LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES QUE ATUAM NA EDUCAÇÃO DE POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA

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Transcrição:

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES QUE ATUAM NA EDUCAÇÃO DE POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA Jenijunio dos Santos UNB jenijunio@hotmail.com Monica Castagna Molina UNB mcastagnamolina@gmail.com Eixo 7: Educação Superior do Campo na Expansão da Educação Superior Resumo: O artigo em questão é o resultado da intenção de uma pesquisa que irá analisar o curso de Licenciatura em Educação do Campo no que se refere aos seus desafios e potencialidades na formação de educadores que atuam junto à população ribeirinha da Amazônia. O estudo focará as três dimensões dessa licenciatura: a docência por área de conhecimento, a gestão de processos educativos escolares e gestão de processos educativos comunitários. O método a ser usado na pesquisa será o Materialismo Histórico-Dialético, com o suporte das técnicas da pesquisa documental e a entrevista semi-estruturada. Concluída a fase das entrevistas assim como a coleta de dados, terá início as análises do material recolhido usando a técnica da análise de conteúdo. Espera-se que essa pesquisa possa contribuir com as análises da expansão das Licenciaturas em Educação do campo principalmente entre as populações ribeirinhas da Amazônia. Palavras-Chaves: Educação do Campo Licenciatura em Educação do Campo Formação de Professores Política de Educação - Populações Ribeirinhas. Introdução O artigo em questão é o resultado da intenção de uma pesquisa que irá analisar o curso de Licenciatura em Educação do Campo no que se refere aos seus desafios e potencialidades na formação de educadores que atuam junto à população ribeirinha da Amazônia. A referida pesquisa será desenvolvida no âmbito do Curso de doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação Ambiental e Educação do Campo, da Universidade de Brasília. Pesquisar a Educação do Campo e sua licenciatura na perspectiva de entender os desafios e potencialidades da formação de professores que irão atuar com populações ribeirinhas significa desenvolver um trabalho de pesquisa no âmbito da contra-hegemônia, a medida que esta população historicamente só tem acesso a uma educação que lhes impõe um currículo descontextualizada e que não ajuda na sua emancipação. Contrariando essa realidade é que situa-se a Licenciatura da Educação do Campo. Na execução desta licenciatura, deve-se partir da compreensão da necessária vinculação da Educação do Campo com o mundo da vida dos sujeitos envolvidos nos processos formativos. O processo de reprodução social destes sujeitos e de suas Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1781

famílias ou seja, suas condições de vida, trabalho e cultura não podem ser subsumidas numa visão de educação que se reduza à escolarização. A Educação do Campo compreende os processos culturais, as estratégias de socialização e as relações de trabalho vividas pelos sujeitos do campo, em suas lutas cotidianas para manter esta identidade, como elementos essenciais de seu processo formativo. (MOLINA; SÁ, 2012, p. 467) Nessa perspectiva é importante entender quem são esses sujeitos ribeirinhos e como se constitui a partir da sua produção material, pois os homens produzem indiretamente sua própria vida material (MARX; ENGELS, 2012, p. 87) em um território, aonde vai se constituindo sujeito com uma identidade e cultura própria. Portanto, é nessa relação que envolve a produção e o território (e nele o que existe) é que o ser humano vai se criando e recriando seu espaço. Nessa perspectiva entende-se que: Esse modo de produção não deve ser considerado meramente sob o aspecto de ser a produção da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua atividade, uma forma determinada de exteriorizar sua vida, um determinado modo de vida desses indivíduos. Tal como os indivíduos exteriorizam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, pois, com sua produção, tanto com o que produzem como também com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais e sua produção (MARX; ENGELS, 2012, p. 87). É assim que entendemos de que forma o ribeirinho tem se constituído enquanto sujeito Amazônida uma constituição que se dar na relação com o rio, a terra e a floresta, da qual emana a produção econômica, as relações com o ambiente, o sagrado e as relações sociais, estando assim, interligadas em uma rede de saberes pela qual ele cria e recria seu território. No contexto da atuação educacional junto à população ribeirinha na Amazônia paraense, destaca-se o Campus de Abaetetuba da Universidade Federal do Pará. campus, em 2005 desenvolveu um curso de formação de professores com atuação específica em comunidades ribeirinhas denominado pedagogia das águas. Em 2010 iniciou a primeira turma do Curso de Licenciatura em Educação do Campo destinada à formação de 60 (sessenta) professores e ou jovens da área rural, para atuarem na região do Baixo Tocantins, compreendendo cinco municípios: Abaetetuba, Acará, Barcarena, Igarapé-Miri e Moju. Esse O presente artigo foi estruturado em três itens: o primeiro apresentará o percurso metodológico da pesquisa; o segundo tratará da Educação do Campo na interface com as populações ribeirinhas; e por ultimo a Licenciatura em Educação do Campo no contexto ribeirinho. São alguns apontamentos preliminares à pesquisa anunciada, que tentará instigar algumas reflexões sobre a temática em pauta: Licenciatura em Educação do Campo: Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1782

