GUARDA E GESTÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS ELETRÔNICOS - DE QUEM É A RESPONSABILIDADE? PROBLEMAS CONEXOS. P a r e c e r



Documentos relacionados
DECADÊNCIA E CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS

Decadência e Prescrição em Matéria Tributária

PARECER DOS RECURSOS REFERENTES À ELABORAÇÃO DAS QUESTÕES DE PROVA OU GABARITO PRELIMINAR

NOTA FISCAL ELETRÔNICA

Prefeitura Municipal de Belém Secretaria Municipal de Finanças

Legislação e tributação comercial

Sumário. (11)

Nesta matéria vamos tratar dos prazos de prescrição para a guarda de documentos contábeis, declarações acessórias e dos tributos federais pagos.

PRAZOS DE GUARDA E MANUTENÇÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS

Prefeitura Municipal de Ibirataia Estado da Bahia

Murillo Lo Visco 1 Editora Ferreira

CURSO DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES DE TRIBUTÁRIO FCC

Recebimento e gerenciamento de NF-e. Resultados da Pesquisa

DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Fazenda Conselho de Contribuintes RECURSO Nº ACÓRDÃO Nº 13.

II - Fontes do Direito Tributário

lançamento A cada (notificação) 5 anos 5 anos 1º de janeiro 1º/01

Rotina de Manifesto Destinatário Tramitador NF-e. Manual desenvolvido para Célula Nf-e Equipe Avanço Informática

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Cancelamento de Nota Fiscal Paulistana quando o ISS já foi recolhido

ROTEIRO DE ESTUDOS DIREITO DO TRABALHO SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO

Parecer Consultoria Tributária

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

NORMA DE EXECUÇÃO Nº 03, DE 21 DE JUNHO DE 2011

NOTA FISCAL ELETRÔNICA - NF-e


Efeitos da sucessão no Direito Tributário. Os efeitos da sucessão estão regulados no art. 133 do CTN nos seguintes termos:

NOTA RESUMO SOBRE A OBRIGATORIEDADE DE INSCRIÇÃO NO CNPJ DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO- SCP

Parecer Consultoria Tributária de Segmentos Transferência de Crédito de ICMS de Fornecedor Optante do Simples Nacional

Simulado Super Receita 2013 Direito Tributário Simulado Rafael Saldanha

NT_036/2010_FINANÇAS Brasília/DF, 30 de julho de NOTA TÉCNICA

DIREITO ADMINISTRATIVO

emonitor Recebimento e Gerenciamento da NF-e

GETRI PARECER Nº. 565/2014/GETRI/CRE/SEFIN

PERGUNTAS FREQUENTES EVENTOS DE MANIFESTAÇÃO DO DESTINATÁRIO

119ª CONFAZ Manaus, AM, P. AJ. 07/05

O LIVRO ELETRÔNICO / SPED E OS INSTITUTOS DA DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

NFSE - Nota Fiscal de Serviços Eletrônica 1

Via MARTE. Reunião com os Fornecedores 27/07/2011. Auditório da Via Marte

Troca de mercadorias adquiridas na mesma e em outras lojas da rede. - PROCEDIMENTOS FISCAIS.

PORTARIA CAU/SP Nº 063, DE 31 DE AGOSTO DE 2015.

Ilegalidade e inconstitucionalidade da cobrança da Contribuição Sindical Rural. Proposta de sua extinção


Considerando que a Officer S.A. Distribuidora de Produtos de Tecnologia. ( Officer ) encontra-se em processo de recuperação judicial, conforme

Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 2ª TURMA RECURSAL JUÍZO C

M D F -e CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Especial Imposto de Renda 2015

SE Brasília/DF Jan./ ex. 10,5x29,7cm Editora MS/CGDI/SAA OS 2013/0124

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO MATEUS ESTADO DO ESPÍRITO SANTO GABINETE DO PREFEITO

INSTRUÇÃO NORMATIVA SMFA Nº 01/2010

Manual do Visualizador NF e KEY BEST

Em 2013, o registro de dados no SIOPS passará a ser obrigatório.

Objetivos. Página - 2

1-Outras Informações, 2-Balanço (Ativo e Passivo), 3-DRE (Custos, Despesas e Resultado), 4- DLPA, 5-REFIS e 6-PAES.

