O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO PRÁTICA DE CIDADANIA E CONSCIENTIZAÇÃO



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Transcrição:

O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO PRÁTICA DE CIDADANIA E CONSCIENTIZAÇÃO André L. P. CARVALHO¹ Universidade Federal do Pará RESUMO: O presente estudo traz como objetivo discutir reflexões acerca do ensino de língua inglesa nas escolas públicas, bem como trazer à discussão a multi-relação Ensino X Mundo Hodierno X Professor dentro do cenário brasileiro, onde referenciais teóricos subsidiaram a temática em questão. Inicialmente analisou-se a interação entre o inglês ensinado nas escolas e sua eficácia quanto ao atendimento das necessidades dos alunos na sociedade moderna. O desempenho do inglês ensinado nas escolas públicas ainda se mostra deficitário em eficácia quanto ao atendimento das necessidades comunicativas dos alunos e lamentavelmente ainda se constata a presença de métodos arcaicos de ensino que se aliam com a ausência de estruturas das escolas e esquecimento do papel pedagógico do professor de inglês na vida do estudante. Em meio a tal processo de massificação do ensino de língua estrangeira em nossas escolas, como contraponto, advoga-se o pensamento freiriano como profilaxia e mesmo medida remediadora à alienação de nosso propósito educacional, enquanto professores de língua inglesa no Brasil. Paulo Freire acreditava que o propósito sublime de uma língua é para comunicar e não dominar, porém é verdade que a língua também é utilizada para fins que são muitas vezes concomitantes ao ato de comunicar tais como persuadir, iludir, chantagear, convencer, sensibilizar, educar etc. Em cima de tais funções, resultantes de necessidades sócio-interativas, são construídos discursos que circulam em nossa sociedade e ao redor de nossa aldeia global. Sobre essas intencionalidades na comunicação, o ensino de língua inglesa deveria favorecer estratégias ao aluno na compreensão de que a forma como se usa uma língua em determinada situações o favorece, e que em outros contextos o mesmo uso não o favorece. O momento sócio-histórico em que vivemos é a pedra de toque para se justificar a importância do ensino de inglês, assim como gerador de necessidades comunicativas. PALAVRAS-CHAVES: Ensino; Professor; Língua Inglesa. ABSTRACT: The present study aimed at discussing ideas about the teaching of English language in public schools as well as bringing the discussion about the relation among Today world X Education X Teacher in the Brazilian scenario, where theoretical frameworks supported the theme in question. Initially we analyzed the interaction between the English taught in schools and their effectiveness for the needs of students in modern society. The performance of the English taught in public schools still shows a deficit of efficacy for the communicative needs of students and regrettably still detects the presence of archaic methods of teaching that are allied with the absence of structures of schools and ¹ Graduando em Licenciatura Letras-Habilitação Língua Inglesa na Universidade Federal do Pará. Atualmente é bancário e trabalha em um projeto de extensão da mesma universidade preparando alunos para provas de vestibular. the forgetting of educational role of English teacher in student life. In the midst of such a process of massification of foreign languages teaching in our schools, as a counterpoint, it is advocated Paulo Freire s ideas as prophylaxis and even remedial measure to the alienation of our educational purpose, as teachers of English in Brazil. Paulo Freire believed that the sublime purpose of a language is to communicate and not dominate, but it

is true that the language is also used for purposes that are often concurrent with the act of communicating such as persuade, deceive, bribe, persuade, raise awareness, educate etc.. Through these functions, resulting from socio-interactive needs, are constructed discourses that circulate in our society and around our "global village". About these intentions in communication, English-language-teaching strategies should encourage the student to understand that the way you use one language in particular situations favors and that in other contexts, the same use does not. The socio-historical moment in which we live is the touchstone to justify the importance of teaching English as well as generator of some communicative