desafios e potencialidades na formação de educadores que atuam n a educação de Populações Ribeirinhas da Amazônia. 1. O percurso metodológico a que se propõe a pesquisa A Licenciatura em Educação do Campo na sua gênese e experiência tem uma afinidade com os sujeitos que lutam e vivem da terra, no entanto na Amazônia essa licenciatura tem expandido aos sujeitos que tercem o seu cotidiano na relação com os rios e a floresta, ou seja, com os ribeirinhos. Nessa perspectiva há de se problematizar: as dimensões formativas da Licenciatura em Educação do Campo, responde as necessidades do educador que atua com populações ribeirinhas, nos aspectos pedagógicos e de entendimento do contexto político, social, cultural e econômico que essa população vive? Como essa Licenciatura contribui para o fortalecimento do modo de vida ribeirinho, na sua produção cultural e na organização social? Essa Licenciatura tem fortalecido os ribeirinhos para o enfrentamento dos conflitos oriundos pela questão das águas quem são envolvidos? Quanto aos objetivos da pesquisa, anuncia-se que o objetivo geral será investigar os desafios e potencialidades da Licenciatura em Educação do Campo na formação de educadores que atuam com educação de populações ribeirinhas, tendo como parâmetro as três dimensões dessa licenciatura: a docência por área de conhecimento, a gestão de processos educativos escolares e gestão de processos educativos comunitários. Já os objetivos específicos são três: Analisar as potencialidades da formação por área de conhecimento quanto a possibilidade de responder as necessidades da formação escolar dos estudantes das escolas ribeirinhas. Investigar os rebatimentos dessa formação na prática de gestores escolares egressos dessa licenciatura. Investigar de que forma as práticas dos professores egressos se tem fortalecido a organização comunitária das populações ribeirinhas. O método que dará conta da pesquisa aqui proposta será o Materialismo Histórico- Dialético por entender que é um método que permite uma apreensão radical (que vai à raiz) da realidade e, enquanto práxis, isto é, unidade de teoria e prática na busca da transformação e de novas sínteses no plano do conhecimento e no plano da realidade histórica (FRIGOTTO, 2010, p. 79). Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1783

