1875 / 1961 Kesswil, na Suíça

Transcrição

1 1875 / 1961 Kesswil, na Suíça

2 Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa, aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade. (...) O que se é, mediante uma intuição interior, e o que o homem parece ser sub specie aeternitatis, só pode ser expresso através de um mito. (...). Assim, pois, comecei agora, aos oitenta e três anos, a contar o mito da minha vida.

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4 Além do nosso consciente imediato, que é de natureza completamente pessoal, e que acreditamos ser a única psique empírica, existe um segundo sistema psiquico, de natureza coletiva, universal e impessoal, que é idêntico em todas as pessoas. Este inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente, sendo antes, herdado. Consiste em formas preexistentes, os arquétipos, que só se tornam conscientes de modo secundário e dão forma definitiva a certos conteúdos psíquicos.

5 ...tudo que eu conheço, mas em que no momento não estou pensando; tudo de que outrora tive consciência, mas que por ora esqueci; tudo o que meus sentidos perceberam, mas que não foi notado por minha mente consciente; tudo o que involuntariamente, e sem minha atenção, senti, pensei, lembrei, quis e fiz; todas as coisas futuras que se estão formando em mim e que em algum momento emergirão na consciência...

6 Desse modo, o inconsciente é um estado psíquico que inclui os conteúdos futuros e os antecipa; bem como guarda a memória ancestral de toda a existência acumulada desde tempos imemoriais. Como o deus Mercurio, ele é dualista e contém todos os aspectos da natureza humana: sombra e luz, bem e mal, bestial e divino, criador e conservador. Como Janus, uma face olha para trás, para a pré-história dos instintos mais brutais, enquanto a outra olha para o futuro e a criação de um ser mais evoluído.

7 Jung chama os arquétipos de imagens primordiais, as formas mais antigas de pensamento da humanidade. Não são idéias herdadas, mas propensões da psique humana, que podem se expressar de formas específicas, quando ocorrem situações específicas.

8 O Corpo Como Expressão De Arquétipos Pintura de Frida Kahlo

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12 Jung descreve a sincronicidade como uma coincidência significativa de dois ou mais eventos, onde não há a probabilidade da ocorrência de um acaso. As conexões dos eventos sincrônicos não resultam do princípio de causa e efeito, mas de algo que ele chamou de princípio de conexão não-causal. Permeando essas concepções está a idéia de que existe na natureza uma fonte de todo conhecimento, fora da alma humana, um conhecimento absoluto. A idéia de uma unidade de toda a natureza (unus mundus) permeia essas concepções, e portanto nelas não existe uma diferença entre o micro e o macrocosmo - há uma correspondência entre todas as coisas.

13 A JORNADA DO HERÓI Nos mitos, a Jornada do Herói consiste, primeiramente, na busca de um tesouro que representa uma conquista, e na volta para o serviço, trazem a contribuição de seu aprendizado. Os mitos clássicos relatam sempre alguns temas básicos: um rei doente ou ferido ou uma rainha sequestrada; um reino devastado pela fome, pestes, ameaças de guerra, injustiça social; um chamado para salvar o reino é o começo da jornada do Herói. O padrão desses mitos sempre mostra que o Herói mata dragões, salva donzelas, recuperam tesouros. No final da jornada eles voltam ao reino e são coroados e elevados a governantes, e aí começa uma nova jornada.

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15 No fundo, a jornada do Herói é um projeto universal de auto-aperfeiçoamento, em direção ao nosso verdadeiro ser (Self). Jung percebeu que isso faz parte da natureza humana, e chamou a essas forças psíquicas que se manifestam em forma de mitos, de arquétipos.

16 Mito é uma criação artificial que pode ser forjados culturalmente para satisfação de interesses econômicos e políticos. Ex: os super-heróis, as top-models, bandas de Rock, jogadores de futebol etc. Mithos é o termo que expressa o drama divinohumano da existência, o anseio pela transcendência, as forças espirituais da alma. Por isso são atemporais e trans-culturais.

