A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL: VERDADES E MITOS



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A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL: VERDADES E MITOS Bárbara Natália Lages Lobo 1 R. Deputado Bernardino Sena Figueiredo, nº 797 apto. 301 Cidade Nova Belo Horizonte MG CEP 31170-210 Tel.: (31) 3484-5960 93965960 E-mail: barbaralobo@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO Muito se discute a respeito da existência de discriminação racial no Brasil. Os que admitem a sua existência, afirmam que nos deparamos com várias atitudes racistas, diariamente. Já os que não admitem a existência de discriminação racial no Brasil, fundamentam seu pensamento na idéia de que aqui é um país de mestiços e que a verdadeira discriminação refere-se à classe social, e não à cor da pele. Partindo da idéia de que aqui há discriminação racial, demonstraremos que a idéia de igualdade em razão da miscigenação, bem como a democracia racial são mitos, para, assim, demonstrar a necessidade e urgência das ações afirmativas como forma de combate à discriminação racial no Brasil. 2. DISCRIMINAÇÃO RACIAL Segundo a Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Normas de Discriminação Racial da ONU, ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, a discriminação racial, conforme seu artigo 1 : significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública". 1 PUC-MG

Já o termo preconceito, refere-se à discriminação que não é exteriorizada. A discriminação racial, também pode ser tratada como segregacionismo, aqui entendida conforme o Aurélio, ou seja, política ou atitude política de segregação racial. Neste trabalho esses termos serão tratados como sinônimos, ou seja, o conceito de preconceito com o qual trabalharemos é o objetivo, o exteriorizado. Entendemos por discriminação qualquer atitude atentatória ao direito fundamental de igualdade; ao igual direito de oportunidades e chances; ao pluralismo característico do Estado Democrático de Direito; e à democracia, entendida aqui, como acima explicitado, como a possibilidade de todos os indivíduos participarem de forma ativa e eficaz na construção da sociedade. 2.1 A população afro-descendente no Brasil Para melhor compreensão do nosso estudo, é necessário que analisemos a população negra no Brasil: no censo elaborado pelo IBGE, no ano 2000, foram contados 169.799.170 brasileiros, destes 6,1% são pretos, e 38,9% são pardos, ou seja, 45% da população brasileira, 76.419.233 pessoas se enquadram nos classificados afro-brasileiros. Neste trabalho, usaremos este termo e o termo negros para designar essa população. Ao analisarmos esses números, nos vem a pergunta se existe tal quantidade de negros no Brasil, por quê ainda são considerados minorias? A resposta a essa pergunta será respondida neste trabalho quando tratarmos da discriminação racial em nosso País. Mas, como breve esclarecimento, nos utilizaremos de um dos significados da palavra minoria contido no Dicionário Aurélio, que por si só, dispensa quaisquer outros comentários: 4. Antrop. Sociol. Subgrupo que, dentro de uma sociedade, considera-se e/ou é considerado diferente do grupo maior e dominante, em razão de características étnicas, religiosas, ou de língua, costumes, nacionalidade, etc., e que em razão dessas diferenças não participa integralmente, em igualdade de condições, da vida social. A população negra do nosso País se vê tolhida em vários direitos fundamentais, como a educação, o trabalho e o respeito à sua dignidade. Mais abaixo, com dados numéricos, comprovaremos porque os negros ainda são considerados minoria no Brasil.