AFONSO MACCHIONE NETO, Prefeito do

A CONTABILIDADE E O AVANÇO DA TECNOLOGIA.

Validade, Vigência, Eficácia e Vigor. 38. Validade, vigência, eficácia, vigor

Normas Contábeis Orientações da SUSEP ao Mercado de Seguros, Previdência Complementar Aberta, Capitalização e Resseguro

PREFEITURA MUNICIPAL DE BRUMADO ESTADO DA BAHIA CNPJ/MF Nº / Praça Cel. Zeca Leite, nº 415 Centro CEP: Brumado-BA

Instrução Normativa 1.343, DE , DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL

MATERIAL DE APOIO MONITORIA

Orientações sobre Micro Empreendedor Individual

PARTE I INTRODUÇÃO REGRA GERAL

Comprei mercadoria com NF-e denegada. E agora?

Agencias de viagens e operadoras de turismo - Tributação e procedimentos fiscais

O Gerente de Tributos Mobiliários da Secretaria Municipal Adjunta de Arrecadações, no uso de suas atribuições legais e regulamentares,

PERGUNTAS E RESPOSTAS - EQUALIZAÇÃO DE ALÍQUOTAS DECRETOS nºs 442/2015 E 953/2015 ÍNDICE

ARQUIVO ATUALIZADO ATÉ 29/11/2011

IPTU: RECLAMAÇÃO E REVISÃO DO LANÇAMENTO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESPÍRITO SANTO TERMO DE REFERÊNCIA

Coordenação-Geral de Tributação

Para acessar diretamente o texto referente a cada um desses temas, clique:

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador LUIZ HENRIQUE

Secretaria de Estado da Fazenda Guia prático para emissão de Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e)

Resumo das Interpretações Oficiais do TC 176 / ISO

DIFERENCIAL DE ALÍQUOTA - Hipóteses de Incidência, Cálculo e Formas de Recolhimento. Matéria elaborada com base na Legislação vigente em:

DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE?

PROJETO BÁSICO AGÊNCIA DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Dívida Ativa. Cartilha aos Órgãos de Origem 8/3/2013

Nota Fiscal Paulista. Manual do Sistema de Reclamações Decreto /08

Direito Tributário Introdução, Normas Gerais, Tributos e Espécies e Competência Tributária

Direito Tributário. Módulo IV: Obrigação Tributária e Crédito Tributário.

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Crédito diferencial de alíquota no Ativo Imobilizado - SP

Planos de Opções de Compra de Ações Aspectos Tributários

Resolução Conjunta SF/PGE - 5, de : Disciplina os procedimentos administrativos necessários ao recolhimento de débitos fiscais do Imposto

SOLUÇÃO DE CONSULTA SF/DEJUG nº 23, de 19 de setembro de 2014.

Dito isso, vamos ao que interessa para se abrir um escritório contábil:

Marco Civil da Internet

Coordenação-Geral de Tributação

VERITAE TRABALHO - PREVIDÊNCIA SOCIAL - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO LEX PREVIDÊNCIA SOCIAL E TRIBUTOS

Lei de acesso a informações públicas: principais pontos

Coordenação-Geral de Tributação

Como posso solicitar o descadastramento de empresa que encerrou suas atividades ou mudou de ramo?

ÍNDICE. Alguns estudos do autor... Prefácio...

EFD PIS COFINS ESCRITURAÇÃO FISCAL DIGITAL


Sistema de Cancelamento Eletrônico. Manual de utilização do sistema pelo cartório

NOTA FISCAL DE SERVIÇOS ELETRÔNICA NFS-e. Prefeitura Municipal de Tupãssi

Transcrição:

GUARDA E GESTÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS ELETRÔNICOS - DE QUEM É A RESPONSABILIDADE? PROBLEMAS CONEXOS CONSULENTE: CENTRAL DA NFe TECNOLOGIA LTDA, empresa que atua no mercado de custódia de documentos fiscais. P a r e c e r ANTES MESMO DE LANÇAR OS ARGUMENTOS RELATIVOS À QUESTÃO FORMULADA, ADIANTO QUE A RESPONSABILIDADE PELA GUARDA E CUSTÓDIA DOS DOCUMENTOS FISCAIS NÃO É E NÃO DEVE SER DE RESPONSABILIDADE DO FISCO, UMA VEZ QUE, ASSIM PROCEDENDO, ELE (O FISCO) ESTÁ CORRENDO SÉRIOS RISCOS ABSOLUTAMENTE DESNECESSÁRIOS. TAL RESPONSABILIDADE É EXCLUSIVA DO CONTRIBUINTE, COMO VEREMOS A SEGUIR. Há muito tempo as empresas preocupam-se com a guarda dos documentos fiscais, contábeis, trabalhistas, e outros. Quando entramos na "era da informática" acreditou-se que a parafernália de documentos iria se acabar. Tudo estaria resolvido com o armazenamento de informações em "rolos de fita magnética", depois "disquetes", e assim vieram tantos outros nomes para se armazenarem dados. 1

Mas a verdade é que, apesar de toda a evolução tecnológica, as pessoas físicas e jurídicas ainda são oneradas com o encargo da custódia dos referidos documentos, mesmo os eletrônicos. Como não se ignora, a quantidade de obrigações fiscais, trabalhistas, previdenciárias não se limitam ao pagamento de tributos e encargos sociais, mas também à entrega de declarações e manutenção de livros e demais documentos que assegurem a comprovação de pagamentos e do cumprimento das imposições legais. Nessa linha, indaga-se: tratando-se de prazos decadencial ou prescricional, até quando os livros e documentos fiscais deverão ser conservados pelo contribuinte? É realmente do contribuinte a responsabilidade pela guarda e gestão dos aludidos documentos fiscais? E no caso dos documentos eletrônicos? O CTN, no seu art. 195, parágrafo único, disciplina a matéria, não deixando qualquer dúvida sobre a responsabilidade do contribuinte quanto à guarda e conservação dos documentos fiscais. Vejamos: Art. 195. (...) Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a PRESCRIÇÃO dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram. (Destacamos). A prescrição tributária, segundo estabelece o art. 174 do CTN, refere-se à ação de cobrança do crédito tributário definitivamente constituído. Assim, ocorre a prescrição quando o Estado deixa de promover a cobrança do crédito tributário, no prazo de cinco anos contados de sua constituição definitiva. Tem-se então que a prescrição da ação para a cobrança do crédito tributário tem seu início a partir da constituição definitiva do crédito correspondente, ou seja, tãosomente após ter sido efetuado o lançamento tributário, e se consuma, isto é, tem seu termo final, transcorridos os cinco anos, se não sobrevierem causas de impedimento, suspensão ou interrupção. À primeira vista, denota-se uma impropriedade técnica na redação do dispositivo legal, constante do art. 195, parágrafo único, do CTN, ao descrever, como limite temporal para a guarda e conservação dos documentos fiscais, apenas a ocorrência da prescrição dos créditos tributários, porquanto tanto pode ser do prazo decadencial quanto prescricional. 2

Isso porque há situações em que o crédito tributário nunca será alcançado pela prescrição, por já estar caduco, e nem por isso os documentos fiscais deverão permanecer sob a guarda do sujeito passivo (contribuinte e/ou responsável). É cediço que os livros e documentos fiscais são necessários, como fontes documentais probatórias, para se efetuar as atividades descritas no art. 142 do CTN, tanto para o sujeito passivo, na modalidade de lançamento por homologação, quanto para o Fisco, nos lançamentos de ofício e por declaração, sempre no intuito de se concretizar o crédito tributário, servindo assim como prova e demonstração de que foram realizadas as atividades de lançamento tributário, nos termos da legislação regente. Fato relevante a ser levantado é que não basta o crédito tributário estar extinto, como por exemplo, pelo pagamento (CTN, art. 156, I), para que o contribuinte já possa se desfazer dos livros e documentos fiscais. Mesmo já extinto o crédito tributário, os documentos fiscais deverão permanecer guardados pelo sujeito passivo até que ocorra uma das modalidades de extinção do crédito tributário por decurso de prazo, descritas no art. 156, V ou VII, do CTN. Nesse sentido, há várias hipóteses a serem analisadas: Na modalidade de lançamento por homologação, a Fazenda Pública tem cinco anos, a contar do fato gerador do tributo, para se manifestar expressamente quanto aos procedimentos efetuados pelo sujeito passivo, segundo determina o art. 156, VII, c/c o art. 150, 4º, todos do CTN. Quando o sujeito passivo entrega a declaração do tributo devido, o Fisco, ao recebê-la, física ou virtualmente por sistema computadorizado, toma conhecimento das atividades exercidas pelo obrigado, nos termos do caput do art. 150 do CTN, e nesse instante, homologando-as, está a se configurar o lançamento tributário. Isso implica afirmar que, com o recebimento da declaração do tributo devido pelo Fisco, ocorre a constituição definitiva do crédito tributário. Nesse sentido, também, vem sendo firmada a jurisprudência de nossos tribunais, em especial a do STJ, que considera que a constituição definitiva do crédito tributário ocorre com a entrega da declaração aceita pelo Fisco. E, caso não ocorra o pagamento do tributo declarado, no prazo estabelecido na legislação pertinente, inicia-se o prazo prescricional para a ação de cobrança, nos termos do art. 174 do CTN. Nessa situação, os livros e documentos fiscais deverão ser conservados até que ocorra a PRESCRIÇÃO dos créditos tributários. Com o pagamento do tributo que foi declarado pelo contribuinte ao Fisco, ocorre a extinção do crédito tributário (CTN, art. 156, I). Entretanto, havendo, porventura, o pagamento de tributo que não foi declarado ao Fisco, ou seja, recolhimento de tributo sem que haja a entrega da declaração ao Fisco, a extinção do crédito tributário não ocorre com 3