Do ponto de vista propriamente operacional da pesquisa, será feito um estudo documental que possa elucidar algumas informações necessárias que possibilite conhecer o objeto de pesquisa de campo com egressos em seus diferentes locais de atuação pois: A pesquisa documental é parte integrante de qualquer pesquisa sistemática e precede ou acompanha os trabalhos de campo. Ela pode ser um aspecto dominante em trabalhos que visão mostrar situação atual de um assunto determinado ou intentam traçar a evolução histórica de um problema (CHIZOTTI, 2005, p. 18). Nesse trabalho, a pesquisa documental não será dominante, no entanto recorrer-se-á a ela para elucidar algumas informações durante a pesquisa de campo. Como elemento de suporte e contribuição aos processos investigativos da pesquisa, será recolhidas informações documentais (leis, decretos, resoluções, Projeto Político Pedagógico do curso, relatórios e outros) no Campus de Abaetetuba da UFPA, e nas Secretarias Municipal de Educação dos municípios que foram envolvidos nesse primeiro curso (Abaetetuba, Acará, Barcarena, Igarapé-Miri e Moju) e no contexto das próprias escolas onde atuam os sujeitos da pesquisa, uma vez que essas informações formalmente escritas poderão expressar a materialização do objeto de pesquisa junto as populações ribeirinhas. Quanto às leis analisadas serão aquelas de instâncias federais e municipais as quais estão listadas em um quadro a seguir. Quadro 01: Os documentos legais que serão analisados LEIS Constituição Federal de 1988 Lei nº. 9.394 de 23 de dezembro de 1996 Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril de 2002 Parecer CEB n 01/2006 de 01 de fevereiro de 2006. Resolução Nº 4, de 13 de julho de 2010 DISPOSIÇÃO Dispõe sobre os princípios políticos, e estabelece a estrutura, procedimentos, poderes e direitos que rege o governo e os cidadãos brasileiros bem como suas leis. Dispõe sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Recomenda a adoção da Pedagogia da Alternância em Escolas do Campo. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 Portaria n.º 86, de 1º de fevereiro de 2013 Lei Nº 13.005, DE 25 DE Junho de 2014 Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PROCAMPO- PRONERA. Institui o Programa Nacional de Educação do Campo - PRONACAMPO, e define suas diretrizes gerais Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências Realizaremos entrevistas semi-estruturada, que segundo Laville; Dione (1999, p. 188) consiste em uma Série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento. Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1784

A realização das entrevistas acontecerá com os sujeitos da pesquisa, a saber: professores em regência de sala de aula e professores em cargo de gestão escolar, ambos com Licenciatura em Educação do Campo. Outros sujeitos a serem pesquisados são os dirigentes comunitários das comunidades em que os professores pesquisados atuam profissionalmente, com o objetivo de perceber como esses dirigentes reconhecem o trabalho desses profissionais na gestão comunitária. Quadro 02: Descrição dos sujeitos entrevistados. Quantidade Sujeitos entrevistados Descrição dos Sujeitos 10 Gestor escolar dois de cada município Professor que esteja na gestão da escola ha pelo menos 1 ano. 20 Professores- quatro de cada município Professores com regência de classe 10 Dirigente comunitário- dois de cada município Dirigente das comunidades onde estão os professores pesquisados Concluída a fase das entrevistas assim como a coleta de dados, terá início as análises do material recolhido usando a técnica de análise de conteúdo que aborda e analisa as informações colhidas em campo, sejam elas documental, oral, visual ou gestual, [...] não importando qual a origem desse material desde produtos da mídia até dados de entrevista (FLICK, 2004, p. 201). Será escolhida essa técnica por entender que coaduna com os objetivos dessa pesquisa, pois como afirma Chizzotti (2005, p. 98): O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas. Concluída a fase das entrevistas assim como a coleta de dados, terá início as análises do material recolhido usando a técnica da análise de conteúdo. Espera-se que essa pesquisa possa contribuir com as análises da expansão das Licenciaturas em Educação do campo principalmente entre as populações ribeirinhas da Amazônia. 2. Educação do Campo e Populações Ribeirinhas: aproximação necessária Toda concepção de educação está estritamente ligada a uma forma de conceber o mundo e a sociedade a partir das lentes de determinado grupo social. E dependendo do poder desse grupo, historicamente essa concepção de educação atravessará as gerações como a única educação válida para todos os grupos sociais. Nesta perspectiva a educação está estritamente ligada ao campo social de disputa hegemônica (FRIGOTTO, 2010, p. 27). Uma luta que se materializará, nos conteúdos, na organização escolar e na forma de conceber o currículo escolar. Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1785

