SISTEMA AQUÍFERO: GABROS DE BEJA (A9)

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Transcrição:

SISTEMA AQUÍFERO: GABROS DE BEJA (A9) Figura A9.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 100

Identificação Unidade Hidrogeológica: Maciço Antigo Bacia Hidrográfica: Guadiana e Sado Distrito: Beja Concelhos: Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa Enquadramento Cartográfico Folhas 509, 510, 520, 521, 522, 531, 532 e 533 da Carta Topográfica na escala 1:25 000 do IGeoE Folhas 43-A, 43-C e 43-D do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1:50 000 do IPCC Ferreira do Alentejo 43A 509 510 521 522 520 43C Serpa 43D Aljustrel Beja 531 532 533 Figura A9.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Enquadramento Geológico A área ocupada pelo sistema corresponde fundamentalmente ao Complexo Ígneo de Beja (CIB) e Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches (COBA). A separação entre os dois complexos é baseada no facto do CIB não ter sido afectado pelo primeiro evento tectono-metamórfico varísco (Fonseca, 1995). O afloramento do CIB tem um comprimento de cerca de 100 km, com uma forma alongada e, ainda que localmente interrompido para SW, prolonga-se até à região espanhola de Castilblanco de los Arroyos (Andrade, 1984). O COBA é constituído pelas seguintes unidades: - Complexo básico plutono-vulcânico de Odivelas (Fonseca, 1995): para SW afloram gabros mais ou menos olivínicos e anortositos (Andrade, 1984), ocorrendo localmente, níveis Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 101

lenticulares de peridotitos, mais ou menos plagioclásicos, intensamente serpentinizados, bem como pequenos níveis plagioclásicos (gabros anortosíticos e anortositos) para NE. - Pórfiros de Baleizão-Alvito: trata-se de uma vasta unidade (sub)vulcânica ácida pósmetamórfica, que se distingue pelas tonalidades mais ou menos avermelhadas. Na área em estudo ocorrem algumas manchas de granófiros que se inserem na Unidade dos Pórfiros de Baleizão de Fonseca (1995). Bard, em 1969 (in Fonseca, 1995), reconheceu a natureza ofiolítica do Complexo de Beja- Acebuches em território espanhol na região de Aracena (Anfibolitos de Acebuches). Posteriormente, foi cartografado independentemente no sector português, correspondendo à Unidade de Mombeja de Andrade (1984). Andrade et al. (1976), Andrade (1977) e Munhá et al. (1986) sugeriram em definitivo a associação entre a duas unidades, posteriormente corroborada por vários outros autores. A zonalidade interna é bem vincada, com os diversos termos a inclinar para NE, traduzindo a inversão da sequência ofiolítica (Oliveira, 1992). No território português o COBA apresenta uma deformação acentuada sendo constituído por três termos litológicos evidentes e distintos: - Serpentinitos - Metagabros (flaser-gabros e metatrondjemitos) - Metavulcanitos básicos (metabasaltos) Devido à ocorrência de subducção para norte, o CIB é intrusivo posteriormente à obducção, deformação, metamorfismo e instalação estrutural do ofiolito de Beja-Acebuches na sua posição actual tectonoestratigráfica, possuindo xenólitos de litótipos característicos do COBA. A sua datação isotópica pelo método Ar39 Ar40, em concentrados de horneblenda, forneceu um intervalo de idades entre os 337-340 M.A. o que implica uma idade ante-viseana para o ofiolito de Beja - Acebuches (Oliveira, 1992). De acordo com as informações fornecidas pelas sondagens para captação de água, a espessura alterada e fracturada geralmente não ultrapassa os 50 m. Hidrogeologia Características Gerais O sistema aquífero tem uma área aproximada de 387 km 2 incluindo tanto as litologias do CIB como as do COBA, pois têm um comportamento hidrogeológico semelhante (Duque, 1997). Embora se trate essencialmente de um meio fissurado, possui algumas características semelhantes às de um meio poroso, apresentando-se em geral como aquífero livre. A alteração que afecta as rochas que constituem o aquífero, originou uma cobertura argilosa, com uma espessura, que em termos médios, se situa próximo de 3,5 m, a que se segue uma zona alterada, cuja espessura se situa, em média, nos 22 m e uma zona fracturada que pode atingir 40 a 60 m. (ibidem). Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 102

