TIPOLOGIA TEXTUAL O primeiro passo para a compreensão dos textos é o reconhecimento de seu modo de organização discursiva, ou seja, de seu tipo. Esse estudo pretende reconhecer as características peculiares a cada um deles. São aceitos tradicionalmente três tipos de texto: o descritivo, o narrativo e o dissertativo. I) Descrição Tipo Agente Conteúdo Tempo Objetivo básico Classes de palavras importantes Tempos Verbais Texto Descritivo Observador Seres, objetos, cenas, processos Momento único Identificar, localizar Substantivos e adjetivos Presente ou pretérito imperfeito do indicativo
Um texto se diz descritivo quando tem por base o objeto, a coisa, a pessoa. Mostra detalhes, que podem ser físicos, morais, emocionais, espirituais. Nota-se que a intenção é realmente descrever, daí a palavra descrição. Veja o exemplo abaixo: Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. (José de Alencar, Iracema)
Uma característica marcante da descrição é a forte adjetivação que leva o leitor a visualizar o ser descrito. No trecho acima, o homem visto por Iracema é branco, tem olhos tristes; as águas são profundas, e os tecidos e armas, ignotos, ou seja, desconhecidos. Observe como a palavra todo revela a perplexidade do guerreiro, extático a observar a jovem índia à sua frente. Vejamos, outro exemplo de trecho descritivo, na realidade uma autodescrição. Meus cabelos eram muito bonitos, dum negro quente, acastanhado nos reflexos. Caíam pelos meus ombros em cachos gordos, com ritmos pesados de molas de espiral. (Mário de Andrade, Tempo da Camisolinha)
O texto descritivo apela para a competência lexical do leitor/ouvinte, ou seja, quanto mais uma pessoa conhecer as palavras do seu idioma, mais competentemente fará uma descrição ou apreenderá os aspectos de coisas, objetos ou acontecimentos descritos por outras pessoas. Por sua vez, a descrição é também o produto de uma seleção já que não se consegue ou não se deve - descrever tudo. Por isso todo texto é um recorte. Não se verbaliza tudo que se percebe, há sempre uma escolha, um ângulo que se oferece. Como fruto de uma atividade de um sujeito, a descrição é resultado de um ato relativo à língua e aos conhecimentos de mundo do autor. Além disso, a seleção de dados deve prender-se também ao princípio da pertinência, ou seja, uma informação dada traz consigo a expectativa de alguma utilidade textual.
II) Narração Tipo Agente Conteúdo Tempo Objetivo básico Classes de palavras importantes Tempos Verbais Texto Narrativo Narrador Ações ou acontecimentos Sucessão cronológica Relatar Verbos, advérbios e conjunções temporais Presente ou pretérito perfeito do indicativo Quando o texto está centrado no fato, no acontecimento, diz-se que se trata de uma narração. Palavra derivada do verbo narrar, narração é o ato de contar alguma coisa. Novelas, romances, contos são textos basicamente narrativos. São os seguintes os elementos de uma narração:
4) Tempo O momento em que a história se passa. Pode ser presente, passado ou futuro. 5 Ambiente O lugar em que a trama se desenvolve. Pode, naturalmente, variar muito, no desenrolar da narrativa. A seguir, um exemplo de texto narrativo, em que todos os elementos se fazem presentes. A filha do rei era muito bela. Certo dia, um dragão raptou-a, levandoa para a sua caverna. Desolado, o rei, já avançado em anos, recorre a um príncipe, generoso e forte e lhe delega a incumbência de libertar a filha. No dorso de impetuoso cavalo, sai o príncipe com pressa de resgatar a princesa.
No caminho, uma velha maltrapilha, sentindo-se perdida, roga ao príncipe que a leve de volta para casa. Movido pela bondade do coração, ainda que angustiado pela pressa, o príncipe desvia-se do caminho e conduz a pobre velha ao lar. Eis que, ante os olhos surpresos do príncipe, a velha revela-se como uma bela fada de vestes transluzentes. Enaltecendo a generosidade do caráter do heroico cavaleiro, indica a caverna do dragão, presenteia-o com reluzente espada de ouro, advertindo-o de que somente com aquele instrumento conseguiria cortar a cabeça do dragão. Junto com a espada, a bondosa fada lhe dá uma ânfora de prata, cheia de uma poção capaz de torná-lo invisível.
Seguindo as indicações da fada, o príncipe atravessa a floresta povoada de perigosas feras e, sem ser visto, penetra na caverna do dragão, decapitando-o com um só golpe de espada. Salva a bela princesa, o generoso cavaleiro devolve-a para o rei, que, reconhecido, dá-lhe a mão da princesa e faz dele seu sucessor.
6) Dircurso Os personagens que participam da história evidentemente falam. É o que se conhece como discurso, que pode ser: 6.1) Direto O narrador apresenta a fala do personagem, integral, palavra por palavra. Geralmente se usam dois pontos e travessão. Ex.: O funcionário disse ao patrão: - Espero voltar no final do expediente. Rui perguntou ao amigo: - Posso chegar mais tarde?
6.2) Indireto O narrador incorpora à sua fala a fala do personagem. O sentido é o mesmo do discurso direto, porém é utilizada uma conjunção integrante (que ou se) para fazer a ligação. Ex.: O funcionário disse ao patrão que esperava voltar no final do expediente. Rui perguntou ao amigo se poderia chegar mais tarde. 6.3) Indireto livre É praticamente uma fusão dos dois anteriores. Percebe-se a fala do personagem, porém sem os recursos do discurso direto (dois pontos e travessão) nem do discurso indireto (conjunções que ou se). Ex.: Ele caminhava preocupado pela avenida deserta. Será que vai chover, logo hoje, com todos esses compromissos!?