Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público: Uma Análise dos Efeitos das Inovações na Mensuração e Evidenciação do Patrimônio



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Transcrição:

Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público: Uma Análise dos Efeitos das Inovações na Mensuração e Evidenciação do Patrimônio Área Temática:Contabilidade Aplicada ao Setor Público RESUMO A ausência de Normas Contábeis aplicáveis ao Setor Público em consonância com os critérios e procedimentos utilizados pela contabilidade internacional e a necessidade de aperfeiçoamento da Contabilidade Pública brasileira foram alguns dos fatores que motivaram a publicação, pelo Conselho Federal de Contabilidade, em 2008, das primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público e trazem inovações que fortalecem a mensuração e a evidenciação do patrimônio público. A Contabilidade Aplicada ao Setor Público é um dos ramos da ciência contábil, que tem por objetivo fornecer aos usuários informações econômicas, financeiras, orçamentárias e evidenciar o patrimônio e suas alterações. Para atingir seu objetivo, orienta-se nas exigências da Lei nº 4.320/64, no Art. 165 da Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar nº 101/2000 Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A ausência de normas contábeis próprias para o setor Público por parte do Conselhor Federal de Contabilidade (CFC), a necessidade de convergência às normais internacionais e a importância da disponibilização de informações contábeis transparentes nas entidades públicas brasileiras motivaram o Ministério da Fazenda a publicar em 26 de agosto de 2008 a Portaria 184. Esta determina que a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) órgão central do Sistema de Contabilidade Federal adote medidas que promovam o processo de convergência contábil, estabelecendo procedimentos de elaboração das demonstrações contábeis, de forma a torná-los compreensíveis mundialmente. O presente estudo tem por objetivo analisar os efeitos das inovações ocasionadas com a implantação destas normas na mensuração e evidenciação do patrimônio das entidades públicas. A pesquisa, de caráter exploratório, tem como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, com vistas a uma análise comparativa da Lei nº 4.320/64 e da Lei Complementar nº 101/2000 com as Normas próprias do setor público. De forma complementar, foram realizadas entrevistas não estruturada juntamente com profissionais contábeis que atuam no ramo público da Prefeitura Municipal de Feira de Santana. Os resultados alcançados demonstram que as inovações ocasionadas pelas referidas Normas provocarão alterações significativas no Patrimônio das entidades públicas, que apresentará valores mais próximos da realidade e favorecerá a evidenciação e transparência da gestão pública, aprimorando o controle social. PALAVRAS-CHAVE: Normas Contábeis. Patrimônio Público. Evidenciação do Patrimônio. 1 INTRODUÇÃO A Contabilidade Pública, assim como a privada, passou por um processo de convergência às normas internacionais, sendo que no setor privado, as Normas Internacionais de Contabilidade, decorrentes deste processo, são editadas pelo International Accounting

Standards Board (IASB) e no setor público são elaboradas pela International Federation of Accountants (IFAC) e denominadas de Normas Internacionais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (NICSP). O crescimento do mercado de capitais, proporcionado pela globalização e disseminação das informações, também influenciou a adoção de medidas de padronização na escrituração contábil por parte dos órgãos reguladores internacionais de auditoria e contabilidade. Nesse contexto, o CFC publicou em 21 de novembro de 2008 as 10 primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP), que reforça as determinações da Lei nº 4.320/64, da LRF e aprimora o controle contábil no que tange ao cumprimento das metas estabelecidas