É nessa perspectiva que a vem se constituído na história da educação brasileira a Educação do Campo, que reconhece os povos do campo como sujeitos de sua cultura a qual deve ser valorizada concretamente nas escolas do campo, na sua singularidade, pois o Campo é constituído por uma população bem diversificada seja nos aspectos étnicos, geográficos e econômicos, como demarca o Decreto 7.352/2010 no Art. 1, 1.º, I ao definir a população do campo como os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural (BRASIL,2010, Art.1.º). No contexto desse decreto, a população ribeirinha é reconhecida como população do campo e que tem em comum com as demais populações as condições materiais de produção que nesse caso, estão intimamente ligadas com a terra, a floresta e os rios. São esses elementos portanto que irão constituir o território ribeirinho. Território aqui entendido como espaço humano, habitado e em movimento, composto por um conjunto de objetos naturais e artificiais que constitui a natureza mais a sociedade (SANTOS, 2008, p.12). Portanto para o ribeirinho, a produção material está estritamente ligada a sua relação com essa tríade rio-terrafloresta. É nesse contexto que ele traça, o seu cotidiano, fortemente marcado por uma economia de subsistência, ligada a uma cultura repleta de significados, em que cada lenda, encantos, história, saberes e todo tipo de criação material e simbólica vai se tornando pouco a pouco patrimônio de toda comunidade, repassando de geração em geração, assegurando assim o domínio e um fazer peculiar sobre o seu território. É com base nesse enfoque multi-relacional que o conceito de ribeirinho deve necessariamente partir, isto é, suas múltiplas relações e conexões existentes, entre trabalho, saberes, mitos, lazer e religiosidade tudo conectado complexamente em seu cotidiano (SILVA; SANTOS; SOUZA, 2016, p.7). As populações ribeirinhas da Amazônia brasileira historicamente tem enfrentado um processo de lutas contra a ocupação da região amazônica, primeiro com os espanhóis, depois os portugueses e na atualidade contra os grandes projetos que tem se instalado na região. Como consequência, nas últimas décadas essa população vem sofrendo o êxodo rural provocado pelos conflitos no campo, que têm sua base num conjunto de outras ameaças para a Amazônia, que Meirelles Filho (2004, p. 151) vai intitular de as 10 bestas do Apocalipse, sendo elas não necessariamente nessa ordem, como ele frisa: a pecuária bovina extensiva, a plantação de soja, a exploração da predatória da madeira, o modelo fundiário adotado, o narcotráfico, a biopirataria, a caça predatória, os grandes projetos (hidroelétricas, hidrovias, e Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1786

estradas), as mineradoras e a pesca predatória. Entre essas ameaças destacamos aqui duas: a exploração da madeira e a construção de usinas hidrelétricas. A exploração da madeira, tem sido realizada através de empresas nacionais e internacionais instaladas na região, que de acordo com Picoli (2006, p. 149) são aproximadamente 6 mil empresas desse universo e 3 mil estão registradas no Pará e Amapá. Além das empresas nacionais, há aquelas transnacionais que recebem incentivos dos governos estaduais para ali se instalarem. No Pará, o controle acionário das maiores empresas instalado nos últimos anos, é o de países como Malásia, Estados Unidos, Japão e Dinamarca (PICOLI, 2006, p. 150) e que no geral apresentam alguma ilegalidade, seja no aspecto ambiental, fiscal ou trabalhista. Dessa forma, tanto as empresas nacionais quanto as transnacionais, além de contribuírem com a destruição dos ecossistemas e superexplorar a força de trabalho, também usam como estratégias empresarias a sonegação fiscal, o contrabando de madeiras, a grilagem de terras e de madeiras, o uso indevido dos incentivos fiscais, e infrações das mais diversas. No atual estágio de desenvolvimento do setor de transformação de madeiras, as empresas asiáticas vêm ao Brasil com objetivos claros: tirar proveito das florestas abundantes (PICOLI, 2006, p. 151). Nesse contexto é comum nos rios da Amazônia a navegação de balsas transportando madeira retirada da floresta. No centro dessa devastação da Floresta Amazônica e dessa ilegalidade está a mão de obra dos ribeirinhos. As empresas aproveitam-se da vulnerabilidade dessas populações pela falta de políticas de renda (um dos fatores que gera pobreza na região), para cooptarem seu trabalho de forma ilegal seja na compra da madeira ou para o trabalho nas madeireiras. Já no contexto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no município de Altamira no Pará ratifica-se a postura histórica do avanço do capital sobre os recursos naturais da Amazônia, sendo esta, um dos principais empreendimentos atuais que tem provocado a destruição da Amazônia brasileira e gerado muitos conflitos seja no campo ou na cidade. Conflitos de toda ordem, que têm resultado na morte de índios, de posseiros, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, pescadores e outros povos tradicionais da Amazônia que veem suas terras confiscadas e arrasadas pela ganância do capital, como vem ocorrendo com as populações da região do Xingu, na área do empreendimento. Diante do exposto na Amazônia brasileira e paraense o conflito no campo também está relacionado à água. Conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT) só no ano de 2014, no Brasil ocorreram 127 conflitos relacionados à água, sendo que na Região Norte registrou-se 31 ocorrências, envolvendo 12.949 famílias, sendo que desses, 12 foram no Pará e Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1787

