DOCUMENTO-BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DE REDD DO ESTADO DE MATO GROSSO

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Transcrição:

DOCUMENTO-BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DE REDD DO ESTADO DE MATO GROSSO RESUMO EXECUTIVO Uma superpotência agrícola de 903 mil km² que está controlando o desmatamento É líder no Brasil em produção de soja e algodão e tem o maior rebanho bovino Possui um setor agrícola em expansão, alcançando aumento na produção em parte devido à melhoria da produtividade na agricultura e pecuária Desmatou em média 7.700 km 2 por ano entre 1996 e 2005. Porém, 66% de suas florestas amazônicas estão ainda preservadas. O custo de oportunidade médio da não conversão de florestas para pecuária ou lavoura de soja é US$1.500 (valor presente líquido). Reduziu o desmatamento de 11.800 km 2 em 2003 (pico), para 1.000 km 2 em 2009. 62% da redução do desmatamento na Amazônia brasileira desde 2005 ocorreram em Mato Grosso. Legislação e instrumentos estaduais de governança florestal avançados Cadastro de propriedades privadas estadual (SIMLAM) que hoje inclui 30% de seu território fora de áreas protegidas e licenciamento ambiental do uso do solo nessas propriedades. Unidades de Conservação e Terras Indígenas protegendo 4% e 17% da área florestal original. Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico em votação na Assembléia Legislativa Estadual. Programa de regularização de propriedades rurais, MT Legal, uma nova lei de Mato Grosso. REDD Mato Grosso Meta oficial de redução de desmatamento (89% até 2020) maior que a meta de redução de desmatamento nacional (80% até 2020). Representa um custo de oportunidade de US$ 6,9 bilhões de 2010 a 2020 em termos de lucros potenciais da produção de soja e pecuária. De 2006 a 2010, Mato Grosso reduzirá emissões em 900 milhões de toneladas de CO 2 e, das quais 300 milhões de toneladas serão além das metas nacionais de redução. Esses créditos adicionais de redução de emissões irão financiar o REDD MT entre 2010 e 2020. Certificados de REDD (C-REDD) são equivalentes a uma tonelada de CO 2 e de redução de emissões além das metas nacionais, com base na redução das emissões históricas. Os C-REDD são alocados entre seis programas ou fundos direcionados a: (a) Povos Indígenas, (b) Áreas Protegidas, (c) Florestas Privadas, (d) Assentamentos rurais, (f) Governança Estadual, (g) Fundo de Garantia. Pronto para 2010: Programa de Reservas Florestais em Áreas Privadas. Compensará os custos de oportunidade da permanente abdicação do direito de desmatar florestas passíveis de desmatamento legal em propriedades regularizadas (p.ex. através do MT Legal). Pronto para 2010: Projetos-piloto na região Noroeste de Mato Grosso, na região das Cabeceiras do Rio Xingu, e entre pecuaristas e produtores de soja. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009

APRESENTAÇÃO A Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) tornou-se um componente-chave na estratégia global de enfrentamento das mudanças climáticas. E ao mesmo tempo, é considerada uma grande oportunidade para fortalecer a governança florestal, proteger a biodiversidade e melhorar a qualidade de vida de populações rurais em áreas de florestas tropicais. Mato Grosso tem um papel de liderança a desempenhar no cenário nacional e internacional de REDD. Nas últimas décadas, foi um dos campeões do desmatamento na Amazônia. Por outro lado, vem desenvolvendo soluções pioneiras para melhorar a governança florestal, como o sistema de licenciamento ambiental de propriedades rurais, e alcançou uma redução significante nas taxas de desmatamento nos últimos anos. Mesmo que parte dessa redução possa ser atribuída a fatores econômicos, ela indica a possibilidade de implementar políticas que mantenham sustentavelmente o desmatamento a níveis baixos. O Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento do Estado de Mato Grosso estabeleceu metas ambiciosas, porém alcançáveis de diminuição do desmatamento, que irão contribuir de forma significativa para atingir as metas brasileiras de redução da emissão de gases do efeito estufa. Tornase então necessário implementar um mecanismo de REDD para financiar e compensar os esforços de redução do desmatamento de Mato Grosso. A presente proposta está em construção por um grupo de trabalho composto pelo Governo Estadual, organizações da sociedade civil e representantes dos diversos setores econômicos de Mato Grosso. Ela se baseia na premissa de que governos sub-nacionais têm um papel crucial a desempenhar no desenvolvimento e implementação de ações para reduzir sustentavelmente o desmatamento. No caso do Brasil, essa premissa é coerente com as competências atribuídas aos Estados pela Constituição Federal e pela legislação ambiental, assim como com as funções que os Estados têm assumido em termos de governança florestal nos últimos anos. Dessa forma, assume-se que parte das reduções de emissões atingidas em Mato Grosso deve ser gerenciada por meio de um mecanismo de REDD estadual. Esse mecanismo estadual acompanhará a evolução das políticas de REDD e se adaptará para integrar-se ao sistema nacional. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 2

