser investigada. Optou-se pela construção de um instrumento de mensuração de concepções sobre Educação Inclusiva e Educação Especial, visto que no Brasil inexistem instrumentos para esse fim, provavelmente em função da falta de tradição, no país, na construção de instrumentos padronizados de mensuração de fenômenos psicossociais disponibilizados para que outros pesquisadores os possam utilizar, em suas investigações (OMOTE, 2005). Inicialmente aventamos a elaboração de uma escala do tipo Likert por se tratar de um formato convencional e habitualmente utilizado para mensurar fenômenos psicossociais. Mas, em se tratando de objetos em relação aos quais há uma grande tendência a concordar ou discordar, como concepções de Educação Inclusiva ou Educação Especial, o formato de escala Likert demonstra-se inepto de realizar uma discriminação mais refinada entre concepções referentes a ambos os conceitos.
Dessa forma, em função da natureza do fenômeno que se pretendia investigar, teve-se que pensar e elaborar outro tipo de instrumento de mensuração com formato diferente do Likert. Para construir tal instrumento fez-se o seguinte questionamento: O que é necessário fazer para que entre as afirmações a respeito de diferentes concepções sobre Educação Inclusiva ou Educação Especial com as quais todo mundo tende a concordar, exista diferenciação que demonstre com qual o respondente concorda mais e da qual discorda mais? A alternativa encontrada foi adotar um formato de escala de escolha forçada ou que obriga o respondente a diferenciar os enunciados dos itens. O instrumento de mensuração elaborado foi intitulado de Escala de Concepções acerca de Educação Inclusiva e Educação Especial e o objetivo do presente relato é o de analisar, a partir dos dados coletados em estudo anterior, a capacidade de discriminação de concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial da referida escala. 2 Método Para a elaboração da Escala de Concepções acerca de Educação Inclusiva e Educação Especial convencionou-se adotar seis das dez categorias conceituais referentes à concepção de Educação Inclusiva e de Educação Especial, descritas no estudo de Fonseca-Janes (2010). Das seis categorias conceituais que foram adotadas, três são referentes à concepção de Educação Inclusiva e três são referentes à concepção de Educação Especial. As três categorias conceituais referentes à concepção de Educação Inclusiva compreendem: sinonímia com a expressão inclusão escolar, sinonímia com a expressão inclusão escolar de pessoas com deficiência e sinonímia com a expressão educação de qualidade. As três categorias conceituais referentes à concepção de Educação Especial compreendem: modalidade educacional específica, modalidade de ensino transversal e modalidade educacional excludente. A partir da definição das categorias que foram adotadas, iniciou-se o processo de elaboração dos enunciados. Para isto, foi realizado o levantamento bibliográfico e análise de documentos oficiais e publicações do Ministério da Educação e Cultura (MEC) da área da Educação Especial tendo também como respaldo a legislação acerca da educação. Foram elaborados 60 enunciados com conteúdos que representam as três categorias conceituais referentes à concepção de Educação Inclusiva e as três categorias conceituais referentes à
concepção de Educação Especial. Todos os enunciados elaborados foram analisados por juízes especialistas na área de Educação Especial e até que se alcançasse o índice de concordância igual ou acima de 80% entre os juízes e os pesquisadores, foram realizadas adequações e alterações consideradas necessárias em parte dos 60 enunciados. 3 Resultados e discussão A versão final da Escala de Concepções acerca de Educação Inclusiva e Educação Especial contêm 20 itens, sendo dez atinentes à concepção de Educação Inclusiva e dez atinentes à concepção de Educação Especial. Cada item é constituído por três enunciados com conteúdos que representam três categorias conceituais referentes à concepção de Educação Inclusiva ou de Educação Especial. Para cada um dos três enunciados de cada item, há um espaço entre parênteses para o respondente indicar com qual enunciado concorda em primeiro lugar, assinalando 1 no parênteses correspondente ao enunciado; em segundo lugar, assinalando 2 no parênteses correspondente ao enunciado; e em terceiro lugar, assinalando 3 no parênteses correspondente ao enunciado. Caso o respondente discorde do conteúdo do enunciado deve assinalar com a letra D no parênteses correspondente ao enunciado. As respostas indicam o grau de concordância com o conteúdo de cada um dos três enunciados do item. Ressalta-se que o formato de escala construído para a mensuração de concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial propõe de maneira inusitada a escolha forçada dos enunciados, uma vez que toda e qualquer escala possui um único enunciado para cada item. Nesse formato de escala, o respondente pode concordar com os três enunciados do item, mas tem que indicar com qual concorda em primeiro lugar, segundo lugar e em terceiro lugar fazendo com que a diferença mínima que poderia ser encontrada em uma escala de formato Likert, seja ampliada em função do formato da escala de escolha forçada. A vantagem em adotar esse procedimento metodológico está em talvez poder analisar melhor a diferença entre uma concepção e outra possibilitando a afirmação mais segura sobre qual é a concepção de Educação Inclusiva ou de Educação Especial de um sujeito ou grupo de sujeitos, visto que o escore pode ser suficientemente diferente. Mas, isso apenas pode ser afirmado mediante a análise de dados coletados por intermédio da aplicação da Escala de Concepções acerca de Educação Inclusiva e Educação Especial.
