DIA DE CAMPO COMO ESTRATÉGIA DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS PARA AGRICULTURA FAMILIAR



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Transcrição:

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( X ) TECNOLOGIA DIA DE CAMPO COMO ESTRATÉGIA DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS PARA AGRICULTURA FAMILIAR Guilherme Pedrollo Mazer 1 Raquel Modena 2 Joelcio Eurich 3 Pedro Henrique Eurich Neto 4 Carlos Hugo Rocha 5 RESUMO Nas décadas de 50 e 60 o Brasil passou por um processo de modernização na agricultura que precedeu um enorme impacto social, como o êxodo rural, a concentração fundiária e o empobrecimento dos agricultores familiares. Esteve inserida nesse contexto a Revolução Verde, que ao invés de facilitar a vida do pequeno produtor com os pacotes tecnológicos, favoreceu especialmente o grande agricultor. A agricultura familiar não foi beneficiada pelas políticas de crédito, comerciais e pelas inovações tecnológicas ao longo desse processo de modernização. A universidade deve ter papel fundamental no desenvolvimento da agricultura familiar, gerando, testando e difundindo tecnologias sustentáveis. Em parceria com o Assentamento Guanabara, a equipe do Laboratório de Mecanização Agrícola (Lama) da UEPG organizou um dia de campo para agricultores familiares do Território Caminhos do Tibagi. Com seis apresentações o evento abordou os seguintes temas: produção leiteira em sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV); certificação de produtos orgânicos; importância do milho crioulo na agricultura familiar; produção de sementes crioula com qualidade; apresentação de áreas experimentais de milho crioulo; programas do governo federal (MDA e Conab) para agricultura familiar. Basicamente, o dia de campo apresentou alternativas tecnológicas sustentáveis, que são compatíveis para agricultura familiar devido ao baixo custo de implantação. Além da equipe do Lama, composta por graduandos, recém-formados e professores, as apresentações técnicas contaram com a participação dos assentados, que desempenharam papel importante na difusão da tecnologia, pois eles implantaram e utilizam as tecnologias apresentadas. O dia de campo apresentou grande potencial na difusão de tecnologias para agricultores familiares. PALAVRAS-CHAVE desenvolvimento territorial, comunicação, sustentabilidade 1 Graduando de Agronomia (UEPG), bolsista Fundação Araucária (SETI), guiguemazer@hotmail.com. 2 Mestranda de Agronomia (UEPG), bolsista Fundação Araucária (SETI), raquelmodena@hotmail.com. 3 Mestre, bolsista CNPQ, joe.eurich@gmail.com. 4 Professor Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, lama1@hotmail.com. 5 Professor Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, chrocha@gmail.com.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 Introdução Até a década de 20, o Brasil teve economia fundamentalmente agrária. A partir da década de 30, a sociedade brasileira caminhou num sentido diferente, rumo à urbanização e industrialização, que compartimentalizou à agricultura em dois setores produtivos: um, com milhões de pequenas propriedades em geral na situação de pobreza; e outro, uma minoria de propriedades comerciais, estas oficialmente não enquadradas como familiares (PERES, 2000). Nas décadas de 50 e 60, ocorre um processo de modernização do setor agrário brasileiro, que não só mudou o panorama econômico e tecnológico da agricultura brasileira, como precedeu um enorme impacto social. A produção agrícola que era baseada em práticas rudimentares de produção e na força do trabalho braçal, deu lugar ao uso crescente de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e mecanização agrícola. Essa nova dinâmica do campo ocasionou êxodo rural, concentração fundiária e crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. O processo de modernização da produção agrícola não ocorreu de forma espontânea. Paralelamente à Guerra Fria, ao final da Segunda Guerra Mundial, ocorre um crescimento acelerado de empresas químicas e de alimentos, demandando grande quantidade de alimentos industrializados (MÜLLER, 2009). Além disso, o crescimento da população mundial exigia uma maior produção de alimentos. Nesse contexto surgiu a Revolução Verde, que tinha como objetivo principal aumentar rapidamente a produção de cereais primários (arroz e trigo), através do plantio de variedades melhoradas, uso de fertilizantes sintéticos e defensivos químicos. Embora não fosse essencial para a Revolução Verde, a mecanização veio a ter grande importância com o aumento da produtividade e concentração fundiária. No Brasil, os esforços para modernização agrícola convergiram para produtos como a cana-de-açúcar, café e soja (HOFFMAN e KAGEYAMA, 1985). Mesmo com a rápida mudança no setor de produção agrícola, considerando a média brasileira, ainda em 1980 pode-se observar um baixo grau de tecnificação dos estabelecimentos agropecuários, dentre eles: apenas 7% utilizavam tratores; 6% utilizavam arados mecânicos e menos de 2% usavam colhedoras mecânicas. A incorporação do novo padrão tecnológico foi extremamente rápida nas grandes propriedades e para determinados produtos, como a soja e pecuária, mas não teve o mesmo resultado para