2.2 Discriminação racial no Brasil No Brasil, costuma-se acreditar em um convívio racial harmonioso, acredita-se, inclusive, que em nosso País não existe distinção de raças devido à mestiçagem. Mas não é bem assim, no dia a dia podemos notar, sem consulta a qualquer pesquisa ou dado estatístico, que a maioria dos pobres são negros, o que mais abaixo provaremos que não se trata de mera coincidência. Percebe-se que, em nosso País, o mais difícil é admitir-se preconceituoso, mas atitudes inconscientes nos revelam um racismo latente, manifestado em pequenos gestos como se perguntar como uma menina tão branquinha namora esse negão, ou usar termos tais como crioulo, macaco quando se fala dos negros, e vários outros exemplos presenciados na nossa sociedade. Com muita propriedade Lilia Moritiz Schuwarcz, trata do tema ao afirmar que: (...) ninguém nega que exista racismo no Brasil, mas sua prática é sempre atribuída a outro. Seja da parte que age de maneira preconceituosa, seja daquela de quem sofre com o preconceito, o difícil é admitir a discriminação e não o ato de discriminar. Além disso, o problema parece ser o de afirmar oficialmente o preconceito e não o de reconhecê-lo na intimidade. Tudo isso indica que estamos diante de um tipo particular de racismo, um racismo silencioso e sem cara que se esconde por trás de uma suposta garantia da universalidade e da igualdade das leis e que lança para o terreno privado o jogo da discriminação. Com efeito, em uma sociedade marcada historicamente pela desigualdade, pelo paternalismo das relações e pelo clientelismo, o racismo só se afirma na intimidade. E da ordem do privado, pois não se regula pela lei, não se afirma publicamente. No entanto, depende da esfera pública para sua explicitação, numa complicada demonstração de etiqueta que mistura raça com educação e com posição social e econômica. Preto rico no Brasil é branco, assim como branco pobre é preto, diz o dito popular. Não se preconceitua um vereador negro, a menos que não se saiba que é um vereador; só se discrimina um estrangeiro igualmente negro enquanto sua condição estiver pouco especificada. (SCHUWARCZ, 1998, p.181). O preconceito racial no Brasil faz parte da sua história, do seu passado escravista a uma abolição que pouco modificou a situação dos negros da época, que se reflete até hoje na permanência dos negros nas funções subalternas. A abolição não significou real libertação dos negros, tendo em vista que, para sobreviverem, ainda tinham que estar submissos. No Brasil, foi amplamente difundida a idéia da democracia racial, ou seja, a mestiçagem, o pensamento de que no Brasil não existem raças, de que somos um povo miscigenado; essa idéia se mostra como um mito a partir da observação de que no Brasil existe um preconceito racial, este preconceito visto como a crença em que há diferença entre as raças, inclusive, a supremacia da raça branca sobre a negra, a difusão desse pensamento só contribui para a perpetuação do racismo velado, presente em nossa sociedade.

Vários autores criticam com muita razão esse mito da democracia racial, tão disseminado, propagando uma igualdade que se mostra falsa e irreal. Esse mito é poderoso mecanismo de dominação ideológica falaciosa de que a população brasileira, por ser miscigenada está aberta a contatos inter-raciais. A escravidão que existiu no Brasil não foi vista só no passado; está ainda presente nos nossos preconceitos. Velamos o racismo que praticamos e o atribuímos sempre ao outro. No Brasil não há grandes conflitos raciais, acredita-se aqui na boa convivência entre as raças, o que disfarça a prática da discriminação. A respeito do mito da democracia racial o autor Joaze Bernardino também emite uma opinião com a qual concordamos: Diante desta realidade social estruturada pelo mito da democracia racial e pelo ideal de branqueamento, manteve-se intacto o padrão de relações raciais brasileiro, não sendo posto em prática nenhum tipo de política que pudesse corrigir as desigualdades raciais. Isto aconteceu desta forma simplesmente porque a interpretação hegemônica acerca das relações raciais brasileira, até mesmo entre setores progressistas, não identificava nenhum problema de justiça racial. Estava vedada, portanto, a possibilidade de intervenção organizada na realidade, restando à população de cor a via da infiltração pessoal, que obviamente não possui alcance coletivo.(bernardino, [200-], Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a02v24n2.pdf>) O mito da democracia racial é visto pelos vários autores como obstáculo a uma discussão sobre a necessidade de se adotar medidas que eliminem a discriminação racial, conforme Eduardo Oliveira: Como herança ideológica, o mito da democracia racial nos persegue até hoje. Ele continua sendo base da crença nacional na inexistência de mecanismos de discriminação e se coloca como um eterno obstáculo ao debate sobre as relações raciais e culturais no País. No ideário da democracia racial criou-se na figura do mestiço um tipo ideal, capaz de diluir as características específicas (culturais e biológicas) dos diferentes conjuntos identitários. Entretanto, não podemos deixar de lembrar que este tipo ideal foi pensado, acima de tudo, como resposta ao potencial conflito da oposição branco-negro, numa sociedade fundada sob o signo da desigualdade entre as duas raças através do escravismo. Se o ideário da miscigenação tira do branco seu teor de "pureza", ele retira do elemento negro o direito à existência - deve-se considerar a influência da tese do embranquecimento entre nós. (OLIVEIRA, 1997) O autor Sales Augusto dos Santos sintetiza de forma sábia e peculiar a discriminação racial no Brasil: Discriminamos os negros mas resistimos a reconhecer a discriminação racial que praticamos contra esse grupo racial.( )o racismo está no outro bairro, na outra empresa, na outra universidade, na outra cidade, no outro estado, em outro país, entre outros, menos em nós mesmos. Nós, por mais que os dados estatísticos oficiais e não oficiais nos indiquem abismais desigualdades entre negros e brancos, achamos que não temos nada a ver com isso, pois a maioria absoluta dos brasileiros só vê o racismo dos outros e nos outros, nunca neles mesmos. (SANTOS, 2003, p.86)

