Transporte público: um legado que vai além de 2014



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Transcrição:

ISSN: 2317-1960 Ano II, Número 8 mar / abr 2014 ntu.org.br Transporte público: um legado que vai além de 2014 Apesar dos atrasos e dificuldades para a Copa do Mundo, o Brasil se destaca entre os países que mais tem investido em prioridade ao transporte público no mundo com 69 projetos em andamento 14 Sustentabilidade: ônibus 100% elétrico são testados em São Paulo e no Rio de Janeiro Caminho livre para os ônibus: viagens 50% mais rápidas com faixas exclusivas Brasileiros aprovam subsídios para melhorar o transporte público 22 28 32

Seminário Naci Transporte Público Urbano: como atender as demandas sociais? 27 e 28 de agosto hotel Royal Tulip Brasília www.ntu.org.br Realização Organização

onal ntu 2014 Programação 27 de agosto q u a r t a - f e i r a 10h00: Abertura 10h30: Painel Transporte público urbano: como atender as demandas sociais? O debate, mediado pelo jornalista Alexandre Garcia, contará com a participação de lideranças do setor de transportes, do governo federal e da sociedade civil em busca de respostas e soluções para as principais necessidades dos usuários do transporte público urbano. 13h00: Almoço 14h30: Painel Qualidade e segurança nos sistemas BRT Especialistas vão debater as medidas necessárias para garantir que os sistemas BRT operem com a máxima eficiência, qualidade e segurança. 17h30: Encerramento 28 de agosto q u i n t a - f e i r a 9h30: Painel Lei Anticorrupção e Política de Compliance Painel vai abordar as responsabilidades das empresas, geradas pela Lei nº 12.846/2013, e os componentes de uma estrutura de compliance com experiências do setor. Oficina Sistemas Inteligentes de Transporte Especialistas, operadores e representantes da indústria vão apresentar e discutir as inovações em tecnologia para a operação dos sistemas de transportes. 11h30: Perspectivas do ITS no Brasil 13h00: Almoço 14h30: Bilhetagem eletrônica e tecnologias para controle das gratuidades 16h00: Gestão Operacional e Informação ao Usuário 17h30: Encerramento

Editorial Pós-Copa: o que cobrar? B urocracia, chuvas, disputas judiciais sobre desapropriações e impasse para obtenção de licenças. Essas foram as principais justificativas apontadas pelos gestores públicos para o atraso ou cancelamento das obras de mobilidade urbana previstas para a Copa do Mundo. O que era para ser o maior legado nacional do Mundial vai ter que ficar para depois. Foram sete anos de preparação e mais de R$ 12 bilhões em investimentos públicos. Pela primeira vez, houve tempo e verba para tirar do papel mais de 20 anos de sonhos em melhorias dos sistemas de transporte público urbano. Mas ainda assim faltou o principal: planejamento. Segundo o Tribunal de Contas da União, apenas 57,8% dos recursos para as obras de mobilidade urbana para a Copa foram repassados até abril deste ano. Do montante inicial, R$ 4 bilhões foram retirados (e junto deles, os projetos) quando percebeu-se que algumas obras não ficariam prontas a tempo. Apesar de haver muito a se lamentar, graças à Copa, o tema mobilidade urbana se transformou em uma nova exigência da sociedade. O evento esportivo acontecerá mes- mo sem as obras ficarem prontas A Copa era apenas o marco da inauguração delas. Para a vida cotidiana de milhões de brasileiros, entretanto, equivale a uma melhoria inestimável em qualidade de vida. É o sonho de poder finalmente deixar o carro em casa para usufruir de um transporte público confortável, rápido e eficiente. É a expectativa do fim dos congestionamentos quilométricos, da redução da poluição do ar, de horas a mais para aproveitar o dia. É a mobilidade urbana plena e sustentável. Agora, já não basta cobrar celeridade nas obras e fiscalização do uso da verba pública. Para que todos esses anseios ainda sejam atendidos, é preciso exigir dos poderes públicos a capacitação dos dirigentes e técnicos de transporte dos municípios para que eles possam elaborar planos de mobilidade com qualidade e executar projetos com competência. Essa ineficiência quase geral dos municípios compromete a viabilidade dos projetos e a disponibilidade das verbas previstas nos Programas de Aceleração do Crescimento. Depois de muitos anos de espera, precisamos cobrar insistentemente a continuidade dos investimentos para que o sonho de milhões de brasileiros se concretize. Biênio 2013-2015 Conselho Diretor Membros titulares e suplentes Região Centro-Oeste Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) suplente Região Nordeste Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente Região Sudeste Albert Andrade (MG) titular Wilson Reis Couto (MG) suplente Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) suplente Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) suplente João Carlos Vieira de Sousa (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor Júlio Luiz Marques (SP) suplente João Antonio Setti Braga (SP) titular Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente Região Sul Ilso Pedro Menta (RS) titular Enio Roberto Dias dos Reis (RS) suplente Conselho Fiscal Membros titulares e suplentes Paulo Fernandes Gomes (PA) titular Heloísio Lopes (BA) titular Haroldo Isaak (PR) titular Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) suplente Jacob Barata Filho (RJ) suplente José Roberto Iasbek Felício (SP) suplente 4 Revista NTU Urbano