needs. KEYWORDS: Education; Teacher; English Language Introdução Freire (2010) ressalta que é preciso deixar claro que a ética de que ele fala não é a ética menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro. Desta forma este artigo tem por função lembrar o compromisso assumido por nós professores de línguas estrangeiras modernas e que no exercício de nossas atribuições torna-se esquecido. Onde a ética do ensinar cede lugar ao mero adestramento de um idioma. LOPES (2003) com muita propriedade refere-se ao assunto explicando que o professor de línguas deve ter em mente o momento sócio-histórico que vive, assim como perceber os discursos ideológicos que circulam no mundo e influenciam sua vida e a dos alunos igualmente. O inglês de ontem ensinado para o amanhã Aprender um idioma nos dá oportunidades na vida; Chances de exercer nossa cidadania local e mundial (já que o discurso da globalização é que somos cidadãos do mundo). E como a própria globalização não é justa e equânime para todos, o próprio ensino de Inglês no Brasil também parece ser excludente; isto é muito bem posto pelas nossas políticas públicas de ensino de Língua Estrangeira (L.E.) que nos fazem profissionais com toda uma bagagem filosófico-científica, ser incoerentes com a nossa prática. Em vez de darmos um upgrade em nosso desempenho, passamos então a ver o nosso objeto de trabalho- o idioma - de forma reducionista, sendo impelidos a dar, muitas vezes, meras aulas de tradução (seria isso a educação bancária que Paulo Freire tanto combateu?), ao invés de convidar meus alunos a compreender e posteriormente interpretar. Ou ainda, pretende-se tornar a classe em especialistas de regras gramaticais, iludindo-os de que um idioma é só isso. Onde está o ensino como prática libertadora? Paulo Freire (2010, p. 128), ironiza tal comportamento quando afirma que o sistema capitalista alcança no neoliberalismo globalizante o máximo de eficácia de sua malvadez intrínseca. O autor diz ainda que do ponto de vista de tal ideologia só há uma saída para a prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não pode ser mudada (Ibid, 2010, p. 20). Longe de pretender adentrar na especificidade do método, o que não é o objetivo deste artigo, iremos traçar paralelos entre o método tradução-gramática e o conceito de educação bancária: Educação Bancária (FREIRE, 2011, p.82):

a) O educador é o que sabe; os educandos os que não sabem; b) O educador é o que diz a palavra; os educandos os que a escutam docilmente; c) O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que prescrevem sua prescrição Método Tradução-Gramática: a) O vocabulário é ensinado através de uma lista; memorização; b) Foco em formas; Gramática ensinada dedutivamente; c) O aluno não é exercitado a pensar em L.E. Esses são apenas alguns dos fundamentos mais significantes que se considerou enfatizar aqui. Nota-se uma crença em ambos na verticalidade entre professor/aluno, onde o professor é o modelo a ser imitado. Há ainda uma valorização de memorizar informações, fórmulas, datas, regras e vocabulário, em detrimento à capacidade crítica e criativa do aluno. Parece ser um posicionamento fácil de ser adotado mediante fatores de massificação do ensino que desmotivam o profissional e o impedem de ter condições para uma formação continuada. Uma língua é muito maior que tudo isso descrito, porque o que realmente fazemos com ela na vida é muito mais ousado. Através da língua nós interagimos socialmente, trocamos idéias, expressamos sentimentos, contamos estórias, transmitimos conhecimento e idéias, na verdade, ideologias são transmitidas graças à língua. Dessa forma, o professor deveria sempre rever seus princípios metodológicos e se questionar se o aprendizado do inglês está de fato tornando seu aluno habilidoso... para a vida, e não apenas para a sala de aula. Para aumentar nosso entendimento neste assunto, gostaria de ilustrar com um exemplo particular oriundo de minha vivência no Projeto Universidade Aberta (PUA), atividade de extensão da UFPA, onde atuo lecionando língua inglesa. O projeto visa preparar os alunos para processos de seleção ou avaliação como o vestibular/ Enem oferecendo gratuitamente, entre outras ações, curso preparatório à comunidade. Tenho observado atentamente as dificuldades dos alunos que chegam ao projeto, com limitações e ânsias peculiares de alunos provenientes principalmente de escolas públicas. Considero limitações, quando