ORIGEM: PRT da 15ª Região- PTM de Araraquara/SP INTERESSADO 01: Gerência Regional do Trabalho e Emprego em Araraquara/SP. Interessado 02: Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Ferreira. Assunto: Consulta Observação: Alteração do TAC 97/11 nos autos do IC 105.2005.15.003/5-52 EMENTA: ALTERAÇÃO DE CLÁUSULA DE TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA. ARTIGO 14-A DA RESOLUÇÃO CSMPT Nº 69/2007. JORNADA DE 12X36. CLÁUSULA DE EXCLUSIVIDADE. SERVIÇOS DE SAÚDE. Seguindo a mesma linha de intelecção traçada na manifestação do Coordenador Nacional da CODEMAT, também entendo como ideal o regime da exclusividade nos serviços de saúde como jornada de trabalho de 12X36. Contudo, como bem pontuou Sua Excelência, na bem articulada manifestação, não há proibição legal para o estabelecimento de mais de um vínculo laboral, estando, teoricamente o trabalhador livre para firmar dois ou mais contratos de trabalho com empregadores diversos. Não se ignoram, contudo, as limitações materiais e os efeitos danosos, que várias jornadas de trabalho possam gerar na saúde dos trabalhadores, especialmente nos serviços de saúde, onde os profissionais da área lidam com vidas humanas, como observado no opinativo da Coordenadoria Temática. 1
Nesse sentido, não havendo regra normativa disciplinando a questão da exclusividade do contrato de trabalho, entendo que a questão está sob o exclusivo exercício do juízo de conveniência e oportunidade do membro que oficia no feito, para proceder o enquadramento jurídico e estabelecer de comum acordo com o investigado as regras do termo de compromisso. O membro que, na atualidade, está diretamente em contato com o conflito coletivo e observando as circunstâncias fáticas que emergem do procedimento administrativo, tem mais aptidão para promover a tutela coletiva de forma mais eficaz e consentânea com a realidade local e temporal. Alteração de TAC que se homologa. I RELATÓRIO Trata-se de procedimento versando sobre alteração do Termo de Ajuste de Conduta, firmado entre o Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego e Sociedade Matonense de Benemerência, tendo o Membro oficiante (Dra. Lia Magnoler Guedes de Azevedo Rodriguez) remetido os autos à Câmara de Coordenação e Revisão em observância ao contido no artigo 14-A da Resolução CSMPT nº 69/2007. Após manifestação da Procuradora Lia Magnoler Guedes de Azevedo Rodriguez, o relator remeteu o feito à Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (CODEMAT) para análise/parecer do procedimento realizado, visando enriquecer o exercício revisional da CCR e por versar sobre matéria pertinente à CODEMAT. 2
É, em síntese, o relatório. II. CONHECIMENTO Atendido o pressuposto de admissibilidade do art. 14-A, 3º da Resolução CSMPT nº 69/2007, conheço do pedido. II FUNDAMENTAÇÃO A Procuradora do Trabalho Lia Magnoler Guedes de Azevedo Rodriguez, em atenção ao disposto no artigo 14-A da Resolução CSMPT 69/2007, remeteu à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho proposta de alteração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC 47/2013 fl. 1892), firmado com vistas à alteração da Cláusula Primeira do instrumento citado, subscrito pelo Procurador do Trabalho Cássio Calvilani Dalla-Déa, entabulado nos autos do IC 000105.2005.15.003/5-52, que sugerindo a seguinte redação: CLÁUSULA PRIMEIRA: Em substituição à cláusula primeira do TAC nº S/Nº/2008, de fls. 619, celebrado em 02/10/2008, a compromissária compromete-se a não exigir dos seus empregados uma jornada superior à prevista em lei, salvo autorização legal, sendo admitido sistema de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso sob a condição de: a) ser amparado por instrumento de negociação coletiva; b) serem respeitados os limites impostos pela súmula nº 444 do TST; c) ser vedada a prestação de horas extras ou a prática do trabalho nas folgas (dupla pegada ou folga trabalhada). Em audiência realizada na sede da Procuradoria do Trabalho no Município de Araraquara a compromissária Sociedade Matonense de Benemerência sustentou a necessidade de retificação do Termo de Ajuste de Conduta firmado em 02.10.2008, apresentando os seguintes fundamentos, conforme 3
ata acostada às fls. 1890/1891: Pelo representante da empresa foi dito que: o TAC celebrado em 02 de outubro de 2008 tem sido cumprido integralmente desde então, mas que os seus representantes solicitaram a presente sessão para que fossem rediscutidos os termos do TAC, a critério do quanto ocorrido às fls. 1810 dos autos (Irmandade Santa Casa de Porto Ferreira); nesse sentido, além da dificuldade de contratação de profissionais disponíveis, há que se observar a alteração nas circunstâncias fáticas e jurídicas ocorridas desde a data de assinatura do compromisso; isso porque, além de ter sido recentemente editada a Súmula 444 do TST, o hospital experimentou um exponencial e relevante crescimento de suas atividades, que sofreram acréscimo de aproximadamente 131% dos serviços; em adição, o único hospital nos presentes autos que optou pela discussão judicial da matéria obteve êxito perante o E. TRT da 15ª na manutenção da jornada de 12x36, vedada a prestação de hora extra, mas sem a exigência do duplo vínculo. Assim, requer análise da matéria por parte deste órgão.. Em despacho proferido durante a audiência, o Membro Oficiante, constatando a razoabilidade dos argumentos da Compromissária determinou a alteração do Termo de Ajuste de Conduta firmado no ano de 2008 e a remessa dos autos ao Procurador do Trabalho e então oficiante quando da celebração do respectivo TAC, para eventual manifestação. Às fls. 1893/1894 insurge-se o Procurador do Trabalho Cássio Calvilani Dalla-Déa quanto à exclusão da cláusula que exigia exclusividade de vínculo empregatício aos trabalhadores submetidos à jornada de 12x36. Ressalta que a limitação mostra-se necessária em virtude da atividade realizada, conferindo eficácia ao descanso de 36 horas. Esclarece que nas audiências realizadas em 2007 foi registrado o posicionamento do Ministério do Trabalho e 4
