Depressão, Bicho Papão!



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Transcrição:

Depressão, Bicho Papão! Considerações sobre os Estados Depressivos no decorrer do Desenvolvimento Emocional Banzato, Ana Cristina Pretendo, neste trabalho, expressar algumas ideias sobre o desenvolvimento emocional em seus diversos momentos, usando para tal vinhetas clínicas na intenção de ilustrar as mudanças que permeiam o crescimento humano, mudanças essas que causam desordem e podem atingir o psiquismo em graus diferentes dependendo da constituição deste. É próprio do desenvolvimento a vivência de momentos críticos, os quais, em cada etapa no decorrer da vida, causam dores e angústias, provenientes das perdas impostas pelo crescimento, gerando assim um estado mental depressivo. Mas o que determina que uma crise se torne uma depressão patológica ou uma depressão própria do processo de crescimento, de desenvolvimento? Podemos trabalhar com algumas hipóteses. Proponho pensarmos na estrutura da personalidade herdada e nas primeiras experiências referentes à relação mãe-bebê como sendo fundamentais e determinantes para este processo. A instalação de um estado mental depressivo ou de uma depressão patológica é que representará o sucesso ou fracasso na elaboração do luto referente `as perdas que o crescimento impõe. Se houver fracasso, o psiquismo fica ancorado em um sentimento melancólico identificado com o objeto perdido e, portanto, odiado. Instala-se então, um sentimento de amargura que é a forma como o indivíduo vai experimentar o mundo e o viver. Durante a infância sofremos várias perdas, devido as separações que a vida impõe. A começar pelo próprio nascimento, depois o desmame, o nascimento dos irmãos, o ingresso na vida escolar, o qual simboliza o momento em que a criança vai enfrentar o mundo externo sem a proteção dos pais. Outro marco é a adolescência, com todas as perdas que representa, inclusive as referências do próprio corpo, perda da identidade infantil, perda da bissexualidade, e, além de perder a proteção dos pais, o adolescente tem que esforçar-se, pois o mundo externo fica mais trabalhoso. Outros momentos de passagem podem também ser considerados, como: formatura, casamento, nascimento dos filhos, crescimento destes e o processo de envelhecimento. O mundo exterior, já desde o nascimento, representa um perigo que gera a necessidade no ser humano de sentir-se amado; podemos compreendê-la como uma 1

defesa ou uma certa garantia ilusória de proteção. Essa condição decorre do fato do bebê humano nascer prematuramente em relação a qualquer outra espécie do reino animal. Ele nasce na condição da mais absoluta dependência. Freud em "Inibições, Sintomas e Angústia" (1926 [1925]) afirma: "...há muito mais continuidade entre a vida intra uterina e a primeira infância, do que a impressionante cesura que o ato do nascimento nos permite acreditar...". Freud, também, em uma nota de rodapé adicionada em 1909 em a Interpretação dos Sonhos (1900) diz: "O nascimento é, aliás, a primeira ocorrência de angústia e, por consequência, a origem e o modelo de toda a angústia.". Para exemplificar as questões que venho expondo, cito fragmentos do atendimento de uma criança, a quem vou chamar de Caio. Ele me pergunta durante uma sessão: C- Você sabia que o Bicho Papão é um transformista? A- Como assim? C- É, ele assume a forma daquilo que a pessoa mais tem medo na vida. A- E do que você tem mais medo? C- É de um fantasma que chama Dementador, sabe o que ele faz? A- Não, eu não tenho ideia. C- Ele suga todas as lembranças boas e deixa a pessoa só com as ruins, e se ele conseguir beijar, pode até sugar a alma e matar a pessoa. A- Mas não há nada que se possa fazer para detê-lo? C- Só tem um feitiço que ganha e protege você do Dementador, chama Expecto Patronum. C- Está aqui no meu caderno, todos os feitiços do Harry Poter. Você pode me ajudar a encontrar? A- Claro, vamos encontrar agora mesmo. C- Que horas são? Falta pouco tempo para acabar? A- Nós temos tempo, não se preocupe, eu te ajudo. Caio é um menino de 8 anos, fruto de uma gestação de alto risco, que nasceu muito prematuro. O parto precisou ser feito aos sete meses, pois o feto estava em sofrimento, correndo riscos. No início da ludo terapia observei que Caio apresentava uma fragilidade psíquica que tornava muito cansativo o seu contato com o mundo exterior. Ele necessitava fazer um esforço grande para manter-se interagindo com a realidade. Exausto, fechava-se como 2

