DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA MATO-GROSSENSE (PRODES/2015) ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DO DESMATAMENTO E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLEMENTADAS
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- Tânia Deluca Fortunato
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1 DESMATAMENTO (PRODES/215) ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DO DESMATAMENTO E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLEMENTADAS JANEIRO 216
2 SUMÁRIO EXECUTIVO O estado de Mato Grosso é um estado chave na Amazônia brasileira para conciliar a produção agropecuária e a redução do desmatamento. Essa equação é fundamental para diminuir o papel das emissões da agropecuária e das mudanças no uso da terra nas mudanças climáticas globais. Entre 25 e 214, Mato Grosso reduziu o desmatamento na floresta amazônica em 87%, ao mesmo tempo em que mais que duplicou seu produto interno bruto (PIB). Em 215, no entanto, o Prodes detectou um desmatamento total de 1.58km², a maior taxa anual desde 28. Neste documento apresentamos as características do desmatamento detectado pelo Prodes de Agosto de 214 a Julho de 215, além das principais medidas implementadas até hoje para reduzi-lo. Também formulamos recomendações para conseguir uma redução significativa e duradoura do desmatamento. A Estratégia Produzir, Conservar e Incluir apresentada na COP21 contempla parte dessas recomendações. CARACTERÍSTICAS Apesar da redução do desmatamento desde 25, frentes de desmatamento ilegal permanecem ativas em MT; 2 municípios de MT concentram mais de 7% do desmatamento; A maior parte dos desmatamentos em áreas identificadas ocorre em propriedades privadas, com 6% dos polígonos localizados em grandes propriedades (> 15 MF); Polígonos grandes (>1ha) representam 41% da área desmatada; Infratores estão apostando no desmate ilegal mesmo se registrando no Cadastro Ambiental Rural. POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLEMENTADAS A fiscalização estadual aumentou e a fiscalização federal se manteve estável; O Código Florestal está sendo implementado lentamente; Ações inéditas estão sendo implementadas junto aos municípios. O QUE PRECISA SER FEITO? Publicar a Lista de Desmatamentos Ilegais e embargos; Implementar o Código Florestal através da validação do CAR, a restauração e compensação dos passivos ambientais; Envolver os municípios no combate ao desmatamento; Disponibilizar os dados do CAR, de licenciamento, e de fiscalização ambiental ao público; Estabelecer novos incentivos privados para uma agricultura sem desmatamento. Intensificar as ações de comando e controle CARACTERÍSTICAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA MATO-GROSSENSE EM 215 De 29 a 214, o desmatamento no bioma amazônico de Mato Grosso oscilou em torno de uma média de 1. km² por ano. Em 213 e em 215 aumentou (em relação ao ano anterior) 5% e 4%, respectivamente (Figura 1). Embora ainda seja um desmatamento reduzido se comparado com as taxas de 25 a 28, a permanência de um desmatamento de 1. km² e os aumentos detectados em 213 e 215 comprovam que o desmatamento ainda não está sob controle no Estado de Mato Grosso. Ano após ano, a concentração do desmatamento detectado pelo Prodes em 2 dos 141 municípios de Mato Grosso tem caracterizado claramente fronteiras ativas de desmatamento. Em 215, 72% dos polígonos de desmatamento foram detectados em 2 municípios do estado, enquanto apenas 1 desses foram responsáveis por 52% de todo o desmatamento em Mato Grosso (Figura 2). Nesse contexto, o caso de Colniza, município do noroeste do estado, é um exemplo emblemático: Em 215, o seu desmatamento representou mais de 17% do desmatamento no estado, e a maioria dele se concentrou em áreas não identificadas, demonstrando claramente a necessidade do cadastramento ambiental e da regularização fundiária.
3 FIGURA 1 Regiões de concentração do desmatamento em Mato Grosso (Fonte: Prodes/Inpe) O tamanho dos polígonos de desmatamento no estado de Mato Grosso e na Amazônia tem reduzido nos últimos 5 anos. Em 215, de 5.17 polígonos de desmatamento identificados em Mato Grosso pelo INPE, (89%) foram iguais ou menores a 5 ha. Concomitante a isso, a detecção do Prodes de 215 aponta um aumento dos polígonos de desmatamentos de mais de 1 ha. O número dos desmatamentos deste tamanho aumentou em 82% entre 213 e 215, e apesar deles representarem 25% de toda área desmatada em 213, em 215 essa proporção aumentou 64%, totalizando 41% dos polígonos. Propriedades rurais e áreas não identificadas contiveram 95% dos polígonos maiores de 1 ha em 215. Em 215, 47% do desmatamento, 638km², foi detectado em áreas sem categoria fundiária identificada. Outros 35% (536 km²) do desmatamento aconteceu em propriedades privadas, e 17% (245 km²) em assentamentos. Já em terras indígenas e nas unidades de conservação, houve desmatamento respectivo de 6,74 km² (,5%) e 5,38km2 (,4%). A análise da área desmatada nas diferentes categorias fundiárias nos últimos anos mostra que o recente aumento do desmatamento de 25% aconteceu em propriedades privadas e em áreas sem categoria fundiária definida (Figura 4). Entre as propriedades privadas, 6% (1.55) dos polígonos foram detectados em propriedades grandes, com mais de 15 módulos fiscais 2 (Tabela 1).