o aluno está cristalizado em apenas uma estratégia de aprendizado, como traduzir indiscriminadamente, por exemplo, e chamo ânsias quando aluno almeja naquele curso, por exemplo, aulas de gramática, pois, a meu ver, é a certificação de que algo estaria sendo concretamente ensinado. É curioso e chego mesmo a me identificar com eles, pois no âmbito de língua estrangeira, também tive a oportunidade de experimentar diferentes contextos de ensino, do público ao privado, e lembro-me claramente de ter pensado e sentido da mesma forma que os alunos, apesar dos anos que nos separam. É notável a presença das mesmas dificuldades se fazerem vivazes através do tempo como se fossem questões insolucionáveis... Ou será que apenas não têm sido consideradas dignas de atenção? Podemos inferir que não estão tomando medidas tempestivas no ensino de língua inglesa nas escolas reconhecendo o que de fato ela é: Importante em nossa formação intelectual, cultural e cidadã. Quando se assevera que o aprendizado da língua inglesa é capaz de proporcionar oportunidades na vida do estudante, podemos facilmente demonstrar pelo acesso a produção cultural e ao conhecimento acadêmico/científico que circula no mundo afora. São valores que possibilitam uma maior capacidade de comunicação e igualmente

aprimoramento da formação do estudante que tende a alavancá-lo para um melhor padrão de vida (DONNINI, 2010, p. 9). Não obstante, novos desafios no ensino de línguas se fazem presentes conforme abordará a próxima seção. Novos horizontes no ensino de L.E Por isso que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando (...) sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática (FREIRE, 2010, p.39). Freire (2010) diz ainda que como a linguagem que anima a curiosidade e com ela se anima é também conhecimento e não só expressão dele. Dessa forma, acredito ser uma das atribuições do professor, engajados em divulgar o idioma inglês, procurar saber mais sobre as condições históricas que fizeram/fazem do inglês ser considerada uma língua franca, assim como refletir sobre as implicações políticas e ideológicas da difusão dessa língua. RAJAGOPALAN (2010) corrobora essa consciência crítica como premissa do nosso ensino ao advertir (...) evitemos atitude extremas de rejeição xenófoba ou de submissão passiva (...). Já é possível também visualizar tais premissas em documentos legislativos tais como Os PCNs que concebem a Língua estrangeira como parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essências que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e, consequentemente, propicia sua integração num mundo globalizado (Brasil 2000, p. 25) O estudante desta forma deve estar habilitado para ir ao encontro do outro e não de encontro, confrontando. Mas a eficácia desta aproximação, conforme o documento oficial se consolida em nossa área de línguas através do entendimento cultural e também percepção das funções que a linguagem pode exercer em nossas vidas. O aluno gradativamente torna-se estratégico em navegar no idioma. Mais do que easy uma língua é dangerous. É perigosa porque fala de um exercício de poder e influência nas relações interpessoais e sociais. Paulo Freire acreditava que o propósito sublime de uma língua é para comunicar e não dominar, porém é verdade que a língua também é utilizada para fins que são muitas vezes concomitante ao ato de comunicar e outras vezes bastante diversa tais como persuadir, iludir, chantagear, convencer, sensibilizar, educar etc. Ora, em cima de tais funções, que podem ser entendidas aqui como necessidades sócio-interativas, são construídos discursos que circulam em nossa sociedade e ao redor de nossa aldeia global. Sobre essas intencionalidades comunicativas, deve-se compreender que a forma que uso uma língua em determinada situações me favorece, e que em outros contextos o mesmo uso não me favorece. Aí está o perigo: o uso dela afeta nossa vida diretamente- podemos vir a ter consciência crítica de tais usos que chegam a nós. Em um capítulo bastante pontual intitulado Ensinar exige saber escutar (FREIRE, 2010) nosso autor explorar as possibilidades do verdadeiro ato comunicativo onde se aprende ao analisamos o ponto de vista do outro. Poderíamos parafrasear que ensinar língua estrangeira exige saber escutar e ler os gêneros textuais na língua alvo; Ser, igualmente, um receptor ativo de mensagens com vivaz criticidade e real desejo de entendimento.