SUMÁRIO Expediente 6 OPINIÃO DA NTU Jacob Barata Filho Como melhorar a mobilidade urbana? 8 12 13 ENTREVISTA Ramon Victor César Confira entrevista com o presidente da BHTrans, órgão gestor de transporte de Belo Horizonte DIÁLOGO TÉCNICO André Dantas O que passou não pode ficar para trás: a construção do legado continua após a Copa do Mundo PARADA OBRIGATÓRIA Notinhas para você se agendar, se informar e se atualizar Diretoria Executiva Otávio Vieira da Cunha Filho Presidente Marcos Bicalho dos Santos Diretor Administrativo e Institucional André Dantas Diretor Técnico 14 CAPA Um legado que vai além de 2014 20 22 24 26 27 28 30 32 34 BOAS PRÁTICAS Empresas de transporte de Goiânia aderem à campanha Trabalho Seguro SUSTENTABILIDADE Ônibus 100% elétrico são testados em São Paulo e no Rio de Janeiro ACONTECE NAS EMPRESAS DF lança programa Gentileza Urbana para melhor relação entre motoristas e cidadãos PELO MUNDO Conheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora EMBARQUE NESSA IDEIA Luis Antonio Lindau O transporte sustentável salva vidas MOBILIDADE URBANA Caminho livre para o ônibus SEGURANÇA Abuso e assédio sexual contra mulheres no transporte público mobiliza país CUSTOS Brasileiros aprovam subsídios para melhorar o transporte público #NTURECOMENDA Dicas de livros, sites, aplicados e vídeos sobre transporte SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A Brasília (DF) CEP 70.070-944 Tel.: (61) 2103-9293 Fax: (61) 2103-9260 E-mail: ntu@ntu.org.br Site: www.ntu.org.br Editora responsável Bárbara Renault (DF 7048 JP) Editora assistente Hellen Tôrres (DF 9553 JP) Colaborou nesta edição Flávio Neponucena Diagramação Duo Design Esta revista está disponível no site www.ntu.org.br Siga a NTU nas redes sociais www.twitter.com/ntunoticias www.facebook.com/ntubrasil www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu Revista NTU Urbano 5

Opinião da NTU Autor: Jacob Barata Filho (*) Como melhorar a mobilidade urbana? A s metrópoles, em geral, ainda estão mal estruturadas para lidar com as exigências de uma mobilidade sustentável. Mesmo cidades de países desenvolvidos convivem com a excessiva presença do carro particular, com congestionamentos e toda sorte de efeitos colaterais por eles provocados, sejam ambientais, sociais ou econômicos. Os desafios globais vão além dos necessários investimentos em infraestrutura. Nos países em desenvolvimento, ainda é preciso encontrar um modelo adequado de financiamento do transporte público, mais equânime e que desonere a população de menor renda. É necessário, também, buscar uma melhor gestão da demanda, com integração em rede e a racionalização dos deslocamentos da população, tornando as viagens menos desgastantes. Os desafios globais vão além dos necessários investimentos em infraestrutura. Nos países em desenvolvimento, ainda é preciso encontrar um modelo adequado de financiamento do transporte público, mais equânime e que desonere a população de menor renda. É necessário, também, buscar uma melhor gestão da demanda, com integração em rede e a racionalização dos deslocamentos da população, tornando as viagens menos desgastantes. no Rio de Janeiro, estão sendo construídos quatro corredores BRT (sistema de ônibus rápido). Neste ano, serão destinados R$ 800 milhões na aquisição de mil ônibus articulados e na construção de um moderno centro de controle operacional. Estima-se que cada ônibus articulado retire das ruas de três a quatro ônibus convencionais. A criação de corredores BRT representa excelente solução em termos de transporte coletivo, com a constituição de verdadeiros eixos estruturantes, reduzindo o tempo de viagem e a emissão de poluentes. Já há consenso que mobilidade sustentável não depende apenas das políticas de transporte. O desenvolvimento de tal sistema começa com a organização do espaço urbano, daí a importância de se discutir a reestruturação da cidade. As metrópoles precisam renascer, e para isso é imprescindível que o planejamento de transporte e planejamento urbano estejam associados. As cidades brasileiras ainda são muito concentradas, geográfica e economicamente, criando problemas que só serão sanados com uma melhor ocupação e uso do solo, com um planejamento inteligente de transporte, integrado ao planejamento urbano, e, claro, com continuidade administrativa e de investimentos públicos e privados. Isso exige planejamento, comprometimento e continuidade política. Do contrário, qualquer iniciativa tende a se perder sem obter resultado. O Brasil viu nos últimos anos grande aporte de recursos públicos ser destinado para a Mobilidade urbana, e o simples fato de o setor público investir em infraestrutura estimulou o setor privado a fazer o mesmo. Só *Jacob Barata Filho, 60, é membro do Conselho Fiscal da NTU e empresário do setor em vários estados brasileiros. **Esse artigo foi publicado no jornal Folha online em 08 de abril de 2014. 6 Revista NTU Urbano