ESTADO DE MATO GROSSO DESTAQUES O Estado de Mato Grosso está localizado no coração do continente Sul-Americano e pertence à região Centro-Oeste do Brasil. Com uma área total de 903 mil quilômetros quadrados, ele representa 11% do território brasileiro. Seu ambiente natural é composto de três principais biomas: a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal (Figura 1). Figura 1 Estado de Mato Grosso, Brasil Biomas Amazônia Cerrado Pantanal Fonte: IBGE A ocupação do interior do Estado de Mato Grosso é um processo recente. A partir dos anos 1970, um grande número de colonizadores chegou de áreas de agricultura tradicional do sul do Brasil, incluindo pequenos, médios e grandes proprietários de terras impulsionados por um pacote de incentivos e investimentos do governo. A população hoje totaliza 2,85 milhões de pessoas, com uma taxa de urbanização de 76%. PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS Durante as últimas décadas Mato Grosso se tornou o maior Estado em produção de grãos e de pecuária bovina no Brasil. A produção de soja cresceu em média 10% ao ano desde 1990 e atingiu 17 milhões de toneladas em 2008 (29% da produção brasileira e aproximadamente 8% do total da produção mundial). Durante o mesmo período, a produção de algodão cresceu de menos de 0,1 para mais de 2 milhões de toneladas (52% da produção brasileira). O rebanho bovino cresceu 8% ao ano entre 1990 e 2004 e se estabilizou em 26 milhões de cabeças de gado desde então. Mato Grosso é também o maior produtor e processador de madeira da Amazônia, com uma produção processada média de 3,6 milhões de metros cúbicos de toras nos últimos quatro anos. Grande parte da produção agrícola de Mato Grosso é direcionada à exportação. No caso da soja, países europeus representam 54% das exportações de Mato Grosso, países asiáticos 44% e outros países 2%; quanto à carne produzida, Europa também é o principal comprador com 33% do total, enquanto o Oriente Médio representa 31%, as Américas 26% e outros países 10% (Figura 2). Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 3

Figura 2 Exportações de Mato Grosso por destino 26% 10% 31% Exportações de carne 33% Europa Oriente Médio Américas Outros 44% 2% Exportações de soja Europa 53% Asia Outros Fonte: IMEA Além do agronegócio voltado para exportação, Mato Grosso também abriga um grande número de agricultores familiares, que em sua maioria foram assentados através de projetos governamentais de reforma agrária. Como resultado do crescimento da demanda mundial por produtos agropecuários de Mato Grosso, o Estado tem sido uma das economias de crescimento mais rápido do Brasil. Seu PIB alcançou R$24 milhões de reais em 2007, um crescimento de 11% (em termos reais) com relação a 2006. A produção primária agrícola, pecuária e florestal representa aproximadamente um terço do PIB de Mato Grosso e é considerada o principal vetor de crescimento da economia do Estado. VETORES DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL Paralelamente à expansão da agricultura e pecuária, apesar dos consideráveis ganhos de produtividade, grandes áreas de floresta e cerrado foram convertidos em pastagens e lavouras durante as últimas décadas. As lavouras e pastagens de Mato Grosso ocupam hoje 335 mil quilômetros quadrados, que representa 37% da área do Estado (Figura 3). Mais de 55% dessas áreas foram desmatadas depois de 1990. Figura 3 Áreas desmatadas em Mato Grosso Fontes: Prodes/ Inpe, SEMA (Análise ICV) Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 4