no planejamento governamental (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual). O novo enfoque deixa de ser o orçamento e passa a ser o patrimônio público, uma vez que os atos administrativos, apesar de terem origem no orçamento, provocam alterações em elementos do ativo, passivo e/ou do patrimônio líquido. Logo, o patrimônio será o principal foco dos registros da administração pública, uma vez que a contabilidade deve registrar os fatos contábeis em regime de competência. Dessa forma, o presente estudo procura responder ao seguinte questionamento: quais os possíveis efeitos das inovações ocasionadas pelas NBCASP na mensuração e evidenciação do patrimônio público? O objetivo principal desse estudo é analisar os efeitos das inovações ocasionadas pelas NBCASP na mensuração e evidenciação do patrimônio público. Como objetivos específicos, têm-se evidenciar as novidades oriundas das NBCASP e demonstrar a visão de contadores públicos em relação a essas novas Normas. A análise de tais mudanças é de relevância para os gestores, profissionais da área e para a sociedade, pois os novos critérios podem provocar alterações qualitativas e quantitativas no patrimônio das entidades públicas. Os gestores poderão avaliar e demonstrar com maior exatidão o patrimônio e as suas alterações durante seu período de governo. Os profissionais terão de estar aptos aos novos procedimentos de registro e evidenciação dos fatos contábeis, além de terem que desenvolver novos softwares específicos. A sociedade tomará mais conhecimento da evolução ou regressão do patrimônio da cidade, estado e país em que reside. A motivação para realização do estudo decorre da atuação do pesquisador como funcionário da Secretaria Municipal da Fazenda de Feira de Santana/BA, atuando no setor da Contabilidade do município, visando identificar os novos procedimentos contábeis e seus reflexos na entidade pública. Portanto, o estudo das mudanças trazidas pelas NBCASP é

construtivo não só para os acadêmicos do curso de Ciências Contábeis, mas para todo o universo da Contabilidade, além de uma forma de expansão dos conhecimentos da área pública. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Convergência da Contabilidade Aplicada ao Setor Público às Normas Internacionais O processo de globalização é responsável por interligar, em escala global, agentes físicos, econômicos e de informação. Dito isto, a padronização internacional de moedas, línguas e normas é inevitável para que esse processo ocorra e continue em constante evolução. É na busca por harmonização que os organismos internacionais vão se fortalecendo e padronizando as normas contábeis, de forma que facilitem a comunicação entre os seus usuários independente da sua localização, e possam mensurar mesmo através de conversão de moeda os relatórios contábeis publicados em diferentes países. Nesse contexto que surgiu O International Accounting Standards Board (IASB) (antigo - IASC, fundado em 1973), que é atualmente o órgão responsável por desenvolver um modelo único de normas contábeis Internacionais, editando as International Financial Reporting Standards (IFRS). Carvalho, Lemes e Costa (2006) descrevem o IASB como organismo privado e sem fins lucrativos que não estabelece nenhuma norma nacional de jurisdição alguma e tem suas normas construídas inteiramente sob a perspectiva internacional. No mercado financeiro, a adoção destas normas é necessária, pois diversas empresas de capital aberto negociam ações nas principais bolsas de valores, utilizando as IFRS, para minimizar distorções nos critérios de reconhecimento, mensuração e evidenciação dos fenômenos contábeis. No Brasil, com a ajuda do CFC, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, criou-se através da Resolução CFC nº. 1.055/05 o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos contábeis, visando à convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Em 28 de dezembro de 2007 foi sancionada a Lei nº 11.638/07, que altera e revoga os principais artigos da Lei nº 6.404/76, que é a base legal contábil para as instituições privadas. Foi a partir desta iniciativa privada, com o processo de convergência das normas contábeis às normas internacionais, que o setor público se mobilizou, criando a International

