A LEI nº 12.441/2011 E A POSSIBILIDADE DE CONSTITUIÇÃO DE EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA 1- INTRODUÇÃO Com o advento da lei nº 12.441 de 11 de julho de 2011, que altera o Código Civil, criou-se a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Alterando o art. 44, do CC, acrescendo o inciso VI, conferiu à empresa individual de responsabilidade limitada status de pessoa jurídica de direito privado não atrelado às demais dessa espécie, tais como as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos. Reforça-se este enquadramento, evidenciando-se que não se trata de modalidade de sociedade unipessoal, mas sim de uma nova espécie de pessoa jurídica de direito privado. Se o legislador desejasse o contrario, ou seja, incluir um novo tipo de sociedade, não haveria motivos para esta inserção. A lei 12.441/2011 não entrou em vigor imediatamente após sua publicação no dia 12 de julho do mesmo ano. A lei previu uma vacatio legis de 180 dias, possibilitando um tempo necessário para sua regulamentação e adaptação dos sistemas dos órgãos competentes para registro desta nova espécie empresarial. De acordo com a norma contida no novo art. 980-A, inserido no livro II, parte especial do CC/2002: a empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a cem vezes o maior-salário mínimo vigente no país. Assim, passamos a algumas considerações.
2- A EXIGÊNCIA DE CAPITAL SOCIAL MÍNIMO A lei estabelece que para fazer jus à nova modalidade empresarial é necessário, ao menos, o capital social equivalente a 100 salários mínimos. Pode-se sustentar, no entanto, que contraria a regra do art. 7º, IV, da Carta Magna a vinculação do capital social exigido ao salário mínimo. Em sentido diverso, BERSELLI sustenta que esta vinculação ao salário mínimo não fere o disposto na CF, por se tratar de proibição relativa, haja vista as hipóteses em que a própria Carta nos permite vincular ao salário mínimo. Segundo o autor, o objetivo foi evitar, tão somente, que o salário mínimo fosse utilizado como fator de indexação econômica, de forma que sua majoração desencadeasse processos inflacionários com reflexos na política econômica do país. Entendendo, portanto, que a vedação foi dirigida aos contratos de natureza civil, referentes a transações econômicas. Quanto à estipulação do valor mínimo a ser incorporado no montante de 100 vezes o salário mínimo, nos parece um quanto exagerado, violando o princípio da razoabilidade. Esta exigência, ao contrário da intenção inicial do legislador no sentido de facilitar e tornar mais acessível a constituição de uma empresa individual, pode trazer um retrocesso, inviabilizando a formalização para àqueles que não dispõe desta quantia. 3- CRIAÇÃO DE EMPRESA INDIVIDUAL POR PESSOA JURÍDICA Parte da doutrina entende ser possível a pessoa jurídica constituir uma empresa individual. Neste sentido, PINHEIRO informa que (...) a lei 12.441/2011 vai além e também admite que, sob a roupagem
da EIRELI, qualquer pessoa jurídica, isoladamente, constitua uma ou mais subsidiárias integrais. SIQUEIRA afirma que não há no novo texto normativo, qualquer previsão contrária a tal hipótese, fato corroborado pela assertiva de que, ao aplicar à norma as regras das sociedades limitadas, nada impediria que uma pessoa jurídica figurasse como titular da nova modalidade empresária. Essa posição se sustenta no caput do art. 980-A do CC que, ao mencionar que a sociedade será constituída por uma única pessoa, não restringiu a possibilidade às pessoas naturais, abrindo a possibilidade também às pessoas jurídicas. Seguindo este entendimento, deveríamos considerar inconstitucional o limite previsto no 2º do art. 980-A do CC. No dispositivo mencionado, o legislador alude à pessoa natural ao trazer uma restrição quanto à constituição de empresa individual. Violaria, pois, o princípio da igualdade possibilitar às pessoas físicas a criação de uma única empresa individual e facultar às pessoas jurídicas a constituição de quantas desejasem. Em entendimento oposto, pode-se alegar que o vocábulo individual restringe às pessoas físicas o direito de constituí-las, se conjugarmos com a mens legislatoris. A redação originária da lei em questão consignava, expressamente, que somente a pessoa natural poderia constituir empresa individual. O texto substitutivo suprimiu o vocábulo natural do caput do art. 980-A do CC, mantendo-o somente no 2º do mesmo artigo, dando assim, ensejo a essas indagações. 4- POSSIBILIDADE DE RESULTAR DA CONCENTRAÇÃO DE COTAS O 3º do art. 980-A prevê a possibilidade da empresa individual ser resultado da concentração das cotas sociais num único sócio,
independentemente das causas. Em consequência, foi alterado também o art. 1033 do CC que trata da dissolução da sociedade empresária. No regime atual, a superveniente inexistência de pluralidade de sócios acarreta, num prazo de 180 dias, a obrigação do sócio remanescente de restabelecê-la, sob pena de dissolução total. Assim, ao sócio cabem duas opções: a dissolução da sociedade empresária ou a transformação em empresário individual, abrindo mão de suas garantias no que tange à responsabilidade pelas dívidas sociais. SANTOS defende a aplicação do 3º do art. 980-A as sociedades cujo capital seja dividido por ações. Contudo, essa interpretação é extensiva vez que a redação da nova lei fala em unipessoalidade resultante da concentração de cotas em um único sócio, dando a entender se tratar apenas de sociedades contratuais. Em todo caso, tratando-se de constituição de empresa individual pela transformação de sociedade que falte pluralidade de sócios, deverá ser observado o requisito previsto no caput do art. 980-A quanto à exigência de integralização de capital social mínimo no importe de 100 salários mínimos. Caso não seja possível esta integralização, restarão ao sócio remanescente os desfechos já previstos pela atual legislação. 5- NOME EMPRESARIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL Dispõe a lei 12.441/2011 que o nome empresarial poderá ser composto por firma ou denominação social, acrescido, ao final, da expressão EIRELI. Dessa forma, após o devido registro na Junta Comercial, a empresa individual adquire responsabilidade jurídica, passando a ter patrimônio próprio, distinto do seu titular e com responsabilidade limitada ao montante do capital atribuído e totalmente integralizado. Tornando-se insolvente, ficará sujeita ao regime falimentar.
