A AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GERENCIAMENTO PARA O DESEMPENHO SUSTENTÁVEL



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CRISTINA DA SILVA FERREIRA LUCIENE SANTANA A AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GERENCIAMENTO PARA O DESEMPENHO SUSTENTÁVEL VITÓRIA 2003

CRISTINA DA SILVA FERREIRA LUCIENE SANTANA A AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GERENCIAMENTO PARA O DESEMPENHO SUSTENTÁVEL Monografia apresentada ao curso de Graduação em Ciências Contábeis do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: Prof. Gabriel Moreira Campos. VITÓRIA 2003

CRISTINA DA SILVA FERREIRA LUCIENE SANTANA A AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GERENCIAMENTO PARA O DESEMPENHO SUSTENTÁVEL Monografia apresentada ao curso de Graduação em Ciências Contábeis do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para a aprovação na disciplina TCC II e exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Gabriel Moreira Campos Universidade Federal do Espírito Santo Orientador Prof. Cláudio Simões Salim Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Fernando José Arrigoni Universidade Federal do Espírito Santo

Tratar o meio ambiente e a economia como sistemas concorrentes é como tirar a comida da mãe para alimentar seu bebê. Um alimenta o outro; nenhum pode ser sacrificado sem sacrificar o todo maior. William Coors.

ÀS NOSSAS FAMÍLIAS.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Pressões Exercidas Sobre as Indústrias... 31 Figura 2 - Modelo de Gerenciamento de Desempenho Sustentável... 41 Figura 3 - Série de Normas ISO 14000... 53 Figura 4 - Ciclo PDCA para o Sistema de Gestão Ambiental ISO 14001... 58

LISTA DE FLUXOGRAMAS Fluxograma 1 - Fluxograma 2 - Fluxograma 3 - Processo Genérico da Auditoria Ambiental... 111 Processo de Produção de Placas de Aço... 115 Processo de Produção de Bobinas de Tiras à Quente... 115

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Principais Acidentes Ambientais da Década de 70 e 80... 25 Quadro 2 - Benefícios da Gestão Ambiental... 37 Quadro 3 - Relação de Normas da Série ISO 14000... 54 Quadro 4 - Os 17 Elementos de SGA ISO 14001... 58 Quadro 5 - Segregação de Custos e Despesas Ambientais... 71 Quadro 6 - Balanço Patrimonial Ambiental... 76 Quadro 7 - Demonstração de Resultado Ambiental... 77 Quadro 8 - Paralelo entre as Auditorias Contábil e Ambiental... 97 Quadro 9 - Equipamentos de Controle Ambiental da CST... 118 Quadro 10 - Constatações da Auditoria... 122 Quadro 11 - Cumprimento da Política Ambiental e Alcance dos Marcos DS... 124

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Destinação de Vendas de Placas de Aço... 113 Tabela 2 - Certificação ISO 14001... 116

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 13 1.1 ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVAS DO ESTUDO... 13 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA... 15 1.3 OBJETIVOS... 17 1.3.1 Geral... 17 1.3.2 Específicos... 17 1.4 METODOLOGIA... 18 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO... 19 2 REVISÃO DE LITERATURA... 21 2.1 CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA - EVOLUÇÃO HISTÓRICA... 21 2.1.1 Início da Idade Ecológica... 21 2.1.2 Aumento das Preocupações Ambientais... 24 2.1.3 Globalização dos Conceitos Ambientais... 27 2.2 GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS... 31 2.2.1 As Empresas Frente às Pressões Ambientais... 31 2.2.2 Conceitos de Gestão Ambiental... 34 2.2.3 Princípios de Gestão Ambiental... 35 2.2.4 Benefícios da Gestão Ambiental... 36 2.3 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL... 37 2.3.1 Conceitos de Sistemas de Gestão Ambiental... 37 2.3.2 Modelos de Sistemas de Gestão Ambiental... 38 2.3.2.1 Modelo Winter... 38 2.3.2.2 Modelo de Gerenciamento do Desempenho Sustentável... 40 2.3.2.3 Modelo de SGA segundo a Norma ISO 14001... 48 2.3.2.3.1 O que é a ISO?... 48 2.3.2.3.2 Histórico da ISO 14000... 50 2.3.2.3.3 Normas da Série ISO 14000... 53 2.3.2.3.4 Aspectos Gerais da Norma ISO 14001... 55 2.3.2.3.5 Princípios e Elementos do SGA ISO 14001... 56

2.3.2.3.6 Benefícios da Implantação da ISO 14001... 60 2.4 CONTABILIDADE AMBIENTAL... 62 2.4.1 Histórico da Contabilidade Ambiental... 62 2.4.2 Contabilidade Ambiental e SGA... 64 2.4.3 Conceitos de Contabilidade Ambiental... 64 2.4.4 Itens Ambientais... 66 2.4.4.1 Gastos Ambientais... 66 2.4.4.2 Ativos Ambientais... 67 2.4.4.3 Passivos Ambientais... 68 2.4.4.4 Despesas Ambientais... 70 2.4.4.5 Custos Ambientais... 71 2.4.5 Evidenciação... 72 2.4.5.1 Relatórios Ambientais... 73 2.4.5.2 Demonstrações Ambientais... 75 2.4.5.3 Notas Explicativas Ambientais... 77 2.4.5.4 Indicadores de Desempenho Ambiental... 78 2.4.6 Limitações da Utilização da Contabilidade Ambiental... 79 2.4.7 O Papel do Contador na Gestão Ambiental... 80 2.5 AUDITORIA AMBIENTAL... 85 2.5.1 Auditoria Ambiental Evolução Histórica... 85 2.5.2 Definições de Auditoria Ambiental... 90 2.5.3 Tipos de Auditoria Ambiental... 91 2.5.4 Auditoria Ambiental e Auditoria Contábil... 95 2.5.5 Auditoria Ambiental como Instrumento de Gerenciamento para o Desempenho Sustentável... 97 2.5.5.1 Auditoria Ambiental e Avaliação do Desempenho Sustentável.. 97 2.5.5.2 Programas de Auditoria... 100 2.5.5.3 Fases e Procedimentos da Auditoria Ambiental... 105 2.5.6 Benefícios da Uilização da Auditoria Ambiental... 111 3 INFORMAÇÕES DA EMPRESA ANALISADA... 113 3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA... 113

