O PARALOGRAMO É UM TRAPÉZIO?

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Transcrição:

O PARALOGRAMO É UM TRAPÉZIO? Marcia Maioli UEM/PR maioli@irapida.com.br Orientador: Saddo Ag Almouloud- PUC/SP Este mini-curso é destinado a professores que trabalham com geometria, e tem dois objetivos. O primeiro, é apresentar aos participantes algumas atividades que contemplem as fases da ação, formulação, validação e institucionalização propostas por BROUSSEAU em sua Teoria das Situações Didáticas. O segundo, é levantar alguns questionamentos a respeito da definição de objetos matemáticos, no caso, quadrilátero, trapézio e paralelogramo, verificando algumas de suas propriedades. As atividades a serem desenvolvidas, constituem parte de uma seqüência de situações que foram trabalhadas em nossa dissertação de mestrado, defendida em 2002 na PUC/SP, sob a orientação do Dr Saddo Ag Almouloud. Planejamos proceder da seguinte forma: inicialmente, os participantes desenvolvem, em grupos, as atividades propostas e, ao final, apresentamos e discutimos com eles o referencial teórico que está por trás da escolha destas atividades, ou seja, as fases propostas por BROUSSEAU. Para o desenvolvimento do mini-curso, é necessário a utilização de réguas, compassos e transferidores. As atividades propostas são apresentadas a seguir, e o texto sobre o quadro teórico que será discutido com os participantes, faz parte da última atividade. Atividade 1: Encontramos em livros didáticos, as seguintes definições:

2 i. Considerando-se a região interna e a linha poligonal fechada simples que a limita, temos uma figura geométrica plana denominada polígono. Quadrilátero é um polígono de quatro lados e quatro ângulos. (GRASSESCHI, 1999) ii. Linhas fechadas, formadas somente por segmentos de reta, são chamadas polígonos. Quadriláteros são polígonos de quatro lados. (GUELLI, 2001) iii. Sejam A, B, C e D quatro pontos de um mesmo plano, todos distintos e três a três deles não colineares. Se o segmentos AB, BC, CD e DA interceptam-se apenas nas extremidades, a reunião desses quatro segmentos é um quadrilátero. (IEZZI,1985) Considerando as figuras abaixo: (a) (b) (c) (d) a) Quais representam quadrilátero segundo a definição (i)? b) Quais representam quadrilátero segundo a definição (ii)? c) Quais representam quadrilátero segundo a definição (iii)? Atividade2 Considerar os três seguintes grupos de quatro pontos: a) Criar os desenhos ABCD, EFHG, IJKL. b) Estes desenhos representam quadriláteros?

3 c) Qual a diferença entre os desenhos ABCD, IJKL e EFHG? O que se pode dizer de ABCD e CDAB? d) Existem outras maneiras de designar os quadriláteros ABCD e IJKL? Quais? e) Quais são os lados e os vértices dos quadriláteros ABCD e IJKL? Indique seus ângulos. f) Quais são as diagonais de ABCD? E de IJKL? g) Quanto vale a soma dos ângulos internos de um quadrilátero? Atividade 3 Você recebeu uma série de recortes representando quadriláteros. a) Considerando o número de pares de lados paralelos, separe estes recortes em grupos. b) Quantos grupos você formou? c) É possível, através de outros critérios, uma classificação diferente? d) Dê nome a cada um dos grupos obtidos. e) Considerando o número de pares de lados paralelos, vamos definir cada um desses grupos? Você sabia que são consideradas duas definições para trapézio? Definição I: Um trapézio é um quadrilátero que tem exatamente um par de lados paralelos. Definição II: Um trapézio é um quadrilátero que tem um par de lados paralelos. f) Qual a diferença entre elas? g) De acordo com a definição I, um paralelogramo um trapézio? h) E de acordo com a definição II? i) Considere a definição I e represente através de um desenho ou diagrama, a relação entre os grupos de quadriláteros. j) Idem para a definição II. Atividade 4 Construir um quadrilátero LMNO cujos lados LM e NO são paralelos. a) Podemos afirmar que LMNO é um paralelogramo? Por quê? b) Podemos afirmar que LMNO é um trapézio? Qual definição de trapézio você considerou?

