A institucionalização da interdisciplinaridade no ensino de pós-graduação e aplicações de geotecnologias no Pantanal



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Transcrição:

A institucionalização da interdisciplinaridade no ensino de pós-graduação e aplicações de geotecnologias no Pantanal Mercedes Abid Mercante 1 Luís Antonio Paiva 1 1 Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Uniderp/Anhanguera Rua Alexandre Herculano, 1.400 - Jardim Veraneio 79037-280 - Campo Grande - MS, Brasil {mercante, la.paiva} @terra.com.br Resumo. Em estudos interdisciplinares as inovações educacionais com o uso de geotecnologias destacam-se em pesquisa sobre o Pantanal. Este artigo tem como objetivo apresentar uma estratégia metodológica abordando diversos temas ambientais espacializados, com informações específicas e que servem para caracterizar um estudo socioambiental. Foi usada uma base em Sistema de Informações Geográficas. A área de estudo foi o Pantanal do Negro. Os resultados alcançados com a experiência mostram que a metodologia é uma alternativa para a interdisciplinaridade. Palavras-chave: geotecnologias, Pantanal, interdisciplinaridade. 1041

Abstract. The Educational innovations about Pantanal are highlighted in interdisciplinary studies with Geotechnology. This article purposes to present a methodological strategy, addressing several local environmental issues, with specific and useful information for socio-environmental studies. It was based on Geographic Information System. The studied area was Pantanal do Negro. The reached results with this experience shows that the methodology is an alternative to interdisciplinary. Key-words: geotechnology, Pantanal, interdisciplinary. 1. Introdução A pós-graduação brasileira chega ao século XXI com uma extensa pauta de desafios e de questões profundas a serem resolvidas. Esse conjunto serve (ou deveria servir) de pano de fundo ao debate da demanda de novas qualificações profissionais. Atualmente, sobressaem discussões em torno de temas como: uma nova geografia regional da oferta de cursos disseminados pelo amplo território brasileiro; a inclusão de inovações advindas dos sistemas sensores e satélites, além de softwares que combinam processamento de imagens em consonância com cenários evidentes sobre o futuro de certas profissões. Como assinalam Santos e Silveira (2000, p. 30), a difusão do ensino superior público e particular no território brasileiro, após a década de 1980, demanda de acréscimos, ciência e técnica contemporânea para transformar as bases materiais e sociais, o que significa a exigência de novas qualificações. 2. Interdisciplinaridade: atualidade de um velho debate Em torno do debate sobre inovações na universidade, poucos temas têm tido tanta referência, no Brasil, como o da interdisciplinaridade. Embora não se trate de uma questão nova, ela é de grande atualidade. Alguns cruzamentos disciplinares tornam-se necessidades evidentes, diante da incapacidade de responder questões inquietantes da atualidade. O tema sobre o uso de novas geotecnologias é lembrado como um momento da modernidade, que envolve, por um lado, cientistas vinculados a um campo em notável expansão nas ciências, que têm por foco a tecnologia do sensoriamento remoto, que permite obter imagens e outros tipos de dados da superfície da terra, e por outro, surgem ponderações que emanam da humanidade diante das implicações da capacidade desta em destruir a vida na Terra. Tal debate se dinamizou a partir da década de 1970, quando a questão ambiental ganhou importância no cenário mundial. Morin (1980) lançou uma importante luz sobre as questões que conduzem ao debate sobre a interdisciplinaridade, ao apresentar sua visão sobre a complexidade. Sua vasta obra, em particular a série O método, tem a pretensão de lançar novas bases epistemológicas que devolvam à ciência sua capacidade de lidar com problemas complexos, de forma integral e não fragmentada em disciplinas que não se falam entre si. Enfim, de modo grandioso e terrível, eis que neste fim de século [século XX] os problemas da vida e da morte surgem para o homem em termos fundamentais e globais. Atingimos o estágio supremo dos meios de transformação, a subjugação e a destruição da vida, e a questão da responsabilidade humana em relação à vida já não pode ser parcelada e dividida. (Morin, 1980, p. 394). Dirigindo-se aos usuários do sensoriamento remoto sintonizados com o ensino, Florenzano (2007, p. 96) argumenta que as pesquisas de temas ambientais e os estudos do meio favorecem as práticas pedagógicas e interdisciplinares. 1042

