Evolução Recente das Contas Públicas no Brasil e Impactos sobre os Municípios. - Prof. Claudio Burian Wanderley-

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Transcrição:

Evolução Recente das Contas Públicas no Brasil e Impactos sobre os Municípios - Prof. Claudio Burian Wanderley-

Questão relevante para entender o caso brasileiro: Teorema do eleitor mediano. Países democráticos e desiguais tendem a apresentar grandes programas públicos redistributivos. Governo tende a tributar pequena parcela da população para beneficiar ampla parcela desta (faz isto para ganhar votos). Políticas assistenciais e redistributivas no Brasil são fortemente crescentes desde a redemocratização. Isto implicou também em crescente carga tributária no país desde 1988.

Pontos básicos a serem detalhados: Forte crescimento da China na primeira década do novo milênio alavancou fortemente o crescimento brasileiro. Combinação virtuosa entre ajuste das contas públicas e reformas microeconômicas (iniciadas na década de 90 e mantidas no novo milênio) permitem ao país aproveitar fortemente esta bonança internacional.

Crescimento do produto faz receitas públicas crescerem fortemente. Possível aumentar gastos sociais e implementar ajuste fiscal. Reversão da bonança internacional compromete crescimento econômico. Volta à forte intervenção na esfera econômica compromete também o crescimento do produto potencial. Diminuição do crescimento impacta receitas públicas e compromete ajuste citado (despesas continuam crescendo). Erros na condução da política econômica federal agravam ainda mais este quadro.

Produto, população e produto per capita, Brasil e Minas Gerais, 2000-2012

Quadro muda a partir de 2011 (taxa de crescimento médio real, 2011-2014)

Déficit nominal do Brasil em percentual do PIB

Superávit primário do governo federal como percentual do PIB

Três problemas graves relativos às contas públicas federais: Contabilidade criativa relacionada aos empréstimos feitos aos bancos públicos federais. Permite ampliação da dívida bruta ao mesmo tempo que diminui a dívida líquida. Subsídios relativos aos empréstimos fornecidos pelos bancos oficiais aumentam a taxa de juros implícita da dívida pública federal.

Dívida dos bancos públicos junto ao tesouro nacional

Subsídios concedidos em diversos programas só são contabilizados no efetivo momento que estes seriam pagos. Problema se concentra em três programas, MCMV, FIES e PSI. Garante forte aumento dos gastos públicos no futuro (mesmo que estes programas sejam descontinuados).

Volume (bilhões) de empréstimos do BNDES passível de receberem subsídios públicos

Gastos anuais com o FIES

Investimento público federal com o MCMV

Investimento público federal sem o MCMV

Caso de Minas Gerais é bem parecido com o restante do país. Forte crescimento das receitas permite ajuste das contas públicas (ocorre também esforço fiscal). Investimentos estaduais crescem muito com ajuste fiscal. Estado bastante endividado no novo milênio. Ajuste fiscal e crescimento das receitas e do produto permitem forte melhoria nos indicadores da dívida. Estado troca dívida interna (mais cara) por dívida externa (mais barata). Desvalorização do real piora o endividamento do estado. Desaceleração do crescimento nos últimos anos deteriora a situação fiscal do estado.

Proporção de déficits ou superávits nas receitas estaduais

Relação dívidas estaduais/receitas estaduais

Relação dívida estadual/produto estadual

Novos endividamentos estaduais (totais e externos), Minas Gerais e Brasil

Investimentos públicos estaduais

Finanças públicas municipais dos municípios mineiros no novo milênio: Produto municipal per capita em Minas Gerais no novo milênio não converge. Este se tornou mais desigual a partir de 2000. As contas públicas municipais per capita, por sua vez, apresentam resultado inverso estas convergem (distribuição fica menos desigual). Alíquotas efetivas destas contas divergem, porém. Do lado das receitas, é claro o esforço arrecadatório empreendido pelos municípios mais pobres. O FPM também ajuda neste processo, mas seu peso é pequeno. Do lado das despesas, a assimetria existente também é pequena (e cadente). Maioria das desigualdades observadas são geradas internamente nas regiões mineiras e não entre estas.

180 Produto local per capita, MG=100, Regiões de planejamento mineiras, 2000-2011 160 140 120 100 80 60 40 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Central Mata Sul de Minas Triângulo Alto Paranaíba Centro-Oeste de Minas Noroeste de Minas Norte Jequitinhonha/Mucuri Rio Doce

Receitas municipais: Bem melhor distribuídas que o produto municipal. Assimetria observada é fortemente determinada pela assimetria existente no produto per capita. Valores per capita convergem no período. Alíquota efetiva diverge. Diferenças intra-regionaisbem mais importantes aqui que na distribuição do produto per capita.

Principais receitas municipais: Tributos municipais: ITBI, ISSQN e IPTU. FPM: Fortemente redistributivo (critério básico é a população). Cota-parte do ICMS: Critério de distribuição básico é o VAF.

Receitas tributárias municipais: Tanto montantes per capita quanto alíquota efetiva convergem no período. Assimetrias existentes, de todo modo, são muito grandes (aumenta novamente a importância das diferenças interregionais). Forte crescimento do ISSQN no período. Este sai de 32% das receitas tributárias em 2000 para 43% em 2010. O IPTU diminui sua participação (de 30% para 24%) e o ITBI também aumenta a sua (de 8% para 11%).

Despesas municipais: Resultados bastante similares às receitas municipais (montante per capita convergente, alíquotas efetivas divergente; assimetrias fortemente explicadas pelas assimetrias existentes no produto per capita e assimetrias internas nas regiões bem maiores que aquelas entre as regiões). Gastos de capital seriam mais desiguais que gastos correntes. Ambos convergiram em seu montante per capita e divergiram em suas alíquotas efetivas.

Perspectivas para os municípios Situação ruim das contas federais e estaduais. Problemas relativos ao pagamento de mãode-obra (plano de cargos e salários muito generosos). Ajuste fiscal do governo federal sempre impacta estados e municípios (aumento de receitas não compartilhadas). Perspectivas econômicas não são boas.

Possibilidades para os municípios Inflação ajuda ajuste (aumento das receitas e inexistência de reajuste nas despesas). Apoio político para ampliação de receitas compartilhadas (reforma tributária). Forte desvalorização do real ajuda produtores de commodities (minério de ferro, soja entre outros). Forte aumento da gasolina e da energia alavanca arrecadação de ICMS.

Busca de maior qualificação na prefeitura (elaboração e prestação de contas de projetos). Expansão do ensino superior no estado ajuda (necessário fomentar Central de estágios). Melhoria de cadastros. Alavanca arrecadação de IPTU e ITBI. Melhoria de ambiente de negócios (identificar junto aos empresários locais as necessidades destes). Lei Robin Hood. Alavancagem da cota-parte do ICMS.

FIM (Obrigado)