00626 A PERCEPÇÃO DE DOCENTES SOBRE O PAPEL DA FEIRA DE CIÊNCIAS NA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA Leila Marcia Ghedin Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima Elisângela Silva de Oliveira Universidade do Estado Amazonas Ivanise Maria Rizzatti Universidade Estadual de Roraima Resumo: Este trabalho resulta de nossa pesquisa de mestrado, que teve como objetivo: saber quais as contribuições da feira de ciências para a alfabetização científica de estudantes da educação básica a partir da percepção dos docentes. Teve como objetivos específicos: (i) saber a compreensão dos docentes sobre a alfabetização científica (ii) saber que práticas auxiliam na alfabetização científica de estudantes (iii) conhecer a percepção dos docentes sobre em que a feira de ciências contribui para a alfabetização científica. Trata-se de uma pesquisa etnográfica com observação descritiva de campo (MARTÍNEZ, 2000). Participaram 38 professores de duas escolas de ensino médio do município de São Luiz do Anauá e Alto Alegre, localizados no Estado de Roraima. Nossas reflexões foram baseadas no que diz a literatura sobre os conceitos de: formação docente, alfabetização científica e feira de ciências fundamentadas em Freire (1990), Chassot (2011), Demo (2007), Farias (2006), entre outros. Os resultados evidenciaram que os professores que participaram da formação continuada ofertada durante a preparação para a feira de ciências, manifestaram que esta contribui para a alfabetização científica dos estudantes e a entendem como o sujeito ter consciência do papel da ciência na sociedade e na cultura. Os que não participaram, manifestaram que a feira de ciências contribui para o conhecimento técnicocientífico do estudante, mas sem relação com o contexto social e têm o entendimento de alfabetização científica relacionado com a sala de aula e as atividades desenvolvidas na escola. Palavras-chave: Alfabetização científica. Formação docente. Feira de ciências INTRODUÇÃO Este trabalho é resultado de nossa pesquisa de mestrado em Ensino de Ciências desenvolvido na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), cujo objetivo foi saber qual a percepção dos docentes sobre a contribuição da Feira de Ciências para a alfabetização científica de estudantes da educação básica. Investigamos a prática de professores dos municípios de São Luiz do Anauá e Alto Alegre no Estado de Roraima, cujas escolas desenvolvem anualmente a Feira de Ciências com elaboração de projetos de pesquisa envolvendo estudantes do ensino médio. As questões que nortearam a pesquisa foram: (i) qual a compreensão dos docentes sobre alfabetização
00627 científica? (ii) que práticas auxiliam na alfabetização científica? (iii) quais as contribuições da Feira de Ciências para a alfabetização científica de estudantes? A metodologia utilizada foi a etnografia, com uso de entrevistas semi-abertas, (MARTINEZ, 2000), reuniões com os professores, levantamento de material documental e bibliográfico e aplicação de questionários. Participaram 38 docentes, destes, 02 eram gestores das escolas pesquisadas no período entre 2012 e 2013. Durante a pesquisa foi realizada uma formação de apoio às atividades da feira de ciências em um dos municípios, na qual tratamos sobre o conceito de alfabetização científica. Já no outro município não realizamos nenhuma formação devido à falta de condições estruturais. Apresentamos primeiro o conceito de alfabetização científica na visão dos estudiosos e dos professores pesquisados; em seguida abordamos sobre a feira de ciências em Roraima e por último, analisamos como os professores percebem a feira de ciências contribuindo ou não para a alfabetização científica dos estudantes. 1 O CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA: O QUE PENSAM OS PROFESSORES? De acordo com os estudos realizados, uma pessoa está cientificamente alfabetizada quando domina os códigos e a cultura da ciência e os relaciona com o seu cotidiano (CHASSOT, 2003). Demo (2007) ressalta que a alfabetização científica está diretamente relacionada à educação científica do professor. O autor questiona ainda, se o professor que estamos formando está preparado para disseminar a educação científica como algo que está presente no cotidiano e acrescenta que, esta discussão não é recente, mas que apesar disto, a ciência continua considerada um mito e uma forma de desmitificá-la seria a sua popularização. O que é alfabetização científica, afinal? Encontramos resposta já em 1620 quando Francis Bacon (1979) ressaltava que a ciência devia estar a serviço da humanidade e contribuir para o aumento do poder intelectual buscando o bem estar geral. Penick (1998) enfatiza que com o passar dos anos a retórica tem mudado, mas a força com que a mensagem tem sido repassada continua a mesma. Esta atitude foi entendida por Hurd (1958 apud PENICK, 1998) como alfabetização em ciências. Em 1958 os estudos se davam em continuidade a essa visão da ciência.
