Relatório. Contrarrazões às fls. 107/111 e 112/117.

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Transcrição:

Recurso Eleitoral nº 344-82.2012.6.13.0068 (Registro de Candidatura) Procedência: Carandaí - 68ª Zona Eleitoral de Carandaí Recorrente: Geraldo Venâncio dos Reis Recorrido: Ministério Público Eleitoral; Naamã Neil Resende da Rocha Relator: Juiz Flávio Couto Bernardes Recurso Eleitoral. Impugnação ao registro de candidatura. Vereador. Eleições 2012. Inelegibilidade. Demissão do serviço público. Art. 1º, I, o, da Lei Complementar nº 64/90. Ação julgada procedente. Indeferimento do registro. Ato de demissão proferido pelo Prefeito e devidamente publicado. Observância do devido processo legal. Descabe discutir em processo de registro de candidatura, as razões que levaram à demissão do servidor. Impetrada ação própria. Não comprovado nos autos a prolação de liminar ou sentença, que tenha suspendido ou anulado o ato administrativo de sua demissão. Recurso a que se nega provimento, mantido o indeferimento do registro de candidatura. Relatório Trata-se de recurso interposto por Geraldo Venâncio dos Reis contra decisão do MM. Juiz que julgou procedente as ações de impugnação ajuizadas pelo Ministério Público Eleitoral e por Naamã Neil Resende da Rocha e indeferiu seu requerimento de registro de candidatura para o cargo de Vereador nas eleições municipais de 2012. A decisão vergastada amparou-se na inelegibilidade do pretenso candidato, com fundamento no artigo 1º, I, o, da Lei Complementar nº 64/90, eis que foi demitido do serviço público em 04/05/2012 - fls. 97/101. Em seu recurso, o interessado sustenta que a sua demissão está sendo questionada em juízo, nos autos nº 11144-09.2012.8.13.0132. Acrescenta que é membro de sindicato, o que lhe garante a estabilidade prevista na súmula 369 do TST. Invoca os princípios da presunção de inocência e da razoabilidade e, ao final, pugna pelo provimento do recurso, para que seja deferido seu requerimento de registro - fls. 102/106. Contrarrazões às fls. 107/111 e 112/117.

O douto Procurador Regional Eleitoral manifesta-se pelo não provimento do recurso - fls. 119v. Procuração às fls. 39 e 55. É o breve relatório. Voto. O recurso é próprio e tempestivo (publicação da sentença em 19/07/2012 - fls. 101v - e interposição do recurso em 21/07/2012 - fl. 102), razão pela qual dele conheço. Primeiramente, esclareço que não cabe discutir em processo de registro de candidatura, as razões que levaram à demissão do servidor. Aliás, como narra o recorrente, o mérito do processo administrativo disciplinar já está sendo questionado em ação própria, qual seja o processo nº 11144-09.2012.8.13.0132. O art. 1º, inciso I, alínea o, da Lei Complementar nº 64/90 estabelece que: Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Acrescida pela Lei Complementar nº 135/2010.) A causa de inelegibilidade transcrita acima exige a demissão do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, ainda não suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário. Quanto ao primeiro requisito, constato que, em processo administrativo, a comissão processante concluiu, à unanimidade, pela aplicação da pena de demissão ao recorrente, de acordo com o art. 163, inciso I e XIII, da Lei Complementar nº 054/2007 (fls. 47). O Prefeito Municipal, acolhendo o parecer elaborado pela comissão, determinou a exoneração do servidor (fls. 44/48), que foi publicada em 07 de maio de 2012 (fls. 43). O recorrente sustenta que a sua demissão está sendo questionada em juízo, nos autos nº 11144-09.2012.8.13.0132. No entanto, não comprova nos autos a prolação de liminar ou sentença, que tenha suspendido ou anulado o ato administrativo de sua demissão.