Entrevista RAMON VICTOR CESAR Um salto de qualidade no transporte público de Belo Horizonte Projetos previstos na matriz de responsabilidade da Copa estão sendo executados a tempo para o Mundial e prometem deixar a cidade mais fluente durante o evento e melhorar a qualidade de vida dos mineiros U ma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, Belo Horizonte tem investido em mobilidade urbana e no planejamento do transporte público para atender com eficiência e qualidade a população que vai circular na capital mineira durante o mundial. Os investimentos estimados em mais de R$ 1 bilhão deixarão um legado para toda cidade e projetos previstos há alguns anos começam a se tornar realidade. Em entrevista exclusiva para a Revista NTU Urbano, Ramon Victor Cesar, presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A (BHTrans) contou um pouco mais do primeiro trecho do sistema BRT inaugurado recentemente, no corredor Cristiano Machado, e detalha como foram os processos de implantação e operação. Durante o bate papo, foi possível perceber a importância do planejamento e engajamento dos órgãos gestores para a execução de projetos como esse. 8 Revista NTU Urbano

Entrevista De modo geral, o MOVE nome escolhido para o sistema BRT de Belo Horizonte tem sido bem avaliado pela BHTrans e também pelos usuários. Atualmente, o sistema oferta três novas linhas e 22 veículos fazem parte do sistema em circulação. O tempo de viagem foi reduzido e a estimativa de passageiros atendidos no corredor da Avenida Cristiano Machado quando estiver 100% implementado é de 300 mil por dia, e na Avenida Antonio Carlos, será de 400 mil usuários, totalizando 700 mil passageiros por dia. Como a BHTrans vem trabalhando a mobilidade urbana e o sistema BRT em Belo Horizonte? A BHTrans desenvolveu um Plano Diretor de Mobilidade Urbana antes mesmo da obrigatoriedade decorrente da Lei Federal nos Estados. Esse plano propõe um sistema de transporte estrutural por meio de uma combinação de linhas de metrô e de linhas de BRT e é o que vem nos orientando no dia a dia na política local de mobilidade urbana. Passado um mês do início da operação do BRT qual avaliação o senhor faz do sistema? O sistema é altamente positivo. Evidentemente que ao logo do primeiro mês nós tivemos que fazer ajustes, complementar procedimentos e corrigir funcionamentos e equipamentos. E esse é um processo normal de iniciação de uma operação. Mas, passado esse período, o sistema está aprovado tanto do nosso ponto de vista como gestores de transporte tanto no ponto de vista do usuário. Temos visto muitas reportagens e depoimentos dos usuários ressaltando não só o conforto, mas principalmente a grande rapidez concebida desse corredor. De forma que em abril foi iniciada mais uma etapa do corredor Cristiano Machado e vamos concluir esse corredor em quatro etapas. No mês de maio, vamos implementar o corredor Antonio Carlos, que se trata de um corredor mais robusto em termos de demanda e infraestrutura e que é, inclusive, um eixo de migração do estádio Mineirão com o centro da cidade. Ocorreram testes e treinamentos para que o sistema pudesse entrar em operação? Nós temos praticamente três anos de trabalho continuado na parte de planejamento e de projetos. Inserese nesse contexto todo o planejamento da operação, seja do nosso lado como gestor, seja do lado das concessionárias da operação propriamente dita. As empresas realizam os treinamentos, principalmente dos motoristas. Nessa fase de operação do corredor Cristiano Machado, alguns motoristas já fazem o treinamento em campo. Esse treino também aconteceu com um grupo de multiplicadores, formado por profissionais mais experientes das concessionárias. Isso também contou com o apoio da Rede Embarq que colaborou com a formatação desse programa de treinamento. E, enquanto operamos potencialmente o corredor Cristiano Machado, também estão sendo feitas operações de treinamento no corredor Antonio Carlos, que é o próximo a entrar em funcionamento. A BHTrans possui manuais de procedimentos operacionais para esses sistemas? Temos hoje um manual de operação do BRT com diferentes protocolos consolidados e esse material, evidentemente, está em estágio probatório. Ele foi todo construído como uma espécie de livro branco e agora ele está sendo ajustado na prática. Revista NTU Urbano 9