envolveram 9.867 famílias (CPT, 2015). Os dados aqui apresentados são relevantes para denunciar como as populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas e outras que vivem dos rios estão vulneráveis aos grandes projetos na região. Diante do exposto percebe-se o desafio dos educadores que atuam nessa região e que tem a educação como prática da liberdade (FREIRE, 2011) Entende-se que toda concepção de educação está estritamente ligada a uma forma de conceber o mundo e a sociedade a partir das lentes de determinado grupo social, e dependendo do poder desse grupo, historicamente essa concepção de educação atravessará as gerações como a única educação válida para todos os grupos sociais. Nesta perspectiva a educação está estritamente ligada ao campo social de disputa hegemônica (FRIGOTTO, 2010, p. 27). Uma luta que se materializará, nos conteúdos, na organização escolar e na forma de conceber o currículo escolar. Cada classe social, nesta disputa hegemônica terá uma perspectiva diante da educação, e Frigotto (2010, p.28) enfatiza que Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habilitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital. Ao contrário dessa perspectiva capitalista, nas últimas décadas do século XX, emergiu da luta dos trabalhadores do campo e suas organizações, a concepção de Educação do Campo, que nasceu dentro da luta dos trabalhadores sem terra contra os processos de exclusão gerados pelo capital. Tendo sua origem no processo de luta dos movimentos sociais para resistir à expropriação de terras, a Educação do Campo vincula-se à construção de um modelo de desenvolvimento rural que priorize os diversos sujeitos sociais do campo, isto é,que se contraponha ao modelo de desenvolvimento hegemônico que sempre privilegiou os interesses dos grandes proprietários de terra no Brasil, e também se vincula a um projeto maior de educação da classe trabalhadora, cujas bases se alicerçam na necessidade da construção de um outro projeto de sociedade e de Nação (MOLINA; FREITAS, 2011, p. 19). Por ser uma educação que nasce das lutas dos movimentos sociais contra o poder hegemônico e excludente, a Educação do Campo vai ancorar-se em princípios bem definidos no art.2º do Decreto nº 7.354/2010 que instituiu a Política Nacional de Educação do Campo e o Programa Nacional de Reforma Agrária - PRONERA: respeito à diversidade do campo, incentivo à formulação de projetos pedagógicos específicos, desenvolvimento de política de Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1788

