Omar Ferreira Miguel. Avaliação radiográfica comparativa de quadris dolorosos e sem dor em indivíduos adultos

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Transcrição:

Omar Ferreira Miguel Avaliação radiográfica comparativa de quadris dolorosos e sem dor em indivíduos adultos Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de: Ortopedia e Traumatologia Orientador: Prof. Dr. Alberto Tesconi Croci São Paulo 2010

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo reprodução autorizada pelo autor Miguel, Omar Ferreira Avaliação radiográfica comparativa de quadris dolorosos e sem dor em indivíduos adultos / Omar Ferreira Miguel. -- São Paulo, 2010. Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Ortopedia e Traumatologia. Orientador: Alberto Tesconi Croci. Descritores: 1.Radiografia/métodos 2.Dor articular 3.Articulação do quadril 4.Adulto jovem 5.Cabeça do fêmur/anormalidades 6.Acetábulo/anormalidades USP/FM/DBD-330/10

Dedicatória Ao Senhor Deus dos Exércitos, a quem tudo é possível e nunca falta àquele que crê. Aos meus pais Marcio e Teolinda, a quem devo os ensinamentos basais da vida sendo os alicerces de valores, amor, luta e, sobretudo o meu porto seguro. À minha esposa Ana Flavia, pelo amor, paciência e apoio incondicional. Às minhas irmãs Erika e Ellen, pelo apoio constante e orações. Aos meus tios Tércia e Bernardo pelo incentivo e apoio. Ao meu avô Waldir Victal Ferreira (in memorian), amigo e exemplo de vida. Ao mestre e amigo Ademir Rocha (in memorian), a quem devo todo o despertar do interesse pela pesquisa, pessoa nobilíssima, reta e de amor profundo pela ciência.

Agradecimentos Aos meus orientadores Dr. Henrique Antônio Berwanger de Amorim Cabrita e Prof. Dr. Alberto Tesconi Croci, por terem acreditado neste projeto. Ao Dr. Antonio Faga e Dr. Antonio Carlos Bernabé, pela amizade e pelos exemplos profissionais a serem seguidos. Ao amigo Hilton José Melo Barros, pelo incentivo nos momentos difíceis. À Nelci Rodrigues Sabino, do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, pelo apoio e incentivo. Ao Dr. Gildo Moacir de Souza, pelo apoio e incentivo. Ao Dr. Marcelo Bordalo Rodrigues, pela fundamental contribuição na elaboração e realização deste estudo. A Tomaz Puga Leivas, pela análise estatística. A bibliotecária Julietti de Andrade, pelo auxílio no levantamento bibliográfico. Às funcionárias Tânia, Rosana, Helena e Leide da pós-graduação do IOT, pelo apoio para a realização deste estudo. A todos aqueles, que direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste projeto. A todos os pacientes que se dispuseram a colaborar com o estudo, não medindo esforços para o seu bom desenvolvimento.

NORMALIZAÇÃO ADOTADA Esta dissertação está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação: Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Júlia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 2ª edição. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação; 2005. Termos de acordo com a Terminologia Anatômica Internacional, traduzida pela Sociedade Brasileira de Anatomia / Comissão de Terminologia Anatômica (2001). Referências adaptadas de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver) Medicus Abreviaturas dos títulos de acordo com List of Journals Indexed in Index Análise estatística realizada por Thomaz Puga Leivas, Engenheiro chefe do Laboratório de Biomecânica e coordenador da Comissão de Projetos do Conselho Diretor do IOT.

Sumário Listas Resumo Summary 1. Introdução...15 2. Objetivo...20 3. Revisão de Literatura...21 3.1 Osteoartrose...21 3.2 Imagenologia do quadril...22 3.3 Impacto Femoroacetabular...25 4. Método...36 4.1 Casuística...36 4.2 Protocolo de atendimento...39 4.3 Estudo Radiográfico...40 4.4 Análise Estatística...64 4.5 Qualificação da casuística...67 5. Resultados...73 5.1 Das variáveis qualitativas...73 5.2 Das variáveis quantitativas...83 6. Discussão...99 7. Conclusão... 113 8. Anexos... 114 9. Referências... 115

LISTAS LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AP anteroposterior CE center edge (centro borda) cm. centímetros et al. e outros HHS Harris Hip Score IMC índice de massa corpórea ma miliamperes mm. milímetros M metro Kgf quilograma força n. número p significância estatística p. página prof. professor R reprodutibilidade v. volume VCA vertical central anterior graus % por cento < menor que α alfa Ρ ângulo de anteversão femoral de Lequesne