Espera-se que a demanda por áreas agrícolas continue crescendo fortemente nas próximas décadas. Um relatório recente da FAO indica a produção global de alimentos deveria aumentar em 70% até 2050 para atender a crescente demanda da população mundial. De acordo com cenários futuros para a soja, espera-se que a demanda aumente em 100 milhões de toneladas até 2020, dos quais cerca de um terço poderia ser atendido por aumentos de produtividade. Isso pode causar um aumento da área plantada no Brasil em cerca de 77% (de 22 para 39 milhões de hectares) durante a próxima década. Todos esses fatores tendem a aumentar o valor da terra e dos custos de oportunidade de conservação de florestas remanescentes. Por exemplo, o preço médio da terra na região Centro- Oeste do Brasil aumentou 47% nos últimos 3 anos. O custo de oportunidade médio do não desmatamento de um hectare de floresta remanescente em Mato Grosso está estimado em aproximadamente US$1.500 1. Serão necessários grandes esforços e investimentos para manter o crescimento da agricultura e da pecuária em Mato Grosso sem novos desmatamentos. Além do desmatamento, a degradação florestal é uma preocupação crescente na Amazônia brasileira, especialmente em Mato Grosso. Nos últimos anos as taxas de desmatamento têm caído, mas não as taxas de degradação. Isso pode estar relacionado ao crescimento das atividades florestais com práticas de manejo ainda pouco sustentáveis. ESTRUTURA E TIPOLOGIA FUNDIÁRIA Mato Grosso tem 15% de sua área protegida em 68 Terras Indígenas e 4% em 73 Unidades de Conservação 2. Tem também 386 assentamentos rurais de pequenos agricultores cobrindo 5% de seu território 3. As demais áreas, que correspondem a 77% do território, são majoritariamente ocupadas por médias e grandes propriedades privadas. Aproximadamente 30% dessa área já está cadastrada no SIMLAM, cadastro ambiental de propriedades rurais de Mato Grosso (Tabela 1, Figura 4). Tabela 1 Tipo de posse da terra em áreas florestais e não-florestais em Mato Grosso Categoria Número de áreas Área de floresta Área de Cerrado e Pantanal Área Total # mil km² % mil km² % mil km² % Terras indígenas 68 89 17 45 12 134 15 Unidades de Conservação 73 21 4 12 3 33 4 Assentamentos oficiais 386 30 6 12 3 43 5 Outros - principalmente propriedades privadas ~ 100.000 386 73 308 81 694 77 Cadastradas no SIMLAM 10.700 126 24 81 21 206 23 Ainda não cadastradas no SIMLAM ~ 90.000 260 49 228 60 488 54 Total 526 100 377 100 903 100 Fontes: Simlam (Sema-MT), 2009; Incra, 2009 ; Prodes (INPE), 2008 (Análise ICV) 1 Valor Presente Líquido dos fluxos de caixa para 30 anos da conversão de um hectare de floresta (não incluindo áreas de cerrado) para pastagens ou lavouras de soja, com taxa de desconto de 5% ao ano. 2 Unidades de Conservação Federais, Estaduais e Municipais, incluindo a categoria de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), mas não incluindo a categoria de Área de Proteção Ambiental (APA) que abrange em sua maioria terras privadas. 3 Não incluindo os assentamentos ainda não demarcados, nem as áreas de agricultura familiar consolidada. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 5

Figura 4 Estrutura de posse de terra em Mato Grosso Terras Indígenas Unidades de Conservação Áreas de Proteção Ambiental (APA) Assentamentos oficiais Propriedades cadastradas no SIMLAM Ainda não cadastradas no SIMLAM Fonte: SEMA, MMA, INCRA (Análise ICV) Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 6