formação de profissionais da educação, valorização da identidade da escola do campo e controle social da qualidade da educação. Com os princípios da Educação do Campo é possível pensar uma educação que valorize o tempo e o espaço dos sujeitos, numa perspectiva da valorização da sua identidade, dos seus saberes, construindo assim um novo paradigma de educação para os povos do campo da Amazônia Brasileira. A esta educação faz-se necessária também uma escola do campo, diferente da que está posta no meio rural amazônico. Nessa perspectiva coadunamos com Fernandes; Cerioli; Caldart (2009, p.53) pois Estamos entendendo por escola do campo é aquela que trabalha os interesses, a política, a cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas formas de trabalho e de organização, na sua dimensão de permanente processo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do desenvolvimento social e econômico igualitário desta população. A identidade política e a inserção geográfica na própria realidade cultural do campo são condições fundamentais de sua implementação. Conforme o enunciado a Escola do Campo, assim como a Educação do Campo estão para além do espaço geográfico, numa relação direta com os interesses da comunidade, transformando em conteúdos escolares, o cotidiano, suas lutas e conquistas, seus saberes e cultura, sem se fechar para o que há de novo nas ciências e na tecnologia que devem ser conhecidas na perspectiva de democratizar esses conhecimentos. 3. Licenciatura em Educação do Campo no contexto das Populações Ribeirinhas São muitos os desafios cotidianos dos povos ribeirinhos da Amazônia. Além dos que já foram aqui enumerados, outros que dever ser superados são aqueles ligados as políticas públicas de educação que tem precarizado e ou fechado as escolas nos territórios ribeirinhos. Essa precarização tem se materializado com a ausência de recurso didático, sucateamento dos equipamentos, falta de merenda, ausência de um currículo que respeite os saberes locais e de um calendário escolar que corresponda com as necessidades climáticas e de trabalho da população, sem falar na falta de formação adequada dos professores como enfatiza Gerone Jr.; Hage. (2013, p. 33) Como percebido falta o recurso, mas, às vezes, falta, também, o preparo. Nesse sentido, acrescenta-se ainda, o fato de que, nem sempre, a formação acadêmica prepara o professor para a ação pedagógica como eles esperam e / ou necessitam para a educação em escolas ribeirinhas. O modelo formativo predominante se fundamenta na racionalidade técnica e impõe a necessidade de dotar os professores apenas de instrumental mecanicista a ser aplicado na prática. Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1789

Há, portanto, uma tensão na formação do professor que fica ainda mais nítida quando a formação aponta para práticas e saberes que não correspondem com o seu cotidiano, com a realidade de sua escola e com a real possibilidade de execução do que foi abordado, pois muitas das escolas públicas apresentam-se sem um espaço físico adequado para práticas pedagógicas de qualidade. Muitas delas além da ausência de recursos didáticos, não têm uma quadra de esportes, um laboratório de informática ou até mesmo um refeitório, o que se agrava mais ainda quando as escolas estão em comunidades ribeirinhas. Ora, é inerente à percepção deste professor que a realidade ribeirinha é diferenciada e exige dele, o educador, uma postura também diferenciada. A vivência e a ação pedagógica em comunidades ribeirinhas são desafiadoras; as possibilidades que seriam encontradas de forma mais fácil na realidade urbana se reduzem em um contexto ribeirinho (GERONE JR.; HAGE. 2013, Pp.26) Essa tensão se dá também pelo próprio currículo que não leva em consideração as particularidades das várias realidades escolares, homogeneizando assim os conteúdos e metodologias a serem trabalhadas, muito mais na perspectiva dos professores prepararem os alunos para as avaliações de larga escala do que para o trabalho dos conteúdos necessários à atuação do aluno enquanto cidadão reflexivo e sujeito das mudanças necessárias do seu ambiente. Contrapondo-se a essa contexto educacional e a formação tradicional de professores, tecnicista sem compromisso com a mudança do contexto histórico, econômico e social, imposta as populações do campo é que tem se firmado no contexto educacional brasileiro a Educação do Campo e sua licenciatura. A Licenciatura em Educação do Campo, forma educadores para aturarem nos anos finais do ensino fundamental e médio das Escolas do Campo em três dimensões: a docência por área de conhecimento, a gestão de processos educativos escolares e gestão de processos educativos comunitários. Nessa perspectiva tem construído um currículo de formação de professores para atuar nas escolas sendo capaz de trabalhar os conteúdos das áreas de conhecimento vinculado com a vida dos sujeitos do campo, valorizando os saberes e conhecimentos locais, numa relação formativa entre escola e comunidade. Neste sentido, considera-se a formação escolar como uma das dimensões do processo educativo, articulando-se a formação e a preparação para gestão dos processos educativos escolares à gestão dos processos educativos comunitários: pretende formar educadores capazes de promover profunda articulação entre escola e comunidade. Portanto, um dos princípios cultivados com mais força refere-se à construção das habilidades necessárias para que estes futuros educadores possam internalizar as condições de compreensão das relações da escola com a vida. (MOLINA; SÁ. 2011, p.39) Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1790