Seu titular só responderá pelas dívidas sociais se ficarem provadas situações que respaldem a responsabilização pessoal ou a desconsideração da personalidade jurídica, conforme preceitua o art. 50 do CC. 6- APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS REGRAS DA SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Conforme dispõe o 6º, do art. 980-A se aplicam às empresas individuais, no que couberem, as regras previstas para as sociedades de responsabilidade limitada (LTDA). 7- CONCLUSÃO Verificou-se que o requisito de pluralidade para a formação da sociedade empresária gerava diversos entraves burocráticos, bem como fraudes na constituição das sociedades. Atualmente, é fácil verificar sociedades em que um dos sócios detém quase a totalidade da participação societária, enquanto o outro possui papel figurativo, com uma participação mínima, somente com o intuito de preencher os requisitos para constituição da sociedade empresária. Neste sentido, parte do parecer aprovado na CCJ do Senado se transcreve: A responsabilidade ilimitada leva a pessoa natural a se juntar a outro sócio que não tem interesse na empresa, formando uma sociedade limitada originariamente fictícia, apenas para afastar o risco da afetação do patrimônio pessoal do empresário. Por óbvio, a possibilidade de constituir-se como empresário individual não agrada a todos, devido à questão da responsabilidade ilimitada, com possibilidade de responsabilização com patrimônio pessoal pelas dívidas auferidas no exercício da atividade empresarial.
Conforme se depreende do mesmo parecer anteriormente citado: A responsabilidade ilimitada torna todo o patrimônio da pessoa natural que se torna empresário afetado para cobrir obrigações relacionadas à atividade empresarial, reduzindo a sua disposição a correr riscos, o que o leva a obter menos empréstimos, contratar menos empregados, realizar menos investimentos e a exigir maior remuneração para o seu capital, encarecendo o produto adquirido pelo consumidor. Atividades de alto risco exigem maior remuneração. É neste ponto que a nova lei traz uma evolução, criando a empresa individual de responsabilidade limitada, ela elimina o entrave do requisito de pluralidade de sócios, bem como confere a garantia de que o patrimônio pessoal do titular ficará resguardado. Assim, visa combater a informalidade, aumentar a arrecadação de impostos e facilitar a constituição de uma empresa, diminuindo o martírio burocrático. BIBLIOGRAFIA AQUINO, Leonardo Gomes de. A empresa individual limitada: uma figura inócua ou um acerto legislativo?. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2947, 27 jul. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19628>. Acesso em: 5 dez. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial.19ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 8ª ed., São Paulo: Atlas, 2007 MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2007 NEGRÃO, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado.2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010
PESSOA, Leonardo. A Lei nº 12.441/2011: a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2947, 27 jul. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19629>. Acesso em: 5 dez. PIMENTEL, Carlos Barbosa. Direito Comercial. 7ª ed., São Paulo: Elsevier, 2007 PINHEIRO, Frederico Garcia. Empresa individual de responsabilidade limitada. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2954, 3 ago. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19685>. Acesso em: 5 dez. SALES, Fernando Augusto de Vita Borges de. Novos rumos do Direito Empresarial brasileiro: a Lei nº 12.441/2011 e a empresa individual de responsabilidade limitada. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2988, 6 set. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19934>. Acesso em: 5 dez. SANTOS, Diogo Jorge Favacho dos. Primeiras linhas sobre o novo instituto da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2947, 27 jul. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19632>. Acesso em: 5 dez. SIQUEIRA, Graciano Pinheiro de. Da empresa individual como modalidade de pessoa jurídica. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2947, 27 jul. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19631>. Acesso em: 6 dez.