POLÍTICAS DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO POLÍTICA BRASILEIRA DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO O Brasil tem conquistado avanços significativos na implementação de políticas para reduzir sua maior fonte de emissões de gases do efeito estufa (GEE) o desmatamento na região amazônica. O governo federal criou e implementou com sucesso a partir de 2004 um plano para prevenir e controlar o desmatamento, estabeleceu o Fundo Amazônia e lançou o Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC). Além disso, o Brasil está adotando uma meta voluntária para reduzir as emissões totais de GEE em 36 a 39% até 2020 comparando com o cenário tendencial, o que significa uma redução em relação aos níveis atuais. Esse objetivo abrange uma meta claramente estabelecida no PNMC de redução do desmatamento na Amazônia em 80% até 2020 se comparado com a média de 1996-2005 (Figura 5). Figura 5 Meta de redução de desmatamento na Amazônia brasileira, 2006-2020 (km²) Fonte: Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) PLANO DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO DE MATO GROSSO Com a descentralização da gestão florestal, os Estados da Amazônia têm desempenhado um papel crescente nos esforços nacionais de redução do desmatamento. Mato Grosso, responsável por 39% do total do desmatamento na Amazônia brasileira em 1996-2005, com uma média de 7,7 mil quilômetros quadrados por ano, tem desenvolvido ações inovadoras para melhorar a gestão florestal e conter o desmatamento. Por exemplo, implementou um sistema pioneiro de licenciamento ambiental de propriedades rurais, que permite um melhor controle do desmatamento; desde 2006, mais que dobrou a equipe de servidores públicos da SEMA e reforçou as operações de fiscalização em campo. As taxas de desmatamento baixaram para 2,8 mil quilômetros quadrados anuais em 2006-2009, uma redução de 63%. Mato Grosso contribuiu com 59% da redução de desmatamento que ocorreu na Amazônia brasileira nos últimos 4 anos. Para sustentar reduções ainda maiores de desmatamento, Mato Grosso lançou em Novembro de 2009 seu próprio Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas e adotou uma meta de reduzir as taxas de desmatamento em 89% até 2020 comparadas com 1996-2005 (Figura 6). Essa Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 7

meta representa mais de 60% da meta nacional de redução de desmatamento na Amazônia, e aproximadamente 40% de toda meta nacional de redução de emissões de GEE até 2020. Esses valores demonstram a escala expressiva do desafio de Mato Grosso no contexto dos compromissos internacionais do Brasil de redução de emissões de GEE. Figura 6 Meta de redução de desmatamento em área florestal de Mato Grossos 2006-2020 (km²) 14.000 12.000 10.000 Linha de base Realizado (1996-2008) Meta (2009-2020) 8.000 6.000 4.000 2.000 0 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas de Mato Grosso (PPCDQ-MT) PLANO DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO DE MATO GROSSO O plano de ação de Mato Grosso de prevenção e controle do desmatamento e queimadas é composto por um conjunto de programas integrados organizados em três eixos: Ordenamento territorial: sancionar e implementar o zoneamento estadual; promover a regularização fundiária e ambiental das propriedades rurais; e consolidar o sistema de unidades de conservação estaduais, implementando as Unidades existentes e criando novas, de acordo com o zoneamento estadual; Monitoramento e controle: monitorar e divulgar a gestão florestal através de indicadores; prevenir incêndios florestais e conter práticas de queimada ilegais; e fortalecer o cumprimento das leis através de operações de campo e maior eficiência na responsabilização; Incentivo a atividades sustentáveis e instrumentos econômicos: implementar o Pagamento por Serviços Ambientais; definir critérios de sustentabilidade para financiamento da agricultura e agroindústria; fortalecer o treinamento e assistência técnica e promover aumento de produtividade, melhores práticas e certificação nos setores agrícola e florestal; e estimular o desenvolvimento sustentável em assentamentos rurais. Entre essas ações, uma das mais importantes é o Programa MT Legal, também lançado oficialmente em Novembro de 2009. Esse programa promove a regularização fundiária e ambiental das propriedades rurais do Estado, através do cadastro de propriedades no sistema estadual de licenciamento ambiental. Esse sistema tem atualmente cerca de 10 mil propriedades cadastradas, cobrindo 30% de toda área passível de licenciamento. Com o programa MT Legal, espera-se que a maioria das propriedades do Estado seja cadastrada nos próximos 3 anos. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 8