Abaixo veremos o tratamento dado ao racismo pelas legislações brasileiras, bem como o racismo em números. 2.3 Formas de discriminação racial O racismo se apresenta nas mais diversas formas: na educação, cultura, trabalho, etc. Por isso a discriminação deve ser analisada sob vários aspectos: socioeconômicos, antropológicos, culturais e psicológicos; para que se formulem políticas para sua eliminação. 2.3.1 Discriminação na educação A discriminação na educação se apresenta sob vários aspectos: a inacessibilidade dos negros à educação de qualidade; o racismo praticado pelos colegas e professores; a forma de se tratar a história do Brasil omitindo a participação do negro nas modificações do País, entre outras. Sobre a discriminação nas escolas escreve Guimarães: Não há como negar que o modelo eurocêntrico calcado em valores e interesses hegemônicos tem marginalizado e relegado outros saberes e, especificamente, o saber africano e afro-brasileiro para além do status de cientificidade e que isso reforça a distância do aluno afro-descendente das suas raízes, acentuando sua evasão e repetência e, por que não dizer, sua excludência da escola. (GUIMARÃES, 2003, Disponível em: <http:// www.anped.org.br/24/t03410943430938.doc>) A discriminação racial na educação é apresentada em números pelo IBGE, permitindo a observação da proporção da desigualdade na educação no nosso País, o que não deixa dúvida acerca das diversidades raciais existentes: Tabela 1 - Proporção de pessoas de 25 anos ou mais de idade de 15 a 17 anos de estudos por cor ou raça e Unidades da Federação 2001 Unidades Federação da Brasil 7,7 10,2 2,5 Minas Gerais 5,9 8,9 2,3 Fonte: IBGE/PNAD Microdados. Elaboração IPEA/Disco. População Total População Branca População Afrodescendente

Notas: População afro-descendente é composta de pretos e pardos. Dados da PNAD excluem a população rural dos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá Quanto ao analfabetismo, segundo dados do IBGE, o analfabetismo no Brasil é em torno de 19%, enquanto na população negra a taxa sobe para 40%. 2.3.2 Discriminação no Trabalho No trabalho, o racismo também assume diversas formas: a inacessibilidade a empregos; a inacessibilidade a cargos de chefia, conseqüentemente a manutenção dos negros em funções subalternas; as diferenças salariais, o que, segundo Santos (2001), seriam as discriminações ocupacional e salarial. No trabalho ainda há uma forma encontrada pelos empregadores de velar a discriminação racial apresentada com o uso do termo boa aparência como forma de seleção de empregados, o que, para o referido autor, seria uma discriminação em razão da imagem. Observa-se que na grande maioria dos casos o termo boa aparência se refere, pelas escolhas finais, a pessoas da cor branca ou seja, segundo essas pessoas, os negros não teriam a boa aparência desejada. Verificando os números, analisamos a desproporção entre a população branca de empregados domésticos e a negra, bem como, entre a população branca que é empregadora comparada com a negra, não nos é possível inferir que existe igualdade racial no Brasil. Tabela 2 - Distribuição percentual da população ocupada de 25 anos ou mais de idade por posição na ocupação segundo a cor ou raça Brasil - 2001 Posição na Ocupação População Total População Branca População Afro-descendente Total 100 100 100 Funcionário Público 8,0 8,8 6,8 Com carteira 29,6 32,3 26,3 Sem carteira 14,4 12,3 17,3 Conta própria 26,7 25,6 28,0 Empregador 5,3 7,1 2,8 Empregado doméstico 7,6 6,3 9,4 Outros 8,4 7,6 9,3 Fonte: IBGE/PNAD Elaboração IPEA/DISOC