4 7, 18,628 6, 15,967 5, 13,36 Mato Grosso 4, 3, 1,645 7,983 Amazônia Legal 2, 5,322 1, 2, Mato Grosso Amazônia Legal FIGURA 2 Evolução do desmatamento de 25 a 215 (Fonte: Prodes/Inpe). 6, 5, Área em hectares 4, 3, 2, 1, 67542, , , / / /215 Polígonos de a 5 ha Polígonos de 5 a 1 ha Polígonos de 1 a mais que 1 ha FIGURA 3 Área desmatada por tamanho de polígonos de 213 a 215 (Fonte: Prodes/Inpe).
5 TABELA 1 Polígonos de desmatamento por tamanho em propriedades privadas. Até 1 ha 1 a 3 ha 3 a 5 ha 5 a 1 ha 1 a 3 ha Maior que 3 ha Grande (>15MF) Médio (4 a 15MF) Pequeno (< 4MF) Total , 55, 5, 45, Área desmatada em hectares 4, 35, 3, 25, 2, 15, 1, 5, Prodes 212/213 Prodes 213/214 Prodes 214/ Assentamentos Imóveis rurais cadastrados no Simlam Terra Indígena Unidade de Conservação Área sem categoria fundiária FIGURA 4 Áreas desmatada (hectares) por categorias fundiárias (Fonte: Prodes/Inpe)
6 O aumento do valor da carne bovina de 26,5% em 214 e 13,8% em 215, associado a especulação imobiliária sobre a terra são possíveis motivos desse aumento da área produtiva em grandes propriedades. Segundo declarações da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) baseadas em dados ainda não disponibilizados ao público, 6% do desmatamento teria acontecido dentro de áreas que possuem Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Sicar, nos moldes do Novo Código Florestal. A diferença de percentual entre a base de outubro de 214 do Simlam e a base de novembro de 215 do Sicar indica uma aposta dos infratores em uma hipotética regularização dos crimes ambientais a partir do CAR. A Sema declarou também que 8% dos desmatamentos teriam sido legalmente autorizados. Finalmente, de acordo com o levantamento dos polígonos de desmatamento nas áreas de reservatório das usinas hidrelétricas licenciadas e num raio de 2km² dessas usinas, 7 km² de desmatamento são imputáveis à geração de energia hidrelétrica 3, o que representa apenas,5% do desmatamento de 215. O QUE FOI FEITO EM 215 PARA CONTROLAR O DESMATAMENTO? Dados levantados na Secretaria Estadual de Meio Ambiente mostram que a atuação da fiscalização aumentou em número de autos de infração e em área. De 213 a 215, a área das autuações por infrações florestais passou de 13km² a 658km². O número de embargos também aumentou de 54 para 214 (Figura 5). A fiscalização do Ibama em Mato Grosso continua com índices mais elevados do que a fiscalização estadual. De 213 a 215 foi emitida uma média anual de 174 autos de infração florestais, e embargadas uma média de 48 áreas por ano. A implementação do Código Florestal, responsabilidade compartilhada dos governos estadual e federal, está lenta em Mato Grosso como no resto do Brasil. Até outubro de 215, 77% da área cadastrável no estado tinha sido cadastrada no CAR 4, mas o módulo de validação pilotado em Mato Grosso somente tinha sido testado em um número reduzido de propriedades. Sem a validação, o CAR não consegue atuar como instrumento de regularização ambiental e tem um papel limitado para o controle do desmatamento. Além disso, ainda faltavam a regulamentação do Programa Ambiental Rural estadual e o estabelecimento do sistema de acompanhamento e monitoramento dos compromissos de restauração e compensação ambiental.
7 1,4 1,2 1, Prodes 213/214 Prodes 214/215 Desmatamento(km 2 ) Número de operações de fiscalização (Ibama) Área fiscalizada (Ibama-km 2 ) Número de embargos (Ibama) Área fiscalizada (Sema-km 2 ) Número de operações de fiscalização (Sema) Número de embargos (Sema) * dados indisponíveis FIGURA 5 Produtividade da fiscalização do Ibama/MT e da Sema/MT de 213 a 215 (Fonte: Ibama/MT e dados coletados com a Sema/MT) Para regulamentar a atividade rural em Mato Grosso, o Estado estabeleceu em Agosto de 215 a Autorização Provisória de Funcionamento de Atividade Rural (APF) através do decreto estadual 23/215 e da Instrução Normativa 9/215. De 215 a 217, enquanto o Estado prepara um sistema de licenciamento com critérios claros e integração ao Sicar, a APF deve permitir o estabelecimento de um cadastro declaratório das atividades rurais e possibilitar o desembargo das áreas embargadas por falta de licença ambiental ou por desmatamento em área passível antes de julho de 28. No sistema online disponibilizado pela Sema/MT, áreas desmatadas sem autorização detectadas pelo Prodes são automaticamente bloqueadas para efeito de requerimento da APF. Segundo informações da Sema/MT de outubro de 215, desde sua implementação, em agosto de 215, foram solicitadas 1.97 APFs e emitidas Dessas APFs emitidas, somente uma levou ao desembargo de uma propriedade. Em nível municipal, o Programa Municípios Sustentáveis (PMS), criado em 214, está em fase de implementação. Hoje, os municípios que aderiram ao PMS ainda têm grande participação no desmatamento do estado (58%), mas existe um novo protagonismo desses locais e, através do PMS, planos de ação foram neles estabelecidos para canalizar a atuação dos membros do programa em cada município apoiado.
