RESUMO COMO AS PESSOAS TRABALHAM EM BOM PRNCÍPIO Juliana Teresa Winter 1 Jerônimo Becker Flores 2 Este artigo apresenta um olhar reflexivo sobre como as pessoas trabalham em Bom Princípio. Relatamos o interesse em saber porque trabalho é importante na vida das pessoas, do nosso município e do nosso país. Foi de extrema importância o uso da pesquisa de opinião, uma vez que ficou claro o que as pessoas das comunidades onde os alunos envolvidos vivem, pensam e sabem sobre alguns aspectos pertinentes ao assunto. Todo este processo iniciou a partir do interesse dos alunos. Assim sendo, de modo geral, as atividades propostas foram bem aceitas. Envolvemos nesse processo, moradores dos bairros onde vivem os alunos da turma 72, da Escola 12 de Maio, de Bom Princípio. Palavras-chave: Reflexão. Trabalho. Pesquisa de Opinião. INTRODUÇÃO A população e o trabalho no Brasil são temas estudados pela Geografia, no sétimo ano de Ensino Fundamental. Até então, o que poderia ter sido uma aula como tantas outras, para minha surpresa, acabou envolvendo a turma de forma especial, afinal fazemos parte desse País. Foram muitas informações e contribuições. Imediatamente, lançamos um olhar sobre a nossa cidade: como acontece o trabalho aqui. Por consequência do envolvimento demonstrado, apresentei a proposta do NEPSO: a pesquisa de opinião como princípio educativo. A resposta foi afirmativa. Assim, nosso problema de pesquisa logo surgiu: Como as pessoas trabalham em Bom Princípio? 1 Graduada em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (2005). 2 Mestre em Educação pela Universidade de Caxias do Sul (2013), possui graduação em Matemática pela mesma instituição (2007). Atualmente é bolsista e pesquisador CNPq e formador do curso NEPSO. 1
Destacamos a relevância social que há em termos de trabalho e analisamos o que vem a ser trabalho formal e informal. Com o intuito de demonstrar nosso conhecimento em relação a vários aspectos que estão ligados ao trabalho como um todo começamos construindo um painel reunindo o que a turma já sabia sobre o assunto. Dessa maneira, surgiram algumas questões bem pontuais, como: a importância do trabalho, trabalho infantil, direitos trabalhistas, condições de trabalho, avanços tecnológicos e salários. De início, nossas atividades basearam-se em Danelli (2007). Logo após, analisamos materiais de apoio. Um deles, a enciclopédia Barsa (2001, p. 146). Foi possível reunir vários enfoques que já haviam sido citados pelos alunos. Somaram-se não só os saberes até então desconhecidos, como inclusive, foi possível aproximar o desenrolar da história e o avanço do trabalho para a realidade local. Vimos que trabalho é todo transformação que o homem imprime à natureza; para disso tirar proveito. Pode ser feito diretamente com as mãos, com a ajuda de instrumentos, ferramentas e máquinas ou ainda com a colaboração de animais (BARSA, 2001, p. 146). Também, ainda no mesmo material, ficou bem clara, a relação que existe entre trabalho, produção e riqueza (2001, p. 147). Além disso, percebemos que com o advento da Revolução Industrial, mulheres e crianças passaram a desempenhar funções nas fábricas (BARSA, 2001, p. 148). Do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8069/1990, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, selecionamos o Capítulo V: Do Direito à Profissionalização e às Proteção no Trabalho, tirando-os de dentro de suas casas, alterando as funções familiares e sociais. Além desses materiais citados fizemos um resgate, utilizando uma edição de contos do Projeto História viva de Bom Princípio, realizado e distribuído pela Prefeitura Municipal, no ano de 2002, intitulada Profissões de antigamente.
ESTUDO E REFLEXÕES Estabelecido o que a turma sabia sobre trabalho, analisamos os textos complementares e realizamos dinâmicas para a socialização dos novos saberes. Após cada material trabalhado, sempre em duplas ou em grupos, havia um momento para a exposição e debate em grande grupo. Com o propósito de ir a campo, iniciamos ainda em duplas, a elaboração das possíveis perguntas do questionário que nos levaria, de acordo com Roque Moraes(2007), intervir na realidade, ir além de apenas reconstruir conhecimentos, mas sim, transformar as realidades. Surgiram inúmeros questionamentos. Obviamente, muitos se repetiam. Avaliamos todos eles e democraticamente foi escolhida como primeira pergunta do questionário a indagação que está apresentada a seguir; já acompanhadas do resultado do trabalho de pesquisa. 1 Porque o trabalho é importante na vida das pessoas do Município e do País? Gráfico 1 - Importância do Trabalho A resposta da questão acima veio ao encontro, exatamente, com aquilo que havíamos visto em sala de aula. Que através do trabalho, os indivíduos realizam um conjunto de atividades e recebem por isso, uma remuneração, ou seja, o trabalho então tem um preço que o trabalho recebe em troca, o salário. Esse salário é importante, pois as pessoas o utilizam para sua sobrevivência, sustento da família e concretizam seus sonhos pessoais. Além disso, ficou claro também, que a cidadania acontece quando há o propósito de trabalhar em prol do progresso e do desenvolvimento coletivo. É, de acordo com o texto de Danelli (2007), o trabalho gerando riquezas. 3