MECANISMO DE REDD PROPOSTO A implementação do REDD é considerada crucial para viabilizar a concretização das metas de redução do desmatamento de Mato Grosso. No mecanismo de REDD proposto, o Estado gerenciará parte das reduções de emissões totais alcançadas em seu território (o restante sendo gerido pelo governo federal). As reduções de emissões efetivas atingidas durante um dado período de tempo garantirão recursos para financiar as futuras reduções de desmatamento. Essas reduções de emissões são convertidas em certificados de REDD (C-REDD), valendo 1 tonelada de CO 2 e cada, a serem alocados entre seis programas ou fundos, para: i) Populações Indígenas; ii) Unidades de Conservação; iii) Reservas Florestais em áreas privadas; iv) Assentamentos rurais; v) Governança; e vi) Fundo de seguro. Durante a primeira fase da implementação, Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Assentamentos participarão do mecanismo através de projetos-piloto prioritários que ajudarão a desenvolver metodologias e abordagens adequadas para o programa estadual. O programa de Reservas Florestais em áreas privadas, vinculado ao sistema de licenciamento ambiental de propriedades rurais, irá conceder pagamentos para ativos florestais localizadas em propriedades que cumprem com a legislação federal e estadual. O Fundo de seguro garantirá a emissão de certificados caso as taxas de desmatamento futuras excederem a linha de base estabelecida. A alocação dos C-REDD será realizada de acordo com um Sistema de Certificação, Registro e Monitoramento Estadual (Figura 7). Os C-REDD alocados serão comercializáveis diretamente pelo recebedor e/ou através de um fundo estadual específico a ser criado para esse propósito. Figura 7 Mecanismo de REDD de Mato Grosso 14. 0 0 0 12. 0 0 0 10. 0 0 0 8. 0 0 0 6. 0 0 0 4. 0 0 0 2. 0 0 0 2006-2010 2011-2015 Linha de base Real Meta Redução efetivamente atingida Sistema de CRM => alocação de C-REDD Redução Futura Projetos piloto prioritários Reservas florestais em áreas privadas Governança Fundo de seguro 0 9 6 9 8 0 0 0 2 0 4 0 6 0 8 10 12 14 16 18 2 0 Fonte: Grupo de trabalho de REDD Mato Grosso A implementação do mecanismo de REDD do Mato Grosso será gerida pelo Fórum Estadual de Mudanças Climáticas, criado em outubro de 2009, que é composto por representantes do governo estadual, de organizações da sociedade civil e das diferentes partes interessadas envolvidas. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 9

VOLUME POTENCIAL DE CERTIFICADOS REDD DE MATO GROSSO O Brasil ainda não estabeleceu um sistema ou conjunto de critérios para determinar a quantidade de redução de emissões a serem administradas no nível federal e no nível estadual e distribuídas entre os Estados. Para ser possível realizar estimativas quantitativas para o mecanismo proposto, duas premissas básicas, consideradas conservadoras, foram assumidas: 1) 50% da quantia total das reduções das emissões do desmatamento será administrada pelo governo federal através do Fundo Amazônia; 2) um mecanismo de estoque e fluxo deverá ser usado para determinar a quantia de redução de emissões a ser alocada para cada Estado, de acordo com suas performances na manutenção de estoques de carbono em florestas conservadas e com a redução de taxas de desmatamento. Em cenários diferentes calculados pelo IPAM, a alocação mínima para Mato Grosso será de aproximadamente 30% da quantia total de redução de emissões a ser administrada a nível estadual. Combinando essas duas hipóteses e considerando que a redução do desmatamento esperada pelo PNMC representa uma redução de emissões de aproximadamente 1,45 Gt de CO 2 e para 2006-2010, o volume potencial de redução de emissões desse período a ser administrado por Mato Grosso é estimado em 218 Mt de CO 2 e. Isso representa 25% do total de redução de emissões de desmatamento efetivamente ocorridas no Estado nesse período (Tabela 2). Tabela 2 Redução estimada das emissões do desmatamento em Mato Grosso, 2006-2010 2006 2007 2008 2009 2010 total Linha de base do desmatamento (km²) Desmatamento ocorrido e meta (km 2 ) Redução do desmatamento (km 2 ) Redução das emissões (MtCO 2 ) 7.657 7.657 7.657 7.657 7.657 38.285 4.333 2.678 3.258 2.000 1.500 13.769 3.324 4.979 4.399 5.657 6.157 24.516 122 182 161 207 225 897 Fontes: Plano de prevenção e controle do desmatamento de Mato Grosso, PRODES/ INPE (Análise IPAM) Considerando um preço mínimo de US$5,00 / tco2e, o valor total potencialmente disponível para esse programa está estimada em US$1,1 bilhões, a serem investidos no período 2011-2015. ALOCAÇÃO DE C-REDD AOS PROJETOS PILOTOS Projetos-piloto de REDD serão desenvolvidos em regiões prioritárias e irão beneficiar diferentes atores das áreas rurais, incluindo populações indígenas e outras comunidades tradicionais da floresta, agricultores familiares em assentamentos de reforma agrária, proprietários privados e unidades de conservação. Os pilotos poderão focar em um grupo de atores específico ou numa área abrangendo diferentes grupos. Para receber certificados de REDD, esses projetos terão que demonstrar reduções de emissões de GEE mensuráveis, reportáveis e verificáveis e seguir uma série de princípios e critérios a serem estabelecidos pelo Fórum Estadual de Mudanças Climáticas como parte do desenvolvimento do sistema de Certificação, Registro e Monitoramento do sistema de REDD. Esses princípios e critérios procurarão garantir a eficácia, eficiência e equidade dos projetos. Entre outros princípios, esses Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 10

