ANÁLISE DAS RELAÇÕES RACIAIS NAS IMAGENS DE UM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO 5 ANO

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Transcrição:

ANÁLISE DAS RELAÇÕES RACIAIS NAS IMAGENS DE UM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO 5 ANO Flávia Carolina da Silva Universidade Federal do Paraná flavia1140@gmail.com Tânia Mara Pacífico Secretária de Educação do Paraná taniapacifico@hotmail.com As instituições educacionais estão imersas em nossa sociedade, portanto não estão isentas de serem submetidas a influências, sejam elas benéficas ou maléficas. Portanto as escolas não podem isentar se de trabalhar com as questões étnico raciais, pois cabe a elas formar cidadãos/ãs anti racistas (LOPES, 2005). Nesta direção nos anos recentes as instituições educacionais têm sido estimuladas a trabalhar com a educação para novas relações étnico raciais, bem como adquirirem subsídios para solucionar possíveis conflitos envolvendo o corpo discente e docente. Este fato ocorre, principalmente, a partir da modificação do artigo 26 A da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) alterado através da implementação da Lei nº 10.639/03 e Lei nº 11645/08, que inclui conteúdos referentes à história e cultura africana, afro brasileira e indígena, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1

nos currículos educacionais. Visando ampliar os saberes dos/as alunos/as e minimizar as disparidades raciais existentes nos contextos sociais. Entretanto as discriminações raciais, no contexto escolar, vão além do silenciamento dos currículos, das ações discriminatórias e das práticas racistas, pois elas estão presentes também nos livros didáticos, afinal este material tornou se uma das ferramentas principais de ensino, orientação e de apoio para os/as professores/as. Tratando se de um material midiático no sentido de discursos que atingem amplas parcelas da população (SILVA, 2008), o livro didático tende a difundir discursos ideológicos na direção de fornecer subsídios para a sobreposição de um grupo sobre o outro. Nesta mesma direção, os livros didáticos tendem a contribuir para propagar os efeitos do racismo, ou seja, disseminando os e não minimizando os, como o esperado. Este pode aparecer de maneira explícita, estereotipada, ou através do silenciamento, tendo em vista que pesquisas (SILVA, 2008; PACIFICO, 2011) apontam que o número de personagens brancos/as, e notoriamente maior quando comparado com o os/as personagens negros/as. Este fato pode transmitir a branquidade normativa, cujo ideal branco é normalizado. O termo raça, neste trabalho, teve uma conotação social, tendo em vista que é incorreto o emprego desta terminologia no sentido biológico. De acordo com Silva Junior e Rogério Silva (2010) [as] variações biofisiológicas na espécie humana limitam se ao plano da aparência física [...] e decorrem de necessidades orgânicas (condições ambientais ou climáticas, proteção dos raios solares) (2010, p. 55). Objetivo Nosso trabalho teve como intuído analisar as relações étnico raciais nas imagens de um livro didático do Programa Nacional Livro Didático (PNLD) de Português do 5 ano do Ensino Fundamental para verificar a presença ou não de hierarquias raciais e possíveis disparidades entre as representações étnico raciais nas imagens 1. 1 Para este trabalho em específico, não foi considerados os personagens das vinhetas. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2

Metodologia O livro escolhido para ser investigado foi do 5 ano do Ensino Fundamental, pertence à coleção Projeto Buriti da editora Moderna e está na sua segunda edição, sendo 2011 a data da sua última publicação. A coleção é composta por obras de outras disciplinas dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Analisamos o livro didático e contabilizamos, assim como classificamos os/as personagens, recorremos à metodologia de análise aplicada por Paulo Vinícius Baptista da Silva (2005). Para tanto, foi necessário utilizar o programa Excel para registrar e arquivar as informações e na sequência usamos o Statistical Package for Social Sciences (S.P.S.S.) para que os dados mais precisos fossem gerados a fim de realizar análises mais aprimoradas e qualitativas. Nesta direção utilizamos algumas categorias presentes no Manual colocar nome completo de Silva (2005) para nortear nosso trabalho, são elas: Natureza; Individualidade; Sexo; Cor etnia; Idade/etapa da vida; Nome; Relação de Parentesco; Tipo de ilustração e Atividade escolar. Foram considerados personagens todos/as aqueles/as que possuíam, de alguma forma, traços humanísticos ou eram elementos antropomorfizados. As imagens que continham seis ou mais personagens foram consideradas e classificadas como grupo. Na categoria cor utilizamos sete sub categorias sendo elas: branco, preto, pardo, indígena, amarelo, grupo multiétnico e outros sendo que este ultimo não foi utilizado, pelo fato dos personagens terem sido enquadrados nas demais categorias. Cabe ressaltar que consideramos pretos/as todos/as aqueles que possuem características fenotípicas afro brasileiro/a e/ou africanos/as, com cabelos crespos e tom de pele escura. Os/as personagens pardos também possuíam características fenotípicas negras, porem a tonalidade da pele é mais clara quando comparada com os/as personagens pretos/as. Há de se advertir, que o Movimento Social Negro considera negro/a todos/as os/as eu correspondem às categorias de pretos/as e pardos/as. As imagens são ferramentas com as quais as crianças estabelecem identificações, sendo assim os materiais didáticos poderiam contemplar, de maneira positiva, a X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3