8 QUAIS AS RECOMENDAÇÕES PARA CONTROLAR O DESMATAMENTO? O desmatamento detectado em Mato Grosso demonstra que as ferramentas atuais para o controle e a redução do desmatamento não estão cumprindo plenamente o seu papel. Para corrigir essas falhas, as nossas recomendações trilham dois caminhos interdependentes: 1) melhorar a implementação das políticas de comando e controle e 2) criar uma agenda positiva que envolva políticas públicas e iniciativas privadas. Parte dessas recomendações estão contempladas na estratégia Produzir, Conservar e Incluir elaborada pelo governo e várias instituições do setor privado e sociedade civil, como IPAM e ICV, entre outras. 1. Intensificar ações de comando e controle. O crescimento exponencial do desmatamento, a proporção de áreas desmatadas acima de 1ha e o alto número de desmatamentos em áreas cadastradas no CAR mostra que o governo estadual precisa agir com rapidez e firmeza no sentido de identificar os infratores e puní-los de acordo com a lei. 2. Publicar uma Lista de Desmatamentos Ilegais que expõe publicamente a identificação e localização dos desmatadores ilegais, os autos de infração e os embargos com os nomes dos proprietários envolvidos. O alto número de desmatamentos em áreas cadastradas no CAR mostra que o governo estadual precisa dar sinais claros de que é capaz de identificar os infratores e puní- -los de acordo. Essa lista também deve assumir um papel fundamental para excluir essas propriedades das cadeias produtivas sustentáveis; 3. Implementar o Código Florestal. Isso significa ir além de registrar as propriedades no CAR, verificando e validando as informações, publicando as regras do Programa de Regularização Ambiental (PRA), criando incentivos para recuperação e notificando quem desmatou ilegalmente na base do CAR. O Código Florestal implementado é a base para o controle do desmatamento ilegal e para a segurança jurídica das propriedades; 4. Envolver os municípios no combate ao desmatamento, sobretudo os que mais desmatam, com a instituição de uma força tarefa específica para áreas sensíveis como regularização fundiária e ambiental; 5. Disponibilizar os dados do CAR, de licenciamento, e de fiscalização ambiental ao público para que toda sociedade, incluindo a sociedade civil e os atores do mercado, possam acompanhar as ações dos infratores, ampliando a capacidade de controle do governo e criando mecanismos de restrição de mercado; 6. Estabelecer novos incentivos para uma agricultura sem desmatamento. Isso passa por uma gama de incentivos que envolvem ferramentas creditícias, fiscais, apoio ao setor privado, além de critérios de compra de mercado. Existe um arcabouço legal para esses incentivos no artigo 41 do Código florestal, mas ele tem sido pouco explorado até hoje. NOTAS 1 Dados usados neste trabalho: As análises foram feitas usando polígonos de desmatamento do PRODES aplicados aos limites do estado de Mato Grosso, onde ele monitora somente o bioma Amazônico. Considerando os polígonos do PRODES para todo o bioma Amazônico, o desmatamento somou um total de 5, km². O Estado do Mato Grosso foi responsável por 1,346 km2 (26%), apesar de o PRODES ter reportado uma taxa de 1,58 km2. Esta diferença ocorre porque o INPE soma as áreas desmatadas dos anos anteriores que estavam cobertas por nuvens nos períodos anteriores de relatoria. 2 O módulo fiscal de Mato Grosso vai de 6 a 1 ha no bioma Amazônia. Com isso as propriedades de mais de 15 MF têm mais de 9 ha. 3 Foram analisados as usinas Teles Pires (Paranaíta e Alta Floresta), São Manoel (Paranaíta), Complexo Apiacás (Alta Floresta e Nova Monte Verde), Colíder (Itaúba, Nova Canaã, Colíder e Cláudia) e Sinop ( Sinop, Itaúba, Claudia, Ipiranga do Norte e Sorriso) do-cadastro-ambiental-rural Autores: Andrea Azevedo (IPAM), Alice Thuault (ICV), Cecilia Simões (IPAM), Isabel Castro (IPAM), Edilene Fernandes do Amaral (ICV) e Ana Paula Valdiones (ICV) Crédito da foto: Na Lata Crédito dos gráficos: Alice Thuault Janeiro 216 Projeto gráfico e diagramação: Gueldon Brito Autorizado o uso não comercial desde que citada a fonte
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