4 c) Se você considerar a outra definição, podemos afirmar que LMNO é um trapézio? Atividade 5 a) Construir um trapézio qualquer de bases AB e CD. b) Medir os ângulos Â, Bˆ, Ĉ e Dˆ. Qual o valor de: Â + Dˆ? Bˆ + Ĉ? c) O que você pode observar? d) Você acredita que este resultado valha para qualquer trapézio? OBS: As suas conclusões são apenas conjeturas, ou seja, opiniões sem fundamentos precisos. Para adquirir o estatuto de teorema é necessário demonstrá-lo. O que vem a ser um teorema? Teorema é uma propriedade matemática verdadeira, mas que precisa ser demonstrada. Uma vez demonstrado, o teorema pode ser utilizado como ferramenta de resoluções de problemas em outras situações. e) Usando as propriedades de ângulos definidos por duas retas paralelas e uma transversal, demonstrar que: Dado um quadrilátero ABCD, se AB é paralelo a CD ) ) ) ) o então A + D = B + C = 180. d) Você acabou de demonstrar um teorema! Em um teorema temos hipóteses e conclusão. Identifique neste teorema, o que é hipótese e o que é conclusão. Atividade 6 a) Construir um paralelogramo EFGH. Comparar os seus ângulos opostos. O que você observa? b) Enunciar o resultado observado acima na forma de um teorema. Este resultado é mesmo um teorema? Justificar. Atividade 7 Discussão do referencial teórico.

5 Vamos apresentar agora, alguns pontos do referencial teórico que apóia a seleção das atividades que acabamos de desenvolver. Em nossa experiência com formação de professores, ouvimos com certa freqüência, o seguinte questionamento: como apresentar um conteúdo matemático aos nossos alunos, o que devemos considerar? Encontramos na Teoria das Situações Didáticas, proposta por Guy Brousseau, um estudo sobre fatos que devem ser levados em conta ao se preparar e apresentar atividades sobre determinados conteúdos matemáticos, visando realizar uma educação matemática mais significativa para o aprendiz. BROUSSEAU (1986) define situação didática como um conjunto de relações estabelecidas explicitamente e ou implicitamente entre um aluno ou um grupo de alunos, um certo meio, compreendendo eventualmente instrumentos e objetos, e um sistema educativo (o professor) com a finalidade de possibilitar a estes alunos um saber constituído ou em vias de constituição. (Apud ALMOULOUD, 1997, p. 65). O trabalho pedagógico tem início com a escolha das atividades (problemas) a serem desenvolvidas com os alunos. Esta é uma etapa fundamental e deve ser realizada pelo professor, já que ele é quem conhece a realidade da turma e será capaz de elaborar ou selecionar atividades compatíveis com o nível dos alunos. Para analisar o processo da aprendizagem, a teoria das situações observa e decompõe esse processo em quatro fases diferentes: de ação, de formulação, de validação e de institucionalização. Vejamos seus aspectos fundamentais. Situações de ação São situações estruturadas (pelo professor) de forma que o aprendiz tenha condições de agir buscando a solução do problema. Na busca desta solução, ele realiza ações mais imediatas, que produzem conhecimentos de natureza mais operacional. Nestas situações, há o predomínio do aspecto experimental do conhecimento. O aprendiz vai escolhendo, ou desenvolvendo, estratégias para solução sem a preocupação com explicitação de argumentos de natureza teórica que justifiquem a validade de sua resposta.