Tal aplicação em estudo anterior (MARINHO, 2013) demonstrou, por intermédio dos resultados, indicativos relevantes em relação à capacidade discriminativa do instrumento de mensuração. Caso a escala aplicada fosse de formato Likert, embora houvesse diferença entre uma concepção ou outra, eventualmente em nível de escore calculado poderia não ter diferença nenhuma. Os resultados da comparação intragrupal das três concepções de Educação Inclusiva e das três concepções de Educação Especial mantidas por estudantes do 4º ano de Pedagogia da UNESP de Marília, pertencentes a três grupos de aprofundamentos, quais sejam, aprofundamento em Educação Infantil, aprofundamento em Educação Especial e aprofundamento em Gestão em Educação mostraram que, em cada um dos grupos investigados, foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as três concepções de Educação Inclusiva e as três de Educação Especial (p<0,05) (MARINHO, 2013). Isso significa que o instrumento foi capaz de estabelecer distinção entre uma concepção e outra. Nos três grupos de estudantes do 4º ano de Pedagogia, houve concentração em torno de uma determinada concepção de Educação Inclusiva e de Educação Especial. Em todos os grupos investigados a síntese dos escores sugeriu que tal concentração apresentou-se maior em torno da categoria conceitual referente a concepção de Educação Inclusiva como sinonímia da expressão educação de qualidade e da categoria conceitual referente a concepção de Educação Especial como modalidade de ensino transversal. Não se pode afirmar conclusivamente que o instrumento cumpriu sua função no sentido de discriminar aquilo que é pouco discriminável, pois mesmo as diferenças significantes encontradas não permitem atestar que esse formato é mais sensível que o formato Likert, no que diz respeito à capacidade de discriminação de concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial. Essas diferenças talvez também fossem identificadas com a aplicação do instrumento de formato Likert. 4 Considerações finais Na busca por respostas para o questionamento sobre o que é necessário fazer para que entre as afirmações a respeito de diferentes concepções sobre Educação Inclusiva ou Educação Especial com as quais todo mundo tende a concordar, exista diferenciação que demonstre com qual o respondente concorda mais e com qual discorda mais acentuadamente, construiu-se um
instrumento de mensuração em formato de escolha forçada intitulada Escala de Concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial. A descrição dos procedimentos metodológicos adotados no processo de construção da escala para superar a restrição metodológica apontada inicialmente sobre o formato Likert de instrumento de mensuração de fenômenos psicossociais como concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial, bem como os resultados de sua aplicação em pesquisa podem trazer significativas contribuições para a construção de conhecimento científico na área de Educação Especial. Já vislumbrando futuras pesquisas, pensa-se que outra possibilidade para tentar solucionar metodologicamente o questionamento inicialmente realizado poderia ser a realização de pesquisa comparando a escala construída com outra no formato Likert. Para tanto, os mesmos itens que compõem a Escala de Concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial em formato de escala de escolha forçada devem compor uma escala de formato Likert. Ambas poderiam ser aplicadas a duas amostras equivalentes para que os resultados obtidos pudessem ser comparados. Dessa forma, se teria evidências empíricas sobre a capacidade de discriminação de concepções de Educação Inclusiva e Educação Especial por parte dos dois formatos de instrumento. Referências FONSECA-JANES, C. R. X. A formação dos estudantes de pedagogia para a educação inclusiva: estudo das atitudes sociais e do currículo. 2010. 269f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010. MARINHO, C.C. Concepções de estudantes de Pedagogia acerca de educação inclusiva e educação especial. 164f. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2013. OMOTE, S. A construção de uma escala de atitudes sociais em relação à inclusão: notas preliminares. Revista Brasileira de Educação Especial, v.11, n.1, p. 33-38, 2005.