Entrevista Qual a previsão para que os outros corredores comecem a operar? E para a Copa do Mundo, o que estará funcionando? Tendo como marco temporal a Copa no mês de junho, nós estaremos operando com os corredores Cristiano Machado e Antonio Carlos, que é continuado pela Avenida Pedro I e Vilarinho. Ou seja, Antonio Carlos, Avenida Pedro I e Avenida Vilarinho são trechos subsequentes de um mesmo corredor. Então, para o Mundial, esses dois corredores estarão prontos, 100% funcionando. Isso significa atender no BRT 700 mil pessoas por dia, sendo 400 mil pessoas no corredor Antonio Carlos e 300 mil pessoas no corredor Cristiano Machado. Esses dois corredores convertem para um grande rotor de distribuição no hipercentro da cidade, esse rotor é formado pela Avenida Santos Dumont que teve as ruas todas remodeladas e constituem hoje um corredor também exclusivo para o sistema BRT no coração de Belo Horizonte. Para a Copa do Mundo, os corredores estarão prontos Cristiano Machado e Antonio Carlos, 100% funcionando. Isso significa atender no BRT 700 mil pessoas por dia. Esses dois corredores convertem para um grande rotor de distribuição no hipercentro da cidade Existe integração do sistema BRT de Belo Horizonte com outros modais? Todos os dois corredores (Cristiano Machado e Antonio Carlos) têm conexões intermodais. A estação São Gabriel, lá na ponta do corredor Cristiano Machado é, na verdade, uma grande integração intermodal. Funcionam juntas a estação do BRT municipal, uma estação do metrô e em breve estará em operação uma outra estação do BRT Metropolitano. Dentro de um ano e meio, estará funcionando, nessa mesma área, a nova estação rodoviária de Belo Horizonte, de forma que teremos na estação São Gabriel um grande ganho intermodal de transporte. No corredor Antonio Carlos, nós temos lá na ponta, na grande parte da segmentação do Vetor Norte, a estação Vilarinho que também é uma estação intermodal que conecta o BRT com o metrô. No centro da cidade, no rotor formado pela Santos Dumont e Avenida Paraná, embora tenha uma conexão direta, também possui duas estações do metrô. Vocês estão trabalhando com Centro de Controle Operacional? Serão dois Centros de Controle Operacional (CCO). O Centro de Controle dos próprios operadores, onde eles fazem o controle direto da operação e que está funcionando com alta capacidade técnica e conectado Também estamos estruturando um corredor com faixas exclusivas controladas, que é mais simples, na Avenida Dom Pedro II. Esse corredor é menor e está sendo financiado com uma pequena parcela de recursos do PAC Copa e vai funcionar como uma espécie de laboratório para estruturação de corredores de ônibus convencionais, mas com um padrão de operação mais sofisticado que a faixa exclusiva convencional. Estamos nos esforçando para que esse corredor de ônibus também esteja funcionando até a Copa do Mundo. 10 Revista NTU Urbano

Entrevista online com o centro de controle da BHTrans. E o centro de controle da BHTrans que, a partir de maio, estará instalado em um prédio próprio e será o grande centro de operações de trânsito e de gestão do transporte público. Mas enquanto esse centro não está funcionando, estamos controlando o BRT nas mesmas instalações atuais da central da operação de tráfego urbano. Dentro de um mês, teremos um CCO de alto nível funcionando e integrado com o CCO das concessionárias. Belo Horizonte está preparada para fazer a gestão da mobilidade urbana da Copa do Mundo agora no mês de junho. Tenho certeza que faremos bem feito e com competência, inclusive ancorados no BRT Move Pode-se dizer que esses investimentos são soluções definitivas para a mobilidade urbana de Belo Horizonte? Eu não gosto muito dessa expressão é a solução porque na verdade a solução é sempre um esforço complementar, de integração de diferentes modalidades, e de um processo de melhoria e de aumento da capacidade do sistema de transporte público. Eu penso que,com esses dois grandes corredores de BRT, que são corredores muito bem estruturados e com um padrão muito elevado de desempenho, estamos dando um salto de qualidade no transporte público de Belo Horizonte. E esse salto vai ser reforçado, brevemente, com a conclusão dos projetos de engenha- ria de duas estações do metrô. Dentro de quatro anos, nós queremos em Belo Horizonte uma parte muito expressiva daquela rede multimodal de transporte preferencial do nosso plano de mobilidade já estruturada e começando a mudar de forma significativa o modelo de mobilidade urbana de Belo Horizonte. Foram realizadas estratégias de comunicação e marketing para a divulgação à sociedade sobre o Move? Nós temos um esforço envolvendo comunicação e marketing de um lado e, do outro, mobilização social. Neste último, estamos visitando as comunidades, levando a informação lá na ponta, na casa do morador, nas lojas de bairro e nos pontos de maior concentração de pessoas. Esse é um esforço de um encontro cara a cara, por um contato de esclarecimento ao cidadão. O outro é a divulgação na mídia. Estamos colocando na rua, todos os dias, aproximadamente 300 pessoas que fazem nas estações um trabalho do que a gente chama de posso ajudar. São estudantes de ensino médio e ensino superior, treinados para dar uma informação carinhosa e acolhedora às pessoas que precisam de orientação nesse momento de mudança de hábito e que se deparam com um sistema que é distinto do que elas estão acostumadas no dia a dia. Belo Horizonte vai fazer bonito em mobilidade urbana na Copa do Mundo 2014? Temos quase dois anos de trabalho continuado na programação do plano operacional de transporte e trânsito para a Copa. Contamos com o suporte de uma consultoria especializada com experiência em eventos esportivos de outros países e, certamente, a Copa das Confederações já foi uma experiência muito rica. Belo Horizonte está preparada para fazer a gestão da mobilidade urbana da Copa do Mundo agora no mês de junho. Tenho certeza que faremos bem feito e com competência, inclusive ancorados no BRT Move. PERFIL Ramon Victor Cesar é engenheiro civil (UFMG), especialista em Engenharia Econômica (Fundação Dom Cabral) e em Planejamento de Transporte (FCO/UFMG), mestre e doutor em Geografia Econômica (PUC/ MG). É presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A (BHTrans). Revista NTU Urbano 11