6 Em geral, as estratégias são criadas e postas em prova pela experimentação. Ela é aceita ou rejeitada depois da apreciação por parte do aprendiz. Uma situação de ação deve então, permitir ao aluno julgar o resultado de sua ação, ajustar esta última graças à retroação da ação. Não é o professor que apresenta a solução. Ele pode buscá-la junto com os alunos. Situações de formulação Nestas situações, o aprendiz elabora uma linguagem que seja compreendida por todos e que considere os objetos e as relações pertinentes à situação. A construção de tal linguagem, ou código, deve tornar possível a explicação das estratégias adotadas anteriormente. Segundo ALMOULOUD (1997): Nestas situações o aluno troca informações com uma ou várias pessoas. Os interlocutores são emissores e receptores, e trocam séries de mensagens escritas ou orais que estão redigidas em língua ingênua ou matemática segundo as possibilidades de cada emissor. (p. 69). Estas situações permitem que o aprendiz, ou seu grupo, explicite as ferramentas utilizadas na busca da solução. Neste momento pode surgir uma linguagem própria do grupo, ou seja, termos, códigos ou símbolos que o grupo cria para comunicar entre si. O objetivo das situações de formulação é a troca de informações: há momentos em que um aluno quer agir, mas as informações que detém são insuficientes, então ele consulta seus companheiros em busca dos dados que lhe faltam. Com estas trocas, pode haver julgamentos e questionamentos sobre validade, no entanto, esses aspectos não são exigidos para caracterizar uma situação de formulação. Situações de validação Notemos que as situações de ação e formulação podem permitir que o aprendiz enverede, inclusive, por um raciocínio equivocado. É necessário, então, um outro tipo de situação que venha expor este equívoco e que exija um raciocínio mais voltado para os porquês, à certeza e à ausência de contradições: as situações de validação, que são aquelas em que o aprendiz utiliza mecanismos de prova.

7 As situações de validação servem tanto para garantir que a solução está correta como para rejeitá-la em caso negativo. Em outras palavras, nestas situações é preciso elaborar algum tipo de prova daquilo que já se afirmou pela ação ou formulação. As três situações vistas até agora, apesar de proporcionar ao aprendiz momentos de extrema importância na construção do seu conhecimento, podem deixar conhecimentos falsos, validados de forma incorreta, já que o aprendiz trabalha de forma mais livre e independente da interferência direta do professor. É necessário ainda um outro tipo de situação: a institucionalização. Situações de institucionalização Nas situações de institucionalização ocorre uma intervenção externa, sob a responsabilidade do professor, visando estabelecer o caráter objetivo e a universalidade do conhecimento bem como a correção de possíveis distorções (conceitos errados, demonstrações incorretas...) sofridas nas fases anteriores. Notemos que as fases anteriores permitem ao aprendiz criar uma linguagem própria ou um conhecimento mais individualizado. No entanto, este conhecimento precisa ser aceito pelo meio social, extrapolando o contexto local em que foi gerado. Então, cabe ao professor, selecionar os pontos essenciais que devem passar a constituir um saber formal, oficial a ser incorporado como patrimônio cultural pronto para ser utilizado em novas ocasiões. Neste mini-curso, procuramos selecionar situações que propiciassem a passagem por cada uma dessas fases. Contamos com atividades experimentais (ação); trabalho em grupo e troca de informações (formulação); questionamentos e demonstração de conjeturas levantadas (validação); discussão e organização dos pontos ou conteúdos trabalhados (institucionalização). Lembramos que essas fases estão extremamente interligadas, de forma que não percebemos seus limites, ou seja, onde termina uma e começa a outra. Palavras-chave: geometria, quadriláteros, situações didáticas.

8 Referências bibliográficas: ALMOULOUD, Saddo Ag. Fundamentos da didática da matemática e metodologia de pesquisa. CEMA (Caderno de educação matemática), v. III. São Paulo: PUC, 1997. BROUSSEAU, G. Fondements et méthodoes de la didactique des mathématiques. Recherches en didactique de mathématiques. Paris, v. 7, n. 2, p. 33-115, 1986. GUELLI, Oscar. Coleção Matemática uma aventura do pensamento. São Paulo: Ática, 2001. GRASSESCHI, Maria Cecília C.; ANDRETTA, Maria Capucho; SILVA, Aparecida Borges dos Santos. Coleção Promat: projeto oficina de matemática. São Paulo: FTD, 1999. IEZZI, Gelson; DOLCE, Osvaldo; POMPEO, José Nicolau. Fundamentos de Matemática Elementar. São Paulo: Atual, 1985. MAIOLI, Marcia. Uma oficina para formação de professores com enfoque em quadriláteros. São Paulo, 2002. Dissertação de Mestrado- PUC/SP