Federation of Accountants (IFAC). Trata-se de uma organização contábil responsável pela padronização das normas internacionais de contabilidade voltadas para o setor público, auditoria, educação, ética, gestão e negócios, e que sejam aplicáveis a diversos países, estabelecendo as Internacional Public Sector Accounting Standard (IPSAS), ou normas internacionais de contabilidade aplicadas ao Setor Público. O Brasil teve que se enquadrar às exigências internacionais, quanto ao processo de convergência de suas normas contábeis públicas. Foi aí que o Ministério da Fazenda publicou a Portaria MF nº 184, de 25/08/08, que dispõe sobre as diretrizes a serem adotadas pela área pública (União, Estados e Municípios) em relação aos procedimentos, elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, de forma a torná-los convergentes às normas internacionais. As Normas objetivam a compreensão de novos aspectos conceituais de termos contábeis e novos critérios e procedimentos quanto à mensuração e evidenciação do patrimônio. De acordo com a Portaria nº 467, de 06 de Agosto de 2009, as entidades que integram o setor público devem adotar as NBCASP de forma facultativa a partir de 2010 e de forma obrigatória a partir de 2011 pela União, de 2012 pelos Estados e Distrito Federal e de 2013 pelos Municípios. 2.2 As Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público 2.2.1 O objeto da contabilidade aplicada ao setor público Segundo a NBC T 16.1, aprovada pela Resolução CFC nº 1.128/08, entende-se por contabilidade aplicada ao setor público o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público. O patrimônio é o seu objeto de estudo, e como objetivo tem-se fornecer aos usuários as informações de natureza orçamentária, econômica e financeira, além das mutações do patrimônio, para tomada de decisões. A NBCT 16.1 deixa evidente ao definir o objeto da contabilidade pública, definindo seu enfoque no patrimônio, e não no orçamento. De acordo com a NBCT 16.2 Patrimônio e Sistemas Contábeis, publicado pela Resolução CFC 1.129/2008, o patrimônio público representa: [...] o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações.

Logo, a visão orçamentária, imposta pela LRF e Lei 4.320/64, aos poucos, vai se ofuscando, frente á necessidade de mensuração e evidenciação do patrimônio das entidades públicas. A NBC T 16.4, aprovada pela Resolução CFC nº 1.131/08 afirma que correspondem às transações econômico-financeiras aquelas originadas de fatos que afetam o patrimônio público, em decorrência, ou não, da execução de orçamento, podendo provocar alterações qualitativas ou quantitativas, efetivas ou potenciais. A Contabilidade Aplicada ao Setor Público pode ser entendida, então, como o ramo da ciência contábil que registra os fatos contábeis, mensura e evidencia o patrimônio de entidades públicas. A necessidade de padronização com as normas internacionais exigiu das NBCT SP, adoção de novos critérios de mensuração dos itens patrimoniais. 2.2.2 Mensuração e Evidenciação do Patrimônio Público A contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio das entidades. Para isso, ela precisa reconhecer os fatos contábeis, mensurar e evidenciar o patrimônio, através das suas demonstrações e notas explicativas. A NBC T 16.5 (item 18) define que: O patrimônio das entidades do setor público, o orçamento, a execução orçamentária e financeira e os atos administrativos que provoquem efeitos de caráter econômico e financeiro no patrimônio da entidade devem ser mensurados ou avaliados monetariamente e registrados pela contabilidade. Para Hendriksen e Van Breda (1999), a mensuração significa atribuição de valores monetários importantes a