Diálogo técnico André Dantas, PhD, diretor técnico da NTU O que passou não pode ficar para trás: a construção do legado continua após a Copa do Mundo N os últimos dias, muitas pessoas têm expressado preocupação em relação ao legado dos projetos e das obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo 2014. Talvez a proximidade do evento tenha contribuído para que minha família, meus amigos e conhecidos questionem, cada vez mais, sobre o que está acontecendo. Na maioria das vezes, os questionamentos referem-se aos prazos de conclusão e aos custos das obras. Parece existir um sentimento de ansiedade, que provavelmente é fundamentado nos inúmeros relatos da mídia e da percepção, não necessariamente correta, de que não estaremos preparados para atender adequadamente a movimentação de turistas durante a Copa do Mundo 2014. Em alguns poucos casos, as pessoas perguntam como essas obras contribuirão para a melhoria da qualidade do transporte público. Apesar da complexidade do tema, é muito oportuno discuti-lo em detalhes. Nessa discussão, a palavra-chave é legado. Muitos têm se dedicado a falar do legado da Copa do Mundo 2014. Geralmente, concentra-se na dimensão física, ou seja, as obras realizadas e que poderão ser utilizadas pela população após o evento esportivo. Seria irresponsável não valorizar todo o conjunto de intervenções físicas que estão em andamento nas principais cidades brasileiras. Desde o anúncio inicial do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007, quase R$50 bilhões foram alocados para projetos de mobilidade urbana, que incluem a construção de aproximadamente 1.200 km de infraestrutura para atender 10 milhões de viagens adicionais por dia.diante da falta de investimentos substanciais nos últimos 30 anos, essa alocação de recursos recente torna-se ainda mais importante para a constituição do legado. Na verdade, a necessidade de criar novas infraestruturas gerou uma reação em cadeia em termos das outras dimensões do legado. Nos últimos anos, inúmeras transformações institucionais, políticas, legais, sociais, culturais e ambientais foram observadas, pois sem elas as obras simplesmente não fariam qualquer sentido. Por exemplo, considere uma cidade-sede da Copa do Mundo 2014. Esse município direcionou recursos para construção de um sistema BRT, que na verdade é parte de uma estratégia de desenvolvimento da rede de transporte público e de um plano de mobilidade urbana. Nesse processo de implantação, todos os atores envolvidos tiveram que aprender novos conceitos, revisar posições anteriores e gradualmente adotaram novos comportamentos diante da realidade que se apresenta. Interessantemente, a cada município que experimentou essas transformações, muitos outros de grande, médio ou pequeno porte acompanharam atentamente todo o processo, para que trilhar os mesmos passos de sucesso. Essa sequência de ações e o arcabouço legal da Lei 12.587/2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana) contribuem para que o legado seja replicado em todas as suas dimensões e por todo o país. Nesse sentido, é crítico o entendimento de que o término da Copa do Mundo 2014 não indica que poderemos deixar de insistir na construção do legado para a mobilidade urbana. Muito pelo contrário, haverá a necessidade de atuação contínua para que todos os esforços sejam absorvidos como boas práticas. Como sociedade que busca o desenvolvimento pleno e sustentável, precisamos trabalhar para que o fluxo contínuo de investimentos e a priorização do transporte público sejam parte do nosso dia a dia e assim contribuam para melhoria da qualidade dos serviços. Para tanto, seria recomendável que os projetos existentes, as obras em andamento, os programas de restruturação e as iniciativas de capacitação sejam tratados como o mesmo grau de importância e urgência, que demos as intervenções da Copa do Mundo 2014. Apenas começamos, pois a construção do legado futuro já começou. 12 Revista NTU Urbano