Por outro lado, não há que se falar que o acolhimento da impugnação ao registro de candidatura fere o princípio da presunção de inocência. Isso porque o Supremo Tribunal Federal já se posicionou sobre o tema, concluindo que a Lei Complementar nº 135//2010 não viola o aludido princípio. Vejamos: EMENTA: AÇÕES DECLARATÓRIAS DE CONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE EM JULGAMENTO CONJUNTO. LEI COMPLEMENTAR Nº 135/10. HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE. ART. 14, 9º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MORALIDADE PARA O EXERCÍCIO DE MANDATOS ELETIVOS. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA À IRRETROATIVIDADE DAS LEIS: AGRAVAMENTO DO REGIME JURÍDICO ELEITORAL. ILEGITIMIDADE DA EXPECTATIVA DO INDIVÍDUO ENQUADRADO NAS HIPÓTESES LEGAIS DE INELEGIBILIDADE. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (ART. 5º, LVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL): EXEGESE ANÁLOGA À REDUÇÃO TELEOLÓGICA, PARA LIMITAR SUA APLICABILIDADE AOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO PENAL. ATENDIMENTO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO: FIDELIDADE POLÍTICA AOS CIDADÃOS. VIDA PREGRESSA: CONCEITO JURÍDICO INDETERMINADO. PRESTÍGIO DA SOLUÇÃO LEGISLATIVA NO PREENCHIMENTO DO CONCEITO. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI. AFASTAMENTO DE SUA INCIDÊNCIA PARA AS ELEIÇÕES JÁ OCORRIDAS EM 2010 E AS ANTERIORES, BEM COMO E PARA OS MANDATOS EM CURSO. 1. A elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico - constitucional e legal complementar - do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXV, da Constituição, mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus) anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito). 2. A razoabilidade da expectativa de um indivíduo de concorrer a cargo público eletivo, à luz da exigência constitucional de moralidade para o exercício do mandato (art. 14, 9º), resta afastada em face da condenação prolatada em segunda instância ou por um colegiado no exercício da competência de foro por prerrogativa de função, da rejeição de contas públicas, da perda de cargo público ou do impedimento do exercício de profissão por violação de dever ético-profissional. 3. A presunção de inocência consagrada no art. 5º, LVII, da Constituição Federal deve ser reconhecida como uma regra e interpretada com o recurso da metodologia análoga a uma redução teleológica, que reaproxime o enunciado normativo da sua própria literalidade, de modo a reconduzi-la aos efeitos próprios da condenação criminal (que podem incluir a perda ou a suspensão de direitos políticos, mas não a inelegibilidade), sob pena de frustrar o propósito moralizante do art. 14, 9º, da Constituição Federal. 4. Não é violado pela Lei Complementar nº