LISTA DE SIGLAS CAPPesq FMUSP HC IOT Comissão para Análise de Projetos de Pesquisa Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Hospital das Clínicas Instituto de Ortopedia e Traumatologia LISTA DE FIGURAS Figura 1. Posicionamento do paciente para a realização do exame radiográfico na incidência anteroposterior (AP), a) visão da posição do paciente, b). imagem radiográfica obtida.... 42 Figura 2. Posicionamento do paciente para a realização do exame radiográfico na incidência: a) posicionamento do paciente, b). imagem radiográfica obtida, mensurando a distância equivalente entre uma cabeça femoral e outra igual a cabeça femoral... 44 Figura 3. Posicionamento do paciente para a realização do exame na incidência de Dunn, a). visão lateral, b). visão caudal, c) imagem radiográfica obtida.... 46 Figura 4. Posicionamento do paciente para a realização do exame na incidência de Dunn 45º, a) visão lateral, b) visão caudal, c). imagem radiográfica obtida.... 48 Figura 5. Representação do posicionamento para a obtenção da incidência de Ducroquet. a). visão lateral, b). visão caudal, c). imagem obtida... 50 Figura 6. Exemplos de esfericidade da cabeça femoral na incidência de Dunn, a). anesférica, b). esférica...51 Figura 7. Imagem representando a mensuração: a) do ângulo VCA de Lequesne e b) CE de Wiberg na incidência em AP.... 53 Figura 8. Representação da imagem obtida e da forma de mensuração do espaço articular superolateral, compreendido pelo intervalo entre as setas, nas imagens a). anterossuperior, b). Lequesne.... 55 Figura 9. Imagens radiográficas exemplificando a versão acetabular. a) anteverso e b) retroverso (linha amarela representa a projeção da parede anterior e a linha preta projeção da parede posterior).... 57 Figura 10. Imagem radiográfica exemplificando a mensuração da inclinação acetabular, sendo identificada pelas linhas amarelas, a) quadril sem alteração, b). quadril com alteração.... 59 Figura 11. Imagem radiográfica exemplificando da obtenção e mensuração do ângulo ρ.... 60 Figura 12. Imagem radiográfica evidenciando a mensuração do off set femoral, sendo este o intervalo compreendido entre as duas linhas amarelas.... 61 Figura 13. Representação esquemática da forma a ser aferido o ângulo α. O ângulo α é representado em ambas as imagens pela área hachurada e representa o raio da cabeça femoral. a) quadril patológico b) quadril normal (modificado de Nötzli et. al., 2002).... 62

Figura 14. Imagens radiográficas e exemplificação da aferição do ângulo alfa nas incidências, a) AP, b). Ducroquet, c) Dunn 45º e d) Dunn.... 63 Figura 15. Frequências relativas (%) intraclasses do gênero dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores 68 Figura 16. Idade (ano) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 69 Figura 17. Estatura (m) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 70 Figura 18. Peso (kgf) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 71 Figura 19. Índice de massa corpórea - IMC (kgf/m2) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 72 Figura 20. Frequências relativas (%) intraclasses da esfericidade da cabeça femoral na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 74 Figura 21. Frequências relativas (%) intraclasses da esfericidade da cabeça femoral na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores.....75 Figura 22. Frequências relativas (%) intraclasses da esfericidade da cabeça femoral na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 76 Figura 23. Frequências relativas (%) intraclasses do ressalto ( bump ) na transição cabeçacolo na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 78 Figura 24. Frequências relativas (%) intraclasses do ressalto ( bump ) na transição cabeçacolo na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 79 Figura 25. Frequências relativas (%) intraclasses do ressalto ( bump ) na transição cabeçacolo na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 80 Figura 26. Frequências relativas (%) intraclasses do ressalto ( bump ) na transição cabeçacolo na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 81 Figura 27. Frequências relativas (%) intraclasses da versão acetabular na incidência anteroposterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de setores... 82 Figura 28. Ângulo Alfa (grau) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 84

Figura 29. Ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 85 Figura 30. Ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 86 Figura 31. Ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 87 Figura 32. Ângulo de inclinação acetabular (grau) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 88 Figura 33. Espaço articular superolateral (mm) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 90 Figura 34. Espaço articular superolateral (mm) medido na incidência de Lequesne dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 91 Figura 35. Ângulo centro-margem de Wiberg (grau) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 93 Figura 36. Ângulo VCA (grau) medido na incidência de Lequesne dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 95 Figura 37. Ângulo de anteversão femoral de Lequesne (grau) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 96 Figura 38. Diferença entre os raios cabeça-colo ( off set ) femoral (mm) medido na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Representação pelo gráfico de colunas (Média ± EPM)... 98

Lista de Tabelas Tabela 1. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), do gênero dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 68 Tabela 2. Estatística descritiva da idade (ano) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α= 0,05 bilateral)... 69 Tabela 3. Estatística descritiva da altura (m) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α = 0,05 bilateral)... 70 Tabela 4. Estatística descritiva do peso (kgf) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α = 0,05 bilateral)... 71 Tabela 5. Estatística descritiva do índice de massa corpórea - IMC (kgf/m 2 ) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α=0,05 bilateral)... 72 Tabela 6. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), da esfericidade da cabeça femoral na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 74 Tabela 7. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), da esfericidade da cabeça femoral na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 75 Tabela 8. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), da esfericidade da cabeça femoral na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral) 76 Tabela 9. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), do ressalto ( bump ) na transição cabeça-colo na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste exato de Fisher (α=0,05 bilateral)... 78 Tabela 10. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), do ressalto ( bump ) na transição cabeça-colo na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 79 Tabela 11. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), do ressalto ( bump ) na transição cabeça-colo na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 80 Tabela 12. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), do ressalto ( bump ) na transição cabeça-colo na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 81