3.2 MERCADO... 113 3.3 PROCESSO PRODUTIVO... 114 3.4 GESTÃO AMBIENTAL DA EMPRESA... 116 3.4.1 Política Ambiental... 116 3.4.2 Principais Aspectos Ambientais... 117 3.4.3 Interação com as Partes Interessadas... 118 3.4.4 Eco-eficiência... 119 3.4.5 Auditoria Ambiental... 121 4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS... 123 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 126 6 REFERÊNCIAS... 129 7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... 135 ANEXOS... 138 ANEXO A - NBR - ISO 14010 - Diretrizes para auditoria ambiental - princípios gerais... 138 ANEXO B - NBR ISO 14011 - Diretrizes para auditoria ambienta l- procedimentos de auditoria - auditoria de sistemas de gestão ambiental... 142 ANEXO C - NBR ISO 14012 Diretrizes para auditoria ambiental - critérios de qualificação para auditores ambientais... 148 152 ANEXO D - LEI Nº 4.802, de 02 de agosto de 1993... ANEXO E - DECRETO Nº 3.795-N, de 27 de dezembro de 1994... 154

RESUMO Esta pesquisa destina-se analisar a Auditoria Ambiental como instrumento de gestão para o Desempenho Sustentável. Para isso, procurou-se mostrar as características do Desempenho Sustentável e da Auditoria Ambiental e os benefícios da sua utilização como instrumento de gestão. Também através da análise dos Resultados da Auditoria Ambiental de uma empresa, procurou-se verificar o seu nível de resposta ao desempenho sustentável. Pôde-se comprovar que a Auditoria Ambiental desempenha um importante papel na gestão ambiental, por constituir num sistema de informações que compara o desempenho ambiental obtido com o que foi planejado pelas empresas, auxiliando no processo de gestão, através de recomendações de melhorias contínuas.

1 INTRODUÇÃO 1.1 ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVAS DO ESTUDO Percebe-se que, nas últimas décadas, o processo de gestão das empresas vem sendo afetado por inúmeras mudanças ocorridas no ambiente no qual estão inseridas, dentre elas, a globalização da economia, a crescente competitividade de produtos e serviços, a inserção de novas tecnologias e o desenvolvimento da consciência ambiental. Esta última, que tem estado em curso desde os anos 60, tem sido impulsionada e acelerada devido as várias pressões exercidas por força de regulamentos e leis, organizações não-governamentais ambientalistas, investidores, consumidores e fornecedores ambientalmente conscientes, mercados globais e o público em geral. Desta forma, observa-se a tendência de que o reconhecimento da variável ambiental no planejamento estratégico das empresas representa uma condição de continuidade de suas operações e de sua competitividade. Neste contexto, tornou-se indispensável, para muitas indústrias, a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental, principalmente para a entrada ou manutenção de mercados. A Norma ISO 14001, uma das normas da Série ISO 14000, estabelece os elementos necessários para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental que torna os serviços ou processos produtivos das empresas compatíveis com o meio ambiente. Entretanto, necessário se faz a aplicação de recursos consideráveis para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental e como qualquer investimento é natural a expectativa de retorno ou otimização desses recursos por parte da

empresa. Espera-se verificar progresso nos resultados e melhoria contínua do seu desempenho ambiental. O sucesso de um Sistema de Gestão Ambiental está diretamente relacionado a um adequado e eficiente sistema de informações que possibilite o controle e acompanhamento dos recursos aplicados, bem como o fornecimento de informações necessárias à avaliação do desempenho ambiental e a tomada de decisão. O processo decisório, geralmente, está voltado à solução e prevenção de problemas e para atingir este objetivo necessita de informações claras, precisas e relevantes. Entende-se que a Contabilidade constitui em uma ferramenta capaz de identificar, mensurar, registrar e evidenciar os gastos com o controle ambiental, atendendo também as necessidades de informações cada vez mais exigidas por outras partes interessadas (clientes, fornecedores, investidores etc.) no comportamento ambiental das empresas. Segundo Iudícibus e Marion (2002, p. 53) o objetivo da Contabilidade é [...] o de fornecer informação estruturada de natureza econômica, financeira e, subsidiariamente, física, de produtividade e social, aos usuários internos e externos à entidade objeto da contabilidade. Outra importante ferramenta que auxilia os gestores no gerenciamento ambiental fornecendo informações úteis ao processo decisório é a Auditoria Ambiental, pois esta avalia o desempenho ambiental da empresa, através da verificação do cumprimento da política ambiental adotada, do cumprimento da lei, da

identificação e avaliação dos riscos 1 e dos impactos ambientais 2 resultantes do processo produtivo e de medidas preventivas de preservação ambiental. Assim, pretende-se analisar a Auditoria Ambiental como um instrumento de Gerenciamento para o Desempenho Sustentável, por constituir numa ferramenta essencial de avaliação da eficácia de todas as ações de controle, aferindo a qualidade final do processo de controle ambiental integrado ao processo industrial. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA O sucesso do Gerenciamento Ambiental das empresas, ou seja, o alcance e a manutenção do Desempenho Sustentável, depende do nível de resposta que são capazes de dar ao desafio ambiental, ou seja, harmonizar o aspecto econômico ao aspecto ambiental. As empresas que respondem de forma reativa ou defensiva, que apenas reagem para satisfazer as pressões ambientais, voltando-se à resolução de problemas depois que já ocorreram, tendem a não sobreviver na era ambiental. A utilização da Auditoria Ambiental apenas para o cumprimento de leis visando evitar responsabilidade legal, dificulta a análise sistemática do seu desempenho ambiental e o controle dos possíveis efeitos que o processo de produção venha ocasionar ao meio ambiente, sendo um exemplo de resposta reativa por parte da empresa. Além disso, quando a alta administração não transforma o meio ambiente num princípio básico da empresa gera dificuldade na harmonização e integração da área ambiental junto às demais áreas funcionais. 1 Riscos que podem provocar conseqüências danosas ao meio ambiente. 2 Qualquer modificação do meio ambiente resultantes das atividades operacionais de uma empresa.