Parada Obrigatória Redução de impostos para qualificar o transporte público O Senado Federal realizou em março o 1º Fórum Nacional de Infraestrutura com apresentação de propostas para reforçar a qualificação do planejamento das ações do governo. O debate foi promovido pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) e coordenado pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO). A redução da carga tributária e o estabelecimento de fontes para custear gratuidades são as duas medidas citadas no debate como mais prioritárias para o transporte de passageiros no Brasil. Todos os participantes consideraram importante e urgente que a Câmara dos Deputados aprove o Regime Especial de Incentivos para o transporte Coletivo urbano e Metropolitano de Passageiros (Reitup). A proposta cria um sistema tributário diferenciado para o setor e pode diminuir em até 15% o custo do transporte por ônibus. Laboratório de mobilidade: hackers para melhorar trânsito A Prefeitura de São Paulo vai convocar hackers para ajudarem a melhorar o trânsito na capital paulista. A missão deles será desenvolver novos softwares e aperfeiçoar os já existentes para ajudar a administração a encontrar melhores saídas para gerenciar o tráfego na cidade. As aplicações serão desenvolvidas pelos hackers, mas a prefeitura já tem uma ideia de alguns dos resultados. Com os registros dos GPS dos coletivos, por exemplo, é possível determinar a velocidade média de uma via e até os locais de maior lentidão durante o trajeto. Já as catracas podem fornecer um retrato da lotação dos ônibus ponto a ponto. Os recursos para a contratação dos hackers serão gerenciados pela Universidade de São Paulo (USP), via Fundação USP, sob a forma de bolsas de apoio à pesquisa. O laboratório busca também parceiros para investir nas startups. São Paulo registra 14 milhões de viagens a mais O serviço de ônibus de São Paulo registrou 14 milhões de viagens a mais no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 702,6 milhões de viagens de janeiro a março, ante 688,3 milhões nos mesmos meses de 2013, crescimento de 2,7%. Os dados são da São Paulo Transporte (SPTrans). O órgão credita o aumento conjunto de medidas adotadas na cidade para privilegiar o transporte público. No último ano, foram criados 325 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus que reduziram, em média, em 38 minutos o tempo de deslocamento dos ônibus. Renato S. Cerqueira - Futura Press Revista NTU Urbano 13

CAPA Um legado que vai além de 2014 Apesar dos atrasos e dificuldades nos projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, o Brasil se destaca entre os países que mais tem investido em prioridade ao transporte público no mundo com 69 projetos em andamento 14 Revista NTU Urbano

CAPA C om o anúncio da Copa do Mundo no Brasil, a mobilidade urbana passou a ser uma das prioridades em investimentos do governo federal. Inicialmente, as 12 cidadessedes tiveram a oportunidade de investir cerca de R$ 12 bilhões em projetos para deixar a mobilidade mais fluida e garantir prioridade aos transportes públicos. Sete anos se passaram e o tão prometido legado ainda está longe de ser entregue aos cidadãos. Em 2012, a Matriz de Responsabilidade do Grupo Especial de Acompanhamento da Copa 2014 (Gecopa) apontava 51 projetos em mobilidade urbana em 11 cidades-sede. Um investimento global previsto R$ 12 bilhões, sendo R$ 7,3 bi de financiamento federal e R$ 4,6 bi dos governos locais. Às vésperas da Copa, foram investidos somente R$ 7 bilhões em oito cidades. Dos 51 projetos, 34 estavam direcionados para o transporte público, que abrangiam sistemas BRT, corredores exclusivos para ônibus, metrôs, Veículos Leves Sobre Trilho (VLT) e monotrilhos. Entretanto, apenas 21 permaneceram na Matriz de Responsabilidade da Copa, atualizada em setembro de 2013, sendo dois projetos de VLT e 19 de transporte público por ônibus (11 sistemas BRT, cinco corredores de faixas exclusivas de ônibus e três requalificações e extensões de corredores já existentes). projetos de mobilidade para o mundial 2014 19 Projetos para transporte por Ônibus 51 Projetos de mobilidade urbana em 11 cidades-sede 34 Projetos para transporte público urbano 4Projetos estão com obras avançadas e devem ficar prontos *Fonte: Gecopa Revista NTU Urbano 15