objetos ou eventos associados a uma empresa, pelos quais devem ser reconhecidos. De acordo com a NBC T 16.10, aprovada pela Resolução CFC nº 1.137/08, mensuração consiste em constatação de valor monetário para itens do ativo e do passivo decorrente da aplicação de procedimentos técnicos suportados em análises qualitativas e quantitativas. A avaliação pode ser entendida como: [...] atribuição de valor monetário a itens do ativo e do passivo decorrentes de julgamento fundamentado em consenso entre as partes e que traduza, com razoabilidade, a evidenciação dos atos e dos fatos administrativos. (NBCT 16.10, item 2). No art. 106 da Lei nº 4.320/64 já são citados os critérios de avaliação dos elementos patrimoniais. Porém, com a aprovação da NBC T 16.10, algumas novidades surgiram, com a determinação da incorporação de bens de uso comum e da Reavaliação e Redução ao valor Recuperável. Esta Norma dispõe que os bens de uso comum que absorvem ou já absorveram recursos públicos, ou aqueles recebidos em doação, devem ser incluídos no ativo não circulante da entidade. Darós e Pereira (2009) fazem uma observação importante afirmando que a implantação do controle contábil sobre esses bens permitirá acompanhar os custos, com

a possibilidade de verificar, por exemplo, o valor anual aplicado na manutenção de uma determinada rodovia. Ainda na NBC T 16.10, determina-se a realização de reavaliações dos componentes patrimoniais, onde se deve utilizar o valor justo ou o valor de mercado na data de encerramento do Balanço Patrimonial. O conceito de valor justo é ainda amplo e subjetivo, pois não se tem meios concretos de definição, utilizando-se de critérios onde se pretende chegar ao mais próximo da realidade. Conforme Ernst & Young, FIPECAFI (2009, p. 247): Existe grande dificuldade de entendimento do conceito de valor justo mesmo nos países em que esse conceito vem sendo utilizado há mais tempo, como é o caso dos Estados Unidos. Dessa forma, torna-se relevante a discussão dos conceitos e elementos das avaliações a valor justo antes da discussão sobre a aplicação desse conceito na elaboração de demonstrações financeiras. Quanto ao impairment test, a NBC T 16.10 (item 35), determina o ajuste ao valor recuperável, devendo os acréscimos ou decréscimos ser registrados nas contas de resultado. Ernst & Young, FIPECAFI (2009) define o processo de impairment como a correção de um valor do Ativo ao Fair Value, ou valor justo, obtido com a comparação do valor contábil líquido com o valor líquido de vendas ou com o valor de uso. Dentre eles, o menor será o valor justo. Logo, caracteriza-se como uma perda do Ativo Imobilizado. Outra inovação que trará significativas alterações qualitativas e quantitativas na avaliação do Ativo do patrimônio das entidades pública é a exigência do registro de depreciação, amortização e exaustão. Segundo a NBC T 16.9, aprovada pela Resolução CFC nº 1.136/08, o valor depreciado, amortizado ou exaurido, apurado mensalmente, deve ser reconhecido nas contas de resultado do exercício. Cita também que o valor residual e a vida útil econômica de um ativo devem ser revisados, pelo menos, no final de cada exercício. De acordo com a NBC T 16.9, os ativos que não estão sujeitos ao regime de depreciação são: (a) bens móveis de natureza cultural, tais como obras de artes, antigüidades, documentos, bens com interesse histórico, bens integrados em coleções, entre outros; (b) bens de uso comum que absorveram ou absorvem recursos públicos, considerados tecnicamente, de vida útil indeterminada; (c) animais que se destinam à exposição e à preservação; (d) terrenos rurais e urbanos. Ainda de acordo com a NBC T 16.9, os métodos utilizados são por quotas constantes, da soma dos dígitos e das unidades produzidas. Logo, o valor mensurado dos elementos patrimoniais através do custo histórico, no Balanço Patrimonial, além de ser alvo de reavaliação e ajuste ao valor recuperável, será depreciado, alterando seus respectivos valores.

