Tempo, modo, modalidade, aspeto e coesão Sessão 3, aula 17

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Filipe Figueiroa Fialho
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1 Produção do Português Escrito Oficinas de escrita Tempo, modo, modalidade, aspeto e coesão Sessão 3, aula 17 Fernanda Pratas CLUL

2 Objetivos destas 6 sessões Sessões 1 e 2 (em março): - introdução aos conceitos de tempo, modo, modalidade e aspeto - exercícios destinados a criar familiaridade com estes conceitos Sessões 3 e 4 (em abril): - tempo, modo, modalidade e aspeto em diferentes sequências textuais: descritivas, narrativas, explicativas, argumentativas - exercícios destinados à prática destes géneros textuais Sessões 5 e 6 (em maio): - exercícios destinados à prática destes géneros textuais

3 aspeto perfetivo vs. imperfetivo - O João comeu um gelado. - O João comia um gelado. - O João estava a comer um gelado. Verde: perfetivo Vermelho: imperfetivo habitual Azul: imperfetivo progressivo

4 uma observação intermédia Não devemos confundir perfetivo com perfeito : o perfeito é uma categoria gramatical complexa que envolve noções de aspeto + noções de tempo. o perfetivo refere-se apenas ao aspeto gramatical que nos apresenta uma situação como fechada

5 O Amigo, Sophia de Mello Breyner Andresen(1) No jardim havia tílias... Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas... Depois imaginava os anõezinhos... Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha. [nesta narrativa o conto O Amigo, esta é a situação inicial]

6 O Amigo, Sophia de Mello Breyner Andresen(2) Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro. Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta. [nesta narrativa o conto O Amigo, esta é a complicação] Note-se que outros elementos na frase, além do verbo, contribuem para estas propriedades aspetuais

7 perfetivo (1) apresenta-nos a situação como fechada - se a estrutura interna da situação denotada tiver um ponto de culminação, esse ponto foi atingido: O João comeu uma maçã. - se não tiver, alguma outra fronteira é definida, explícita ou implicitamente: O João nadou durante duas horas.

8 perfetivo (2) - muitas vezes descrito em português com recurso ao pretérito perfeito ou ao mais-que-perfeito (também isto pode dar origem à confusão entre o aspeto perfetivo e outra categoria mais complexa, o perfeito como foi referido atrás, não são a mesma coisa) - muitas vezes reforçado pelo uso de expressões adverbiais que denotam uma localização temporal: ontem, na semana passada, naquele querido mês de agosto Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.

9 diferentes imperfetivos Habitual: um valor temporal de repetição (não precisa de ser muito frequente ou seja, não tem de ser um habitual no sentido comum do termo) Progressivo: refere-se ao desenrolar de uma situação contínua

10 habitual (1) - combina-se bem com tempos diferentes A Maria compra a fruta e os legumes na mercearia local. O João brincava neste parque. - muitas vezes reforçado pelo uso de expressões adverbiais que se referem à frequência: regularmente, todos os verões, uma vez por semana

11 habitual (2) Nota 1: esta noção de frequência pode não estar explícita em expressões adverbiais. Nota 2: o habitual pode até combinar-se com expressões adverbiais que, em vez de denotarem frequência, exprimem localização temporal isto significa apenas que a noção de frequência está implícita

12 habitual (3) Voltando ao conto de Sophia mesmo sem outras expressões adverbiais que exprimem frequência, além de de vez em quando e às vezes, nos quatro primeiros parágrafos nós percebemos a habitualidade das situações descritas. repare-se, no entanto, que uma expressão adverbial de localização temporal do tipo No Verão passado, ou Em 2008 seria perfeitamente compatível com a interpretação de habitualidade, pois esta estaria incluída nesse período

13 progressivo mesmo em casos em que a estrutura interna da situação integra um ponto de culminação, a situação é-nos apresentada como não fechada: O João estava/está a comer uma maçã. - combina-se com diferentes tempos - compatível com expressões adverbiais que expressam um ponto no tempo, do tipo: naquele momento, às 3 da tarde, quando tu chegares - este ponto no tempo mais uma vez, explícito ou implícito é o ponto de referência de que falámos na última sessão

14 descrição vs. narração DESCRIÇÃO situações de tipo: - estativo (aspeto lexical) ou - situações não estativas (aspeto lexical) no habitual e no progressivo (aspeto gramatical) sobreposição temporal (no sentido lato) entre as diferentes habitualidades apresentadas

15 descrição vs. narração NARRAÇÃO situações não estativas sequencialidade temporal entre as situações apresentadas (mas, no texto, elas podem ser apresentadas em diferentes ordens) Diário de Notícias, 26 de abril Cristiano Ronaldo ficou de fora do Manchester City - Real Madrid (0-0) desta terça-feira, por se ter ressentido de uma lesão muscular na coxa direita, mas o cenário pode ser ainda pior. [...] Segundo a comunicação social de Madrid, CR7 realizou uma ressonância magnética em Manchester, depois de ter voltado a sentir dores no final do treino de segunda-feira [ ]. E a versão mais pessimista foi avançada pela rádio Onda Cero, que diz que poderá ter sido detetada uma rotura do biceps femoral da coxa direita no exame efetuado a Cristiano Ronaldo.

16 modalidade (para explorarmos melhor na próxima aula) Partindo da expressão poderá ter sido que vimos na notícia anterior Definição no Dicionário terminológico Categoria gramatical que exprime a atitude do locutor face a um enunciado ou aos participantes do discurso. A modalidade permite expressar.. (i) (ii) apreciações sobre o conteúdo de um enunciado representar valores de probabilidade ou certeza (modalidade epistémica) (iii) ou de permissão ou obrigação (valor deôntico) «A modalidade pode ser expressa de muitas formas diferentes: através da entoação, da variação no modo verbal, através de advérbios, de verbos modais (auxiliares como dever, poder ou principais com valor modal como crer, pensar, obrigar, ), etc.»

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