Emprego Nota Técnica 40/2006/DMSC/SIT. E, por fim, tendo sido o instrumento firmado com a participação do referido Órgão, sugere o encaminhamento dos autos à Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Araraquara. Em despacho de fls. 1887/1888 a Procuradora do Trabalho Lia Magnoler Guedes de Azevedo Rodriguez encaminhou os autos para a Câmara de Coordenação e Revisão, manifestando entendimento contrário ao encaminhamento do instrumento ao Ministério do Trabalho e Emprego, enfatizando que a participação de referido Órgão na celebração de TAC não é obrigatória, nem tampouco, requisito essencial. Manifestou-se no seguinte sentido: Em atenção ao princípio da economia e celeridade, requer-se a manifestação dessa E.CCR acerca de uniformização da decisão a ser proferida no caso, com a manifestação do Exmo. Procurador então oficiante, para todos os TAC s firmados nos autos, que são uniformes, a depender da manifestação da parte nesse sentido em eventual alteração futura de cada instrumento. Após, o Procurador do Trabalho Antônio Luiz Teixeira Mendes, relator do processo na época, abriu vista do o feito à CODEMAT para análise da matéria versada nos presentes autos (fls.1896/1899). Em resposta à diligência requisitada, o Procurador do Trabalho e Coordenador Nacional da CODEMAT, Drº Philippe Gomes Jardim entendeu como recomendável a manutenção do regime da exclusividade na jornada laboral de 12 horas por 36 horas de descanso (fls. 1901/1903). Na oportunidade, o Coordenador Nacional ponderou quanto à especificidade do caso em tela, verbis: Não se ignora, no caso concreto, que a limitação de vínculos para os trabalhadores com regime de trabalho 12x36 possa acarretar dificuldades na 5
contratação de pessoal especializado para a prestação de trabalhos na área da saúde. Por outro lado, o valor que deve ser prioritariamente considerado é a proteção à saúde, seja do próprio empregado ou da população em geral. Considerando que se trata de serviços vinculados à saúde, um trabalhador sem o necessário descanso entre um trabalho e outro pode, em tese, colocar em risco a saúde da própria população. Seguindo a mesma linha de intelecção traçada na manifestação do Coordenador Nacional da CODEMAT, Drº Philippe Gomes Jardim, também entendo como ideal o regime da exclusividade nos serviços de saúde como jornada de trabalho de 12X36. Contudo, como bem pontuou Sua Excelência na bem articulada manifestação, não há proibição legal para o estabelecimento de mais de um vínculo laboral, estando, teoricamente o trabalhador livre para firmar dois ou mais contratos de trabalho com empregadores diversos. Não se ignoram, contudo as limitações materiais e os efeitos danosos, que várias jornadas de trabalho podem gerar na saúde dos trabalhadores, especialmente nos serviços de saúde, onde os profissionais da área lidam com vidas humanas, como observado no opinativo da CODEMAT. Nesse sentido, não havendo espécie normativa disciplinando a questão da exclusividade do contrato de trabalho (que pode gerar efeitos deletérios não só nesse regime laboral mas em diversos outros, inclusive em relação aos profissionais liberais), entendo que a questão está sob o exclusivo exercício do juízo de conveniência e oportunidade do membro que oficia no feito, no sentido de proceder o enquadramento jurídico e estabelecer, de comum acordo com o investigado, as regras do termo de compromisso. Entendo pois, que o membro que está diretamente em contato com o conflito coletivo e observando as 6
circunstâncias fáticas que emergem do procedimento administrativo tem mais aptidão para promover a tutela coletiva de forma mais eficaz e consentânea com a realidade local e temporal. Entendo assim, pedindo vênia ao Exmo. Drº Cássio Calvilani Dalla-Déa, muito embora a nossa manifestação não esteja ligada ao mérito da alteração em si, mas apenas a esse melhor aparelhamento do membro que está conduzindo o procedimento na atualidade. Acredito, também que os princípios da unidade e da indivisibilidade devem nortear a proa da instituição, nesses casos em que a questão controvertida não tenha previsão legal, sendo natural que se façam ajustes nos títulos judiciais e extrajudiciais, para o aperfeiçoamento da tutela coletiva. Acolho, destarte, o pedido de alteração do termo de compromisso. III CONCLUSÃO À vista do exposto, tendo sido observados os preceitos da Resolução CSMPT 69/2007, voto pela homologação da alteração no Termo de Ajuste de Conduta de fls. 619, nos precisos termos em que foi submetida a esta Câmara. Brasília, em 28 de outubro de 2013. FÁBIO LEAL CARDOSO Membro da CCR - Relator 7