Observa-se então que a nova Contabilidade aplicada ao Setor Público vai exigir os registros de reavaliação, redução ao valor recuperável e depreciação/amortização e exaustão nos elementos do Ativo das Entidades Públicas As demonstrações contábeis exigidas pela Lei nº 4.320/64 apresentam estruturas peculiares, que focam o controle do orçamento público, tendo seus ativos e passivos estruturados para verificar superávits e déficits ao longo do exercício (LIMA; CASTRO, 2007. Com a implantação da NBCT 16.6 Demonstrações Contábeis aprovada pela Resolução CFC nº. 1.133/08 ficou preservada as demonstrações previstas na Lei nº. 4.320/64, e foi acrescentada duas novas Demonstrações (Fluxo de Caixa e Resultado Econômico). Tais demonstrações facilitarão na apuração dos Custos e evidenciará a execução financeira, não representando, portanto, a evidenciação direta do patrimônio e de suas alterações. Ainda segundo a NBC T 16.6, os elementos patrimoniais passaram a ser segregados em circulantes e não circulante, de acordo com a conversibilidade e exigibilidade. 3 METODOLOGIA Vergara (2009) define que a metodologia de pesquisa se classifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, a presente pesquisa é caracterizada como exploratória, pois buscou proporcionar maior familiaridade com o problema, através da exploração das informações contidas no campo de estudo. No que tange os meios, ela se classificou como bibliográfica. Santos (2000) afirma que a bibliografia caracteriza-se como uma preciosa fonte de informações, com dados já organizados e analisados e atualmente, praticamente qualquer necessidade humana, possui algo escrito a seu respeito. O estudo foi desenvolvido a partir do levantamento da legislação vigente aplicável ao setor público, de livros e artigos científicos. O método foi à análise das diferentes obras, de forma que permitisse comparar critérios e procedimentos da contabilidade aplicável ao setor público antes e depois da implantação das NBCASP. Para dar fundamento prático à pesquisa, complementarmente, foram realizadas visitas à Prefeitura Municipal de Feira de Santana/BA, e entrevistas não estruturadas aos servidores que atuam diretamente na área contábil da Administração Direta. Dentre os 14 contadores efetivos da Entidade mencionada, 10 contribuíram com as entrevistas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos efeitos das principais inovações decorrentes da implantação das NBCT SP no que tange aos aspectos de mensuração e evidenciação do patrimônio público é resultante da pesquisa bibliográfica realizada na primeira parte desse estudo e da comparação entre a legislação específica vigente e as NBCASP. De forma complementar, com vistas à obtenção de uma percepção da existência desses efeitos na prática, as entrevistas realizadas com os profissionais da área, que atuam no Município de Feira de Santana/BA, contribuíram para o fortalecimento dos resultados alcançados. 4.1 Regime contábil adotado na Contabilidade Aplicada ao Setor Público O art. 35, incisos I e II da Lei nº 4.320/64 determina que pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas e as despesas legalmente empenhadas. Assim sendo, interpreta-se que no âmbito do setor público, o regime de caixa é adotado para o registro das receitas e o de competência para as despesas. Por outro lado, a LRF preconiza, no art. 50, inciso II, que a despesa e a assunção de compromisso sejam registradas segundo o regime de competência, mas não exige tal regime para as receitas. Após a edição das NBCT SP, o regime de competência será obrigatório e o patrimônio sofrerá variações, já que o item 19 da NBC T 16.5, afirma que as transações no setor público devem ser reconhecidas e registradas integralmente no momento em que ocorrerem e cita que os registros contábeis devem ser realizados e os seus efeitos evidenciados nas demonstrações contábeis do período com os quais se relacionam, reconhecidos, portanto, pelos respectivos fatos geradores, independentemente do momento da execução orçamentária (item 21). Portanto, reforçam