Segundo Oliveira (1984, p. 205), [...] o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia [...]. Já as empresas pró-ativas, que reconhecem que os problemas ambientais são problemas sistêmicos (interligados e interdependentes), indo além daquilo que é exigido por leis e regulamentos, obtém vantagens e fortalecem sua posição competitiva. Estas apresentam comportamentos de antecipação e prevenção de problemas futuros, agindo no sentido de evitá-los ou minimizar os seus reflexos. A não utilização da Auditoria Ambiental como um instrumento de Gerenciamento para o Desempenho Sustentável dificultará aos administradores o cumprimento das políticas adotadas, previsão dos riscos, dos responsáveis e os planos a serem utilizados nas situações de emergência caso essas venham a ocorrer. Tendo em vista o que foi exposto, algumas questões de pesquisa são colocadas: Quais as aplicações da Auditoria Ambiental? De que forma a Auditoria Ambiental pode contribuir para o Desempenho Sustentável? Quais os benefícios da utilização da Auditoria Ambiental como instrumento de gerenciamento?

1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Geral O objetivo geral deste trabalho é analisar a Auditoria Ambiental como um instrumento de gerenciamento que destina-se a melhorar a qualidade ambiental e auxiliar o processo decisório, visando o Desempenho Sustentável. 1.3.2 Específicos Identificar as características do Desempenho Sustentável e da Auditoria Ambiental; Apontar os benefícios da utilização da Auditoria Ambiental como instrumento de gerenciamento; Analisar como a Auditoria Ambiental pode promover o Desempenho Sustentável; Verificar, na prática, a utilidade dos resultados da Auditoria Ambiental como instrumento de avaliação do nível de resposta ao desempenho sustentável de uma empresa.

1.4 METODOLOGIA O método de abordagem da pesquisa adotado foi o dedutivo, pois segundo este método, partindo-se de teorias e leis gerais, pode-se chegar à determinação ou previsão de fenômenos particulares (ANDRADE, 1999, p. 113). Para o desenvolvimento do trabalho, visando atender aos objetivos propostos e obter um referencial teórico sobre a auditoria ambiental e o contexto em que está inserida, foi realizada pesquisa bibliográfica através de livros, revistas, artigos de internet, teses e dissertações. E com objetivo de verificar, na prática, a utilidade dos resultados da Auditoria Ambiental como instrumento de avaliação do nível de resposta ao desempenho sustentável de uma empresa, foi realizada pesquisa descritiva através da coleta e análise dos dados da Declaração Ambiental da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), que apresenta os resultados da Auditoria Ambiental de caráter Legal em 2000 e de seu Relatório de Sustentabilidade de 2002. Esses documentos foram obtidos através da internet. A escolha da CST deveu-se ao fato da atividade siderúrgica ter elevado potencial poluidor. E ao mesmo tempo, o fato da empresa ter conquistado várias premiações pela sua gestão ambiental.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O trabalho está organizado da seguinte forma: CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EVOLUÇÃO HISTÓRICA: mostra o desenvolvimento da consciência ecológica desde os anos 60 até os dias atuais, com a globalização dos conceitos ambientais; GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS: apresenta o novo desafio ambiental das empresas de harmonizar suas atividades econômicas com o meio ambiente através da gestão ambiental; SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL: Conceitua sistema de Gestão Ambiental e apresenta as características do Desempenho Sustentável, o modelo de seu gerenciamento e a norma ISO 14001; CONTABILIDADE AMBIENTAL: mostra a importância da Contabilidade Ambiental como um instrumento de mensuração, registro e evidenciação dos gastos ambientais auxiliando no processo de Gestão Ambiental, bem como o papel do Contador na proteção do meio ambiente; AUDITORIA AMBIENTAL: Apresenta as características da Auditoria Ambiental e sua utilização como instrumento de Gerenciamento para o Desempenho Sustentável, por constituir num processo sistemático, documental e de caráter avaliativo; INFORMAÇÕES DA EMPRESA ANALISADA: Apresenta a CST, empresa escolhida para verificação do seu nível de resposta ao Desempenho Sustentável através de informações obtidas de sua Declaração Ambiental Legal de 2000 e de seu Relatório de Sustentabilidade de 2002; ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS: mostra o nível de Resposta da CST ao Desempenho Sustentável;

CONSIDERAÇÕES FINAIS: a partir do referencial teórico e da análise dos resultados da Auditoria de uma empresa apresenta-se as considerações finais sobre o estudo.

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA - EVOLUÇÃO HISTÓRICA 2.1.1 Início da Idade Ecológica Historicamente, percebe-se que primeiro o homem explora predatoriamente o seu meio ambiente justificando-se pelo progresso industrial e o avanço tecnológico de uma sociedade de consumo. Posteriormente, verifica-se que é mais oneroso corrigir e minimizar as conseqüências da exploração predatória, além de observar que na maioria dos casos os efeitos são irreversíveis. No século XVIII, em conseqüência da degradação ambiental desencadeada pela Revolução Industrial, ocorrem os primeiros movimentos com o objetivo de preservar os espaços naturais. A produção de novos compostos químicos, a criação de máquinas e de processos de fabricação que empregam energia cujas principais fontes são os combustíveis fósseis, puseram em risco a qualidade da vida humana. No entanto, a sociedade começou a se preocupar com as questões ambientais, mais efetivamente no século XX, quando pela primeira vez na história, a destruição de uma cidade inteira podia ocorrer em questão de segundos. Ao explodir sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki a primeira bomba atômica, em 1945, iniciou-se o temor de que o homem tivesse desenvolvido a capacidade de destruir a si mesmo e o planeta. Daí, então, os efeitos da ação do ser humano sobre o meio ambiente passaram a suscitar várias manifestações na sociedade, dando início à idade ecológica.