Tabela 13. Distribuição de frequência, absoluta (n) e relativa (%), da versão acetabular na incidência antero-posterior AP dos pacientes sem queixas dolorosas nos MMII, ou assintomáticos (controle), e com dor no quadril, ou sintomáticos. Comparação pelo teste de Qui-quadrado (α=0,05 bilateral)... 82 Tabela 14. Estatística descritiva do ângulo Alfa (grau) medido na incidência anteroposterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α=0,05 bilateral)... 84 Tabela 15. Estatística descritiva do ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Dunn dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov- Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α=0,05 bilateral)...85 Tabela 16. Estatística descritiva do ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Dunn 45º dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α=0,05 bilateral)... 86 Tabela 17. Estatística descritiva do ângulo Alfa (grau) medido na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste t de student (α=0,05 bilateral)... 87 Tabela 18. Estatística descritiva do ângulo de inclinação acetabular (grau) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 88 Tabela 19. Estatística descritiva do espaço articular superolateral (mm) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 90 Tabela 20. Estatística descritiva do espaço articular superolateral (mm) medido na incidência de Lequesne dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 91 Tabela 21. Estatística descritiva do ângulo centro-margem de Wiberg (grau) medido na incidência antero-posterior AP dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 93 Tabela 22. Estatística descritiva do ângulo VCA (grau) medido na incidência de Lequesne dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 94 Tabela 23. Estatística descritiva do ângulo de anteversão femoral de Lequesne (grau) dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov- Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 96

Tabela 24. Estatística descritiva da diferença entre os raios cabeça-colo ( off set ) femoral (mm) medido na incidência de Ducroquet dos pacientes assintomáticos (controle) e sintomáticos em relação à dor no quadril. Avaliação da normalidade pelo coeficiente de variação de Pearson e pela prova de Kolmogorov-Smirnov. Comparação pelo teste U de Mann-Whitney (α=0,05 bilateral)... 97

Resumo MIGUEL, O.F. Avaliação radiográfica comparativa de quadris dolorosos e sem dor de indivíduos adultos [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2010. 118p. O objetivo do estudo foi correlacionar a presença de alterações radiográficas em quadris de pacientes portadores de dor no quadril a um grupo de pacientes sem dor no quadril. Foram avaliados 122 pacientes com dor no quadril, e 100 pacientes sem dor no quadril. Todos com idade entre 20 e 50 anos. Os pacientes foram submetidos a exames radiográficos, nas incidências AP de pelve ortostático, falso perfil de Lequesne, Dunn, Dunn 45 e Ducroquet. Os parâmetros avaliados foram inclinação e versão acetabular, ângulo CE de Wiberg, espaço articular superolateral, ângulo α, ângulo ρ de Lequesne, ângulo VCA, diferença entre o raio da cabeça e do colo femorais ( off set ), esfericidade da cabeça femoral e a presença de ressalto na transição da cabeça com o colo femoral. Concluiu-se que as melhores incidências para o diagnóstico de impacto femoroacetabular são AP de pelve ortostático, Dunn 45 e Ducroquet, e que as seguintes alterações estão correlacionadas com dor nos quadris: off set diminuído, ângulo α aumentado, ângulo ρ de Lequesne aumentado, ângulo CE de Wiberg diminuído, espaço articular diminuído e presença de ressalto na transição cabeça-colo femoral. Descritores: 1. Radiografia / métodos 2. Dor articular 3. Articulação do quadril 4. Adulto jovem 5. Cabeça do femur / anormalidades 6. Acetábulo / anormalidades

Summary MIGUEL, O F Comparative radiograph evaluation of adult patients with and with out hip pain. São Paulo: School of Medicine, University of São Paulo; 2010, 118p. This study aimed to compare two groups of patients, with and with out hip pain, and correlate them with the existence of radiograph alterations. We ve studied 122 patients with hip pain and 100 asymptomatic; the ages were between 20 to 50 years old in both groups. All patients were roentnographicaly studied in anteroposterior pelvis in orthostatic position, Lequesne false profile, Dunn s, Dunn s 45 and Ducroquet s view. The radiograph parameters analized were the acetabular inclination and vertion, Wiberg CE angle, Lequesne VCA angle, Lequesne s antevertion angle (ρ), α angle, superior and lateral joint space, femoral off set, nonspherical of the femoral head and the presence of a bump on the head-neck transition. We conclude that the best incidences to diagnosis of femoroacetabular impingement are AP pelvis orthostatic, Dunn 45 and Ducroquet. The following alterations are correlate with hip pain: lower off set, higher α angle, higher Lequesne ρ angle, lower CE angle of Wiberg, lower articular space and bump in the femoral head-neck transition. Descriptors: 1. Radiography / methods 2. Articular pain 3. Hip joint 4. Young adult 5. Fêmur head / abnormalities 6. Acetabulum / abnormalities

1. Introdução Em decorrência do processo evolutivo, o ser humano adquiriu a postura ereta e a articulação do quadril passou a ter cobertura insuficiente na sua região anterior. Neste mesmo ponto, existe uma área de cerca de 4cm 2, onde ocorre um excesso de contato anterossuperior da cabeça femoral com o acetábulo. Nessa circunstância, ocorrem os movimentos de flexão e rotação interna do quadril o que predispõe a alterações degenerativas locais. Além disso, o aumento do peso e da altura do homem moderno, proporcionado pelos hábitos adquiridos pelo desenvolvimento das grandes inovações tecnológicas tornam-no mais suscetível ao desgaste articular (Roos, M.V. e Camisa Jr, A., 2003). No estudo da patogênese da osteoartrose, observa-se uma perda gradual dos componentes da matriz cartilaginosa, inicialmente, por diminuição de proteoglicanos e por alterações na integridade da estrutura do colágeno. As áreas focais de dano à cartilagem articular, com fibrilação e perda do volume, são uma de suas principais características. O local e a gravidade dessas lesões cartilaginosas são, primordialmente, definidos por fatores mecânicos, envolvidos na etiopatogenia dessa doença (Brown, 2007). A lesão cartilaginosa desencadeia uma elevação na síntese de matriz e a formação de osteófitos, os quais aumentam a estabilidade articular. A 15