estabelecimentos de menos de 50 hectares principalmente em relação à mecanização. Os pequenos agricultores tenderam a absorver mais a tecnificação físico-química, com o uso de fertilizantes artificiais e agrotóxicos (SILVA, 2003). Em teoria, os pacotes tecnológicos da Revolução Verde facilitariam o trabalho dos pequenos agricultores e melhoraria a qualidade de vida dos camponeses. Porém, segundo KAGEYAMA (1985), os efeitos da Revolução Verde se deram de maneira contraria, apenas favorecendo os grandes produtores e aumentando a desigualdade social, uma vez que apenas o grande produtor tinha riquezas materiais (terras) suficientes como garantia do crédito necessário para aquisição do pacote tecnológico. Nessa lógica, os pequenos agricultores adquiriam insumos insuficientes para atingir as altas produtividades das variedades melhoradas. Ocorre, então, uma adaptação fundiária ao novo padrão tecnológico, descrita por GERMER (1981), que relata a importação do pacote tecnológico da soja no Paraná, na década de 70, que favorecida por políticas governamentais e de crédito financeiro, visava à exportação de soja e abertura do mercado para empresas multinacionais. O pacote tecnológico da soja não era acessível ao pequeno agricultor. Com a expansão da agricultura brasileira e o aumento participativo da agricultura na economia nacional, na década de 70, o Ministério da Agricultura criou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). A EMBRAPA foi criada com a finalidade de gerar conhecimento técnico ao agricultor brasileiro através da pesquisa agropecuária, que antes era realizada apenas nas universidades de agronomia e pela iniciativa privada. A EMBRATER foi criada para ser responsável pela assistência técnica e extensão rural do país. Além desses órgãos, em 1975 foi criada a EMATER, com a finalidade de transferência de tecnologia agropecuária e gerencial aos produtores rurais brasileiros (SILVA, 2003). Mesmo com a criação de tais órgãos, o agricultor familiar continuou à margem da modernização tecnológica. A introdução de tecnologias na agricultura brasileira, desde seu início, seja por políticas governamentais, ou pela iniciativa privada, tendeu a favorecer um sistema agroindustrial, onde o pequeno produtor não consegue se inserir, seja por dificuldade de acesso ao crédito, desconhecimento e/ou carência de tecnologias compatíveis com sua realidade estrutural e financeira, e/ou seja pela dificuldade na comercialização de produtos a um preço justo. Visto que os pequenos agricultores estiveram desamparados neste modelo de produção imposto pela revolução verde, se fazem necessários esforços por parte do Estado. Promover políticas públicas que favoreçam o pequeno agricultor na aquisição de créditos e comercialização dos seus

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 produtos, além de direcionamento da pesquisa e da extensão para criar e apresentar alternativas tecnológicas compatíveis com a realidade do camponês são consideradas alternativas. A manutenção e o desenvolvimento da agricultura familiar são essenciais para o desenvolvimento sócio-econômico do país. Analisando os dados do Censo Agropecuário de 2006, o qual registrou que do total de 5.175.489 estabelecimentos rurais, 4.367.902 (84,4%) deles enquadravam-se como agricultores familiares, porém ocupavam apenas 24,3% do total da área rural, e responderam pela geração de R$ 54 bilhões (38%) do Valor Bruto da Produção (VBP) total, que é de R$ 141 bilhões. Mesmo ocupando apenas 24,3% da área total, a agricultura familiar é responsável pelo emprego de 12,3 milhões das 16,5 milhões de pessoas que se ocupam do trabalho no meio rural, sendo assim, a principal fonte de postos de trabalho neste meio (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA/IBGE, 2006). Em relação à produção de alimentos, a agricultura familiar é responsável pela produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 21% do trigo produzidos no Brasil. Além dos produtos citados anteriormente, a agricultura familiar ainda é essencial na produção de proteínas de origem animal, representando 59%, 58%, 50% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) das cadeias de suínos, leite, aves e bovinos de corte, respectivamente (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO/MDA, 2011). Visando melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas regiões mais carentes do Brasil, especialmente no meio rural, foi criado pelo Governo Federal o Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais. Através desse programa a Secretaria de Desenvolvimento Territorial trabalha...apoiando a organização e o fortalecimento institucional dos atores sociais locais na gestão participativa. O objetivo é garantir o atendimento às necessidades básicas da população, bem como para acelerar processos locais e sub regionais que ampliem as oportunidades de geração de renda de forma descentralizada e sustentável, articulados à redes de apoio e cooperação solidária (MDA, 2011). Dentre os territórios contidos no estado do Paraná o Laboratório de Mecanização Agrícola (Lama) da UEPG tem atuado através do Programa estadual Universidade Sem Fronteiras, com projetos diversos na área agrícola, visando o desenvolvimento