Parâmetros Hidráulicos e Produtividade A produtividade média é da ordem dos 5 L/s, podendo atingir máximos na ordem dos 36 L/s. A caracterização estatística de 132 dados obtidos para este sistema constam do quadro seguinte (Quadro A9.1): Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 5 5,6 0,03 1,4 3,2 6,5 36 Quadro A9.1 - Principais estatísticas da produtividade do sistema aquífero dos gabros de Beja Transmissividades estimadas com base em ensaios de bombagem e caudais específicos (62 dados), são da ordem dos 58 m 2 /dia até um máximo de 452 m 2 /dia (Duque, 1997, Duque e Almeida, 1998b), conforme o quadro seguinte (Quadro A9.2): Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 58 68 5 18 39 71 452 Quadro A9.2 - Principais estatísticas da transmissividade do sistema aquífero dos gabros de Beja Análise Espaço-temporal da Piezometria Dado que a circulação se faz fundamentalmente na camada de alteração, em geral pouco profunda, a piezometria acompanha aproximadamente a topografia, observando-se os valores mais elevados na região de Beja, a partir da qual o escoamento subterrâneo se faz para oeste e leste, constituindo o vale do Guadiana uma zona preferencial de descarga, fazendo-se esta através de pequenas nascentes que se mantêm activas mesmo no Verão. Nesta zona, verificam-se grandes variações nos gradientes hidráulicos o que parece indiciar uma organização da circulação subterrânea em blocos parcialmente independentes (Duque, 1997). É também nesta zona que se observam os maiores gradientes. Balanço Hídrico O balanço hídrico global do sistema aponta para uma taxa de recarga de 4% das precipitações (ibidem), correspondendo a cerca de 9 hm 3 /ano. Dado que, em termos médios, o sistema se encontra em regime de equilíbrio, as saídas deverão ser equivalentes às entradas. Estima-se que 86% das saídas (7,75 hm 3 /ano) correspondam a extracções para abastecimento e regadio e os restantes 14% (1,25 hm 3 /ano) às descargas naturais do sistema. Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 103

Qualidade Considerações Gerais A caracterização será feita com base em 66 amostras colhidas no verão de 1995. Uma análise mais completa destes dados pode ser consultada em Duque (1997) e Duque & Almeida (1998a). Trata-se de águas com uma mineralização relativamente elevada, com fácies bicarbonatada cálcica ou calco-magnesiana (ver diagrama de Piper Figura A9.3). As estatísticas principais dos parâmetros analisados constam do Quadro seguinte (Quadro A9.3): n Média Desvio Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo padrão Condutividade 66 784 162 512 686 736 867 1345 (µs/cm) ph 66 7,48 0,24 7,12 7,29 7,46 7,60 8,27 Bicarbonato (mg/l) 66 289 58 195 239 287 324 464 Dureza Total (mg/l) 66 353 69 219 306 339 384 564 Alcalinidade (mg/l) 66 237 48 160 197 236 265 381 Cloreto (mg/l) 66 46 39 15 22 32 55 192 Sulfato (mg/l) 66 63 17 28 51 62 74 120 Nitrato (mg/l) 66 62 32 4 40 56 78 143 Fluoreto (mg/l) 66 0,6 0,2 0,3 0,5 0,6 0,8 1,6 Sódio (mg/l) 66 37 20 5 23 31 46 99 Potássio (mg/l) 66 0,6 0,8 0 0,14 0,34 0,7 5,0 Cálcio (mg/l) 66 68 19 31 54 67 80 120 Magnésio (mg/l) 66 44 13 26 34 41 53 84 Quadro A9.3 Principais estatísticas para as águas do sistema aquífero Gabros de Beja Figura A9.3 - Diagrama de Piper relativo às águas do sistema Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 104

Qualidade para Consumo Humano As águas deste sistema têm, em geral, uma qualidade química deficiente, nomeadamente devido a concentrações elevadas de nitratos, sulfatos, magnésio, etc. Os VMRs são ultrapassados em todas as análises de sulfatos, em mais de 75% das análises de nitratos, sódio e magnésio e em mais de 50% das análises de cloretos. Os VMAs são ultrapassados em mais de 50% das análises de nitratos e magnésio. Para a condutividade eléctrica, os valores mais elevados encontram-se a este de Beja, a oeste de Beringel e na zona da Herdade do Pinheiro. A apreciação global das características a que obedece a distribuição dos valores dos diversos parâmetros leva a concluir que, além dos processos naturais resultantes da interacção água-rocha, intervêm outros factores, dos quais o mais importante é a contaminação difusa resultante de práticas agrícolas, nomeadamente a aplicação de fertilizantes e o regadio, que provoca um aumento generalizado dos sais, devido à concentração destes a nível do solo. Os parâmetros mais influenciados por estas actividades são: a condutividade, nitratos, cloretos e sulfatos. O mapa da distribuição de nitratos evidencia aquela relação, verificando-se que grande parte da área tem valores de nitratos superiores a 50 mg/l. Os valores inferiores localizam-se em zonas incultas, ou pontualmente cultivadas, como a que ocorre no extremo NE da área estudada, em toda a região entre Ferreira do Alentejo e Beringel, na Herdade da Corte Negra e, pontualmente, noutros locais, mas sem expressão significativa. Tratam-se de zonas incultas, muitas vezes devido a condições topográficas desfavoráveis, ou ocupadas apenas por vegetação de charneca ou montado de sobro e/ou azinho. No entanto, na região do vale do rio Guadiana, onde a ocupação do solo é em tudo semelhante à anteriormente descrita, ocorrem valores elevados de nitratos. Esta anomalia resulta do transporte do nitrato se efectuar para aquela região, visto tratar-se de um dos sectores de descarga do aquífero (Duque, 1997). Parâmetro Anexo VI Anexo I Categoria A1 <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph 100 0 0 100 0 Condutividade 0 100 89 11 Cloretos 36 64 100 0 Dureza total 100 Sulfatos 0 100 0 100 0 0 Cálcio 94 6 Magnésio 9 91 30 Sódio 14 86 0 Potássio 100 0 0 Nitratos 9 91 59 9 91 59 Nitritos 5 Fluoreto 2 95 3 2 Quadro A9.4 Apreciação da qualidade face aos valores normativos Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 105