Nota: População afro-descendente é composta de pretos e pardos. Exclusive a população rural dos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Analisando-se a ocupação dos trabalhadores brasileiros comparativa por raças, a discriminação também se apresenta, como acima descrevemos. A questão da boa aparência, pode ser comprovada ao observarmos os trabalhadores do comércio, aqui entendidos como vendedores, atendentes, etc., há grande desproporção entre as populações. Tabela 3 - Distribuição percentual da população ocupada de 25 anos ou mais de idade por cor ou raça segundo o setor de atividade - 2001 Setores Atividade de Total 100 100 100 Industria transformação de 11,7 13,2 9,8 Construção civil 6,8 5,5 8,5 Comércio 13,2 14,4 11,6 Administração pública 5,4 5,8 5,0 Agropecuária 19,8 15,9 25,0 Serviços 20,3 19,1 21,8 Outros 22,7 26,1 18,4 Fonte: IBGE/PNAD Elaboração IPEA/DISOC População Total População Branca População Afrodescendente Nota: População afro-descendente é composta de pretos e pardos. Exclusive a população rural. Sobre a expressão boa aparência e o seu real significado nos fala Santos: Durante muito tempo e, em parte, ainda hoje, em pleno início do 3 o milênio, falouse em boa aparência. Essa foi a forma de vetar o acesso de negras e negros para as mais diferentes funções. Se pensarmos no que deve ser boa aparência: porte físico e saúde, boa parte da população brasileira, independentemente da etnia a que pertence, estaria fora do mercado de trabalho. O conceito de beleza existente no Brasil o país com maior mescla racial do mundo é olimpicamente branco e de preferência loiro mesmo. É como se aqui fosse uma espécie de escandinávia tropical. Não se fala e nem se escreve a respeito de boa aparência tanto quanto se pensa. Contudo, esse conceito continua no imaginário das pessoas. Hoje, talvez um pouco menos do que em um passado recente. Este passado não é do século 19; é da década passada. Nos anos 80, os profissionais de Recursos Humanos foram denunciados por estarem usando em suas fichas de seleção de pessoal o famoso e malfadado código 4. Fazia parte da trama o próprio SINE (Sistema Nacional de Emprego). O código citado identificava a cor do candidato para que assim a empresa interessada, de posse da ficha, pudesse, antecipadamente, dispor de um

argumento para dizer: a vaga já foi ocupada ; aguarde ser chamado ; não foi possível desta vez etc. O código 4 se encaixa como uma luva ao exemplo do avião bombardeiro B-2, que não é visto pelos radares, e que por essa invisibilidade causa um estrago considerável. O povo negro foi lesado barbaramente por essa prática racista durante muito tempo. Os discriminados desconfiavam e sofriam os efeitos da prática sem decodificar por completo como se dava a operação. As perdas continuam para os negros e os códigos adquiriram novas configurações. (SANTOS, 2001) Ao compararmos a diferença de renda, não teremos mais dúvida quanto à existência do racismo no mercado de trabalho, e ainda que ocorre no Brasil como um todo e se repete nas regiões do País (em algumas a renda da população branca chega a ser o dobro da população negra): Tabela 4 - Média da renda da ocupação principal por cor ou raça Brasil e Grandes Regiões 1992-2001 Brasil e Grandes População Total População Branca População Afro- Regiões descendente 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil 416,0 534,7 535,7 691,9 260,8 332,2 Norte 382,7 494,1 537,3 705,4 318,3 410,1 Nordeste 237,0 301,5 357,5 456,3 190,3 237,2 Sudeste 530,9 676,9 633,3 812,7 331,1 406,4 Sul 412,4 532,3 439,4 563,1 253,5 340,7 Centro-Oeste 421,3 605,5 556,8 823,3 300,0 428,9 Fonte: IBGE/PNAD Microdados Notas: Exclusive a população rural dos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Em regiões com população reduzida pode ocorrer problemas amostrais. A discriminação racial no trabalho é mais sentida pelas mulheres que também arcam com a discriminação de gênero, esta ainda presente na sociedade brasileira, apesar de todos os avanços legislativos e da consolidação da mulher no mercado de trabalho, bem como a inversão de papéis presentes na atualidade, em que a mulher se apresenta, muitas vezes, como a principal responsável pelos custos da família e fonte de renda primordial na nossa sociedade. Os números nos permitem observar que o racismo se mostra mais cruel aliado ao sexismo.