17 A Grande Mãe foi o primeiro mithos criado pelo ser humano para representar Deus.

18 Função mística despertar para o mistério, sensação de reverência, sentimento de conexão. Função cognitiva fornecer meios para a compreensão do universo, da sociedade, da época. Função ética transmitir as normas de uma ordem moral, orientar as gerações. Função terapêutica proporcionar o equilíbrio emocional e psíquico através de seus relatos.

19 O método proposto por Jung se assemelha menos a um tratamento de cura das patologias que um processo de reeducação da personalidade para atingir a plenitude e a auto-realização. Ele afirma claramente que a cura das almas é a sua missão. Sua psicoterapia, segundo suas palavras... transcende suas origens médicas, deixando de ser apenas um método para tratamento do doente. Hoje ela trata da pessoa sã ou daqueles que têm o direito moral à saúde psíquica, cuja doença é, no máximo, o sofrimento que atormenta a todos nós. Por isso, a psicologia analítica pode reivindicar que busca o bem-estar comum...(in A Imaginação Ativa na prática).

20 Seguir o caminho da natureza como um guia. Permitir a integração do inconsciente com o consciente, favorecendo a emergência de um novo centro o Self. Permitir a emergência da Individuação. Trabalhar os sonhos. Imaginação Ativa: relaxamento, associação de imagens, registro em outro nível (desenho, pintura, canto, dança, escrita), e análise do conteúdo. O compromisso ético da integração na vida pessoal dos conteúdos do inconsciente.

21 Discípula de Carl Gustav Jung, Nise da Silveira revolucionou a maneira de tratar os doentes mentais, utilizando técnicas artísticas - pintura e desenho - como terapia. Criou o Museu de Imagens do Inconsciente, campo de passagem entre o hospício e o mundo da arte, no Rio de Janeiro.

22 Gravura de William Hogarth representando um manicômio. O trabalho de Nise da Silveira é pioneiro na luta antimanicomial no Brasil.

23 A biografia de Van Gogh é uma referência importante para as pessoas interessadas em compreender as possibilidades terapêuticas do trabalho criativo com arte frente às pertubações emocionais.

24 Pacientes de Nise da Silveira Adelina Gomes 1950 Neolítico "Raramente vi, talvez mesmo nunca haja vista, um só caso que deixasse de recuar às formas de arte do neolítico ou revelar evocações de orgias dionisíacas". C G. Jung

25 Carlos Pertuis 1975 No último período da vida de Carlos, suas pinturas giraram cada vez mais em torno do tema mítico do Sol. Mithra é um deus solar e herói, cujo mito narra a dolorosa procura da consciência que o homem de todos os tempos vem representando sob mil faces.

26 Apolo apaixona-se pela ninfa Dafne, filha do Rio Ladão e da Mãe Terra. Ela se esquiva, mas o deus não aceita ser recusado. Apolo persegue Dafne. Fugindo sempre, a ninfa busca refúgio junto de sua mãe, a terra, que a acolhe e a metamorfoseia em vegetal. Adelina Gomes 1961 O mito de Dafne exemplifica a condição da filha que se identifica tão estreitamente com a mãe, a ponto dos próprios instintos não lograrem desenvolver-se. Por estranho que pareça, Adelina, modesta mestiça do interior do Estado do Rio, reviveu o mito da ninfa grega Dafne. Numa situação conflitiva, ela se rendeu e disse: "Eu queria ser flor."

27 Só é possível semelhante penetração e transformação através da força arrebatadora da visão interior, porque as imagens primitivas ou arquetípicas são os princípios formadores de nossa mente. A subjetividade da visão interior não diminui seu valor de realidade. Tais visões não são alucinações, pois sua realidade é a da psique humana. São símbolos nos quais se expressam o conhecimento mais elevado e o empenho mais nobre da mente humana. Sua visualização é o processo criativo da projeção espiritual, pelo qual a experiência interior se traduz de forma visível, comparável ao ato criador de um artista, cuja idéia, emoção e visão subjetivas se transformam numa obra de arte objetiva, que afinal assume realidade própria, independentemente do seu criador. (Lama Govinda, in Mente Silenciosa, Mente Sagrada).

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