Segundo Kinlaw (1997, p. 44, grifo do autor): O momento em que conceitos como ecologia e sistemas ecológicos chegaram mais próximos de se integrar à consciência popular foi em 1962, com a publicação [...] do livro de Rachel Carson, Primavera Silenciosa. Carson explicou, à sua maneira científica, como o DDT [um tipo de inseticida] se movimentava na cadeia alimentar, passando de uma forma de vida para outra, tornando-se, em seu movimento, cada vez mais concentrado e mais letal. Nos anos 60, a brutalidade da Guerra do Vietnã com uso intensivo de napalm e desfoliantes, os quais causaram danos incalculáveis à saúde humana e ao meio ambiente de um país essencialmente agrícola, provocou uma mudança profunda na atitude da população norte-americana resultando em várias manifestações. Nesta mesma época, as empresas preocupavam-se apenas com a eficiência dos seus sistemas produtivos, com a maximização do lucro e a minimização dos custos, não considerando os aspectos sociais, ambientais e políticos como variáveis significativas e relevantes na tomada de decisões. Callenbach et al. (1993, p. 25) afirmam que: Antes da década de 1980, a proteção ambiental era vista como uma questão marginal, custosa e muito indesejável, a ser evitada; em geral, seus opositores argumentavam que ela diminuiria a vantagem competitiva da empresa. Essa era uma reação defensiva, que tinha por objetivo diminuir, rechaçar, combater ou evitar todos os pedidos de indenização por danos ambientais. Com essa percepção, as empresas agiam sem a devida atenção e cuidado com o meio ambiente e utilizavam indiscriminada e indevidamente os recursos naturais que são limitados e escassos. Produziam poluição que estava destruindo os rios e tornando o ar das cidades carregado de gases venenosos e poeira tóxica. Além disso, o uso incorreto e abusivo de fertilizantes e biocidas, provocavam o envenenamento das águas e dos solos, causando o desaparecimento das espécies.

A consciência da necessidade de se preservarem os recursos naturais e os ambientes para se garantir o equilíbrio ecológico fez com que surgissem as organizações não- governamentais (ONG s) ambientalistas, que agem como grupos de pressão frente às empresas, à organizações internacionais e aos governos. No Brasil, as ONG s ambientalistas 3 começaram a surgir na década de 70, inicialmente organizadas para combater a poluição do ar e passando atuar, mais tarde, na defesa do conjunto do patrimônio ambiental brasileiro. Ainda nesta década, nos Estados Unidos, a noção de sustentabilidade se tornou um conceito-chave do movimento ambientalista. O surgimento de novas palavras de ordem como o Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social teve sua inspiração na Conferência de Estocolmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Suécia, em 1972. Foi a primeira reunião a tratar mundialmente das questões de meio ambiente e das necessidades de desenvolvimento. Os 113 países reunidos, industrializados e em desenvolvimento, discutiram a necessidade de adoção de medidas efetivas de controle dos fatores que causam degradação do meio ambiente, havendo grande repercussão para a conscientização da sociedade mundial sobre os problemas ecológicos e os impactos ambientais industriais. A poluição foi a palavra chave deste encontro. Porém, o Brasil, também participante da Conferência, [...] rejeitou firmemente o propósito de adoção de padrões internacionais para a proteção ambiental (DONAIRE, 1999, p. 28). Pois o 3 Devido a sua diversidade biológica, o Brasil desperta a atenção de países de todo o mundo possuindo escritórios de muitas ONG s ambientalistas internacionais como, por exemplo, da Greenpeace.

Brasil, assim como a Índia, defendia a idéia de que a poluição é o preço que se paga pelo progresso. A Conferência de Estocolmo resultou na criação da Declaração sobre o Ambiente Humano e na produção de um Plano de Ação Mundial, com objetivo de influenciar e orientar o mundo na preservação e melhoria do ambiente humano. Também foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), encarregado de monitorar o avanço dos problemas ambientais no mundo. A partir dessa Conferência, inicia-se uma série de Conferências da ONU. 2.1.2 Aumento das Preocupações Ambientais Devido aos acidentes ambientais ocorridos nas décadas de 70 e 80, os conceitos de proteção em relação ao meio ambiente começaram a se expandir, pois acidentes famosos contribuem para mudar políticas, legislação e conceitos sobre o gerenciamento ambiental. No Quadro 1, seguem descritos os acidentes: Acidente Local / Ano Impacto Seveso Itália / 1976 Um reator de uma fábrica de pesticidas superaquece liberando uma densa nuvem de produto químico venenoso causando a morte de muitos moradores e principalmente crianças. Todas as 723 famílias da região foram retiradas e abertas crateras de 200m de diâmetro para enterrar objetos contaminados. Three Mile Island Pensilvânia (EUA) / 1979 Um reator de uma usina nuclear superaquece liberando gás radioativo para o meio ambiente. Os 200.000 habitantes abandonaram a região devido a ameaça de contaminação. Bhopal Índia / 1984 Ocorre um vazamento de gás altamente venenoso numa fábrica de pesticidas causando 3.300 mortes nas primeiras horas após o acidente. Dos 680.000 habitantes, na ocasião, 525.000 foram afetados. Chernobyl Kiev (Ucrânia) / 1986 O superaquecimento de um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl provoca uma explosão liberando radioatividade em quantidade superior à contida, por exemplo, em 10 bombas atômicas do tipo lançado em Hiroshima, atingindo além das fronteiras da Ex- URSS e ameaçando a produção de alimentos de toda a Europa. Esse acidente, considerado o mais grave acidente nuclear da história, matou mais de 10.000 pessoas, sendo que 600.000 trabalhadores encarregados da limpeza e 200.000 habitantes da região foram