o Princípio de Competência para os registros contábeis nas entidades do setor público e a obrigatoriedade de utilização do regime de competência para as receitas e despesas. Sobre esse aspecto, os profissionais entrevistados confirmaram que o regime adotado na entidade pública em que atuam segue às exigências da Lei nº 4.320/64 e afirmam que a referida Lei não apresenta, de forma explícita, qual tipo de regime contábil deve ser aplicado nas entidades do setor público. No regime contábil aplicado à Entidade em que os entrevistados atuam, no sistema financeiro, a despesa é reconhecida no momento da liquidação, onde se reconhece o fato gerador da despesa, e a receita é reconhecida no momento da entrada do recurso. No sistema orçamentário, a despesa é reconhecida no momento do empenho e a receita é registrada no

momento da entrada do recurso. Ou seja, prevalece o regime de caixa para as receitas e de competência para as despesas. Por tudo isso, verifica-se que, a partir das NBCASP, ficou explícito que o regime contábil a ser aplicado na contabilidade aplicada ao setor público deverá ser o de Competência, tanto para as receitas quanto para as despesas, o que trará impactos na evidenciação do patrimônio, uma vez que este será mensurado no momento do fato gerador do fato contábil. 4.2 Registro de Depreciação/Amortização/Exaustão A mensuração, avaliação e evidenciação dos itens patrimoniais sofreram modificações no que tange a forma de registro da depreciação, amortização ou exaustão. Sobre esse aspecto, a lei nº 4.320/64 não menciona a necessidade de registros no Patrimônio, razão pela qual a maioria das entidades não o faz. Por conta disso, observa-se que, o Ativo Imobilizado das entidades públicas apresenta valores irreais, uma vez que, mensurados pelo Custo Histórico, não consideram a perda de valor que ocorre ao longo do tempo. A NBC T 16.9 veio retificar este problema, tornando obrigatório o registro da depreciação, amortização e exaustão para os elementos patrimoniais e especificar os novos procedimentos a serem adotados. Essa medida resultará em uma apuração mais minuciosa no reconhecimento dos valores desses ativos e na sua verdadeira utilidade para a sociedade. Além disso, os valores evidenciados no Balanço Patrimonial serão mais próximos da realidade. A perspectiva, anteriormente citada, é compartilhada pelos profissionais de contabilidade entrevistados, que em sua maioria, confirmaram o não registro das perdas ocasionadas pela obsolescência ou defasagem do imobilizado na entidade pública onde prestam serviços. Quando indagados se o ativo imobilizado da entidade em que atuam apresentava valores reais, todos concordaram que não, já que não havia o registro das perdas. 4.3 Reavaliação de Ativos A contabilidade societária, após a convergência às Normas Internacionais, passou a exigir) o registro das reavaliações dos itens patrimoniais como vistas a mensurá-los a valor justo (fair value). A NBCT 16.10 estende essa necessidade também para o setor público. Ou seja, com a implantação das NBCT SP, o patrimônio irá apresentar valores mais próximos da realidade, com a prática de reavaliação de ativos e através da busca do valor justo ou valor de

mercado, deduzido das suas respectivas perdas ocasionado pela depreciação ou impairment test, antes não contemplados na Lei nº 4.320/64. Um ponto importante a observar, é que dentre os entrevistados, quando interrogados sobre estarem ou não aptos a proceder com os registros de Reavaliação de Ativos e Impairment Test, 60% destes afirmam que estavam parcialmente preparados e 40% não estavam preparados. Destes últimos, 50% não sabiam nem o conceito de Fair Value ou Impairment Test. Observa-se que isso pode ser um reflexo do cenário atual dos contadores do ramo público brasileiro, visto que a Legislação Aplicável não exigia registros dessa natureza. Logo, o profissional contábil do setor público vai ter que está preparado e atualizado quanto a estes procedimentos, diante da obrigatoriedade de aplicação das NBCASP a partir de 2011 pela Uniao, 2012 pelos Estados e 2013 pelos Municípios. Além dos cursos oferecidos pela STN, terá que estar atento às mudanças trazidas pela Lei nº 11.638/07, além dos pronunciamentos emitidos pelo CPC, para a Contabilidade Societária. 