perda das propriedades biomecânicas, associada à deterioração cartilaginosa e em concomitância à realização de eventos lesivos repetitivos, propicia a ocorrência de erosões na superfície articular, que se estenderão até ao osso subcondral (Correia, 2007). As alterações degenerativas articulares (osteoartrose) são classificadas como primárias, quando não apresentam causa definida, ou secundárias, quando são decorrentes de uma causa específica, como doenças da infância, sequelas de trauma, artrites infecciosas ou reumáticas. O conceito de osteoartrose primária ou doença idiopática do quadril é baseado na premissa de que a origem da doença não é conhecida, e esta condição se desenvolve com a vida adulta. (Harris, 1986). O desenvolvimento nas áreas da radiologia e artroscopia ampliou as possibilidades de diagnóstico das causas secundárias de osteoartrose do quadril, tornando a osteoartrose idiopática, cada vez mais, um diagnóstico de exceção (Harris, 1986). Estudos recentes têm demonstrado que a principal causa de degeneração do quadril são as alterações da biomecânica e da estrutura óssea dessa articulação (Solomon et al,1976; Klaue et al, 1991; Goodman et al, 1997 e Nötzli et al, 2002.) O cálculo da transmissão de forças para o desenvolvimento de artrose, ou mallum coxis, na biomecânica básica, é pautado na existência de uma sobrecarga concêntrica ou excêntrica. Na displasia do quadril, ocorre 16

uma orientação inadequada da superfície articular, com uma menor área de contato, levando à carga excessiva e excêntrica na porção anterossuperior, com subsequente desenvolvimento da osteoartrose, por cisalhamento da transição entre o lábio acetabular hipertrófico e a cartilagem hialina (Ganz, 2003). Entretanto, o mecanismo relacionado à sobrecarga axial não permite explicar o desenvolvimento dessa doença em indivíduos com estruturas esqueléticas e pressões intra-articulares aparentemente normais. A descoberta da existência de deformidades, que gerariam uma colisão anormal entre as estruturas ósseas do fêmur e do acetábulo, o impacto femoroacetabular, veio preencher essa lacuna. Nesses casos, deformidades provocam um contato anormal entre o fêmur proximal e a borda acetabular, durante os movimentos extremos do quadril, desencadeando lesões no labrum acetabular e na cartilagem acetabular adjacente, evoluindo posteriormente para um quadro de degeneração articular. (Ganz et al, 2003; Tannast et al, 2007; Blankenbaker e Tuite, 2006; Crestani et al, 2006; Clohisy, 2007; Siebenrock, 2007; Leunig 2009; Beall, et al, 2005; Meyer et al, 2006; Clohisy et al, 2009 e Dudda et al, 2009). A osteoartrose do quadril é diagnosticada com o histórico do exame físico e é comprovada por exames de imagenologia, geralmente radiografias simples da pelve e da articulação coxo-femoral nas posições anteroposterior (AP) e lateral ou perfil. 17

Como complementação diagnóstica, devem se utilizar outras incidências, posto que, nas radiografias iniciais usuais, não são observadas alterações radiográficas nos estágios precoces da osteoartrose. Além do fato de não mostrarem fatores predisponentes à coxartrose, como a deformidade em cabo de pistola, coberturas acetabulares excessivas ou insuficientes, escorregamento posterior mínimo e perda da esfericidade da cabeça femoral. Não há consenso, na literatura consultada, sobre a série de incidências radiográficas que possam evidenciar fatores predisponentes à evolução para a artrose de quadris assintomáticos. A investigação de fatores predisponentes a osteorartrose de quadril faz-se importante, posto que, segundo Peixoto, et al, 2004, as artroses são responsáveis por 7,7% das internações do Sistema Único de Saúde, consumindo 7,6% dos recursos destinados à saúde no país. No período entre 1997 e 2001, segundo esses mesmos autores, houve um aumento de 194,4% de internações, tendo como causa a osteoartrose. Considerando-se que, em 2025, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil será o sexto país do mundo em número de pessoas idosas, e que a osteoartrose no quadril está radiograficamente presente entre 4 e 6% dos indivíduos acima dos 65 anos de idade, com manifestações dolorosas muitas vezes prévias às alterações radiográficas objetivas, a artrose de quadril tornar-se-á um grande problema de saúde pública (Brown, 2007). 18

Assim sendo, políticas e programas visando à detecção precoce de fatores predisponentes à coxartrose poderão repercutir no futuro, uma vez que alterações anatômicas poderão ser corrigidas precocemente evitando a evolução para artrose do quadril. Do exposto, conclui-se que uma avaliação destinada à detecção precoce de fatores que predisponham ao desenvolvimento da osteoartrose pela lesão da cartilagem do acetábulo e/ou da cabeça femoral é importante, pois, a partir da detecção da alteração biomecânica, poder-se-ia intervir na lesão e corrigi-la em tempo hábil, evitando-se, assim, a degeneração articular (Siebenrock et al, 2003). Para tanto, o estudo se propõe a avaliar uma série radiográfica, com a finalidade de detectar precocemente fatores predisponentes ao desenvolvimento de osteoartrose do quadril. 19