afetados. Devido a radioatividade os habitantes da Ucrânia e Bielorrússia não podem ingerir água ou alimentos da região e cerca de 20% do solo agricultável e 15% das florestas não poderão ser habitadas por mais de um século. Césio 137 Goiânia (Brasil) / 1987 Exxon Valdez Alasca (EUA) / 1989 Uma cápsula contendo material altamente radioativo (Césio-137), desaparecida de um hospital, é encontrada em um ferro-velho e aberta inadvertidamente, causando a morte de 4 pessoas e a contaminação de 250. Em 2001, o Ministério Público de Goiânia afirmou que outras 600 pessoas foram contaminadas. O acidente produziu 13,4 t de lixo contaminado, o qual está armazenado em 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 conteiners em um depósito de Goiânia e deverá ficar lá por mais 180 anos. O navio tanque Exxon Valdez bate em um recife e encalha no estreito de Príncipe, derramando cerca de 44 milhões de litros de petróleo. O vazamento poluiu águas, ilhas e praias da região, matando milhares de animais e atingindo uma área de 260Km 2. Quadro 1 Principais Acidentes Ambientais da Década de 70 e 80. Todos esses desastres ecológicos foram amplamente noticiados na mídia gerando grande repercussão internacional e permitindo a observação e o julgamento das ações e dos eventos quase que no mesmo instante em que ocorreram. De acordo com Donaire (1999, p. 16) os veículos de comunicação têm enfatizado sua vigilância nos comportamentos não éticos das corporações, sejam públicas ou privadas [...]. Na década de 80, desenvolviam-se esforços conjuntos de organismos internacionais com o propósito de estabelecer novos parâmetros globais em questões relacionadas com o crescimento econômico e o meio ambiente. Callenbach et al. (1993, p.24) afirmam que: A partir da década de 1980, difundiu-se rapidamente em muitos países europeus a consciência de que os danos cotidianos ao ambiente poderiam ser substancialmente reduzidos por meio de práticas de negócios ecologicamente corretas.

Começam a surgir em muitos países os Partidos e Parlamentares Verdes. No Brasil, por exemplo, o Partido Verde é fundado em 1986 com o propósito, dentre outros, de lutar pela ecologia. Em 1981, se dá a consolidação de mecanismos de Gestão Ambiental no Brasil com a publicação da Lei nº 6.938, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente. Em nível institucional, dentre as principais inovações dessa lei, duas se destacam: a criação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que constitui o conjunto das instituições governamentais que se ocupam da proteção e da gestão da qualidade ambiental, em nível federal, estadual e municipal, e a criação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) 4 que constitui o órgão superior. No âmbito estadual, em 1983, é criada a lei nº 3.582, que dispõe sobre as medidas de proteção, conservação e melhoria do Meio Ambiente no Espírito Santo (ES). Em 1986, é publicada a resolução nº 001 do CONAMA criando a obrigatoriedade da realização dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o licenciamento de atividades poluidoras. Em 1987, foi produzido o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido por Relatório Brundtland, pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento 5. Esse relatório recomendava a realização de uma Conferência Mundial para direcionar os assuntos ambientais, culminando, mais tarde, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (ECO-92), e definia, pela 4 Diretamente vinculado ao Presidente da República e encarregado da formulação das políticas ambientais.

primeira vez de forma clara, o Desenvolvimento Sustentável, ou seja, [...] desenvolvimento [...] que atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades (WCED apud KINLAW, 1997, p.82). Dando prosseguimento à implementação da Política Estadual de Meio Ambiente 6, foi criada, em 1988, a Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente, que passa a assumir a gestão ambiental no Estado do ES. No Brasil, o meio ambiente torna-se matéria constitucional, capítulo VI, artigo 225, da Constituição de 1988. 2.1.3 Globalização dos Conceitos Ambientais A década de 90 se destaca pela globalização dos conceitos ambientais. Em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, resultou na adoção de várias convenções e protocolos: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade Biológica, a Convenção sobre as Mudanças Climáticas e a Agenda 21, o mais importante protocolo da Conferência e talvez a mais completa tentativa internacional de definir quais são as ações necessárias para que o desenvolvimento ocorra com uma preocupação de ordem ambiental. No texto da agenda 21 estão mecanismos para a redução da pobreza através de desenvolvimento sustentável e instrumentos para assegurar melhorias no 5 Comissão criada em 1983 pela Assembléia Geral da ONU.

saneamento básico, segurança alimentar, saúde humana e gestão de recursos hídricos, além de mudanças no padrão insustentável de consumo dos recursos naturais, que se verifica, sobretudo, nos países mais ricos. Como ápice da ECO-92, surgiu a série de normas NBR/ISO 14000, norma reconhecida internacionalmente. A partir de sua publicação o mercado começa a sofrer profundas alterações. As empresas exportadoras ficam sujeitas a sofrer restrições e a perda de mercado devido aos efeitos da globalização dos conceitos ambientais e da economia, maior conscientização do consumidor com a exigência ambiental e a preocupação com a vida no planeta. Ocorrem, também, transformações mercadológicas com o surgimento do Marketing Verde, uma nova vertente do marketing convencional e uma vantagem competitiva. As empresas investem em propagandas ambientais para agradar todos os tipos de consumidores. Em 1995, o Governo Federal Brasileiro, através de Ministérios e Bancos Oficiais Nacionais, firmaram o chamado Protocolo Verde, o qual considera e analisa a conduta de proteção ambiental das empresas na gestão e concessão de crédito oficial e de benefícios fiscais. Em 1997, foi aprovado o Acordo Internacional de Kyoto, no Japão, que estabelece que os países desenvolvidos devem reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 5,2% em relação aos níveis apresentados em 1990. Essa meta global deverá ser atingida no período de 2008 a 2012. O presidente dos Estados Unidos, país que sozinho responde por quase 25% das emissões de gases-estufa, abandonou o protocolo em 2001 por razões de 6 No ES, antes de 1988, o licenciamento ambiental procedia-se através da Secretaria de Estado da Saúde, Departamento de Ações Ambientais.