4.4 Incorporação de Bens de Uso Comum A NBC T 16.10 traz os critérios e procedimentos de mensuração dos ativos e passivos nas entidades públicas e apresenta as alterações do patrimônio. Destaca-se a exigência da incorporação de bens de uso comum (itens 30 e 31), não prevista na Lei nº 4.320/64, nem na LRF. A contrapartida da incorporação destes bens no Ativo não Circulante Imobilizado gera variações ativas no Sistema Patrimonial, que ocasiona aumento do Patrimônio Líquido, após a apuração dos resultados finais do exercício. Por exemplo, antes das NBCASP, a construção de um viaduto, no valor de R$ 20.000.000,00, com recursos de operações de crédito, provocava aumento do passivo e das variações passivas no Sistema Patrimonial. Contudo, esta obra não era registrada no Ativo Imobilizado. Portanto, não havia variações Ativas no Patrimônio, para obras desta natureza, e a Contabilidade deixava de mensurar e registrar o valor de R$ 20.000.000,00 na conta de Bens Imóveis. Vale ressaltar que, apesar do aumento do Ativo Imobilizado, esses bens não poderão ser vendidos ou comercializados, no entanto, os gestores podem evidenciar para a sociedade a realização de obras desta natureza, através do Balanço Patrimonial. Quando os entrevistados foram indagados sobre a mudança que trará mais alterações no Patrimônio da Entidade em que atuam, 80% afirmam que a incorporação de bens de uso

comum representa a que ocasionará impactos mais significativos no Balanço Patrimonial da Prefeitura. O saldo patrimonial, resultante das contas de resultados das variações ativas e passivas, apresentará valores mais positivos para a Prefeitura, visto que o aumento do Ativo Imobilizado aumentará também o Patrimônio Líquido. 4.5 Evidenciação X Transparência Por último, no que se refere à evidenciação contábil, conforme mencionado no referencial teórico, a NBCT 16.6 inovou, trazendo duas demonstrações: Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) e Demonstração do Resultado Econômico (DRE). Tais demonstrações não eram mencionadas na Lei nº 4.320/64, nem na Lei Complementar nº 101/2000. Proporcionarão mais controle na execução financeira e darão suporte ao subsistema de custos, mas quanto à evidenciação patrimonial e suas variações, não implicará diretamente. A LRF, com exceção da Demonstração das Variações Patrimoniais (art. 50, VI) e do Balanço Orçamentário (art. 52, I), não comenta sobre a evidenciação dos demais demonstrativos contábeis. Ela exige o encaminhamento, por parte da entidade, para os órgãos fiscalizadores, dos anexos bimestrais e quadrimestrais Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) e Relatório de Gestão Fiscal (RGF), onde impõe determinadas metas a serem alcançados, com informações em seus relatórios de caráter estritamente orçamentárias e financeiras. Ou seja, a mensuração e evidenciação do patrimônio não significam fatos significantes a serem informados em seus relatórios, mas sim, a transparência dos gastos. A lei nº 4.320/64, ao tratar das demonstrações contábeis, cita Balanço Orçamentário, Balanço Financeiro, Balanço Patrimonial e Demonstração das Variações Patrimoniais, conforme o Art. 101. Logo, preservou-se esta estrutura das demonstrações contábeis, acrescentando o DFC e o DRE. Dentre os 11 Títulos em que se encontra estruturada, 8 tratam do orçamento e apenas 1 da contabilidade. Depois da edição das NBCT SP, houve uma segregação quanto às interpretações de transparência e evidenciação. A transparência ficou mais restrita aos aspectos legais de atingir as metas pré-estabelecidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, servindo de apoio ao Controle Interno na execução do orçamento. Já a evidenciação tem seu foco mais voltado para a demonstração do patrimônio e suas variações, resultantes ou independentes da execução orçamentária.