00628 Entre os autores contemporâneos, Lacerda (1997, p. 42) enfatiza que alfabetização científica trata-se da instrumentação do indivíduo com conhecimentos científicos válidos e significativos tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista individual, sem os quais o próprio exercício da cidadania ficaria comprometido. Para Chassot (2003, p. 64) é um processo que dota o indivíduo de noções de alguns conceitos e temas da ciência, de conhecimentos sobre a natureza da atividade científica e valoriza o papel da ciência na sociedade e na cultura. No entanto, ao fazermos esta pergunta para os professores investigados antes de participarem de formação sobre o tema obtivemos as seguintes respostas: pode ser semelhante a iniciação científica; é o entendimento que o aluno e professor vão obtendo gradativamente, através das pesquisas; acho que levar a pessoa a entender e compreender o funcionamento científico; fazer o be-a-ba da ciência. Porém após o curso de formação as respostas dos docentes apontaram que ser alfabetizado cientificamente é ter noção sobre a natureza da atividade científica e ter consciência do papel da ciência na sociedade e na cultura. Comparando o antes e o depois percebemos que houve uma evolução conceitual em relação à compreensão do que seja a alfabetização científica. As informações compartilhadas proporcionaram a inclusão da sociedade no conceito e chamam a atenção para a responsabilidade com a cultura científica. Os docentes que não participaram da formação limitaram-se a conceber a contribuição da feira relacionada à sala de aula e as atividades desenvolvidas na escola. 2 A FEIRA DE CIÊNCIAS EM RORAIMA No Brasil as feiras de ciências iniciaram com os Centros de Ciências que tinham um caráter de formação inicial e continuada de estudantes e professores. Em Roraima começou a partir de 1965, concomitante com a segunda feira realizada na Universidade Federal de Santa Maria que possuía um núcleo de estudos avançados em Roraima, por idealismo e força de vontade dos docentes (FARIAS, 2006). Porém, a partir de 1985, com a criação do Centro de Ciência de Roraima (CECIRR), as feiras de ciências passaram a ser periódicas e sob a coordenação de uma equipe multidisciplinar. Atualmente está sob a responsabilidade da Universidade Estadual de Roraima (UERR), sendo um evento científico bastante esperado por professores e estudantes de escolas da Educação Básica.
00629 O processo de participação na feira ocorre primeiro nas escolas internamente, onde os trabalhos classificados seguem para a feira estadual. Nesta, são avaliados e os classificados seguem para a Feira Nacional. Inicialmente os trabalhos desenvolvidos eram puramente demonstrativos, somente depois de uma formação em iniciação científica oferecida aos docentes pelo CECIRR, é que os trabalhos passaram a apresentar características do processo científico. Na visão dos professores, a feira promove o desenvolvimento intelectual, cognitivo, os aspectos da linguagem, desenvoltura e empolgação, é um modo de conhecer, na verdade ; Ajuda na divulgação da ciência ; Deixa a ciência mais próxima da comunidade. Embora seja perceptível a compreensão dos professores sobre os processos formativos da feira, a falta de sistematicidade na construção do conhecimento durante o ano letivo interfere diretamente na qualidade dos trabalhos e na formação dos estudantes. 3 A CONTRIBUIÇÃO DA FEIRA DE CIÊNCIAS À ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA A percepção dos professores investigados foi coerente, a nosso ver, em relação ao nível de conhecimento sobre o tema em questão, pois afirmaram que a feira de ciências contribui para a alfabetização científica dos estudantes. No entanto, o grupo que não participou da formação percebeu esta contribuição mais relacionada com as atividades desenvolvidas em sala de aula, ao conhecimento técnico-científico do estudante e que permite o crescimento tanto do professor como do aluno. Já o segundo grupo participante da formação, manifestou que esta contribuição está diretamente relacionada não só a noção do que é a ciência para o estudante e o professor, mas principalmente ao seu papel na sociedade e na cultura. Isto confirma o pensamento de Freire (1990), Giroux (1990 ), Chassot (2003), quanto a autonomia que este processo proporciona ao sujeito permitindo-lhe intervir na realidade em que está inserido. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a percepção dos docentes, a feira de ciências possibilita a construção do conhecimento pela pesquisa a partir da elaboração dos projetos e o desenvolvimento de atividades como seminários, estudos em grupo, eventos de divulgação científica para a
00630 comunidade, trabalhos interdisciplinares, considerados por eles como práticas que auxiliam na alfabetização científica dos estudantes. Estamos de acordo que a feira de ciências cria várias possibilidades e que ajuda no desenvolvimento intelectual e pessoal dos estudantes, porém é realizada como uma forma de prestar contas à comunidade, mostrando o que foi trabalhado em sala de aula durante o ano letivo. Embora esteja no projeto político pedagógico das escolas e do calendário escolar, passa ao longo do ano, por descontinuidades. Isso interfere na qualidade dos trabalhos e na formação de estudantes e professores pela falta de sistematicidade na construção do conhecimento. 5 REFERÊNCIAS BACON, Francis. Tratado sobre a correção do intelecto. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 5 ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa.8 ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2007. FARIAS, Luciana de Nazaré. Feiras de Ciências como possibilidade de (re) construção do conhecimento pela pesquisa. Dissertação (Mestrado) UFPA. Núcleo Pedagógico de Desenvolvimento Científico. Belém-PA: UFPA,2006. FREIRE Paulo, MACEDO Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Bem, 1990. GIROUX, Henri A. Alfabetização e a Pedagogia do Empowerment Político. In: FREIRE Paulo e MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo leitura da palavra. Tradução: Lólio L. de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. LACERDA, Gilberto. Alfabetização científica e formação profissional. Educação & Sociedade, ano XVIII, nº 60, dezembro/97, 1997. MARTINEZ, M. La Investigación Cualitativa Etnográfica en Educación: Manual Teórico Practico. TerceraEdición. México. Trillas, 2000. PENICK, J. E. Ensinando "Alfabetização Científica" Revista Educar, n. 14, p.91-113. Curitiba: Editora da UFPR, 1998.