uma concha e se desligava. Na escola começaram a surgir dificuldades com o aprendizado; em casa, suas brincadeiras foram ficando isoladas e distantes das dos irmãos e pais. Caio é um menino bastante inteligente e muito sensível, sensibilidade esta que apreende da realidade uma violência com a qual seu psiquismo imaturo e regredido ainda não é capaz de arcar, em função das marcas traumáticas de um nascimento prematuro e da manipulação a que ficou exposto na UTI neonatal, além do afastamento do corpo da mãe e dos riscos reais para sua vida. Essa foi a última sessão antes das férias, e o garoto tenta construir defesas para suportar o reviver dessas experiências de separações traumáticas, sem correr o risco de uma depressão patológica, em sua maneira de sentir, "ser sugado pelo Dementador" e perder todas as boas lembranças ou os bons objetos investidos afetivamente, que permitem que se mantenha ligado e envolvido com o mundo externo. Nessa sessão compreendi que estava se referindo ao risco de se deprimir, durante as ferias, revivendo a marca traumática, fruto do nascimento prematuro, comunicando também o medo de perder as boas experiências assimiladas, medo de não ser forte o suficiente diante de vivência tão traumática e devastadora, que promove angustias primitivas intensas as quais ameaçam e amedrontam. Ameaçam ancorá-lo em um sentimento melancólico e aprisioná-lo a um vazio interno que faz perder a alma. Chamou a minha atenção a precisão com que o menino define um estado depressivo patológico. O "Bicho Papão", com toda a destruição que é capaz de promover, inclusive enlouquecer, seu beijo que suga a alma, esvazia e a empobrece. A qualidade de transformista o torna tão poderoso e assustador que me levou a pensar no "Bicho Papão" de cada etapa do desenvolvimento emocional, as mudanças que promovem angustias que podem em cada momento surgir com formas diferentes, dependendo dos mecanismos psíquicos acionados e das experiências traumáticas reeditadas. Porque uns fazem depressão patológica e outros não? Uma hipótese é a de que alguns perdem as boas experiências, os bons objetos internos são sugados pelo que ora chamamos "Dementador" e ancoram em um estado melancólico, aprisionado a um mundo interno esvaziado. Outros conservam os bons objetos internos e são capazes de serem atraídos para o mundo externo e investir afetivamente outros objetos, pois conservam o encantamento para com a vida. O "Bicho Papão Depressão", papa tudo o que é bom, não resta nada, somente o que é ruim, portanto, perde-se a vontade, o desejo de viver, a esperança de ter alegrias, 3

satisfazer desejos, realizar sonhos. O mundo exterior é sentido como hostil e perigoso, sendo assim, o medo tende a crescer afastando o sujeito do contato com a realidade. Esse "Bicho Papão Depressão", no entanto, é tão sutil quanto a linha tênue que demarca a parte saudável do psiquismo da parte doentia deste. Ele é muito esperto, assume várias formas, é, nas palavras de Caio, Transformista, engana, transforma a realidade e rouba aquilo que temos de mais precioso, a Condição Afetiva. Todo objeto bom é investido de afeto e se o indivíduo perde o bom objeto e não consegue readquirir a libido para reinvesti-la em outro perde a sua maior riqueza; a capacidade de Amar, de ser generoso, de ter fé na vida. Esse "Bicho Papão" é perigoso mesmo... Durante muito tempo montamos lego nas sessões de Caio, até que um dia ele quis jogar batalha naval. No jogo, Caio vai acertando todos os meus navios e eu desconfio que ele viu meu jogo; então falo: A- Caio, você viu meu jogo? C- Não!.. Não!.. isso chama se Intuição.. Em sua vez, coloca os dois dedinhos sobre a cabeça e diz: C- Espere um pouco, vou consultar o meu Universo Interior. Esse chamado Universo Interior, mundo interno está mesmo mais "poderoso", sofisticado, a medida que ganha recursos com novas experiências, as quais geram condições para conquistar. Caio pode assim arriscar com mais segurança, enfrentando o "Bicho Papão" e protegendo-se de ser roubado ou enganado. Desse modo, não precisa voltar para a concha e ficar aprisionado em angústias primitivas que aterrorizam, perseguem, geram desconforto e medo. Tenho a impressão de estar tão afinado com seu mundo interno que sua sensibilidade e intuição agora podem ser aproveitadas para ajudá-lo no contato com o mundo externo, sem desampará-lo e sem expor as partes frágeis, como ao nascer. Está crescendo e vencendo a batalha com o "Bicho Papão" que voltará em outros momentos, mas encontrará um garoto com mais recursos para essa luta, com vivências de esperança armazenadas, assimiladas com sucesso; um Caio com alma preservada, com um livro de feitiços que contém o antídoto para vencer o "Bicho Papão Dementador", um menino com sonhos, com esperança. Caio tem crescido muito e é nítido que desenvolveu mais segurança e confiança. Agora, alternamos as sessões com brincadeiras diferentes, mesmo que os brinquedos sejam os mesmos. Apresenta-se como um menino muito criativo, mas ainda surpreende-se 4