interesses puramente econômicos. No Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ratificou o protocolo em junho de 2002. Ainda em 1997, devido à necessidade de regulamentação de aspectos do licenciamento ambiental, estabelecidos na Lei nº 6.938 e que ainda não tinham sido definidos, foi publicada a resolução nº 237 do CONAMA que atribui aos Estados e Municípios detalharem e complementarem as atividades sujeitas ao licenciamento ambiental. Em 1998, foi instituída a Lei nº 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) que estabelece a responsabilidade da pessoa jurídica, inclusive penal, chegando a possibilidade da liquidação da empresa, e em alguns casos, à transferência de seu patrimônio para o Patrimônio Penitenciário Nacional. Foi desenvolvido, em outubro do mesmo ano, no Estado do ES, o Decreto nº 4.344-N que regulamenta o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras ou Degradadoras do Meio Ambiente (SLAP), com aplicação obrigatória. Estabelece como instrumentos de controle do SLAP a Licença Prévia, a Licença de Instalação, a Licença de Operação, o EIA e o RIMA, a Declaração de Impacto Ambiental, as Auditorias Ambientais de conformidade legal e a Certidão Negativa de Débito. Entre os meses de Agosto e Setembro de 2002 ocorreu, em Joanesburgo, África do Sul, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida no Brasil como Rio+10. O objetivo era discutir novos acordos sobre trechos da Agenda 21 que não funcionaram, visando sua implementação. Este evento reuniu 193 países e 86 organizações internacionais para discutir a erradicação da pobreza, o desenvolvimento social e a proteção do meio ambiente.

Na Rio+10, algumas grandes metas foram definidas ou reafirmadas, dentre elas, ratificar o protocolo de Kyoto relativa a mudanças climáticas e alcançar uma redução significante do desflorestamento e das perdas de diversidade biológica. O Brasil saiu fortalecido do encontro, assumindo o papel de liderança regional dentro da ONU. Porém, os avanços mais concretos, principalmente em relação à efetiva transferência de recursos das nações mais ricas para as mais pobres, não foram alcançados. Enquanto o planeta voltava seus olhos à questão ambiental na Rio+10, profissionais brasileiros e italianos se reuniram em Vitória, no Espírito Santo, para promover um ciclo de debates sobre o tema, fazer um intercâmbio de suas experiências e promover contato com novas tecnologias, através do VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado no início de setembro de 2002. No mesmo mês, foi realizada a 13ª Feira do Verde, promovida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAM) da Prefeitura de Vitória. A feira é considerada o maior evento cultural e educativo na área ambiental do Espírito Santo. Os objetivos são mostrar os trabalhos relacionados ao meio ambiente desenvolvidos por órgãos públicos e empresas privadas, promovendo a difusão da tecnologia usada para proteger a natureza. Anteriormente, em Junho de 2002, aconteceu o 1º Simpósio Nacional de Meio Ambiente, promovido pelo Instituto Terra da Gente, também em Vitória, Espírito Santo. Na pauta estavam os seguintes assuntos: transgênicos, commodities ambientais, mangues, sustentabilidade de cidades e direito ambiental.

Todos esses acontecimentos confirmam a mudança da ênfase do econômico para o social e demonstram a reformulação dos valores da sociedade que vem exercendo pressão sobre as empresas que não respeitam o meio ambiente. Aliado a isso, a integração dos mercados, a queda das barreiras comerciais, o acelerado avanço tecnológico e o aumento do fluxo de informações marcam a evolução da economia mundial, tornando o ambiente de negócios dinâmico, exigente, imprevisível, mutável, ou seja, muito mais complexo. 2.2 GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS 2.2.1 As Empresas Frente às Pressões Ambientais Diante das pressões resultantes do crescente reconhecimento das questões ambientais, as empresas são obrigadas a repensarem seus processos, seus produtos e sua tecnologia a fim de garantir sua continuidade. De acordo com Callenbach et al. (1993, p. 25): Nos anos 80, contudo, os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não primordialmente como custos, mas sim como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva. A atitude passou de defensiva e reativa para ativa e criativa. Segundo Kinlaw (1997, p. 75, grifo do autor): A pressão mais forte exercida sobre as empresas e que as forçará a aderir à prática cotidiana do desempenho sustentável é a competição no mercado. Somente aquelas empresas que aprenderem a responder de forma criativa às pressões [...] é que poderão contar com a sobrevivência. Empresa verde é sinônimo de bons negócios.

A Figura 1 ilustra as pressões exercidas sobre as empresas. Figura 1- Pressões Exercidas Sobre as Indústrias. Fonte: Campos, 1996. Percebe-se que a empresa não constitui em uma entidade isolada e sim um Sistema Aberto, ou seja, [...] sistema composto de recursos econômicos, financeiros, humanos, materiais e tecnológicos que interagem com a sociedade através das variáveis exógenas (política, economia, tecnologia, concorrência, etc) (PEREZ JÚNIOR; PESTANA; FRANCO, 1997, p. 28). As decisões internas das empresas necessitam de considerações explícitas das influências oriundas do ambiente externo, o que inclui em seu contexto considerações de caráter social, político e econômico. A empresa é vista em constante relação com diversas partes interessadas, isto é, grupos com interesse nas ações da companhia e que podem afetar ou ser afetados pelas decisões dela, como, por exemplo, os acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, sindicatos, mídia, concorrentes, organizações governamentais reguladoras e fiscalizadoras, empresas seguradoras e o público em geral.

Logo, o sucesso de uma empresa depende fundamentalmente de sua capacidade de adaptar-se as contingências e aos fatores críticos existentes no ambiente no qual ela está inserida. De acordo com Donaire (1999, p.18): [...] a lucratividade e a rentabilidade das empresas é fortemente influenciada pela sua capacidade de antecipar e reagir frente às mudanças sociais e políticas que ocorrem em seu ambiente de negócios. Ignorar essas tendências tem custado a muitas companhias grande quantidade de dinheiro e embaraços em sua imagem institucional. Existem muitos pontos no processo de produção e fornecimento que, se não forem observados e controlados pelas empresas podem ocasionar falhas, como comprometer a qualidade do produto, o meio ambiente, a segurança e a saúde do trabalhador. A forma que as empresas encontraram para assegurar a prevenção e o controle de falhas, bem como atender as pressões oriundas das partes interessadas, as leis e os requisitos que regulamentam e fiscalizam suas atividades, é adotar Sistemas de Gestão que ajudem a identificar os requisitos, a organizar a informação, a estabelecer as estratégias, a implementar padrões e prover recursos necessários para melhoria do desempenho de seu negócio. Segundo Donaire (1999, p. 108): As organizações interessadas em equacionar seu envolvimento com a questão ambiental necessitam incorporar em seu planejamento estratégico e operacional um adequado programa de gestão ambiental que possa compatibilizar os objetivos ambientais com os demais objetivos da organização. A gestão ambiental atua preventivamente em todo o processo de produção, evitando impactos sobre o meio ambiente por meio de um conjunto de ações, que incluem menor consumo de matérias-primas, controle de emissões tóxicas,