Causou-me surpresa a análise da questão: qual é, na sua opinião, a idade para iniciar o trabalho remunerado? Já no início do trabalho, havia sido esse o ponto alto da discussão, pois cada qual, defendia seu ponto de vista. Alguns envolvidos pela situação da família, outros influenciados pelas disposições do Estatuto da Criança e do adolescente, ainda outros, por desejo de conquistar seu espaço. Os últimos frisaram a importância da independência como resultado do trabalho. Quando o gráfico ficou concluído, obtivemos o resultado apresentado abaixo: Gráfico 2 Idade mínima para CTPS assinada O grupo ficou bem admirado, visto que foram distintas as respostas dadas. Por um lado, há na turma certos alunos que ficaram felizes com o que a maioria opinou, pois alguns entre eles demonstram interesse em trabalhar durante o dia e estudar à noite. O que já não está tão distante nas suas projeções. Por outro, causou um certo espanto, a ideia de que pessoas pensem ser adequado iniciar o trabalho remunerado com dezessete ou dezoito anos. Para esses, essa idade não condiz com um início de uma caminhada como trabalhador. Aqui vale registrar que todos da turma sabem da importância de se ter a Carteira de Trabalho assinada. Que, com ela ou sem ela, a vida das pessoas pode mudar muito. Não conseguem imaginar-se, no futuro, com os direitos trabalhistas negados, ou seja, sem a Carteira de Trabalho assinada. 4
Nas questões a seguir, da mesma forma, o grupo novamente se admira. Num total de sessenta pessoas entrevistadas, três por aluno, obtivemos a seguinte surpresa: Gráfico 3 Conhecimento do ECA e do Programa Jovem Aprendiz O mesmo número de pessoas conhece o Estatuto da Criança e do Adolescente, como também conhece o Projeto Jovem Aprendiz e igual número de pessoas não conhece nem o Estatuto e nem o Programa. Para os alunos, a resposta negativa para a primeira questão, em se tratando de uma lei que nem sempre é conhecida na íntegra foi mais fácil de entender, do que a segunda, pois um número considerável de adolescentes aqui em Bom Princípio trabalha na condição de Jovem Aprendiz. De modo algum esquecemos que estamos utilizando uma pesquisa de opinião. Inquestionavelmente, pelo constatado na pesquisa de opinião, as pessoas entrevistadas, percebem o avanço tecnológico em seus trabalhos a partir do que conhecem sobre a forma desses no passado. No geral, trabalham no que gostam e consideram importante o comprometimento das pessoas com suas funções, buscando retorno pessoal e também para a sociedade como um todo. Dessa forma, obtivemos uma resposta positiva quando perguntamos se as pessoas são felizes em seus trabalhos. UM TEXTO COLETIVO Inegavelmente a tarefa que estava por vir não foi a mais tranquila. Reunir uma turma de vinte alunos, para construir um texto coletivo e que tem o objetivo de divulgar nossa pesquisa na imprensa local foi um grande desafio. 5
Começamos relembrando o início desse projeto. Relemos o painel construído sobre o que os alunos já sabiam sobre trabalho. Adicionamos as disposições do ECA (1999), os relatos das profissões de antigamente, tivemos contato com um importante instrumento na vida dos trabalhadores: a Carteira de Trabalho. Somamos a isso todas as informações do nosso livro didático. Feito essa retrospectiva, foram elencadas palavras-chave para dar o pontapé inicial. Fomos interrompidos pelo sinal de troca de períodos mais de uma vez. Mas estávamos progredindo. Surgiram as primeiras frases. Considerações importantes eram destacadas. No entanto, ideias eram contestadas. Expressões de alegria e de tristeza se fizeram presentes. Em resumo, a turma 72, da Escola Municipal 12 de Maio, de Bom Princípio, do ano de 2013, terá nos próximos dias, seu texto produzido de forma coletiva, divulgado em nosso jornal local. Estão todos esperando por isso. Sabemos que nossos materiais poderão ser guardados para futuros trabalhos afins. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo a Escola produtora de conhecimento e seguindo as orientações curriculares propostas pela UNESCO, que prima por formar um aluno para o exercício da cidadania, para o trabalho e para a vida. A proposta NEPSO, aliase a esse conjunto, capacitando os alunos a pensar o mundo em que vivem, os processos sociais que o norteiam, aqui o TRABALHO e seus próprios papéis dentro deles. A realização desse trabalho, passo a passo, promoveu uma busca, sem dúvida nova para nós. Saímos a campo, partindo da necessidade de busca que nos faz parte ativa de nossas comunidades. Ficamos com a certeza de que esse desafio ressignificou nossa forma de conhecer e aprender. Lemos, estudamos, formulamos perguntas; realizamos dinâmicas, calculamos, construímos gráficos, escrevemos um texto. Estamos felizes! REFERÊNCIAS DANELLI, Sônia Cunha de Souza. Projeto Araribá: Geografia. 2. Ed. São Paulo: Moderna, 2007. 6
LEI FEDERAL 8.069/1990. Governo Federal. Estatuto da criança e do adolescente. 1990. LIMA, Ana Lúcia D Império; et al. Nossa escola pesquisa sua opinião: manual do Professor. 3. Ed. São Paulo: Global, 2010. MORAES, Roque. Participando de jogos de aprendizagens:a sala de aula com pesquisa. In Anais do VII Seminário "Escola e Pesquisa um encontro possível". Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, outubro de 2007. NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA. Movimento operário. São Paulo: Barsa Consultoria Editorial Ltda; 2001. Vol. 10; p. 447 449. NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA. Trabalho. São Paulo: Barsa Consultoria Editorial Ltda; 2001. Vol. 14; p. 146-150. PREFEITURA MUNICIPAL DE BOM PRINCÍPIO. Profissões de antigamente. Era uma vez... Bom Princípio. 2002. 7