Seminário Interno Discussão de texto HORTA, Bernardo Carneiro. Nise. Arqueóloga dos mares. 27 de janeiro de 2009

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Transcrição:

Seminário Interno Discussão de texto HORTA, Bernardo Carneiro. Nise. Arqueóloga dos mares. 27 de janeiro de 2009 Professora Margarida de Souza Neves Departamento de História PUC-Rio

HORTA, Bernardo Carneiro. Nise. Arqueóloga dos mares. (2ª ed.) Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. Quem foi Nise da Silveira? (1906 1999) foi médica e psiquiatra brasileira, aluna e seguidora de Carl Jung. É a criadora do Museu de Imagens do Inconsciente, da Casa das Palmeiras e do Grupo de Estudos C. G. Jung. Defendeu uma abordagem mais humana do tratamento aos loucos e a importância da arte no tratamento.

O livro e o autor: Nise Arqueóloga dos Mares não pretende ser uma biografia convencional, até porque a própria Dra. se negava a escrever sua autobiografia, por considerar que a linearidade cronológica do gênero não consegue revelar o que há profundo na existência. Sendo assim, a obra foi elaborada conforme sugestão da própria psiquiatra. Diferente da biografia, com iníciomeio-e-fim, o livro versa sobre a vida de Nise, mas de forma fragmentada, criativa, vital. São unidades de texto que reúnem episódios, pessoas, animais, objetos, atitudes e situações espalhados livremente. Enfim, uma narrativa livre, predispondo o leitor a criar, juntamente com o autor, a sua Nise da Silveira, afirma Horta. www.aeroplanoeditora.com.br

Jornalista, nascido em 1962, formado pela PUC- Rio, frequentou por mais de 10 anos o grupo C.G. Jung. Utiliza o conceito de biografemas, de Roland Barthes para escrever uma biografia que rompa com a linearidade do tempo. wwwb.click21.mypage.com.br http://portalliteral.terra.com.br/artigos/bernardo-carneiro-horta-o-arqueologo-de-nise

Roland Barthes, enuncia, em Sade, Fourier, Loiola, livro de 1971: (...) Se fosse escritor, e morto, como gostaria que a minha vida se reduzisse, pelos cuidados de um amigável e desenvolto biógrafo, a alguns pormenores, a alguns gostos, a algumas inflexões, digamos: biografemas, em que a distinção e a mobilidade poderiam deambular fora de qualquer destino e virem contagiar, como átomos voluptuosos, algum corpo futuro, destinado à mesma dispersão!; em suma, uma vida com espaços vazios, como Proust soube escrever a sua. Grafado entre aspas, o neologismo biografema passou a fazer parte da teoria literária, inserindo-se na crítica como aquele significante que, tomando um fato da vida civil do biografado, corpus da pesquisa ou do texto literário, transforma-o em signo, fecundo em significações, e reconstitui o gênero autobiográfico através de um conceito construtor da imagem fragmentária do sujeito, impossível de ser capturado pelo estereótipo de uma totalidade. Roland Barthes 1915-1980

Mais tarde, em 1980, define, em A câmara clara, seu novo neologismo; (...) Gosto de certos traços biográficos que, na vida de um escritor, me encantam tanto quanto certas fotografias; chamei esses traços de biografemas ; a Fotografia tem com a História a mesma relação que o biografema com a biografia (p. 51). O biografema será, pois, um fragmento que ilumina detalhes, prenhes de um infra-saber, carregado de, barthesianamente falando, certo fetichismo, que vem a imprimir novas significações no texto, seja ele narrativo, crítico, ensaístico, biográfico, autobiográfico, no texto, enfim, que é a vida, onde se criam e se recriam, o tempo todo, pontes metafóricas entre realidade e ficção. http://www2.fcsh.unl.pt/edtl

Natureza do livro: Uma biografia, que vem somar-se a outras biografias de Nise da Silveira e permite a discussão tanto da vida e obra de Nise da Silveira quanto da biografia como gênero e sua relação com a história. Biografia / autobiografia. Biografia e ilusão biográfica (Pierre Bourdieu) Biografia e biografema. (Roland Barthes) CÂMARA, Fernando Portela "Vida e obra de Nise da Silveira Psychiatry On-line Brazil, 7 de Setembro de 2002. GULLAR, Ferreira. "Nise da Silveira: uma psiquiatra rebelde. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996. 1996. FRAYZE-PEREIRA, João A. "Nise da Silveira: imagens do inconsciente entre psicologia, arte e política" in Estudos Avançados. vol.17 no.49 São Paulo Sept./Dec. 2003. Disponível no formato.pdf DUQUE ESTRADA, Maria Ignez. Nise da Silveira. IN Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SPBC, agosto de 1987. www.canalciencia.ibict.br/notaveis/

Questões de método: biografema: noção e conceito. citações não localizadas. Questões de escrita: anuncia o que será feito.