A Licenciatura em Educação do Campo, nasce no contexto de uma experiência piloto nas Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Federal da Bahia (UFBA) em parceria com os movimentos sociais e sindicatos. Em 2008 e 2009, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), através da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), pressionada pelos movimentos sociais lança editais para as Instituições de Ensino Superior (IES) que queiram ofertar essa licenciatura, chegando ao número de 32 instituições que passam a ofertar o curso. Já em 2012 esse número chega a 42 cursos (MOLINA, 2015, p. 151). No Estado do Pará, a partir de um breve levantamento histórico da formação específica de professores para o campo (COSTA, 2012) percebe-se como a Licenciatura em Educação do Campo encontrou um campo fértil e como ela vem se materializando desde 2006, quando a UFPA iniciou no Campus de Marabá dois cursos superiores: o de pedagogia (em parceria com a FETAGRE) e o de Letras (em Parceria com a UFPA). A partir do edital do PROCAMPO em 2008, o IFPA e a UFPA passam a ofertar o curso. No edital de 2009, o IFPA- Instituto Federal de Tecnologia do Pará, já oferecia o curso em 09 campi, sendo alguns na Ilha do Marajó. No edital de 2009, ressalta-se que o Campus de Abaetetuba/UFPA articula o seu primeiro curso e que terá inicio no ano seguinte em 2010. Esse Campus é importante na perspectiva da pesquisa aqui anunciada por estar em um município que é composto por 75 ilhas habitadas por ribeirinhos e quilombolas, além de sua experiência em formação de professores que atuam no território ribeirinho. Nessa perspectiva destaca-se a experiência do Curso de Pedagogia das Águas, destinado a formação de professores que atuavam com as populações ribeirinhas nas várias ilhas do município de Abaetetuba. Esse curso teve seu projeto aprovado em 2005 no âmbito do Programa Nacional da Reforma Agrária (PRONERA) numa parceria da UFPA com Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRAPRONERA. Os diferenciais do Curso de Pedagogia das Águas estão inter-relacionados ao próprio contexto dos discentes e dos movimentos sociais, tendo em vista que estes habitam os primeiros assentamentos regulamentados pelo INCRA implantados em ilhas, no município de Abaetetuba. Assim, é o primeiro Curso de Educação Superior em instituição pública brasileira voltado especificamente para ribeirinhos e em seu nome demarca a sua identidade ligada às águas (SOUZA,2011,p.160). Com esse acúmulo de experiência em formação de professores do Campo é que o Campus de Abaetetuba iniciou a primeira turma do Curso de Licenciatura em Educação do Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1791