diversidade étnica racial para cumprir não só as determinações legais da Lei LDB, art. 26 A (alterado pela Lei 10639/03) e do Edital do PNLD, mas também oportunizar, através das imagens, que todas as crianças pudessem se identificar nas ilustrações das obras didáticas, contribuindo assim para uma construção positiva da identidade dos/as pequenos/as estudantes. Após debruçarmos sobre as relações entre negros/as e brancos/as no livro didático, averiguamos uma nítida ausência ou, sub representação, da população negra nas imagens. Como pode ser visto na Tabela 1 dos/as 300 personagens identificados 164 foram classificados como brancos/as e 20 como negros/as, sendo 3 personagens pretos/as e 17 como pardos/as. Tabela 1: Distribuição de personagens por cor/raça no livro didático Personagens Número de Personagens Brancos/as 164 Negros/as (Pretos/as e pardos/as) 20 Amarelo/a 3 Indígenas 3 Total de personagens 300 Fonte: Elaborada pela autora. Os dados representam uma taxa de branquidade alta, pois para cada negro/a há 8,2 brancos/as. Ao realizarmos a comparação com a pesquisa realizada por Silva (2005), constatamos que houve uma redução numérica da taxa de branquidade, porém mantevese elevada. A taxa de branquidade no livro analisado é bastante superior à do último período analisado por Silva (11 livros publicados entre 1996 e 2003) que foi de 3,9; também ao X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4

resultado de Santos (2012) que observou taxa de branquidade de 2,9 em ilustrações de livros didáticos de Geografia. Significa que esse livro em específico apresentou a subrepresentação de personagens negros em grau bem mais elevado que a média das amostras de outros estudos. Outro ponto que merece análise é a presença de personagens classificados como pardos/as (17) em número muito mais alto que os classificados como pretos/as (3). Nos discursos de diversos meios midiáticos (SILVA e ROSEMBERG, 2008) os personagens pardos ou representantes da miscigenação brasileira eram, contraditoriamente ao discurso da mestiçagem, raros, em números geralmente inferiores aos brancos. Araújo (2004) considera que o pardo na telenovela brasileira representava um não lugar. Parece interessante observar uma mudança nesse sentido, com os personagens pardos passando a existir com maior frequência nos discursos deste livro mas continuaram inferiores aos brancos e superiores aos pretos, ou seja, o discurso da mestiçagem por meio da imagem está mantido. Por outro lado, esse número de personagens pardos em maior proporção significa a ausência quase total de personagens pretos/as. Para além desta constatação, identificamos também que os/as negros/as tiveram pouca representatividade em relação às imagens que remetiam ao estudo, sustentando a falsa ideia de que o/a negro/a é desprovido de inteligência, cabendo ao branco/a, portanto ser o detentor/a do saber e instruir os menos favorecidos, nessa situação temse ainda o/a branco/a como o/a salvador/a. Essa disparidade existente entre cor/raça e escolaridade foi detectada e pode ser visualizada na Tabela 2. Tabela 2 Distribuição de cor etnia, dos personagens, por atividade escolar. Desempenh a atividade escolar ATIVIDADE ESCOLAR Não desempenha atividade escolar Total Branco 21 141 2 164 Preto 0 3 0 3 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5

COR ETNIA Pardo 4 12 1 17 Indígena 1 2 0 3 Amarelo/a 2 1 0 3 Grupo Multiétnico 0 0 3 3 Indeterminad o 4 102 0 106 Total 32 261 6 299 Fonte: Elaborada pela autora. A discrepância étnico racial presente no universo midiático, via de regra, tende a colocar o/a branco/a para representar: profissões valorizadas socialmente; situações econômicas favoráveis; atitude que remete a inteligência ; famílias compostas por pai mãe e filhos/as; alunos/as, do ensino básico ou superior, com comportamento exemplar e com boas notas. Cabe ressaltar que o modelo imposto pela mídia é a estética branca, beneficiando os/as que de fato são brancos e incentivando, por vezes, aqueles/as, que não são brancos/as, a rejeitarem seu pertencimento étnico racial para adotarem tal padrão de beleza. Enquanto o/a branco/a é enaltecido/a, o/a negro/a, via de regra, é colocado em posições subalternas, ocupando profissões com menos valorizadas em sua situação econômica desfavorável, assim como seu local de moradia, possui baixo prestígio social quando comparado com o/a branco/a e por vezes é retratado em situações que remetem a violência. Essa valorização dos indivíduos brancos e a situação subalterna dos/as negros/as é algo que está naturalizado, e o/a branco/a é tipo tido como norma. Conclusão A partir da análise dos dados, é possível constatar que o livro didático investigado tende a reproduzir a branquidade normativa tento em vista o expressivo número de personagens brancos/as representados/as e a forma positiva como aparecem. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6

A disparidade entre a representatividade nos aponta uma normatização da condição do/a branco/a, que está enraizada na sociedade, e esteve presente no livro. Ter o/a branco/a como norma tende a contribuir para a propagação do racismo, tendo em vista que as pessoas dos demais pertencimentos étnico raciais poderão sentir se inferiores em relação à imposição do/a branco/a, pois este/a é colocado/a em posições de superioridade social, intelectual, de poder e econômica. Referências Bibliográficas BRASIL. Presidência da República. Lei n 9394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. BRASIL, Lei n. 10.639. Inclui a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro Brasileira no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 2003. BRASIL. Parecer n 03, de 10 de março de 2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro Brasileira e Africana. PACIFICO,T. M. Relações Raciais no Livro Didático Público do Paraná. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Paraná, 2011. LOPES, V. N. Racismo, preconceito e discriminação. In: MUNANGA, K. (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. p.185 200. SANTOS, W. O. Relações raciais, programa do livro didático (PNLD) e livros didáticos de geografia. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Paraná, 2012. SILVA, P. V. B. Relações raciais em livros didáticos de Língua Portuguesa. Tese (doutorado) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. Está com 1,5. Racismo em livros didáticos: estudo sobre negros e brancos em livros de Língua Portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008a. (Coleção Cultura Negra e Identidades).. Rosemberg, F. Brasil: lugares de negros e brancos na mídia. São Paulo: Contexto, p. 73 117. 2008. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7