2. Objetivo O estudo visa a correlacionar a presença de alterações radiográficas em quadris de pacientes portadores de dor no quadril comparando-os a um grupo de pacientes sem dor no quadril. 20

3. Revisão de Literatura 3.1 Osteoartrose A etiologia da osteoartrose de quadril tem sido alvo de estudos freqüentes há mais que 40 anos e ainda permanece como uma incógnita em uma porcentagem considerável de casos. Lloyd-Roberts, em 1955, descreveu uma incidência radiográfica de 59% de osteoartrose idiopática do quadril em 124 quadris submetidos à ATQ (atroplastia total de quadril) na vida adulta, significando que a etiologia dos casos de quadril artrósico era até então desconhecida. Portanto a coxartrose foi dividia em dois grupos etiológicos distintos, o de etiologia primária ou idiopática, a qual é baseada na premissa de que a origem da doença não é conhecida, e a secundária, fundamentada em doenças prévias do quadril tais como displasias, osteonecrose, fraturas, etc. Murray, em 1965, estuda radiograficamente 200 casos com osteoartrose primária do quadril, demonstrando algum grau de anormalidade anatômica em 65% dos casos. Baseado neste resultado este autor afirma que a distinção entre a osteoartrose primária e a secundária era algo artificial e que, portanto a maioria dos casos de osteoartrose primária era devido a anormalidades anatômicas discretas no quadril, em geral relacionadas à 21

epifisiolistese femoral proximal ou à displasia acetabular, resultando em incongruência articular e degeneração cartilaginosa prematura. 3.2 Imagenologia do quadril Wiberg e Sweden, em 1954, estudaram o ângulo formado por uma linha tangencial e outra paralela ao longo eixo do corpo, cruzando pelo centro da cabeça femoral, e outra paralela a margem acetabular, em 200 quadris de pacientes normais, concluindo que angulações até 25º eram normais e abaixo de 20º eram patológicas. Sharp, 1961, descreveu a forma de mensuração do ângulo de inclinação acetabular ou ângulo de Sharp, que é medido por uma linha traçada do pólo inferior da gota de lágrima ou figura em U até o ponto superior da margem lateral do teto acetabular. Stulberg, em 1975, introduz o termo deformidade em cabo de pistola ou pistol grip, pois encontrou anormalidades anatômicas discretas na cabeça femoral, provavelmente decorrentes de epifisiolistese femoral proximal ou doença de Perthes subclínicas não diagnosticadas. Solomon et al, 1976, confirmam os achados de Murray (1965) identificam 71% de alterações anatômicas do quadril e 13% de alterações artríticas, evidenciadas em estudo radiográfico de quadris sintomáticos. Em 327 casos avaliados, foi observado que 33% eram associados à doença de 22

Perthes ou epifisiolistese, 20% estavam relacionados à displasia acetabular sutil, 18% apresentavam inclinação femoral discreta e em 13% havia fatores que sugeriam artrite inflamatória associada. Baseado nos dados obtidos, estabeleceu-se uma nova classificação para osteoartrose do quadril, dividida em três grupos: 1) falha de cartilagem previamente normal em decorrência de carga anormal ou incongruente por longos períodos; 2) falha de cartilagem danificada ou defeituosa sob condições normais de carga; 3) dano à cartilagem articular devido ao osso subcondral defeituoso. Cooperman et al, 1983, estudaram radiograficamente 20 pacientes, 32 quadris, avaliaram, entre outros, o ângulo CE de Wiberg, o espaço articular, a inclinação acetabular. Relataram que todos os pacientes, com alteração no ângulo CE, desenvolveram artrose do quadril. Concluíram que subluxação do quadril leva à osteoartrose, assim como a displasia no adulto sem subluxação. Harris,1986, relata que a chave para a detecção e o reconhecimento de anormalidades relativamente súbitas está na conformação do acetábulo e/ou da cabeça femoral.relata 90% de coxartrose secundária, diagnosticada por meio de exames radiográficos, destes 90%, a deformidade em pistol grip ou cabo de pistola foi verificada em 40% dos casos e, em 39%, displasia acetabular. Klaue et al, 1991, encontraram 100% de cobertura acetabular insuficiente em pacientes que desenvolveram coxartrose, diagnosticada por 23

exames de imagem (radiografias) nas incidências anteroposterior ou frente de bacia e falso perfil de Lequesne. Goodman et al, 1997, estudaram a deformidade em cabo de pistola em 306 quadris de esqueletos humanos, com mínimo escorregamento posterior, atribuindo, a essa alteração, uma incidência de 100% de osteoartrose, sendo os casos mais graves, observados em pacientes que possuíam escorregamentos mais severos. Lequesne e Laredo, 1998, relataram que a incidência denominada falso perfil de Lequesne foi útil para detectar estreitamentos do espaço articular em Mallum coxis ou artrose incipiente suspeita, em que as imagens em AP e perfil são inconclusivas. Em casos com diminuição do espaço articular medial,quando a imagem em AP é inconclusiva, o falso perfil é importante para definir a presença de pinçamento do anterossuperior, estabelecendo o diagnóstico de coxartrose. O falso perfil também é usado para a condrometria (medida da distância articular entre a cabeça femoral e o acetábulo, que é o valor da espessura da cartilagem do quadril), em estudos populacionais, por aumentar a sensibilidade, quando combinado ao AP, para diagnosticar pinçamentos e/ou estreitamentos do espaço articular. Esse fato é de fundamental importância para avaliar um possível uso de condroprotetor ou drogas modificadoras de estrutura. Solomon, 1976, Goodman et al, 1997, Tönnis e Heinecke, 1999, descreveram que pequenas deformidades em pacientes assintomáticos, 24