E a autora acrescenta também que as imagens de sensores remotos, como fonte de dados sobre o meio ambiente, são recursos facilitadores tanto para o estudo ambiental como para a prática da interdisciplinaridade. Analogamente, ainda que focando estudos ambientais, Florenzano (2007) esclarece que se o estudo envolve diferentes áreas do conhecimento e realizado de forma integrado os resultados interdisciplinares serão mais consistentes. Recentes investigações desenvolvidas sobre questões complexas direcionaram as reflexões para a necessidade de compreender o conceito de interdisciplinaridade e essas novas concepções indicam os temas que envolvam o ambiente. Nessa perspectiva epistemológica, Leff (2001) coloca que, por causa da complexidade dos problemas, cada vez mais é necessária a comunicação entre as diversas áreas e saberes, ou seja, a interdisciplinaridade, uma exigência para que os resultados sejam significativos e envolvam todas as vertentes ambientais. 2.1. Elementos para uma inovação As geotecnologias referentes ao Sensoriamento Remoto e aos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) estão cada vez mais interligadas. Suas aplicações nos diferentes campos do conhecimento têm aumentado (Florenzano et al., 2005). As imagens obtidas por meio do sensoriamento remoto proporcionam uma visão de conjunto multitemporal de extensas áreas da superfície terrestre. Essa visão sinóptica do meio ambiente ou da paisagem possibilita estudos regionais e integrados, envolvendo vários campos do conhecimento. Elas mostram os ambientes e a sua transformação, destacam os impactos causados por fenômenos naturais, como as inundações e a erosão do solo (frequentemente agravadas pela intervenção do homem), e antrópicos, como os desmatamentos, as queimadas, a expansão urbana, ou outras alterações do uso e da ocupação da terra (Florenzano, 2007). As diretrizes assinaladas demonstram a necessária interdisciplinaridade não são antagônicas, mas complementares e permitem entender o espaço total da área de estudo. Quanto mais avança a especialização de um determinado tema de estudo, seja no campo da biologia, da geografia, ou da saúde ambiental, mais importante se torna a construção de espaços de diálogo e, sobretudo, a integração de várias áreas do conhecimento; e quanto mais complexos os problemas que inspiram o surgimento de tais diálogos, mais necessário é o avanço de conhecimentos especializados a serem inseridos nas atividades interdisciplinares. Portanto, é uma relação dialética. 2.2. Experiências interdisciplinares De acordo com dados apresentados no documento Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2005-2010 (CAPES, 2004), as estimativas de crescimento da pós-graduação brasileira indica a grande área Multidisciplinar, a qual terá um grande incremento no período: enquanto o sistema como um todo deve ser ampliado em 76%, a taxa esperada para o grupo no qual se situam os programas interdisciplinares é de 122%. A criação do programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP) surgiu da necessidade regional de promover estudos do meio ambiente. E o curso ficou vinculado ao Comitê Interdisciplinar da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 1043