135/10 não viola o princípio constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pressuposto de sua aplicabilidade concernente na existência de consenso básico, que tenha inserido na consciência jurídica geral a extensão da presunção de inocência para o âmbito eleitoral. 5. O direito político passivo (ius honorum) é possível de ser restringido pela lei, nas hipóteses que, in casu, não podem ser consideradas arbitrárias, porquanto se adequam à exigência constitucional da razoabilidade, revelando elevadíssima carga de reprovabilidade social, sob os enfoques da violação à moralidade ou denotativos de improbidade, de abuso de poder econômico ou de poder político. 6. O princípio da proporcionalidade resta prestigiado pela Lei Complementar nº 135/10, na medida em que: (i) atende aos fins moralizadores a que se destina; (ii) estabelece requisitos qualificados de inelegibilidade e (iii) impõe sacrifício à liberdade individual de candidatar-se a cargo público eletivo que não supera os benefícios socialmente desejados em termos de moralidade e probidade para o exercício de referido munus publico. 7. O exercício do ius honorum (direito de concorrer a cargos eletivos), em um juízo de ponderação no caso das inelegibilidades previstas na Lei Complementar nº 135/10, opõe-se à própria democracia, que pressupõe a fidelidade política da atuação dos representantes populares. 8. A Lei Complementar nº 135/10 também não fere o núcleo essencial dos direitos políticos, na medida em que estabelece restrições temporárias aos direitos políticos passivos, sem prejuízo das situações políticas ativas. 9. O cognominado desacordo moral razoável impõe o prestígio da manifestação legítima do legislador democraticamente eleito acerca do conceito jurídico indeterminado de vida pregressa, constante do art. 14, 9.º, da Constituição Federal. 10. O abuso de direito à renúncia é gerador de inelegibilidade dos detentores de mandato eletivo que renunciarem aos seus cargos, posto hipótese em perfeita compatibilidade com a repressão, constante do ordenamento jurídico brasileiro (v.g., o art. 53, 6º, da Constituição Federal e o art. 187 do Código Civil), ao exercício de direito em manifesta transposição dos limites da boa-fé. 11. A inelegibilidade tem as suas causas previstas nos 4º a 9º do art. 14 da Carta Magna de 1988, que se traduzem em condições objetivas cuja verificação impede o indivíduo de concorrer a cargos eletivos ou, acaso eleito, de os exercer, e não se confunde com a suspensão ou perda dos direitos políticos, cujas hipóteses são previstas no art. 15 da Constituição da República, e que importa restrição não apenas ao direito de concorrer a cargos eletivos (ius honorum), mas também ao direito de voto (ius sufragii). Por essa razão, não há inconstitucionalidade na cumulação entre a inelegibilidade e a suspensão de direitos políticos. 12. A extensão da inelegibilidade por oito anos após o cumprimento da pena, admissível à luz da disciplina legal anterior, viola a proporcionalidade numa sistemática em que a interdição política se põe já antes do trânsito em julgado, cumprindo, mediante interpretação conforme a Constituição, deduzir do prazo posterior ao cumprimento da pena o período de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o trânsito em julgado. 13. Ação direta de inconstitucionalidade cujo

pedido se julga improcedente. Ações declaratórias de constitucionalidade cujos pedidos se julgam procedentes, mediante a declaração de constitucionalidade das hipóteses de inelegibilidade instituídas pelas alíneas c, d, f, g, h, j, m, n, o, p e q do art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64/90, introduzidas pela Lei Complementar nº 135/10, vencido o Relator em parte mínima, naquilo em que, em interpretação conforme a Constituição, admitia a subtração, do prazo de 8 (oito) anos de inelegibilidade posteriores ao cumprimento da pena, do prazo de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o seu trânsito em julgado. 14. Inaplicabilidade das hipóteses de inelegibilidade às eleições de 2010 e anteriores, bem como para os mandatos em curso, à luz do disposto no art. 16 da Constituição. Precedente: RE 633.703, Rel. Min. Gilmar Mendes (repercussão geral). (ADC 29 / DF - DISTRITO FEDERAL AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 16/02/2012 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-127 DIVULG 28-06-2012 PUBLIC 29-06-2012) Desse modo, comprovada a demissão do serviço público em decorrência de processo administrativo, não suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário, é de ser reconhecer a inelegibilidade prevista no artigo 1º, I, letra o, da LC 64/90. Nessa esteira, há precedente do Tribunal Superior Eleitoral: ELEIÇÃO 2010. RECURSO ORDINÁRIO. LEI COMPLEMENTAR Nº 135/2010. APLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE ALTERAÇÃO NO PROCESSO ELEITORAL. OBSERVÂNCIA DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. PRECEDENTES. SERVIDOR PÚBLICO DEMITIDO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. INCIDÊNCIA DO ART. 1º, I, o DA LC nº 64/90. 1- É imperativo o reconhecimento da inelegibilidade e o consequente indeferimento do pedido de registro de candidatura de quem foi demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, nos termos do artigo 1º, I, letra o, da LC 64/90. 2- Recurso ordinário provido para cassar o registro do candidato. (3337-63.2010.610.0000. RO - Recurso Ordinário nº 333763 - são luís/ma Acórdão de 07/10/2010 Relator(a) Min. HAMILTON CARVALHIDO Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 07/10/2010) Pelo exposto, nego provimento ao recurso, mantendo a sentença que indeferiu o registro de candidatura do recorrente.

É como voto. Juiz Flávio Couto Bernardes Relator