Uso Agrícola As águas analisadas pertencem às classes C 2 S 1 (59,1%) e C 3 S 1 (40,9%), ou seja, risco baixo de alcalinização dos solos e risco médio a alto de salinização dos mesmos. Uma grande parte das águas do sistema encontram-se sobressaturadas em calcite pelo que causam incrustações, tanto nos terrenos regados, como no material de rega. Nalgumas áreas dão processos naturais de formações de crostas calcárias (caliços) que por vezes podem atingir espessuras de vários metros. Figura A9.4 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Bibliografia Andrade, A. A. S. (1977) - The Beja ophiolite complex in southern of Portugal: Preliminary description. Coimbra, Memórias e Notícias, Publi. Museu Mineral. Geol., N.º 84, Universidade de Coimbra. pp. 49-57. Andrade, A. A. S. (1984) - Sobre a originalidade (ou talvez não) do maciço de Beja no sudoeste peninsular. Coimbra, Memórias e Notícias, Publ. Museu. Mineral. Geol., N.º 97, Universidade de Coimbra. pp. 115-132. Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 106

Andrade, A. A. S.; Ferreira Pinto, A. F.; Nabais Conde, L. E. (1976) - Sur la géologie du massif de Beja: Observations sur la transversale d Odivelas. Lisboa, Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, tomo 55. pp.171-202. Duque, J. (1997) - Caracterização Hidrogeológica e Modelação Matemática do Aquífero dos Gabros de Beja. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa. Dissertação de Mestrado em Geologia Económica e Aplicada. 213 pág. Duque, J.; Almeida, C. (1998a) - Caracterização Hidroquímica do Sistema Aquífero dos Gabros de Beja. Comunicação apresentada ao 4º Congresso da Água A Água como Recurso Estruturante do Desenvolvimento. 14 pág.. Duque, J.; Almeida, C. (1998b) Modelação matemática do Sistema Aquífero dos Gabros de Beja. Comunicação apresentada ao 4º Congresso da Água A Água como Recurso Estruturante do Desenvolvimento. 12 pág. Fonseca, P. (1995) - Estudo da Sutura varisca no SW Ibérico nas regiões de Serpa - Beja - Torrão, Alvito - Viana do Alentejo. Lisboa. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para a obtenção do grau de doutor. 1995. 325 pág. Munhá, J.; Oliveira, J. T.; Ribeiro, A.; Oliveira, V.; Quesada, C.; Kerrich, R., (1986) - Beja-Acebuches ofiolite and geodynamic significance. Volume 2, Número 13, Maleo. Lisboa. Boletim Informativo da Sociedade Geológica de Portugal, 31 pág. Oliveira, J. T. (1992) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1:200 000 Folha N.º 8. Lisboa. Serviços Geológicos de Portugal. Oliveira, J. T.; Pereira, E.; Ramalho, M.; Antunes, M. T.; Monteiro, J. H. (1992) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1:500 000. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. Quina, A. P. (1983) - Pesquisa e captações em gabro-dioritos. Seminário sobre Hidrogeologia de Rochas Compactas Fissuradas. Lisboa. APRH. 15 pág. Quina, A. P. (1988) - Recursos Hídricos em Terrenos Antigos Fissurados - Suas Limitações. Primeiras Jornadas Democráticas de Agricultura, Repensar o Campo Melhorar a Vida. Lisboa. Vasconcelos, A. M. (1983) - Estudo Hidrogeológico do concelho de Beja. Beja. Serviços Municipalizados de Beja. 35 pág. Vieira da Silva, A. M. (1985) - Estudo Hidrogeológico das Formações Gabro-Dioríticas da Região de Beja-Relatório de Processo. Lisboa. Serviços Geológicos de Portugal, 5 pág. Sistema Aquífero: Gabros de Beja (A9) 107