Tabela 5 - Média da renda da ocupação principal por sexo e cor ou raça Brasil e Grandes Regiões 1992-2001 Brasil Grandes e População Branca População Afro-descendente Homens Mulheres Homens Mulheres Regiões 1992 2001 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Fonte: IBGE/PNAD Microdados 624,5 790,9 398,6 567,4 294,5 360,5 194,0 284,2 604,6 795,7 424,2 575,1 348,2 454,0 255,7 328,4 398,9 514,3 274,4 383,7 214,9 255,9 135,3 205,0 726,5 922,1 490,3 678,6 380,2 439,6 249,9 352,5 541,1 656,7 299,9 439,9 290,2 377,3 196,2 278,9 638,6 937,4 423,0 666,3 325,9 469,1 249,5 362,8 Notas: Exclusive a população rural dos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Na região norte pode ocorrer problemas amostrais, devido a população reduzida. 2.3.3 Outras formas de discriminação Como dito acima, a discriminação ao se apresentar sob várias formas nos fornece dados comprovadores das diferenças raciais. Poderíamos rechear nosso trabalho de exemplos que comprovem esses fatos, mas para que não fique enfadonho não usaremos todos os dados que temos à disposição, porém, é importante demonstrar como os números nos indicam que a discriminação racial existe, e que a democracia racial é um mito, para então percebermos a necessidade das ações afirmativas. A tabela abaixo nos mostra que: (...) a racialização tem sido um dado constituivo das relações sociais no Brasil, isto é, ela não uma invenção de nenhum movimento social ou de intelectuais. Sua aparição no espaço público deve ser medida não apenas pelas manifestações pacíficas e construtivas de grupos negros, mas sim pela branquitude perene da elite dominante.(silva, 2003, p.51)

Tabela 7-Evolução da proporção de pobres por cor ou raça Brasil 1992-2001 Brasil e Grandes Regiões População Total População Branca População Afrodescendente 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil 40,7 33,6 28,9 22,4 55,3 46,8 Norte 52,8 44,3 39,7 33,6 58,3 48,4 Nordeste 65,7 57,4 54,7 46,9 70,0 61,9 Sudeste 27,4 21,5 21,3 15,6 39,1 32,1 Sul 32,3 23,3 28,8 20,4 51,3 38,9 Centro-Oeste 33,7 24,7 26,8 17,4 39,8 30,2 Fonte: IBGE/PNAD Elaboração IPEA/DISOC Nota: População afro-descendente é composta de pretos e pardos. Exclusive a população rural dos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Em unidades da federação com população reduzida pode haver problemas amostrais. Os dados apresentados acima são dignos do comentário do Professor Cruz: Se não convivemos com legislações racistas como os EUA e a África do Sul (apartheid) ou mesmo o horror vivido na Alemanha nazista, está mais do que claro que as oportunidades e o padrão de vida dos negros é muito inferior ao da média da sociedade brasileira. (CRUZ, 2003, p. 141) 2.4 O tratamento dado ao racismo pelas legislações brasileiras O racismo é tratado na Constituição da República, em leis federais, estaduais e municipais; busca-se nessas legislações a sua punição bem como a prevenção de que tais práticas aconteçam. O que se nota, porém, é a pouca aplicabilidade dessas leis e dos princípios constitucionais. Na Constituição, há vários dispositivos alguns já citados - impeditivos da prática do racismo, mas merecem atenção especial os seguintes: Art. 5, XLI a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. Art. 7 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria da sua condição social: XXX- proibição de diferença de salários, de exercício de função e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à conivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. A Constituição se mostra amplamente desrespeitada quando analisamos os dados acima, o que nos permite concluir que sua aplicabilidade está sendo reduzida pelas práticas sociais, o que é inadmissível para a concretização do Estado Democrático de Direito e seu ideal de cidadania. Sobre o que nos fala a professora Carmem Lúcia: A Constituição é lei e Lei é feita para se aplicar, para se respeitar, para se cumprir, imponha ela uma abstenção ou um comportamento comissivo do Estado ou mesmo de outra pessoa. Constituição não sugere, determina e o que ela ordena é para se cumprir mais ainda no que se refere às condutas das quais dependam a viabilidade do exercício de direitos fundamentais por ela declarados e assegurados. (ROCHA, 1999, p.42) Não é permitido ao Estado e à sociedade retirar a eficácia ou reduzir a aplicabilidade dos direitos fundamentais, pois assim estaríamos infringindo ponto basilar do Estado Democrático de Direito, qual seja, a supremacia da Constituição. Entendemos que a Constituição deve ser aplicada na sua totalidade e de forma integral e sistêmica com o ordenamento jurídico. O racismo é repudiado pela República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, conforme o art. 4, VIII, ou seja, é inadmissível que esta forma de discriminação ainda exista na sociedade brasileira. Existem algumas leis federais também tratando do tema, aqui enumeradas: a Lei nº 7.716 de 05 de janeiro de 1989, a também conhecida por LEI CAÓ, visa a tutelar a igualdade racial, descrevendo punições para crimes que configurem racismo: Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Nesta lei estão previstos vários crimes e penas ao racismo. Lei n 9.459 de 15 de maio de 1997, que corrige e modifica alguns artigos da lei acima citada. Lei 8.081 e a Lei 8.082 de 03 de junho de 1994, que introduziram no Artigo 140 do Código Penal o parágrafo 3 : Artigo 140- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro. Pena: detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo 3º - Se a injúria consiste da utilização de elementos relacionados raça, cor, etnia, religião ou origem: Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Lei 9.455 de 07 de abril de 1997, a chamada Lei da Tortura prevê em seu artigo 1º, inciso I, letra c: Constitui crime de tortura: I constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: c) em razão de discriminação racial ou religiosa. Lei n 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que obriga a temática História e Cultura Afro-Brasileira na Rede de Ensino. Lei n 10.678 de 23 de maio de 2003, que cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República. Em 2003, o senador Paulo Paim, apresentou um projeto de lei n 3.198/00 que seria o Estatuto da Igualdade Racial, em defesa dos que sofrem preconceito ou discriminação em função de sua etnia, raça e/ou cor, porém, o projeto ainda não foi aprovado, o que é um ponto a menos para a população afro-descendente, que teria à sua disposição um forte instrumento de combate a discriminação racial. O Brasil é signatário do tratado internacional da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial, de 1968, que segundo a Constituição da República, deve ser aplicado: Art. 5, 2 : Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. A respeito da aplicabilidade dos tratados, Hédio Silva Júnior: Tal como qualquer lei federal, o tratado internacional vincula, fixa direitos e deveres e obrigações para a União, Estados, Distrito Federal, municípios e, naturalmente, particulares. (SILVA JÚNIOR, 2003, p. 110). Essa convenção resultou em um tratado que visa à eliminação de todas as formas de discriminação racial, estabelecendo metas a serem cumpridas, como por exemplo, a proibição do apartheid ou de qualquer outro tipo de segregação racial. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, também é presente o repúdio à discriminação racial, conforme seu art. 2 : Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Quanto à aplicabilidade das leis de combate ao racismo, a partir da diferenciação entre preconceito e discriminação, o professor Hédio Silva Jr (2000), afirma que o preconceito não é passível de punição, tendo em vista se tratar do pensamento não exteriorizado. Nesse caso