quando percebe que possui alguma habilidade que o torna mais capaz que seus irmãos ou que seus amigos, pois, que essa segurança ainda está sendo assimilada, estruturada. O Desenvolvimento humano é permeado por mudanças, transformações, que causam no Psiquismo a perda das referências familiares e conhecidas, originando estados de Mente diversos que provocam angústias e reeditam vivências traumáticas. Essas vivências levam ao contato com um sentimento de desamparo, o qual remete a um estado de Mente mais regredido. No modelo neurofisiológico do Projeto (1950 [1895]) Freud, considera o desamparo inicial do bebê o protótipo de toda a situação traumática. Freud (1892), introduz a noção de traumatismo psíquico, e na nova teoria da angústia, o acento incide sobre o estado de desamparo. O psiquismo do bebê transita na fronteira imaginária que separa o seu mundo interno do mundo externo, sob a pressão da ameaça de desintegração causada pelas angústias intensas que geram a cisão de partes do seu interior, a parte saudável da mente luta a fim de tentar dominar essas forças destruidoras e preservar as partes construtivas e integradoras de seu psiquismo. A angustia do bebê é fruto do perigo de ver sua própria agressividade suplantar a capacidade de amar. A posição depressiva pressupõe, assim, uma luta entre amor e ódio, entre vida e morte, entre "Bicho Papão" e realidade. Podemos pensar que para uma pessoa com condições favoráveis de personalidade, o processo de luto transcorrerá possibilitando a instalação da posição depressiva, a qual irá ajustar e adequar as transformações tanto dentro como fora do mundo interno, permitindo-se, assim, crescer e ganhar a condição de estar mais humano consigo mesmo e com o outro. Sendo assim, o crescimento e desenvolvimento diante das varias fases da vida assemelha-se a um processo de humanização, ao qual conquistamos a capacidade de tolerar frustrações, aceitar os limites, considerar o outro e afeiçoar-se, o que compreende por sua vez, a capacidade de doação e generosidade. As vivências de lutos são inerentes a vida emocional, para crescer travamos uma luta contra a depressão. O ser humano recusa o crescimento. Essa é a sua natureza, ele tende a se agarrar em tudo que dá segurança e conforto e, para crescer, é preciso correr riscos, se dispor a enfrentar o "Bicho Papão" e conquistar o território da esperança, dos sonhos, dos desejos, dos afetos, aceitando o desprazer de uma realidade que se impõe dia após 5

dia, com suas frustrações, com suas desilusões, com sua violência, e mesmo assim, ter fé que amanhã será outro dia. Resumo: Pretendo, neste trabalho, expressar algumas ideias sobre o desenvolvimento emocional em seus diversos momentos, usando para tal vinhetas clinicas na intenção de ilustrar as mudanças que permeiam o crescimento humano, mudanças essas que causam desordem e podem atingir o psiquismo em graus diferentes dependendo da constituição deste. Bibliografia: Freud, S. (1900). "A Interpretação dos Sonhos". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. IV) p. 103-295. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (1911). "Formulações sobre os dois Princípios do Funcionamento Mental". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XII) p. 277-290. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (1950 [1895]). "Inibições Sintomas e Angustia". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XX), p. 95-201. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (1917 [1915]). "Luto e Melancolia". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XIV), p. 271-291. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (1950 [1895]. "Projeto para uma Psicologia Cientifica". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. I), p. 381-393. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (1914). "Recordar, Repetir e Elaborar". In S. Freud, Edição Standard das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XII), p. 193-207. Rio de Janeiro: Imago, 1976 Tustin, Frances -(1981). "Nascimento Psicológico e Catástrofe Psicológica". In: Estados Autisticos em Crianças, p. 107-128. Rio de Janeiro, Imago, 1981. 6

Klein, Melanie -(1946). "Notas sobre alguns Mecanismos Esquizóides". In: Inveja e Gratidão, p. 17-43. Rio de Janeiro. Imago, 1985. 7