com histórico de doença do desenvolvimento do quadril, são causas significativas de evolução desfavorável e sintomática na vida adulta. Reynolds et al, 1999, citaram que a retroversão acetabular é um tipo específico de displasia em que a abertura da cavidade faz-se posteriormente em relação ao plano sagital, e que tal orientação pode ser uma fonte de impacto entre o rebordo acetabular anterior e o colo femoral. Descreveram o método para avaliação radiográfica com radiografias do quadril em incidências convencionais anteroposterior (AP), baseadas na determinação dos contornos das paredes anterior e posterior do acetábulo. O sinal do cruzamento ( cross over sign ou sinal em oito ) corresponderia a um acetábulo retrovertido. Tönnis e Heinecke, 1999, relataram que a osteoartrose do quadril, descrita inicialmente como primária, pode inicialmente ser decorrente de causas mecânicas e concluíram que o acetábulo profundo, a coxa vara, a epifisiolistese subclínica, assim como sua associação com a anteversão femoral, a deficiência femoral focal e a displasia do desenvolvimento do quadril podem levar à artrose secundária do quadril. Sugeriram, então, o estudo radiográfico e tomográfico para diagnosticar a anteversão femoral e acetabular, que seriam fatores predisponentes para osteoartrose do quadril, o que justificaria o tratamento cirúrgico, para corrigir tais deformidades, através da aferição dos ângulos de Tönnis, ângulo central-vertical-anterior (VCA) de Lequesne e Sèze e centro margem (CE) de Wiberg. 25

Eijer et al, 2001, relataram em pacientes vítimas de fratura do colo femoral o desenvolvimento de impacto femoroacetabular possivelmente devido a mau posicionamento durante a redução ficando o colo femoral em retroversão e em varo. Segundo Rakhra et al, 2009, o ângulo alfa é o parâmetro usado para quantificar o grau da deformidade femoral e reflete a insuficiência do off set, cabeça-colo femorais, assim como a anesfericidade da cabeça femoral, ou seja, o contorno da cabeça femoral. Relataram uma média de ângulo alfa variando de 69,7 a 74,0, obtido mediante estudos baseados em análise de artrografia por ressonância nuclear magnética de 41 pacientes. Clohisy et al, 2009, utilizaram, na avaliação pré-operatória de seus pacientes, o questionário de atividades físicas de Baecke, SF-32, Harris Hip Score e UCLA. Concluiram, em seu estudo que a maioria das incidências radiográficas usualmente feitas para o diagnóstico de impacto ou displasia do quadril tem seus parâmetros não reprodutíveis. 26

3.3 Impacto Femoroacetabular Em estudo realizado por meio da avaliação por ressonância magnética, Nötzli et al, 2002, encontraram alterações na conformação óssea da junção femoroacetabular, que é responsável pela degeneração da cartilagem articular em 85% dos pacientes. Desenvolveram, então, um método de mensuração do contorno da junção entre a cabeça e o colo femoral, local onde se localiza a deformidade. A medida elaborada é denominada ângulo alfa e baseia-se no ponto onde a porção anterior do colo femoral encontra-se com uma circunferência desenhada na superfície subcondral da cabeça femoral. Além dessa descoberta, Nötzli et al, 2002 colocaram em evidência uma correlação anatômica anormal entre a cabeça femoral e o acetábulo, adquirida como deformidade de desenvolvimento, propondo que isso seja uma causa de artrose em decorrência do impacto entre as duas estruturas. A análise revela boa reprodutibilidade dessa medida, quando realizada entre quatro observadores. Siebenrock et al, 2003, relataram que a retroversão acetabular tem sido descrita como a abertura orientada posteriormente com referência ao plano sagital. Tal deformidade, atualmente, é assumida como deformidade pré-artrósica, posto que a proeminência anterolateral da margem acetabular é um obstáculo à flexão e à rotação interna, predispondo ao impacto e levando à lesão labral e cartilaginosa. A lesão torna-se pior quando associada à presença de deformidades do fêmur proximal, as quais 27

promovem o impacto femoroacetabular, com encurtamento do off set, como visto na deformidade em cabo de pistola. Ganz et al, 2003, descreveram que a biomecânica básica da coxartrose é baseada na transmissão irregular de carga, fundamentada em concentricidade e excentricidade de forças de sobrecarga transferidas à cartilagem acetabular. Tais fatos são notoriamente observados em doenças como o impacto femoroacetabular e a displasia do desenvolvimento do quadril. Relataram a existência de dois tipos de impacto, o tipo came, promotor de abrasão e/ou avulsão e da cartilagem acetabular bem como do labrum, que acometem principalmente a área anterossuperior, e o tipo pincer ( pinçamento ou torquês ), que resulta de um contato linear entre o rebordo acetabular e a junção cabeça-colo femoral, fato que pode resultar em degeneração labral e na formação de gânglios intra-labrais traumáticos, bem como na ossificação labral e no agravamento da cobertura acetabular. Mencionaram, também, que é importante o estudo da esfericidade da cabeça femoral, pois cabeças anesféricas são predisponentes ao desenvolvimento de lesões condrais precoces pelo impacto femoroacetabular tipo came. Wagner et al, 2003, ratificaram as descobertas de Ganz et al, 2003, em estudo histológico de amostras de cartilagem colhidas em cirurgias de pacientes com impacto no quadril e sem osteoartrose. Essas amostras foram comparadas a amostras da mesma localização em espécimes de cadáveres sem patologia no quadril e a outro grupo de pacientes com osteoartrose 28