Portanto, meu aluno não vê o idioma-alvo dessa forma, porque eu (o professor) também não tenho esta perspectiva e igualmente meus governantes parecem não comungar desta visão, apesar do que é proposto nos documentos oficiais o que torna a situação mais incoerente ainda. Tal paradigma precisa ser alterado em algum elo desta cadeia. Onde será mais fácil atingi-la? Devo esperar o despertar do meu aluno? Devo contar com o apoio integral e iniciativa dos dirigentes do país ou administradores de onde trabalho? Ou será mais apropriado partir do professor uma postura pró-ativa para tais questões ora expostas? É evidente que nestas três esferas espera-se uma conscientização dos papéis a serem exercidos por cada um. No entanto, tenho dúvidas sobre a solidez deste processo se não houver o elemento desencadeador desta reação - a postura do professor. Assunção da identidade cultural do professor A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nós por nós mesmos (FREIRE, 2010, p. 42). Antes de ser um English Teacher, somos professores de língua inglesa; Porque nascemos no Brasil e vivemos uma situação sócio-econômica-educacional muito peculiar de um país de terceiro mundo que sofre pressões imperialistas alí e tem a soberania desrespeitada por aquele outro etc....e tudo isto afeta diretamente minha prática docente que é subsidiada por diversas crenças de vários matizes (positivos ou negativos). Desconsiderar tais fatores é sinal de possível alienação do professor de L.E., vítima de inúmeros bullings ideológicos, (des)educacionais, políticos, financeiros, para mencionar apenas alguns. Concordo com Moita Lopes (1996, apud SIQUEIRA 2009, p. 88) quando diz que ensinar uma língua é construção de identidades sociais dos alunos e podemos acrescentar que o mesmo vale para o professor. O ensino de língua inglesa deve-se fundamentar enquanto ferramenta para exercício de cidadania, possibilitando o uso do idioma através de inúmeras práticas sociais em que vamos nos formando enquanto seres históricos, comunicantes e transformadores. O papel de professor de inglês há várias décadas atrás focava na competência lingüística para ser um profissional da linguagem, no entanto em um mundo cada vez mais globalizado em que a toda hora somos convidados a manter contato com culturas e povos diversos, se exige que eduquemos os alunos para uma formação lingüística, mas que sejam capazes de manter diálogos interculturais. Tais fenômenos, cujo início não é recente e que se fortalecem com velocidade espantosa, são causadores de novas tendências no ensino de línguas (ver UPHOLFF, 2007, p. 14) e, assim, se torna compreensível quando novos padrões de avaliação são exigidos como, por exemplo, o ENEM tem expressado em sua matriz de referência no que tange à L.E: Competência de área 2- conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais (BRASIL, 2011). Enfatizando em seguida nas habilidades que o avaliado deve expressar:

Reconhecer a importância da produção cultural em L.E.M. como representação da diversidade cultural e lingüística. Estas são algumas competências a serem avaliadas das novas gerações não apenas em um teste, porém demandadas pelo mundo moderno que é, de fato, interativo, porém não necessariamente implica dizer que já somos possuidores de plena compreensão cultural sobre nós ou de outros. O professor de inglês necessita ter um entendimento do momento sócio-histórico para se perceber como um ser intercultural - cidadão do mundo que se interroga como pode oferecer o desenvolvimento de tais competências nos alunos mesmo com uma carga horária reduzida e condições de trabalho limitadas. Será que a longa permanência de tais obstáculos tem uma intencionalidade ideológica por trás? Paulo Freire via claramente essas forças agindo na formação e prática docente. É importante estar ciente destas questões enquanto profissional, pois se amadurece o conceito sobre nosso campo de atuação e certamente propicia reflexões mais profundas sobre o nosso ensinar, neste sentido o autor pondera ainda, que a experiência histórica, política, cultural e social dos homens e mulheres jamais pode se dar virgem do conflito entre as forças que obstaculizam a busca da assunção de si (FREIRE, 2010, p. 42). E o pedagogo ainda nos alertara de que a formação docente que se julgue superior a essas intrigas não faz outra coisa