projetos terão que ser desenvolvidos através de um processo participativo, promovendo atividades econômicas sustentáveis e gerando uma distribuição equitativa de benefícios entre/para os atores envolvidos. Exemplo de projeto piloto prioritário: o projeto de REDD do Noroeste de Mato Grosso O projeto de REDD do Noroeste de Mato Grosso é uma iniciativa conjunta do Governo Estadual, do Instituto Centro de Vida (ICV) e da The Nature Conservancy (TNC). Esse projeto irá estabelecer um piloto multi-atores em larga escala numa área prioritária para a contenção do desmatamento em Mato Grosso. Essa região, composta por sete municípios, é considerada a última fronteira florestal no Estado: apesar de ter perdido 10.000 quilômetros quadrados de florestas nos últimos dez anos, ainda mantém mais de 80% de cobertura florestal (86 dos 104 mil quilômetros quadrados originais). A implementação iniciará no município de Cotriguaçu, cuja diversidade de atores e categorias fundiárias (áreas protegidas, terras indígenas, assentamentos e terras privadas) garante um cenário adequado. O plano de ação do projeto inclui: - para áreas privadas, cadastrar todas as propriedades no SIMLAM, promover compensações pelas reservas florestais conservadas acima da exigência legal de 80%, e promover o aumento de produtividade da pecuária e a melhoria das práticas de manejo florestal; - para o povo indígena Rikbaktsa, fortalecer a proteção de seu território e promover atividades econômicas sustentáveis, como a exploração da castanha-do-brasil; - para as unidades de conservação estaduais e federais, apoiar a regularização fundiária e a implementação de seus planos de manejo; - para os assentamentos rurais, implementar um programa de desenvolvimento sustentável baseado na abordagem do programa Proambiente, aumentando a renda ao mesmo tempo em que é reduzido o desmatamento e as queimadas. Terras indígenas Os povos indígenas desempenham um papel fundamental na contenção do desmatamento em Mato Grosso: eles protegem 15% do território estadual, incluindo 89 mil quilômetros quadrados de florestas que retém mais de 3 GtCO 2. Sendo assim, mesmo considerando que as Terras Indígenas estão sob responsabilidade do governo federal, o mecanismo de REDD do estado de Mato Grosso irá apoiar os projetos indígenas de REDD. Um amplo processo de consulta está sendo desenvolvido na região do Xingu e está iniciando na região noroeste do Mato Grosso, definindo as bases para projetos piloto de larga escala. A experiência e resultados desses processos fundamentarão o desenvolvimento de um programa estadual de REDD para povos indígenas. Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 11