CAPA Em entrevista à imprensa suíça no início do ano, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, criticou os atrasos. O Brasil acabou de se dar conta que começou tarde demais. Esta é a primeira vez que um país dispõe de sete anos para organizar o Mundial e está atrasado, afirmou. O que estará pronto na copa? Essa é uma pergunta que nem mesmo os gestores conseguem responder. Conforme os prazos se encerram, os projetos são prorrogados. Dos 19 projetos, 18 estavam previstos para os ficarem prontos até 2013. Porém, de acordo com dados do Portal da Transparência da Copa, os prazos de conclusão das obras de 16 deles foram reprogramados para meses que antecedem a junho, quando se inicia a Copa do Mundo 2014. Treze projetos estão com mais de 50% das obras concluídas e apenas quatro têm mais de 80% de conclusão (confira a tabela). Os mais adiantados e que devem ser entregues antes de junho são o BRT Avenida Alberto Craveiro de Fortaleza, com 94%; o BRT Transcarioca do Rio de Janeiro, com 87%; o BRT Cristiano Machado de Belo Horizonte e o corredor Aeroporto / Rodoferroviária de Curitiba, ambos com 82%. Dos cinco projetos que estão abaixo de 50% de execução física das obras, os de maior atraso são o BRT Dedé Brasil de Fortaleza, com apenas 7% de obra executada, e o único projeto em transporte público de Natal, o corredor estruturante Estádio Arena das Dunas, com apenas 5%. Esses dois estavam previstos para ficarem prontos até maio de 2014. Projetos previstos para Copa 2014 (Balanço da Copa - setembro 2013) Cidades Projeto % Execução Física Previsão Inicial Reprogramação* Concluído Belo Horizonte BRT Antonio Carlos / Pedro I 70% set/2012 abr/2014 Belo Horizonte Corredor Pedro II 30% jan/2012 mai/2014 Belo Horizonte BRT Área Central 78% jun/2012 dez/2013 Belo Horizonte BRT Cristiano Machado 82% set/2011 abr/2014 Cuiabá BRT Corredor Mário Andreazza 69% dez/2011 fev/2014 Curitiba BRT: Extensão da Linha Verde Sul e requalificação 66% dez/2012 mai/2014 Curitiba Corredor Aeroporto (Trecho Estadual) 39% abr/2014 - Curitiba Curitiba Curitiba Corredor / Rodoferroviaria (Trecho Municipal) Requalificação Corredor Marechal Floriano Requalificação Corredor Marechal Floriano (Municipal) 82% dez/2012 mai/2014 40% dez/2012 mar/2014 66% dez/2012 mai/2014 Fortaleza BRT Av. Alberto Craveiro 92% dez/2012 fev/2014 Fortaleza BRT Dedé Brasil 7% dez/2012 mai/2014 Fortaleza BRT Paulo Rocha 56% dez/2012 mai/2014 Natal Corredor Estruturante 5% dez/2013 mai/2014 Recife BRT Norte/Sul 64% jan/2013 mar/2014 Recife BRT Leste/Oeste 71% abr/2013 mar/2014 Recife Corredor Caxangá 45% mai/2013 mar/2014 Rio de Janeiro BRT Transcarioca 87% fev/2013 mai/2014 *Datas informadas no Portal da Copa com última atualização em setembro/2013 Fonte: NTU 16 Revista NTU Urbano

CAPA VISÃO TÉCNICA Para o especialista em transportes Artur Morais, o mais relevante é que os projetos sejam concluídos para estarem à disposição dos moradores das cidades, independente do evento esportivo. "Nossas cidades carecem de infraestrutura para facilitar a mobilidade para o dia a dia. Utilizar dinheiro público para melhorar a vida do cidadão deveria ser o normal, mas se a Copa nos proporciona meios para que isso ocorra com maior facilidade, devemos utilizar". Investimentos pós-copa Embora alguns projetos tenham sido excluídos da Matriz de Responsabilidade da Copa, o Ministério das Cidades já sinalizou que as obras devem ser inseridas em outros programas do governo afim de que os projetos não se percam e a sociedade possa usufruir de sistemas de transporte público modernos e de qualidade. O Brasil possui 69 projetos em transporte público urbano por ônibus. Esse número representa 20 sistemas BRT e 49 corredores exclusivos. Ainda há 42 projetos que envolvem obras viárias de reestruturação e modernização de corredores já existentes e implantação de terminais em 23 estados brasileiros. O Brasil se destaca entre os países que mais tem investido nesses projetos no mundo. Desde 2010, foram liberados mais R$ 90 bilhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Médias e Grandes Cidades - com R$7,9 bilhões e R$32,7 bilhões, respectivamente - e do Pacto de Mobilidade Urbana - R$ 50 bilhões. O Brasil possui 69 projetos em transporte público urbano por ônibus. Esse número representa 20 sistemas BRT e 49 corredores exclusivos. Ainda há 42 projetos que envolvem obras viárias de reestruturação e modernização de corredores já existentes e implantação de terminais em 23 estados brasileiros. O Brasil se destaca entre os países que mais tem investido nesses projetos no mundo. Atualmente, os recursos do PAC Mobilidade Grandes Cidades estão voltados para 12 projetos de corredores exclusivos em 12 estados e oito projetos de BRT em oito estados. Ao todo, cinco propostas estão em fase de licitação de obra, cinco já estão em obras e 10 em ação preparatória, ou seja, ainda não foram licitadas. Já o PAC Mobilidade Médias Cidades possui 37 projetos de corredores em 33 cidades, e 12 de sistemas BRT em 10 cidades. Todos esses projetos estão em ação preparatória para a licitação de obras e podem ter a quantidade acrescida, já que algumas cidades não especificam a quantidade exata dos corredores. Gráfico - Programas de financiamento do governo federal: projetos de mobilidade urbana 200 187 180 160 140 Número de Projetos 120 100 80 97 60 54 45 43 40 31 37 39 29 20 0 11 8 12 5 12 0 1 0 1 0 8 8 2 1 1 0 0 0 5 2 9 0 3 2 5 0 0 3 3 3 1 3 7 20 2 17 6 2 21 BRT Corredor de ônibus Trem Metrô Monotrilho VLT Aeromóvel Teleférico ITS Obra viária Outros Total Copa 2014 PAC 2 - Mobilidade Grandes Cidades PAC 2 - Mobilidade Médias Cidades Total de Projetos Fonte: NTU Revista NTU Urbano 17