o pagamento em si, mas com a homologação tácita, nos termos do art. 156, VII, do CTN. Nessa hipótese, então, os documentos fiscais deverão ser conservados até que ocorra a HOMOLOGAÇÃO TÁCITA dos créditos tributários. Quando o sujeito passivo efetua as atividades de lançamento, com omissão ou inexatidão (CTN, art. 149, V), ou com a comprovação de dolo, fraude ou simulação (CTN, art. 149, VII), não há se falar em lançamento por homologação e sim lançamento de ofício. Então, em se tratando de lançamento de ofício, os documentos fiscais deverão ser conservados até que ocorra a DECADÊNCIA dos créditos tributários (CTN, art. 173, I). E ainda, se o Fisco efetua o lançamento de ofício (auto de infração, p. ex.) no prazo legal, não há se falar mais em decadência do crédito tributário; então, em não sendo pago o crédito tributário, deverá o contribuinte conservar seus livros e documentos fiscais até que ocorra a PRESCRIÇÃO dos referidos créditos tributários. Ante o exposto, então, os livros e documentos fiscais deverão ser conservados pelo sujeito passivo até que ocorra a extinção do crédito tributário por decurso de prazo, O QUE, EM MUITOS CASOS, PODE DEMORAR 10 (DEZ) ANOS PARA OCORRER E NÃO EM APENAS 5 (CINCO) ANOS, COMO É COMUM OUVIR NO DIA-A-DIA. É que, como explicamos, o prazo é de PRESCRIÇÃO e não de DECADÊNCIA. Como o Fisco tem 5 (cinco) anos para lançar (prazo decadencial) e mais 5 para cobrar, vê-se que o PRAZO MÍNIMO DE GUARDA DOS DOCUMENTOS PODE CHEGAR A 10 (DEZ) ANOS. A situação não se modifica pelo fato de o documento ser eletrônico, como é o caso atualmente da NF-e (NOTA FISCAL ELETRÔNICA). A Fazenda do Estado de São Paulo, por exemplo, não mudou a regra de que cabe ao contribuinte a responsabilidade pela guarda dos documentos fiscais, determinando que ele, contribuinte, garanta a custódia e a administração das notas fiscais eletrônicas emitidas. Aliás, o modelo-padrão nacional da nota fiscal eletrônica segue a mesma regra. Repare na orientação fornecida pelo PORTAL NACIONAL DA NOTA FISCAL ELETRÔNICA do MINISTÉRIO DA FAZENDA: É correto afirmar que, como a Secretaria da Fazenda já recebe a NF-e, a empresa emitente não mais precisa guardar a NF-e? Não. O emitente e o destinatário deverão manter em arquivo digital as NF-e s pelo prazo estabelecido na legislação tributária para a guarda dos documentos fiscais. Quando solicitado, deverão apresentar os arquivos digitais à administração tributária. 4