Unidades de Conservação Estaduais A efetiva implementação das Unidades de Conservação existentes em Mato Grosso requer investimentos significativos e urgentes. Parte dos certificados de REDD deve ser investida na regularização fundiária de aproximadamente 9 mil quilômetros quadrados de Unidades de Conservação Estadual nos próximos dez anos, num custo estimado entre US$ 300 e 400 milhões. Outra parte dos fundos pode ser usada para implementar os planos de manejo das Unidades de Conservação estaduais. Além disso, o zoneamento do Estado de Mato Grosso indica 15 áreas potenciais para criação de novas unidades de conservação, totalizando 63 mil quilômetros quadrados, que também irão demandar financiamento para sua criação e implementação. Na primeira fase do mecanismo de REDD, investimentos em Unidades de Conservação serão realizados através de projetos piloto, de forma a embasar o desenvolvimento de um programa de abrangência estadual. Assentamentos rurais Quanto às demais comunidades rurais, como agricultores familiares em assentamentos rurais, seus projetos também serão elegíveis no mecanismo de REDD de Mato Grosso, apesar de muitos assentamentos serem administrados a nível federal, pelo INCRA. O desenho desses projetos deve ser baseado na abordagem do programa Proambiente, incluindo componentes de mobilização comunitária e assistência técnica para aumento da produtividade e renda, assim como pagamentos por serviços ambientais diretos como forma de viabilizar o comprometimento das famílias com o desmatamento zero. ALOCAÇÃO DE C-REDD PARA RESERVAS FLORESTAIS EM ÁREAS PRIVADAS É essencial prover incentivos financeiros para a conservação de florestas em áreas privadas já que essas áreas representam 88% do desmatamento total acumulado no Estado, e mantém 75% da área florestal remanescente e dos estoques de carbono correspondentes. A alocação de certificados de REDD para reservas florestais privadas será baseada no sistema cadastro ambiental de propriedades rurais (SIMLAM) e aumentará a atratividade do programa MT Legal, que pretende expandir o cadastro para todas as áreas privadas do Estado, permitindo um maior controle sobre o desmatamento. Inicialmente, a alocação de C-REDD beneficiará os proprietários de ativos florestais acima dos 80% de reserva legal. Existem atualmente cerca de 3.000 propriedades nessa situação registradas no SIMLAM, que ao todo somam 9 mil quilômetros quadrados (900.000 hectares) de reservas florestais acima dos 80% exigidos. O mecanismo irá alocar aos proprietários uma quantia fixa de C-REDD por hectare dessas reservas florestais extras, em troca por um comprometimento formal de conservação dessas florestas durante dois períodos de cinco anos. Essa alocação de C-REDD será garantida durante o primeiro período de 5 anos para os proprietários que efetivamente mantiverem suas florestas, mas no segundo período a alocação será condicionada à disponibilidade de C-REDD, que dependerá da continuação da redução do desmatamento no Estado e na Amazônia como um todo. Além de promover a conservação das florestas que poderiam legalmente ser desmatadas, essa compensação também irá promover um incentivo tangível para o manejo florestal sustentável, que é Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 12

permitido em reservas legais, mas em muitos casos não é economicamente competitivo em comparação à pecuária ou agricultura. De acordo com cálculos preliminares baseados em estimativas de custos de oportunidade, a alocação de C-REDD para reservas florestais excedentes deverá ser entre 50 e 80 C-REDD por hectare a cada 5 anos. Para as propriedades hoje cadastradas no SIMLAM, isso representa uma alocação potencial de 45 a 72 milhões de C-REDD durante 2011-2015, correspondendo a 20-33% da quantia total de C- REDD potencialmente disponível para esse período. FORTALECIMENTO DA GOVERNANÇA FLORESTAL A melhoria da governança florestal é amplamente reconhecida como uma peça fundamental de uma estratégia de REDD. De um lado, a baixa governança é apontada como um das maiores causas do desmatamento; por outro lado, a governança fortalecida é considerada chave para poder implementar incentivos econômicos. O mecanismo de REDD de Mato Grosso investirá 10-20% dos fundos levantados para programas de governança, que não terão que demonstrar redução de emissões quantificáveis. Esses programas terão que ser adicionais em relação às obrigações do Estado em termos de gestão ambiental e deverão incluir ações tais como: regularização fundiária e ambiental de propriedades rurais; fortalecimento da capacidade e estrutura dos órgãos ambientais; e implementação de um sistema para monitorar as emissões do desmatamento e da degradação. Especificamente, serão alocados fundos para promover a inserção de pequenas e médias propriedades no SIMLAM, através do MT Legal, permitindo o seu acesso à regularidade ambiental e ao componente de reservas florestais privadas do mecanismo de REDD. Para apoiar a implementação do mecanismo de REDD, o Estado implementará um Sistema de Certificação, Cadastro e Monitoramento de REDD. O desenvolvimento do marco regulatório desse sistema está em construção, no âmbito do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas, como parte da Política Estadual de Mudanças Climáticas. CONCLUSÃO Essa proposta é crucial para a realização das metas de redução de desmatamento de Mato Grosso, que representa a maior contribuição para a meta de redução das emissãos de GEE do Brasil. Ela busca seguir os princípios e critérios para ações de REDD/REDD+ na Amazônia, atualmente em discussão em vários fóruns de discussão. Especificamente, essa proposta: Oferece uma solução prática para integrar as ações de REDD em nível nacional, estadual e de projeto; Garante reduções de emissões reais, continuadas e seguras: os certificados de REDD são emitidos com base em reduções efetivas já realizadas e são investidos para conseguir reduções futuras; e o mecanismo inclui um fundo de garantia; Considera a conformidade com a legislação como uma condição básica: o componente de florestas privadas beneficia reservas florestais acima dos 80% exigidos por lei; Promove incentivos para a melhoria da governança florestal: possui um componente específico de governança; e o componente de florestas privadas está vinculado ao SIMLAM, principal instrumento de governança florestal do Estado; Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 13