sustentável no Caminhos do Tibagi, onde se encontra o Assentamento Guanabara. O desenvolvimento de um território está ligado a formação de capital social, para isso é necessário o acesso à terra, ao crédito, a organização e a informação (ABROMOWAY, 1998). A informação é um campo fértil, onde uma universidade pode e deve contribuir. A intervenção no processo de desenvolvimento se dá através da extensão rural, difundindo o conhecimento técnicocientífico entre os produtores. Segundo FREIRE (1983), o principal agente na transferência de tecnologia para os setores produtivos de países em desenvolvimento são os extensionistas rurais, porém, seu trabalho está limitado pela persuasão na comunicação. O agente transformador apresenta somente a substituição de técnicas tradicionais por técnicas modernas, não adaptando ao sistema produtivo a dinâmica local. Buscando extrapolar as experiências bem sucedidas de introdução de novas tecnologias no sistema produtivo do Assentamento Guanabara para a região, organizou-se Dia de Campo, utilizando as próprias áreas de produção do referido assentamento para demonstração. Objetivos Promover a difusão de conhecimento técnico e tecnologias compatíveis ao sistema de produção dos agricultores familiares do Território Caminhos do Tibagi, através de um dia de campo. Metodologia O Dia de Campo Alternativas para Agricultura Familiar ocorreu durante a manhã do dia 19 de março de 2011, no Assentamento Guanabara, localizado no Município de Imbaú, no estado do Paraná. A organização do evento contou com acadêmicos, mestrandos, recém-formados e professores dos cursos de Agronomia e Zootecnia da UEPG, todos vinculados ao Lama, além das famílias do assentamento e representante da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (Conab) e do MDA. As apresentações foram divididas em seis estações distintas, de modo que as apresentações tiveram duração de 30 minutos e foram realizadas por um apresentador da UEPG e

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 um agricultor do assentamento. Uma das estações contava com o representante da Conab e MDA e um assentado. As estações abordaram os seguintes temas e dispunham dos seguintes materiais: - Produção leiteira em sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV): utilizou-se um banner e a área de pastagem como demonstração na apresentação; - Orgânicos e sua certificação: utilizaram-se dois banners para apresentação, além de relato de experiências de certificação do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos; - Importância do milho crioulo na agricultura familiar: utilizou-se o campo de produção de sementes; - Produção de sementes crioula com qualidade: utilizou-se um banner, peneira classificadora de sementes, sementes germinadas e contaminadas por patógenos; - Apresentação de áreas experimentais de milho crioulo: foi utilizada área de experimento com variedades de milho crioulo como referencial, além de croqui de tal área; - Programas do governo federal para agricultura familiar - (MDA e Conab): utilizou um banner e cartazes para apresentação. O público do evento era composto por alunos do Curso Técnico em Agroecologia do Instituto Federal do Paraná, alunos das Casas Familiares Rurais e agricultores familiares do Território Caminhos do Tibagi. Considerações Um dos aspectos presentes na transferência de tecnologias para produtores rurais é a comunicação (FREIRE, 1991). A equipe do Lama vem trabalhando no Território Caminhos do Tibagi há alguns anos, e é comum deparar-se com produtores de baixa escolaridade. Dados de 2000 revelam uma elevada taxa de analfabetismo no meio rural do Território Caminhos do Tibagi, como exemplo, o meio rural do município de Imbaú que apresenta taxa de 25% de analfabetismo (INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO/IPARDES, 2007). Dentre as barreiras da comunicação da informação classificadas por WERSIG (1976), citado por FREIRE (1991), a que teve relevância na elaboração do dia de campo foi a barreira terminológica, descrita da seguinte maneira: nem sempre usuários e agentes de informação usam o mesmo código de linguagem no processo de recuperação do conhecimento, podendo ocorrer, especialmente na transferência da informação para o setor produtivo, que a terminologia utilizada dificulte a compreensão da mensagem pelos usuários finais. Os agentes da informação (apresentadores) nesse caso são oriundos de uma vivência diferente dos usuários finais (agricultores familiares). Como os agentes da informação estão inseridos no meio acadêmico, é comum o uso de uma linguagem mais científica, que na maioria das vezes não faz parte da realidade do agricultor rural. Para ser mais eficiente na comunicação optou-se por, além de adotar linguagem mais simplificada, um assentado fazer parte da apresentação, sendo que o mesmo, por ter contato freqüente com os agentes da informação e com os usuários finais, poderia esclarecer melhor a informação, atuando como um mediador da comunicação entre as partes. Ao longo dos trabalhos realizados no assentamento foram comuns conflitos na comunicação, frequentemente ocasionados pela falta de experiência de parte da equipe em extensão rural. Ansiosos por aplicar a técnica aprendida