submetidos à artroplastia do quadril. Observaram lesões na mesma localização nos grupos com impacto e com artrose estabelecida, com graus de lesão menores nos pacientes sem artrose, enquanto, no grupo controle, não foi observado esse padrão de lesão. Tais resultados dão suporte ao mecanismo do impacto femoroacetabular como causa de osteoartrose precoce nesse grupo selecionado de pacientes e sugerem que as lesões na periferia são um precursor para o desencadeamento da artrose, com evolução posterior para coxartrose. Giori e Trousdale, 2003, relataram que a osteoartrose primária do quadril é rara e a maioria dos casos de coxartrose primária atualmente têm sido atribuídos a doenças como displasia, Perthes, displasia epifisária múltipla ou outras anormalidades estruturais do quadril. Associaram a displasia acetabular a alterações do ângulo de Tönnis, ao ângulo centro margem (CE) de Wiberg e ao ângulo central-vertical-anterior (VCA) de Lequesne e Sèze, assim como à retroversão acetabular. Beck et al, 2004, estudaram a localização das lesões cartilaginosas e labrais em relação ao tipo de impacto femoroacetabular, utilizando achados intraoperatórios de pacientes com impacto femoroacetabular. Observaram que os portadores de impacto tipo came apresentavam área danificada de cartilagem, predominantemente na região anterossuperior, com uma profundidade de dano em torno de 1/3 da espessura da cartilagem normal para aquela localização. As lesões caracterizam-se, na sua maioria, por uma área de clivagem, combinada com um defeito adjacente ao bordo acetabular 29

ou a uma área de malácea. As lesões no lábio acetabular ocorrem em uma localização idêntica e, em geral, em separado da cartilagem. Nos quadris com impacto tipo pinçamento, as alterações do lábio acetabular são mais circunferenciais e na porção superior do acetábulo, sendo a profundidade do dano à cartilagem em média de quatro milímetros, na localização superior. Peele et al, 2005, avaliaram radiografias de 78 pacientes, tratados por artroscopia, e compararam a um grupo controle de pacientes normais. Obtiveram maior prevalência de deformidades radiograficamente mensuráveis no grupo com lesão labral, com valores significativamente diferentes para o ângulo centro-borda de Wiberg e ângulo de Tönnis. Os resultados para o off-set entre a cabeça e o colo femoral e retroversão acetabular, apesar da predominância de alterações no grupo com lesões, não apresentaram valores estatisticamente significativos, quando comparados aos casos controle. Beall et al, 2005, descreveram o impacto da porção anterossuperior da transição da cabeça para o colo femoral contra a porção adjacente do acetábulo, como sendo um mecanismo precursor de osteoartrose do quadril degenerativa. Concluíram que tal doença é fonte de dor, resultante de impacto da junção cabeça-colo femoral contra a porção adjacente do acetábulo, promovendo lesão cartilagínea e labral progressiva e coexistindo em dois tipos básicos de impacto, o tipo came e o tipo pinçamento. Meyer et al, 2006, estudaram a validade de seis posições radiográficas padrões quanto ao diagnóstico de anomalias do fêmur 30

proximal, em 21 fêmures intactos de uma coleção de 30 fêmures do Instituto de Anatomia da Universidade de Berne na Suíça. Desses, 11 eram anesféricos e 10 esféricos. Os valores dos ângulos α foram aproximadamente na incidência AP 50, Dunn 45 50, Dunn 50 e Ducroquet 45. Concluíram que a melhor incidência para avaliar o contorno da cabeça femoral, principalmente em seu contorno anterossuperior, é a incidência de Dunn em 45 graus. Blankenbaker e Tuite, 2006, relataram, em seu estudo, que quadril doloroso é um sintoma comum e que o estudo dessa patologia sempre requer exames imagenológicos. Ângulos alfa (α) maiores que 55 graus estão intimamente relacionados com a sintomatologia dolorosa do quadril, bem como ao impacto tipo came. O aumento do raio do colo femoral em relação ao raio da cabeça femoral está relacionado ao desenvolvimento de dor no quadril, assim como o desenvolvimento de impacto na porção anterossuperior do acetábulo. Crestani et al, 2006, relataram que a osteoartrose de quadril é multifatorial, sendo as causas genéticas e mecânicas as mais importantes. A doença degenerativa do quadril é desencadeada pela lesão da cartilagem articular com subsequente lesão labral. descreveram a existência de dois tipos de impacto, came e pinçamento. O nome cam ou came provém da mecânica e está relacionado à transformação do movimento circular em linear, graças à presença de saliências e reentrâncias, como em um virabrequim de motor. Os estudiosos atribuíram a lesão cartilaginosa a uma 31