Tese central: A excepcionalidade da vida, trabalho e personalidade de Nise da Silveira.

Interlocução: O livro dialoga constantemente com trechos da dra. Nise, de outros autores que escreveram sobre ela ou a mencionam e com entrevistas feitas pelo autor a amigos e alunos dela. Paratexto: dedicado à biografada, o livro traz, no início, agradecimentos, prefácio de Martha Pires Ferreira1 (desenhista, astróloga, membro do grupo CG Jung e colaboradora de Nise), apresentação de Márcia Leitão da Cunha (psiquiatra e colaboradora de Nise) e introdução do autor. A epígrafe é de Barthes. No final de cada capítulo reproduz fotos. E no final traz uma bibliografia sobre as obras de Nise (sem a tese), a bibliografia utilizada pelo autor (que inclui sites), a listagem dos depoimentos (27), os acervos e jornais pesquisados, cronologia da vida de Nise, os prêmios e homenagens por ela recebidos e os endereços, físicos e na Internet do MII e da Casa das Palmeiras. A vinheta de cada capítulo e a divisão das partes dos capítulos são mandalas. 1 Martha Pires Ferreira - http://www.joaodorio.com/arquivo/2005/10,11/entrevista.htm

O que são mandalas? Em sânscrito, a palavra a palavra mandala significa círculo. Para Jung a mandala é uma representação da totalidade. Na perspectiva de Jung, seus clientes experimentavam estas imagens circulares como "movimentos em direção a um crescimento psicológico, expressando a idéia de um refúgio seguro, de reconciliação interna e inteireza". Para Jung as mandalas são vasos ou embarcações nas quais nós projetamos nossa psique, que retorna a nós como um caminho de restauração. Ele reconheceu que figuras arquetípicas (símbolos universais) de várias culturas podiam ser identificados nesta expressão espontânea do inconsciente.

Fernando Diniz Fernando Diniz 54,9 x 36,1 cm óleo e guache sobre papel - MII

Fernando Diniz Guache sobre papel - Sem data 33 X 48 cm - MII

Elizabeth Velasco Óleo sobre tela - 1980 60 X 70 cm

Carlos Pertuis "Planetário de Deus" - Sem data Óleo sobre papel 36,5 X 55 cm - MII

C.J. Jung visita a exposição das mandalas feitas pelos pacientes da Dra. Nise. Suíça 1957.

Estrutura do livro e relação com a pesquisa: Capítulo 1 A infância e a adolescência. Capítulo 2 A terceira idade. Capítulo 3 A reintegração ao serviço público. Capítulo 4 Seus grandes amigos, os livros. Capítulo 5 Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro. referência à tese p. 134 Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil. 1926. Hospício da Praia Vermelha e menção a Henrique Roxo, então catedrático p. 153. Capítulo 6 As mandalas. encontro com Jung em 1957. importância da mitologia p. 171 172. Freud Jung e o quadro de Da Vinci p. 184.

Estrutura do livro e relação com a pesquisa: Capítulo 7 Os animais. Capítulo 8 A exposição do MAM em 1949. Capítulo 9 A psicologia analítica. conceitos junguianos: arquétipo, mito (p. 256), símbolo, sombra, inconsciente coletivo, processo de individuação, Self. temas junguianos: religião, contos de fada, sonhos, alquimia e libido. Capítulo 10 Prisão e liberdade. A Sala 4 da Frei Caneca em 36 37. (p. 283-317) Positivação da tese: p. 284. Parece um sinal que minha tese universitária tenha sido sobre a criminalidade da mulher no Brasil. Já me atraiam pessoas assim, que não estivessem muito dentro das normas... Os marginais. Em muitos sentidos eu me sinto marginal. (Nise)

Estrutura do livro e relação com a pesquisa: Capítulo 11 Irmãos e camafeus. Capítulo 12 Encontros arquetípicos.

INTERESSE PARA A PESQUISA: 1. A tese de Nise Magalhães da Silveira (buscar). 2. Para o estudo do mito e sua relação com a pesquisa. 3. Menção à histeria p. 182. 4. Referência a Philipe Pinel p. 322. 5. Referência a Henrique Roxo p. 153. 6. A vida no Hospício da Praia Vermelha em 1930 40 p. 153 ss. Como um livro que não traz nenhuma menção à epilepsia interessa a uma pesquisa como a do Grupo?

msneves@puc-rio.br www.historiaecultura.pro.br