Em suma, ao invés de ter que comprar livros e talões de notas fiscais e arrumar espaço físico para guardar esses documentos, agora o contribuinte poderá se valer de softwares de gestão e armazenamento de notas fiscais e declarações digitais. Qual a vantagem? Certamente uma gestão mais organizada e eficiente de suas operações, com total segurança, além da economia de espaço físico, já que todos os documentos serão armazenados eletronicamente. Daí a importância de se escolher um bom programa de informática que faça tal administração. Nunca é demais lembrar que em caso de sinistro ou perda do arquivo eletrônico das NF-e, este, em regra, não será recuperado pela Fazenda Pública, que não tem essa obrigação. Como vimos, é o próprio contribuinte que assume o risco da guarda e integridade dos documentos fiscais eletrônicos. Ressalte-se que os recursos necessários para a guarda do documento digital, incluindo backup, têm um custo muito inferior do que a guarda dos documentos físicos, permitindo ainda a rápida recuperação do arquivo e suas informações. Mas alguém poderá questionar: e se o contribuinte, ao invés de guardar os documentos emitidos digitalmente em CDs ou softwares de gestão, preferir imprimi-los e armazená-los em arquivos físicos. A Fazenda será obrigada a aceitá-los? Tudo dependerá da legislação sobre o assunto, estadual ou municipal, conforme se trate de documento exigido pela Fazenda do Estado ou por determinada Prefeitura. E quando falamos em legislação tributária, estamos nos referindo a leis, decretos, instruções normativas e demais atos infralegais, conforme se extrai do art. 96 do CTN. Assim, se determinado decreto ou instrução normativa de um Estado ou Município obriga a guarda eletrônica (exclusiva) das notas digitais, esta obrigação não poderá ser substituída pela guarda de formulários impressos. É, pois, a legislação do sujeito ativo do respectivo tributo que decidirá sobre isso. Em resumo, as regras atinentes à emissão da nota fiscal e de outros documentos eletrônicos são definidas pela legislação de cada pessoa política que adotar o modelo digital. Tal assertiva encontra apoio no art. 11 da Medida Provisória nº 2.200/01, mais especificamente no seu art. 11, se não, vejamos: Art. 11. A utilização de documento eletrônico para fins tributários atenderá, ainda, ao disposto no art. 100 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. O art. 100 do CTN, por sua vez, reza o seguinte: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: 5

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. O normal, atualmente, é que não se permita a guarda de papéis. Não há sentido em adotar o sistema eletrônico e admitir a guarda de impressos. O sistema eletrônico visa, obviamente, agilizar os procedimentos fiscais e, mais do que isso, trabalhar inteligentemente os dados coletados. Destarte, a essência das declarações eletrônicas está em proporcionar ao Fisco ações céleres e certeiras, caracterizando-se como um verdadeiro sistema de malha-fina. Nesse contexto, permitir a guarda e a apresentação de formulários impressos se revela uma medida totalmente descabida. De qualquer modo, a obrigação deve estar prevista claramente na legislação tributária do Ente Tributante (Estado ou Município) para não dar margem a interpretações equivocadas. É importante destacar que a fiscalização sobre os documentos fiscais pode ser feita até a ocorrência da DECADÊNCIA ou PRESCRIÇÃO dos créditos tributários respectivos, mesmo prazo exigido por lei para a guarda segura dos arquivos, como visto anteriormente. Destarte, uma empresa que em 2011 iniciou a emissão de nota fiscal eletrônica poderá em regra ser autuada até 2016, caso tenha enviado informações erradas ao Fisco. O resultado pode ser um grande número de multas com valores acumulativos, pelo tempo em que ocorreu a irregularidade. Os valores das multas normalmente são significativos, o que exige muita atenção do contribuinte para não incidir na infração. As punições envolvem não só a falta de emissão ou a sua emissão incorreta, mas também a desídia na guarda das informações. Nesse cenário, a escolha do fornecedor do software passa a ser predominante na atividade econômica. A má conduta fiscal do contribuinte acabará gerando prejuízos para 6