na universidade, parte da equipe se equivocava tentando inserir uma nova realidade no sistema de produção do assentamento. FREIRE (1983) já citava esse comportamento por parte dos Agrônomos como um equívoco na extensão. O autor relata que é papel do Agrônomo-educador ajudar a construir essa nova realidade no meio rural, porém, a construção é resultante do diálogo entre o extensionista e o produtor, e não da imposição por parte do extensionista. Baseado nesse e em outros fatos, é comum a desconfiança do agricultor diante do extensionista. Neste contexto, a proposta de um assentado fazer parte das apresentações foi bem aceita pelos assentados, que desempenharam um papel tecnicamente importante, pois eles estão realizando as atividades tecnológicas apresentadas. Acredita-se que esta iniciativa tornou mais efetiva a comunicação e deu maior confiabilidade à informação frente aos participantes do dia de campo. As estações que abordaram os assuntos do PRV (Voisin), Certificação de orgânicos, Produção de sementes crioulas de qualidade e a Importância do milho crioulo na agricultura familiar, mostraram basicamente aos agricultores que através de tecnologias de baixo custo existe a possibilidade de ter um sistema sustentável de produção, independente de altos investimentos financeiros e elevada quantidade de insumos externos. A Apresentação das áreas experimentais de milho crioulo teve como objetivo principal, mostrar a importância da experimentação na obtenção de dados para a região, e principalmente a importância e possibilidade da experimentação em nível de propriedade.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 Como sendo um problema histórico da agricultura familiar, a obtenção de créditos e comercialização de produtos por um preço justo, o representante da Conab e do MDA apresentou aos agricultores alternativas de crédito e comercialização de produtos através de programas criados pelo governo federal. Coube a um representante do assentamento explicar aos produtores do território as etapas administrativas para participação nos programas, uma vez que os assentados já estão familiarizados com esse processo, pois o Assentamento Guanabara já usufrui desses programas há algum tempo. Os programas apresentados são: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que vinculado ao MDA, financia projetos individuais ou coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária; Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), vinculado à CONAB, foi desenvolvido para recompensar o esforço do pequeno produtor que precisa ser recompensado com a venda da sua produção a preço justo, de forma a remunerar o investimento e o custeio da lavoura, incluindo a mão-de-obra, e lhe permita ter recursos financeiros suficientes para a sobrevivência de sua família com dignidade (CONAB, 2011). A equipe do Lama acredita que usar o assentamento como modelo referencial foi a ferramenta de comunicação de maior efeito. Pode-se visualizar com clareza a compatibilidade que as tecnologias adotadas no assentamento têm em relação ao sistema de produção do público alvo, pois ambos estão inseridos em uma realidade cultural, social, econômica e de localização semelhantes. Contudo, as tecnologias apresentadas, são práticas ambientalmente conservacionistas, sendo assim tecnologias sustentáveis para o território em questão. O evento foi realizado com verbas previstas e aprovadas, por um projeto via MDA, porém mesmo com a verba disponível, o seu uso é muito dificultado devido a entraves administrativos e burocráticos para sua efetivação. Estes entraves podem inviabilizar ou no mínimo dificultar a organização de eventos desse tipo, tornando-se um dos grandes problemas na extensão. Conclusões O dia de campo apresenta grande potencial como ferramenta na difusão do conhecimento e de tecnologias para agricultura familiar, mas não substitui o diálogo entre extensionistas e camponeses como difusão do conhecimento.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 6 Referências ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma Agrária, v. 28 n. 1,2, 3 e v. 29, n. 1, 1998 e 1999. PERES, F. C. Capital SociaI: a nova estrela do crescimento econômico. Preços Agrícolas, n. 163, p.6-9, Piracicaba, maio, 2000. MÜLLER, J. E. Agroecologia: a semente da sustentabilidade. Florianópolis: EPAGRI, 211 p. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Ed. 7, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. FREIRE, I. M. Barreiras na comunicação da informação tecnológica. Ciência da Informação, v. 20, n. 1, p. 51-54, 1991. HOFFMANN, R.; KAGEYAMA, A. Modernização da agricultura e distribuição da renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Brasília: IPEA, v.15, n.1, 1985, 171-208p. SILVA, J. G. Tecnologia e agricultura familiar. Ed. 2, Porto Alegre: UFRGS, 2003. GERMER, C. (coord.). Progresso técnico na agricultura paranaense: o caso da soja. Curitiba: IPARDES, 1982. INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL/IPARDES. Diagnóstico Socioeconômico do Território Caminhos do Tibagi: 1ª fase: caracterização global. Curitiba, 2007, 132p. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO/MDA. Disponível em: <www.mda.gov.br>. Acesso em: 08 mai. 2011.