caberia, segundo o autor, a tentativa de persuasão por meio da mídia, do sistema educacional e outros instrumentos, dando enfoque à tolerância, ao pluralismo e à diversidade. Já contra a discriminação, entendida pelo o autor como a exteriorização do preconceito, caberia a sanção, a punição. Para aqueles que incentivassem a pluralidade, por meio de cotas ou outras ações, o autor sugere sanções premiais. 3. CONCLUSÃO O princípio da igualdade é consagrado constitucionalmente, portanto, deve ser observado na sua integridade para que se atenda aos fundamentos do Estado Democrático de Direito de se construir uma sociedade fraterna. Analisando-se as estatísticas apresentadas, pudemos ver que o mito da democracia racial ainda existe no Brasil, mas que não tem fundamento, pois, o racismo ainda é prática visível em nossa sociedade e merece que várias forças se voltem para sua erradicação. A discriminação é visível em todos os segmentos da nossa sociedade, como visto acima, educação, mercado de trabalho, e outras atitudes cotidianas que demonstram que, apesar do segregacionismo brasileiro não ser tão evidente como em países tais como África do Sul e Estados Unidos, ele existe de forma velada e não menos cruel, daí ser necessário o seu reconhecimento para que se lute para o seu fim. REFERÊNCIAS BERNARDINO, Joaze. Ação afirmativa e a rediscussão do mito da democracia racial no Brasil. [200-]. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a02v24n2.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2005. CARNEIRO, Sueli. Estratégias legais para promover a justiça social. In: GUIMARÃES, Antônio Sérgio A.; HUNTLEY, Lynn. Tirando a máscara: ensaio sobre o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000. CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença: ações afirmativas como mecanismo de inclusão social de mulheres, negros, homossexuais e pessoas portadoras de deficiência. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. GUIMARÃES, Antônio Sérgio A.; HUNTLEY, Lynn. Tirando a máscara: ensaio sobre o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

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