reciclagem de resíduos, reutilização de materiais, conscientização dos funcionários e fornecedores e relacionamento com a comunidade. 2.2.2 Conceitos de Gestão Ambiental Conforme Antonius (1999, p. 13) a gestão ou gerenciamento ambiental pode ser conceituado como: [...] a integração de sistemas e programas organizacionais, que permitam: 1. O controle e a redução dos impactos no meio ambiente, devido às operações ou produtos; 2. O cumprimento da lei e normas ambientais; 3. O desenvolvimento e uso de tecnologias apropriadas para minimizar ou eliminar resíduos industriais; 4. O monitoramento e avaliação dos processos e parâmetros ambientais; 5. A eliminação ou redução dos riscos ao meio ambiente e ao homem; 6. A utilização de tecnologias limpas (Clean Technologies), visando minimizar os gastos de energia e materiais; 7. A melhoria do relacionamento entre a comunidade e o governo; 8. A antecipação de questões ambientais que possam causar problemas ao meio ambiente e, particularmente, a saúde humana. A BS 7750 7 (apud CAJAZEIRA, 1998, p. 5) considera que o Gerenciamento ambiental são todos os aspectos do gerenciamento global com a função (inclusive planejamento) para desenvolver, implementar e manter a política ambiental. Segundo Vale (2000, p. 39) a Gestão Ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. Callenbach et al. (1993, p. 86) afirmam que o objetivo do gerenciamento ecológico 8 é minimizar o impacto ambiental e social das empresas, e tomar [sic] todas as suas operações tão ecologicamente corretas quanto possível. 7 A BS 7750 é uma norma britânica destinada aos Sistemas de Gestão Ambiental em que a ISO 14000 se baseou.

Conforme Maimon (1999, p. 8) a gestão ambiental pode ser definida como [...] um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma organização na sua interface com o meio ambiente. É a forma pela qual a empresa se mobiliza, interna e externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada. Viterbo Júnior (1998, p. 51, grifo do autor) afirma que: Gestão ambiental, nada mais é do que a forma como uma organização administra as relações entre suas atividades e o meio ambiente que as abriga, observadas as expectativas das partes interessadas. Ou seja, é a parte da gestão pela qualidade total.(grifo do autor) 2.2.3 Princípios de Gestão Ambiental Em 1990, a Câmara do Comércio Internacional, reconhecendo que a proteção ambiental se inclui entre as principais prioridades a serem buscadas por qualquer tipo de negócio, definiu 16 princípios de gestão ambiental para auxiliar as empresas a melhorar seu desempenho ambiental. São eles: Prioridade Organizacional: priorizar a questão ambiental estabelecendo políticas, programas e procedimentos adequados ao meio ambiente tendo como foco o desenvolvimento sustentável; Gestão Integrada: integrar as políticas, programas e procedimentos ambientais; Processos de melhoria: visar a melhoria contínua do desempenho ambiental; Educação do Pessoal: educar, treinar e motivar o pessoal definindo claramente as responsabilidades ambientais de cada um; Prioridade e enfoque: ter como enfoque as questões ambientais antes da instalação de novos equipamentos, e de início de nova atividade ou projeto; Produtos e serviços: produzir produtos e serviços favoráveis ao meio ambiente; Orientação ao consumidor: orientar os consumidores ao uso correto e seguro dos produtos produzidos; 8 Callenbach et al. (1993) denomina Gestão Ambiental como Gerenciamento Ecológico.

Equipamentos e operacionalização: operar máquinas e equipamentos com o consumo eficiente dos recursos renováveis e não-renováveis. Pesquisa: Elaborar ou apoiar projetos de pesquisas que estudam os impactos ambientais causados pelas atividades produtivas; Enfoque preventivo: Modificar os processos produtivos no sentido de prevenir as degradações do meio ambiente; Fornecedores e subcontratados: incentivar os fornecedores e subcontratados a atuarem de forma responsável em relação ao meio ambiente; Planos de emergência: Desenvolver planos de emergência para eventuais acidentes; Transferência de Tecnologia: Compartilhar e divulgar tecnologias e métodos de gestão ambiental; Contribuição ao esforço comum: contribuir para a conscientização ambiental através do desenvolvimento de políticas públicas e privadas e iniciativas educacionais; Transparência de atitude: manter comunicação com a comunidade respondendo a suas preocupações ambientais; e Atendimento e divulgação: realizar auditorias ambientais regulares fornecendo informações periódicas às partes interessadas; 2.2.4 Benefícios da Gestão Ambiental Winter (apud CALLENBACH et al., 1993) considera seis razões pelas quais o administrador deve implementar os princípios da gestão ambiental: sobrevivência humana, consenso público, oportunidades de mercado, redução de riscos, redução de custos e integridade pessoal.

North (apud DONAIRE, 1999) caracteriza os benefícios da gestão ambiental conforme o Quadro 2: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS Economia de Custos - Economias devido à redução do consumo de água, energia e outros insumos. - Economias devido à reciclagem, venda e aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes. - Redução de multas e penalidades por poluição. Incremento de receitas - Aumento da contribuição marginal de produtos verdes que podem ser vendidos a preços mais altos. - Aumento da participação no mercado devido à inovação dos produtos e menos concorrência. - Linhas de novos produtos para novos mercados. - Aumento da demanda para produtos que contribuam para a diminuição da poluição. BENEFÍCIOS ESTRATÉGICOS - Melhoria da imagem institucional. - Renovação do portfólio de produtos. - Aumento da produtividade. - Alto comprometimento do pessoal. - Melhoria nas relações de trabalho. - Melhoria e criatividade para novos desafios. - Melhoria das relações com os órgãos governamentais, comunidade e grupos ambientalistas. - Acesso assegurado ao mercado externo. - Melhor adequação aos padrões ambientais. Quadro 2 Benefícios da Gestão Ambiental Fonte: Donaire, 1999. 2.3 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL 2.3.1 Conceitos de Sistemas de Gestão Ambiental Segundo a BS 7750 (apud CAJAZEIRA, 1998, p. 5) Sistema de Gestão ou Gerenciamento Ambiental constitui [...] estrutura organizacional, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para a implantação do gerenciamento ambiental. Conforme Vale (2000, p. 42) Sistema de Gestão Ambiental compreende as responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para implementar e manter a Política Ambiental da empresa e seus objetivos.