2.3. Arranjos institucionais Com a institucionalização do curso e coerente com a percepção da necessária mudança, buscou-se programar um processo inovador. Criou-se uma linha de pesquisa com um projeto cuja finalidade era mudar o foco da pesquisa individual para uma prática sintonizada com os problemas socioambientais. O modelo adotado assentava-se sobre uma matriz em duas dimensões: os docentes deveriam ter projetos temáticos vinculados ao projeto e com um núcleo temático voltado para o Pantanal Sul-Mato-Grossense. Assim, em 2006 teve início um projeto integrado denominado: Sistema de informações como apoio às pesquisas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, à biodiversidade e à cultura no Pantanal do Negro MS. A área de estudo foi definida por corte cartográfico (20 17 25 S; 57 16 10 W), (18 26 46 S; 54 44 56 W), contemplando a bacia do rio Negro e partes dos municípios de Aquidauana, Miranda, Corguinho, Rio Negro, Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Rochedo e Corumbá (Figura 1). Figura 1. Área de estudo (20 17 25 S; 57 16 10 W) definida para o desenvolvimento de estudos integrados. A área core para os estudos do projeto localiza-se na Fazenda Santa Emília, município de Aquidauana, MS, e tem como ponto de referência de localização as coordenadas geográficas 19 30 22 latitude sul e 55 36 47 longitude oeste (estação da RMBC/RIBAC no Pantanal) com 2.618 hectares. Nessa propriedade, no Pantanal do Negro, encontra-se o Instituto de Pesquisa do Pantanal (IPPAN) da UNIDERP e a Pousada Araraúna. O acesso se dá por transporte terrestre, com cerca de 250 km de distância de Campo Grande, com percursos via cidade de Rio Negro ou de Aquidauana. O IPPAN foi criado em 2001, na categoria de órgão suplementar da UNIDERP, cuja finalidade é desenvolver atividades acadêmicas relativas ao ensino, pesquisa e extensão. 1044

3. Procedimentos Metodológicos do Projeto O Projeto implementou um tratamento computacional dos dados levantados pelos diversos eixos temáticos de pesquisa em um ambiente SIG. A utilização de técnicas de geoprocessamento ao longo de todo o processo de construção do Projeto foi necessária para a abstração das informações temáticas pesquisadas, em uma linguagem que permitisse sua integração por intermédio do posicionamento geográfico, além da estruturação de bancos de dados e geração de produtos cartográficos. Recorreu-se ao uso de informações básicas já existentes, às quais foram agregados os dados das diferentes temáticas, tendo como ponto comum o posicionamento geográfico representando diversos níveis de informações, espacializados individualmente, configurando diferentes temas que posteriormente puderam ser armazenados e modelados, gerando o potencial cruzamento de diferentes informações temáticas para obter os dados derivados. As pesquisas de campo obedeceram a um cronograma de coletas, e os dados coletados foram construídos em ambiente ARCVIEW, para as diferentes datas de coletas, correspondendo a uma característica temporal cuja variação pode ser registrada e comparada com as variações ambientais. 4. Resultados As informações utilizadas tiveram por base imagens de satélite e de fotografias aéreas que foram georreferenciadas e mosaicadas com a utilização do software Imagine Erdas. Além destas, também foram utilizados os dados vetoriais oriundos de mapeamento realizado por técnicos do Laboratório de Geoprocessamento da UNIDERP, que gerou o mapa de limites da Fazenda Santa Emília, bem como de trilhas internas localizadas nas regiões próximas à Pousada Araraúna (Figura 2). Figura 2. Imagem de satélite LANDSAT contendo os dados básicos de delimitação da Fazenda Santa Emília no Pantanal do Negro. Fonte: Paiva, L. A.; Garnés, S. J. A.; Mercante, M. A. O sistema de informações geográficas das pesquisas realizadas em um trecho no Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul. In: Oliveira, A. K. M. et al. (Ed.). Meio ambiente e produção interdisciplinar. Campo Grande, MS: Ed. UNIDERP, 2008. 1045