o seu próprio negócio. Em pouco tempo, a saúde financeira da empresa pode ser seriamente abalada em virtude de falhas no cumprimento das obrigações acessórias eletrônicas. As empresas precisam, pois, se preparar para organizar o armazenamento de todas as suas informações fiscais exigidas pela legislação, pois a obrigatoriedade imposta sobre a guarda dos documentos fiscais eletrônicos emitidos envolve a necessidade de estarem estes à disposição da fiscalização pelo prazo decadencial, devendo ser exibidos quando solicitados pela autoridade fiscal. Além disso, a responsabilidade pelo armazenamento de informações fiscais requer sigilo absoluto, e a empresa precisa confiar esse serviço a quem tem experiência e uma boa equipe de técnicos especializados prontos para prestar o suporte necessário. É preciso considerar que não se deve confiar os dados de uma organização a quem não possui experiência e nem tão pouco uma estrutura capaz de suportar um grande volume de informações. Por outro lado, situação que nos causa absoluta estranheza é a assunção ao menos tácita da responsabilidade da guarda pelas prefeituras. Com efeito, nos editais que conhecemos, esse ponto não é esclarecido. Mas na prática os programas têm armazenado os documentos eletrônicos, o que pode trazer sérios prejuízos ao Fisco. Imagine uma situação em que inúmeros documentos eletrônicos tenham sido danificados. Os contribuintes certamente não poderão ser responsabilizados pelo Fisco que assumiu o risco. E os registros dos fatos geradores? Muitos restarão prejudicados, sem que a Fazenda tenha condições de identificá-los em tempo hábil para a cobrança dos tributos devidos. Esse problema pode irradiar efeitos também sobre a fiscalização da Receita Federal, que poderá autuar o contribuinte em razão da ausência de documentos que lastreiem os lançamentos fiscais. E daí, o contribuinte alegará em eventual peça recursal que a Prefeitura perdeu os seus registros? Esse fato servirá como fundamento de defesa? Está claro que não! Em situações desse tipo, o contribuinte será inapelavelmente autuado e terá que recorrer ao Judiciário para ser indenizado pela Prefeitura que perdeu os seus dados. Vejam só que situação absurda! E mais. A meu ver, os agentes políticos e administrativos que definirem essa obrigação como ônus da Prefeitura, poderão, sem sombra de dúvidas, ser responsabilizados pelos prejuízos que a medida causar aos cofres do tesouro municipal. 7

Em outras palavras, a assunção de um risco desmedido, sem nenhuma razão de ser, poderá servir de motivo justificador para a propositura de ações civis e até criminais contra os agentes da Fazenda que determinarem o esdrúxulo procedimento. Por isso mesmo, não nos parece nada razoável as prefeituras assumirem esse risco que a própria legislação tributária nacional não exige. Por que assumir uma obrigação que é definida pelo art. 195 do CTN como sendo do contribuinte? Respondo, portanto, a questão formulada no título desta consulta no sentido de que a guarda e administração dos documentos fiscais eletrônicos, à luz de nossa legislação tributária, constituem ônus dos contribuintes. Caberão a eles, pois, zelar pela conservação dos arquivos digitais enviados às Fazendas Públicas, até que ocorra a PRESCRIÇÃO ou DECADÊNCIA dos créditos fulcrados nos correspondentes registros fiscais. A PREFEITURA, POR SUA VEZ, NÃO DEVE RESPONSABILIZAR-SE POR TAL OBRIGAÇÃO, QUE NÃO É DELA, COMO VISTO EM LINHAS ANTERIORES. SE MESMO ASSIM ELA (A PREFEITURA) INSISTIR EM BANCAR A CUSTÓDIA DOS DOCUMENTOS ELETRÔNICOS, DEVE ESTAR CIENTE (PRINCIPALMENTE OS AGENTES POLÍTICOS E ADMINISTRATIVOS ORDENADORES DO SISTEMA) DE QUE ESTARÁ CORRENDO SÉRIOS RISCOS EM RAZÃO DA POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE DANOS AOS ARQUIVOS ELETRÔNICOS. OS SEUS AGENTES PODERÃO SOFRER AÇÕES NAS ESFERAS CIVIL E CRIMINAL PELOS PREJUÍZOS MORAIS E MATERIAIS QUE SOFREREM OS CONTRIBUINTES E TAMBÉM A PREFEITURA. Bauru, em 16 de maio de 2011. Francisco Ramos Mangieri Advogado e Consultor Tributário Diretor do Depto. Tributário da Prefeitura de Bauru Escritor de artigos e livros jurídicos Professor de Direito Tributário 8