CAPA Em junho de 2013, após manifestações populares referentes ao transporte público, Dilma Rousseff lançou o Pacto da Mobilidade Urbana com a intenção de investir R$ 50 bilhões na área. Até o momento já foram anunciados mais de R$ 30 bilhões em nove capitais brasileiras (Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Número de cidades e extensão (km) por país* 7 Os números são muito significativos para o país que há anos havia deixado de investir em transporte público. Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, é importante que os estados e municípios aproveitem essa oportunidade e passem a se preocupar mais com o planejamento do transporte coletivo urbano das cidades. 7 17 1 1 6 2 Por mais de 20 anos esperamos uma atenção maior em relação ao transporte coletivo e mobilidade urbana, e agora com esses incentivos do governo federal é preciso qualificação nos projetos e comprometimento para que sejam executados, pontuou Cunha. Em abril deste ano, durante discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), a presidenta relatou a falta do comprometimento dos governos com a mobilidade urbana. Fizemos um grande esforço nesse sentido, mas não tínhamos recursos suficientes, algo em torno de R$ 5 bilhões. Quando assumi nós resolvemos construir um programa de mobilidade urbana. Pela primeira vez o governo entrava nessa questão e destinamos R$ 93 bilhões, disse Dilma. 700 km 320 km 80 km 2 km Em outra oportunidade, durante um discurso sobre o anúncio de investimentos em mobilidade urbana em Belém (PA), a presidenta Dilma Rousseff comparou mobilidade urbana à qualidade de vida. É o direito à vida, ao lazer, a visita a sua própria família, a passeio com seus namorados, esposos, noivos. A preocupação com esse direito essencial, previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 2 1 1 2 1 32 n. 12.587/2012), também faz parte do sentimento de 93,3% dos mais de cinco mil entrevistados de uma pesquisa, realizada pela LeadPix, que dizem que a mobilidade urbana é a área que mais necessita de atenção, seguida por infraestrutura e segurança. Os dados da pesquisa revelam ainda que 51,8% consideram que a cidade onde residem não está preparada para receber o Mundial. 18 Revista NTU Urbano

CAPA 3 11 1 5 13 1 1 3 1 1 2 1 1 2 1 7 18 1 1 2 cidades corredores 1 1 1 Km 6 2 1 Prioridade ao ônibus no mundo Dados do BRTdata indicam que 32 cidades brasileiras já operam o transporte coletivo urbano em corredores exclusivos de ônibus e seis cidades no Brasil já operam sistemas BRT: Curitiba, precursora desse modal no mundo; Goiânia; Uberlândia; Rio de Janeiro; Belo Horizonte e Brasília, sendo que os dois últimos estão em fase de testes operacionais. Em todo o mundo, 168 cidades apresentam um total de 324 projetos (entre BRT e corredor) com um total de 4.424 quilômetros de extensão. O Brasil se destaca entre os países que mais tem investido nesses projetos no mundo. Fonte: BRTdata.org, 2014 Revista NTU Urbano 19

boas práticas Empresas de transportes de Goiânia aderem a Campanha Trabalho Seguro Projeto ressalta a importância da segurança e saúde no trabalho O Tribunal Regional de Trabalho da 18ª Região (TRT-GO), em parceria com várias entidades, realizou em março a Campanha Trabalho Seguro, que visa conscientizar sobre a importância de prevenir acidentes de trabalho no trânsito. A iniciativa foi adotada por seis empresas de transportes da capital goiana, sendo duas associadas à NTU: Rápido Araguaia e HP Coletivos. As companhias atuarão no sentido de divulgar a campanha incentivando a conduta responsável no trânsito. Ao todo, 262 ônibus das empresas de transportes divulgam o projeto por meio de de busdoors, com mensagens sobre a campanha na parte traseira dos coletivos. São 112 veículos circulando na região metropolitana e 150 no perímetro interurbano. Para contribuir com a iniciativa, os empresários do setor deixaram de arrecadar com a venda de publicidade nos busdoors no mês de março, que foram cedidos para a campanha. Os alvos da campanha são os próprios trabalhadores e também as empresas de transporte de passageiros e de cargas. Os idealizadores e promotores da campanha acreditam que a redução dos acidentes se dará pela conscientização de motoristas e das empresas quanto à ob- 20 Revista NTU Urbano