A característica fundamental do Projeto é o estudo de temas bióticos e abióticos visando à interdisciplinaridade. Assim, o Projeto reuniu um grupo de especialistas de várias áreas do conhecimento, os quais realizaram incursões em campo para a coleta de dados obedecendo a um cronograma anual. Tais atividades tinham sua localização definida por rastreamento de sinais do sistema de posicionamento global por satélites (GPS), de modo que os diferentes pontos de coleta ficaram espacializados. Para cada ponto de coleta de dados, dependendo das características das diferentes pesquisas, depois de tratados em laboratório, foram construídos bancos de dados contendo as informações geradas. Além disso, durante esses trabalhos foram realizadas análises para modelar os bancos de dados a serem estruturados de maneira que as informações ficassem consistentes, de acordo com as necessidades deles e do projeto em geral. Eventualmente, algumas pesquisas puderam, a partir da associação de pontos, ser transformadas em áreas com características ecológicas similares, onde pôde ser feita a generalização e o agrupamento das informações (Figura 3). Figura 3. Pontos de coleta do Subprojeto Caracterização da Paisagem em uma área do Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul, Brasil. Fonte: Freitas, P. I. F.; Mercante M. A. Caracterização da paisagem em uma área do Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul, Brasil. In: Oliveira, A. K. M. et al. (Ed.). Meio ambiente e produção interdisciplinar. Campo Grande, MS: Ed. UNIDERP, 2008 Aos levantamentos de dados realizados, foram consideradas as variações sazonais da área estudada, e os trabalhos de campo foram desenvolvidos em diferentes épocas, apresentando uma característica multitemporal dos dados levantados, o que permitiu, no ambiente SIG, visualizar concretamente as diferenças de informações nos diferentes períodos do ano, possibilitando interpretações ambientais levando-se em conta o posicionamento geográfico e as características ecológicas da época da coleta (Figura 4). 1046

Figura 4. Localização de pontos de coleta, do tema desenvolvido no Subprojeto sobre o Levantamento da Comunidade de Insetos Aquáticos de um trecho do rio Correntoso (Silva, 2008). Desta forma, foi possível a vetorização dos pontos de coleta, o tratamento e a estruturação de bancos de dados multitemporais das diferentes pesquisas temáticas, às quais puderam ser associadas as imagens de satélite e fotografias aéreas mostrando os locais de coleta, bem como, em ambiente ARCVIEW, a associação de fotografias digitais mostrando a realidade de campo no momento das coletas, o que possibilitou a visualização das condições locais nas diferentes épocas. 5. Conclusão: um modelo possível Das experiências vividas e avaliadas, é possível hoje identificar um modus de institucionalização condizente com a necessidade de preencher lacunas de interdisciplinaridade na estruturação de cursos com o foco para estudos ambientais do Pantanal brasileiro. As experiências de institucionalização de estruturas interdisciplinares e o uso de recursos de sensoriamento remoto e geoprocessamento em universidades brasileiras se disseminaram a partir da última década do século XX, mas o surgimento dos programas ambientais interdisciplinares foi marcado por estigmas de dificuldades para a materialização dessa nova modalidade. Referências CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Programa nacional de pósgraduação (PNPG): 2005-2010. 2004. Disponível em: <http://www.capes.gov.br>. Acesso em: 10 jul. 2009. Florenzano, T. G.; Ferreira, H. S.; Moraes, E.C.; Dias, N. W. Formação de professores universitários em sensoriamento remoto através de ensino a distância. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 12., São José dos Campos. Anais... São José dos Campos: INPE, 2005. p. 1279-1285. Florenzano, T.G. Iniciação em sensoriamento remoto. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. Freitas, P. I. F.; Mercante M. A. Caracterização da paisagem em uma área do Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul, Brasil. In: Oliveira, A. K. M. et al. (Ed.). Meio ambiente e produção interdisciplinar. Campo Grande, MS: Ed. UNIDERP, 2008. Leff, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001. 1047

Moreira, M. A. Fundamentos de sensoriamento remoto e metodologias de aplicação. 3. ed. Viçosa: UFV, 2005 Morin, E. O método 2: vida da vida. Cintra: Europa-América, 1980. Paiva, L. A.; Garnés, S. J. A.; Mercante, M. A. O sistema de informações geográficas das pesquisas realizadas em um trecho no Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul. In: Oliveira, A. K. M. et al. (Ed.). Meio ambiente e produção interdisciplinar. Campo Grande, MS: Ed. UNIDERP, 2008. Santos, M.; Silveira, M. L. O ensino superior público e particular e o território brasileiro. Brasília, DF: ABMES, 2000. Silva, F. H. et al. Estrutura da comunidade de insetos associados à macrófitas aquáticas em um trecho do rio Correntoso, Pantanal do Negro, Mato Grosso do Sul, Brasil. In: Oliveira, A. K. M. et al. (Ed.). Meio ambiente e produção interdisciplinar. Campo Grande, MS: Ed. UNIDERP, 2008. 1048