Campo em 2010. Seegundo o Projeto Político Pedagógico (2009, p.4) essa primeira turma foi destinado a formação de 60 (sessenta) professores e ou jovens da área rural, para atuarem nas escolas do campo situadas em contextos sociocultural diversificado do Baixo Tocantins, compreendendo cinco municípios: Abaetetuba, Acará, Barcarena, Igarapé-Miri e Moju. No Campus de Abaetetuba, o Curso de Licenciatura do Campo forma educadores para atuarem nas séries iniciais e finais do ensino fundamental e no ensino médio em uma das três áreas do conhecimento, a saber: Ciências Naturais, Linguagem: Códigos e suas Tecnologias ou Matemática. Em pouco tempo de existência esse curso já chegou ao conceito quatro, na ultima avaliação do Ministério da Educação, mostrando assim o seu potencial na formação de sujeitos do Campo da Amazônia ribeirinha. Considerações Ao longo desse artigo que é fruto das intenções de uma pesquisa, foi possível traçar algumas reflexões sobre as populações ribeirinhas, a Educação do Campo e sua licenciatura. Nessa perspectiva considera-se que embora a Educação do Campo seja uma realidade no campo brasileiro, porém ela ainda não é presente em todo o campo da Amazônia Ribeirinha, onde ainda é muito presente um tipo de educação excludente que não leva em consideração seus saberes e cultura. Neste sentido, Santo (2014, p. 143) enfatiza que Lutar por essa educação é disputar território com a educação excludente que não reconhece esse povo na sua particularidade cultural e nem como sujeitos de direitos. Provocar esse debate junto ao governo municipal e a Secretaria Municipal de Educação é tarefa de todos os cidadãos e Movimentos sociais comprometidos com a causa dos ribeirinhos e da Educação do Campo. Na perspectiva dessa luta por uma educação emancipatória é que se torna imprescindível aos profissionais de educação que trabalham com a população ribeirinha uma formação que lhes possibilite o entendimento da disputa política que envolve esse território, bem como a valorização dos saberes e da cultura dos sujeitos do campo, quanto elementos de sua emancipação. Entende-se que a Licenciatura em Educação do Campo, tem os elementos necessários a essas necessidades formativas, e ela mesma tem se firmado a partir da transformação dessa realidade. Cabe agora às universidades, os movimentos sociais, sindicatos e demais instituições ligadas às lutas dos trabalhadores do campo avaliar os desafios e potencialidades desses cursos e os seus rebatimentos lá no cotidiano das escolas e comunidades, na Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1792

perspectiva de superar as dificuldades e fazer chegar os frutos dessa formação a todos os povos do campo, entre eles os Ribeirinhos da Amazônia. REFERÊNCIAS BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010: dispõe sobre a Política Nacional de Educação do Campo e sobre o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7352.htm>. Acesso em: 29 jul. 2015. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2005. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Conflitos no Campo Brasil 2014. CPT Nacional Brasil. Goiânia, 2015.. COSTA, E. M. A formação do educador do campo: um estudo a partir do Procampo. Belém, 2012. 208 p. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade do Estado do Pará. Belém, 2012. FLICK, U. Uma introdução a pesquisa qualitativa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004 FREIRE, P. Educação Como Prática da Liberdade. 14.ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. FRIGOTTO, G. Educação e a Crise do Capitalismo Real. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2010.. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional. In FAZENDA (Org.). Metodologia de pesquisa educacional. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010. p. 75-100. GERONE JR.; HAGE, S. M. Ser Professor Ribeirinho: os desafios que emergem da educação e da ação pedagógica em escolas ribeirinhas da Amazônia. In:ABREU, W. F.; OLIVEIRA, D.B; SILVA, É. S. (Orgs). Educação Ribeirinha saberes, vivências e formação no campo.2ª ed. GEPEIF- UFPA, Belém, 2013. p. 19-41. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A Construção do Saber Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: editora UFMG,1999. MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. 1. ed. revista; 1ª reimpressão. São Paulo: Boitempo, 2012. MEIRELLES FILHO, J.C. O livro de ouro da Amazônia: mitos e verdades sobre a região mais cobiçada do planeta. 4. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. MOLINA, M. C.; FREITAS,H.C.A. Avanços e desafios na construção da educação do campo. Em Aberto, Brasília, v. 24, n. 85, p. 17-31, abr. 2011. Disponível em:< http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/2483/2440>. Acesso em: 20 mar.2016. Universidade Estadual de Maringá 18 a 20 de Maio de 2016 1793

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