Observa-se então que até a edição das NBCASP, se evidenciava mais a execução orçamentária do que o patrimônio, pois as demonstrações contábeis exigidas pela Lei nº. 4.320/64 apresentam estruturas fundamentadas no controle do orçamento público, enquanto a LRF exige a elaboração de demonstrativos fiscais, contemplando informações de natureza orçamentária e financeira. Já as Normas do Setor Público deixam evidentes, na NBC T 16.2 que o Patrimônio é o objeto de estudo da Contabilidade. Logo, seu objetivo principal passa a ser a evidenciação do patrimônio. Com relação aos entrevistados, quando questionados sobre o objetivo principal da Contabilidade Aplicada ao Setor Público até a implantação das NBCASP, a maioria afirma que é a evidenciação orçamentária, pois os gestores dão mais importância ás informações referentes ao controle das arrecadações e dos gastos. Afirmam ainda que isto se deva ao fato de as Entidades Públicas não apresentarem Lucros Acumulados em seu Patrimônio Líquido, ao contrário do ramo privado. Tanto a transparência quanto a evidenciação visam à democratização das informações contábeis, obedecendo aos princípios básicos de clareza, integridade e sinceridade. Logo, é dever do Estado e direito do cidadão ter o conhecimento da execução do orçamento e da posição do patrimônio, no Município, Estado e União em que reside. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos das inovações ocasionadas com a implantação das NBCASP, na mensuração e evidenciação do patrimônio público, num contexto de convergência dos procedimentos contábeis às normas internacionais. Para atingir tal objetivo, houve uma análise comparativa dos critérios exigidos na Legislação Aplicável ao Setor Público com os determinados pelas NBC T SP, além da realização de entrevistas á profissionais contábeis que atuam no município de Feira de Santana/BA. As alterações identificadas com a edição das Normas próprias do Setor, que provocarão impactos no patrimônio público, são a aplicações do regime de competência para receitas e despesas, as incorporações de Bens de Uso Comum, o registro de depreciação/amortização/exaustão e a Reavaliação de Ativos, através do impairment test e do Valor Justo ou de mercado. Todas as alterações provocarão efeitos quanto à mensuração e evidenciação no patrimônio das Entidades Públicas, aumentando ou diminuindo seus Ativos e/ou Passivos.

A incorporação dos Bens de Uso Comum provocará aumento do Ativo Imobilizado e como consequência, haverá aspectos positivos para o Ente Público, pois haverá também aumento do Ativo Real Líquido e mais evidenciação de obras realizadas, desta natureza. O registro de depreciação/amortização/exaustão e a aplicação do impairment test irá reduzir os valores mensurados no Ativo do Patrimônio dos Entes Públicos, uma vez que estes se encontrem obsoletos, defasados ou com capacidade de uso reduzida. Foi possível observar que a Lei nº 4.320/64 não apresenta explicitamente critérios de reconhecimento de competência para o registro dos fatos contábeis, e que as NBCASP determinaram o regime de competência para receitas e despesas, atendendo ao Princípio de Competência. Com isto, o patrimônio sofrerá variações, pois os registros dos fatos contábeis serão efetuados no momento do fato gerador. Ficou comprovado que, a partir das NBCASP, o objeto principal a ser evidenciado na contabilidade pública é o patrimônio e não a execução orçamentária, apesar de a Lei nº 4.320/64 apresentar estruturas peculiares à formação do orçamento público e a LRF contemplar, basicamente, informações de natureza financeira e orçamentária. Os entrevistados contribuíram com os resultados alcançados através de uma visão prática dos efeitos das mudanças na Entidade Pública em que atuam. Foi possível compreender que as práticas adotadas pela equipe contábil ainda não se encontram em conformidade com as NBCASP. Além disso, foi identificada a mudança mais significativa a partir destas novas Normas, na entidade em que prestam serviços, que é a incorporação de Bens de Uso Comum. Constatou-se que, apesar de terem o conhecimento sobre a nova Contabilidade Aplicada ao Setor Público, e das alterações na evidenciação e mensuração do patrimônio, estes ainda não se consideram preparados para essas mudanças. Por fim, a nova Contabilidade Aplicada ao Setor Público demonstrará o patrimônio das Entidades Públicas com valores mais próximos da realidade e, para isso, irá exigir mais capacitação dos profissionais contábeis que atuam no ramo público, em virtude dos novos critérios que até então eram aplicados somente à Contabilidade Societária. REFERÊNCIAS ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade Pública na Gestão Municipal. 3. ed, S. Paulo: Atlas, 2007. ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. 8. ed. S. Paulo: Atlas, 1995.

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