Está baseado num processo participativo e transparente: seu marco legal e técnico será desenvolvido pelo Fórum Estadual de Mudanças Climáticas, que é aberto a participação de todos atores envolvidos; Aumenta a conservação da biodiversidade e de outros serviços ecossistêmicos: promove a proteção em larga-escala de florestas em áreas com extrema riqueza de biodiversidade, entre outras funções ecossistêmicas muito importantes; e Promove o desenvolvimento socioeconômico: seu componente de reservas florestais privadas provê incentivos para o manejo florestal sustentável; e seu componente de projetos piloto promove geração de renda e atividades econômicas sustentáveis para todos os atores e grupos envolvidos. Os próximos passos para desenvolver o programa REDD MT incluem a realização de um amplo processo de consultas com as partes interessadas como os povos indígenas, comunidades locais, pequenos e grandes proprietários e indústrias, principalmente por meio do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas, que tem essa função. Além disso, será intensificada a colaboração com o Governo Federal de forma que esse programa possa inserir-se no mecanismo nacional de REDD. O programa REDD MT gerará benefícios significativos e de longo prazo para o clima global, assim como para a conservação das florestas e o desenvolvimento socioeconômico de Mato Grosso. Porém, sua implementação fica condicionada à existência de compromissos fortes dos países desenvolvidos para reduzir suas emissões domésticas, garantindo que o REDD apoiará a realização de um ambicioso acordo climático global. REFERÊNCIAS Abutaka A & Brito M (org.) (2008) Mato Grosso em números. 2ª Ed, Carlini & Caniato: Cuiabá. Acessível em: www.indicador.seplan.mt.gov.br/mtemnumeros2008/ Estado de Mato Grosso (2009) Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Estado de Mato Grosso.Governo do Estado de Mato Grosso: Cuiabá. Acessível em: www.sema.mt.gov.br/arquivos/ppcdqmt_final.pdf Food and Agriculture Organization of the United Nations (2009) How to feed the world Global agriculture towards 2050. FAO High-level expert forum: Rome. Acessível em: www.fao.org/fileadmin/templates/wsfs/docs/issues_papers/hlef2050_global_agriculture.pdf Lentini et al. (2005) Fatos Florestais da Amazônia 2005. IMAZON: Belém. Acessível em: www.imazon.org.br Lima A. (2009, in press) Sistema de Registro, Certificação e Monitoramento de Programas e Projetos de Redd na Amazônia Brasileira, IPAM: Brasília Micol L., Andrade J. and Borner J. (2008) Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação Florestal: potencial de aplicação em Mato Grosso, ICV: Cuiabá, 92 p. Acessível em: www.icv.org.br/w/library/redd_icv.pdf Nepstad D. et al (2009, in press) Opportunity costs of avoided deforestation in the Brazilian Amazon Cattaneo A. et al (2008) How to Distribute REDD Funds Across Countries? A Stock-Flow Mechanism Submission by WHRC/IPAM to the UNFCCC Cuiabá, Mato Grosso Dezembro de 2009 14