abrasão que ocorre de fora para dentro da cavidade acetabular, pela entrada forçada de porção não esférica dentro da cavidade. As lesões do labrum são apenas parte do processo patológico, sendo secundárias ao impacto, além de sugerirem que as melhores incidências para o diagnóstico sejam Dunn e Dunn 45 e a incidência de Ducroquet seja mais utilizada para a mensuração da diferença entre raio da cabeça e colo femorais ( off set ). Tannast et al, 2007, estudaram radiograficamente critérios que indicaram os dois tipos de impacto femoroacetabular, tipo pinçamento e tipo came, orientando sobre a possíveis armadilhas quanto ao posicionamento do paciente ao realizar o exame de imagenologia, além de proporem critérios diagnósticos e diferenciais concernentes a cada tipo de impacto, sugerindo tratamento cirúrgico, assim que se iniciarem os sintomas, seja por técnica aberta ou artroscópica. Concluíram que impacto é a maior causa de artrose primária do quadril e que pode ser facilmente reconhecida em radiografias convencionais da pelve e de quadris. Clohisy et al, 2007, descreveram que os impactos tipo pinçamento e came podem ocorrer isoladamente ou em conjunto, e que o diagnóstico deve ser feito mediante estudo radiográfico bem feito e adequado, sendo esse conclusivo para a correta tomada de decisão quanto ao tratamento a ser ministrado. Relataram ainda que a incidência em anteroposterior não assinala adequadamente a porção anterolateral do colo femoral e que são necessárias incidências laterais para melhor visualização do contorno entre o colo e a cabeça femorais. Descreveram dados de alta concordância de 32

mensuração interobservador, e relataram que o ângulo alfa é o dado de maior utilidade para detecção de anesfericidade. O ângulo α na incidência AP apresentou uma média de 71,5, nos quadris com impacto e nos quadris normais 51,2. Na incidência cross table, no ângulo α do grupo patológico, a média foi de 58,8 e nos quadris normais foi de 47,2. Na incidência em rã ângulo α do grupo patológico, em média, foi de 65,2 e nos quadris normais foi de 43,7. O off set de quadris patológicos foi, em média, 7,6mm no AP, 9,6mm no cross table e 6,6mm em rã. Segundo Johnston et al, 2007, as anormalidades estão associadas a deformidades do acetábulo e do fêmur proximal, incluindo encurtamento do colo femoral, diminuição do off set femoral e sobrecobertura acetabular, além de anomalias que propiciam a formação da deformidade em cabo de pistola ( pistol grip ). Armfield e Towers, 2007, relataram que o impacto tipo came é visto na incidência de cross table assim como a anesfericidade da cabeça femoral. Além disso) atribuíram a sintomatologia dolorosa dos quadris a diminuição do off set, sendo os assintomáticos com valores iguais ou superiores a 11,5 mm e os sintomáticos com valores inferiores a 7,2 mm. Atribuíram o impacto tipo pinçamento à ocorrência de retroversão acetabular, sendo essa deformidade específica (retroversão) melhor vista em incidência em AP bem centrada, notando-se a imagem do cruzamento na porção mais superior da imagem acetabular. 33

Tannast et al, 2008, estudaram, em 55 pacientes, o posicionamento das lesões labrais, utilizando exames radiográficos nas incidências AP e cross table, aferindo o ângulo α, o ângulo CE de Wiberg, o off set femoral e a versão acetabular. Citaram que, em quadris com impacto, o ângulo α médio era de 74,1. Os quadris com impacto tipo pinçamento apresentaram 44,6 e, com impacto tipo came, 77,5. O sinal do cruzamento estava presente em 53% dos quadris com impacto. O ângulo CE médio de todos os quadris era de 35,8, (ponto final) o dos quadris com impacto tipo pinçamento era 40,1 e do tipo came era 29,2. Concluíram que a maior área de lesão labral ocorre junto à maior área de ocorrência do impacto femoroacetabular, situada na porção anterossuperior. Leunig et al, 2009, relataram que o estudo radiográfico apropriado para a investigação dessas lesões é realizado mediante imagens nas incidências anteroposterior, Dunn e Ducroquet. Declaram haver poucas informações sobre o curso natural das deformidades femorais e acetabulares, presentes no impacto femoroacetabular. Graves e Mast, 2009, relataram que o conceito de osteoartrose primária do quadril tem sido questionado há anos. O enfoque, que previamente era centrado no plano coronal estático e nas relações do fêmur proximal com o acetábulo, agora é centrado na face dinâmica dos conceitos de impacto femoroacetabular como fator de desenvolvimento de dor e osteoartrose do quadril. Fundamentaram sua análise radiográfica em 34

imagens obtidas nas incidências AP de pelve, falso perfil de Lequesne, AP do quadril, cross table. Dudda et al, 2009, estudaram 148 radiografias de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico aberto por impacto femoroacetabular, avaliando as incidências AP de pelve e cross table. Concluíram que, sem as imagens adequadas, a esfericidade da cabeça femoral pode ser subestimada em até 34,6% dos casos. Labronici et al, 2009, estudaram 199 fêmures, utilizando a observação feita por três avaliadores e apenas incluíram para o estudo os casos nos quais no mínimo dois observadores julgaram haver a presença de impacto femoroacetabular. Concluíram que o efeito came é causado em mais de 80% dos casos por alterações na transição cabeça-colo e em menos de 73% dos casos na base do colo femoral. 35