A ISO 14001 (apud MAIMON, 1999, p. 08) define Sistema de Gestão Ambiental como sendo: A parte do sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental. 2.3.2 Modelos de Sistemas de Gestão Ambiental 2.3.2.1 Modelo Winter De acordo com o que foi exposto anteriormente, muitas organizações, devido às várias pressões, passaram a incluir na gestão de seus negócios a variável ecológica. Callenbach et al. (1993, p. 34) afirmam que [...] durante a década de 1980, em muitas regiões da Alemanha, o conceito de administração foi sendo gradualmente ampliado até incluir a dimensão ecológica. Primeiramente, isto ocorreu de forma esporádica, quando os gestores das empresas começaram a economizar energia, aproveitar os resíduos produzidos, desenvolver programas de reciclagem, entre outras iniciativas ecológicas. Essas iniciativas se propagaram rapidamente e então muitas empresas começaram a desenvolver sistemas administrativos com foco nas questões ambientais que são conhecidos como Programas ou Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Segundo Donaire (1999, p. 57) O mais bem sucedido desses programas, desenvolvidos por Georg Winter em 1989, foi o Sistema Integrado de Gestão Ambiental, conhecido hoje simplesmente como o Modelo Winter.

No Modelo Winter utiliza-se estrategicamente instrumentos tradicionais de administração com fins ecológicos e incorpora a questão ambiental em todos os setores da empresa. Equipes de administração, treinadas e experientes, fixam metas e fazem com que estas sejam atingidas no contexto ambiental. Os funcionários, através de programas de sugestão, expõem suas idéias voltadas para as atividades ecológicas. As características das estratégias da administração ecológica resumem-se em três elementos-chave, segundo Callenbach et al. (1993): Inovação: As inovações eco-favoráveis são aquelas que reduzem o impacto ambiental das atividades das empresas (gerando economia de custos) e também aquelas que trazem vantagens ecológicas ao consumidor (gerando vantagens competitiva); Cooperação: efeitos econômicos são norteados pelo princípio da competição enquanto os efeitos ecológicos são norteados pelo princípio da cooperação. Sendo assim a cooperação é essencial desde o processo produtivo até o descarte do produto final; e Comunicação: na administração ecológica a comunicação tem a tarefa de importante estratégia global, devido crise de confiança que pode afetar as empresas individualmente e setores inteiros. São seis os princípios do Modelo Winter, que segundo ele são essenciais para o sucesso à longo prazo de uma empresa com consciência ecológica: Qualidade: O produto é considerado de alta qualidade se for produzido, utilizado e descartado sem prejudicar o meio ambiente;

Criatividade: A criatividade dos funcionários é estimulada se as condições de trabalho respeitarem as necessidades biológicas humanas; Humanidade: se os objetivos e estratégias das empresas forem focadas, não só para fins econômicos, mas também para a causa ambiental, o clima geral de trabalho será mais humano; Lucratividade: a lucratividade poderá aumentar com a utilização da inovação ecológica e pela produção de produtos com apelo ecológico; Continuidade: é importante evitar riscos com responsabilização legal por danos ambientais e a produção de produtos que agridem o meio ambiente devido ao interesse de manter a continuidade da empresa; e Lealdade: pode ser conquistada pelos funcionários, lidados emocionalmente, através do trabalho em uma empresa que não destrói o meio ambiente; 2.3.2.2 Modelo de Gerenciamento do Desempenho Sustentável Kinlaw (1997) em seu livro Empresa competitiva e ecológica: desempenho sustentado na era ambiental tenta incentivar gerentes e funcionários a direcionar suas empresas rumo ao desempenho ambientalmente responsável e plenamente sustentável em relação aos recursos do planeta. Esse mesmo autor também afirma que as organizações não só devem tornar ambientalmente responsáveis, devido às várias pressões exercidas sobre as mesmas, como também podem manter e melhorar sua posição competitiva ao tomarem tal atitude.

Propõe o conceito de Desempenho Sustentável (DS) juntamente com o Modelo de Gerenciamento de Desempenho Sustentável (Figura 2) como meio de ajudar as empresas a terem uma resposta pró-ativa à questão ambiental, mostrando o processo de gerenciamento do DS ao longo de uma jornada que começa na formulação de uma política ambiental e finaliza na obtenção do melhor desempenho. Características Modelos de Princípios Nível de do Sistemas para de Resposta Desempenho o Desempenho Desempenho Sustentável Sustentável Sustentável Pressões Política Linhas de Treina- Projetos Tecno- Auditoria e Coalizões Sistemas Desempenho Base mento logia Relatórios Melhorado Feedback Análise do Ciclo de Vida Pontos Avaliação de Auditorias de Estratégias Referência Desempenho Sustentável Figura 2 Modelo de Gerenciamento de Desempenho Sustentável Fonte: Kinlaw, 1997. E para ajudar as empresas a tomarem o caminho do DS os líderes empresariais devem assumir três responsabilidades que são: entender, planejar e agir. 1) Entender Para gerenciar pelo DS Kinlaw (1997) afirma que é preciso ter um conhecimento profundo do seu significado. Para isso diferencia o conceito de Desenvolvimento Sustentável de Desempenho Sustentável da seguinte forma: Desenvolvimento sustentável (DVS) é a macrodescrição de como todas as nações devem proceder em plena cooperação com os recursos e ecossistemas da Terra para manter e melhorar as condições econômicas gerais de seus habitantes, presentes e futuras. O DVS concentra-se nas políticas nacionais e internacionais (KINLAW, 1997, p. 83).