senão trabalhar em favor dos obstáculos. A partir dessas palavras o autor sintetiza a conscientização que precisamos desenvolver junto a nossa formação acadêmico-científica, pois entendia que educar é um ato político e que por meio deste ato intervimos no mundo em que vivemos. Nós, professores de Inglês, não estamos excluídos deste dever. Considerações finais Intencionou-se neste trabalho fazer um breve percurso destacando a importância do ensino de inglês em nossas escolas, assim como traçando algumas relações entre metodologia, fundamentações teóricas, momento histórico e ideologias presentes em nosso trabalho. Trata-se de um circuito que começa com o que tem sido feito, o que o mundo está exigindo na formação dos alunos hoje, e que deve ser realizado em sala para o amanhã. Muito possivelmente, ainda teremos muitas releituras sobre nosso papel de professor de inglês, o que é natural, afinal de contas seria ingenuidade acreditar em uma mudança de atitude instantânea ou ainda professar que cabe unicamente a nós a solução de inúmeros problemas sociais. As reflexões que são abordados neste artigo, obviamente de forma sucinta, nos leva a concluir que, após os primeiros passos rumo à conscientização do que podemos oferecer como profissionais estaremos mais aptos a construir uma (...) prática política pautada na ética e na equidade (LOPES, 2003). O ensino de inglês poderia se tornar mais consciente e significativo para o estudante se contemplasse reflexões acerca do papel hegemônico que a língua inglesa desempenha na contemporaneidade. (...) é impossível desconectá-lo da globalização, pois ele viabiliza a mobilidade de capital e recursos (...) A globalização favorece a manutenção de uma língua franca. (...) conforme explica Gimenez,(2011, p. 49). Ás vezes, dizer as razões pelas quais meu aluno aprende (ou não) inglês pode não ser tão encantador quanto ao processo de aprender um idioma. Talvez não seja nosso papel

estabelecer por quais razões eles devem aprender a língua inglesa, mas acredito plenamente no fator motivacional que surgirá ao fazê-los perceber seus próprios porquês e refletir na importância deles. Referências BRASIL, Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Matriz de Referência para o Enem 2011. Disponível em: http://www.ceps.ufpa.br/daves/ps%202012/ps%202012%20enem.pdf Acesso em 21 de janeiro de 2012. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto (2000). Secretaria de Educação Média e tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14 24.pdf> Acesso em: 20 de janeiro de 2012. DONNINI, L; PLATERO, L; WEIGEL, A. Ensino de língua Inglesa. São Paulo: Cengage Leraning, 2010. FABIANO, K. P. O ensino da língua inglesa através do método tradução-gramática nas escolas de ensino médio no município de Nova Venécia. Revista Universo Acadêmico. n 12, p. 1-12. julho a dezembro 2007. Disponível em: < http://www.univen.edu.br/revista/n012/o%20ensino%20da%20lingua%20ingles A%20ATRAVES%20DO%20METODO%20TRADUCAO-GRAMATICA%20NAS% 20 ESCOLAS.pdf > Acesso em: 30 Setembro 2011. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2010. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. GIMENEZ, T. Narrativa 14: permanências e rupturas no ensino de inglês em contexto brasileiro. In: LIMA, D. C. de (org). Inglês em escolas públicas não funciona? Uma questão, múltiplos olhares. São Paulo: Parábola Editorial, 2011, p. 47-54 LOPES, L. P. M. A nova ordem mundial, os parâmetros curriculares nacionais e o ensino de inglês no Brasil: a base intelectual para uma ação política. In: BARBARA, L.; RAMOS, R. C. G.(orgs). Reflexões e ações no ensino-aprendizagem de línguas. Campinas, SP. Mercado de Letras, 2003, p.29-55. RAJAGOPALAN, K. Vencer barreiras e emergir das adversidades com êxito, sempre com o pé no chão. In: LIMA, D. C. de (org). Inglês em escolas públicas não funciona? Uma questão, múltiplos olhares. São Paulo: Parábola Editorial, 2011, p. 55-65. SIQUEIRA, D. S. P. Como abordar as questões ideológicas nas aulas de língua estrangeira. In: LIMA, D. C. de (org). Ensino Aprendizagem de língua inglesa: conversas com especialistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2009, p. 79-92. UPHOFF, D. A história dos métodos de ensino de inglês no Brasil. In: BOLOGNINI, C. Z. (org). A língua inglesa na escola. Campinas, SP: Mercado de letras, 2007, p. 9-15.