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ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA TRAUMÁTICA: AVALIAÇÃO CLÍNICA E CIRÚRGICA TRAUMATIC FACIAL PALSY: CLINICAL AND SURGICAL EVALUATION 1 2 2 Julia Stabenow Jorge, Godofredo Campos Borges, Paulo Roberto Pialarissi, Jose Jarjura Jorge Junior RESUMO Introdução: a paralisia facial de origem traumática é a segunda decompression treatments or graft, 4 out of 5 cases (80%) causa mais frequente e pode ser iatrogênica, pós-trauma crânio- achieved significant improvements. Conclusion: we observed encefálico, por ferimentos cortante e/ou contuso da face ou por the profiles of victims of traumatic facial paralysis, diagnosis ferimento por projétil de arma de fogo. Objetivo: relacionar os and action to be taken in these cases as well as the results of casos de paralisia facial traumática aos parâmetros de sexo, treatment. idade, tipo de acidente e resultados de tratamento clínico e Key-words: facial paralysis; craniocerebral trauma; facial cirúrgico. Metodologia: análise retrospectiva de 16 casos de nerve; age distribution; sex distribution. Paralisia Facial Periférica Traumática do Setor de Otorrinolaringologia do Ambulatório do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Resultados: em relação ao sexo, 81% masculino; faixa etária entre 9 e 60 anos; quanto ao tipo de trauma, 56,25% INTRODUÇÃO foram por acidente, 25% por agressão e 19% iatrogênicos; quanto ao período que decorreu entre o acidente e a chegada A Paralisia Facial Periférica (PFP) é a neuropatia do paciente ao ambulatório 56,25% chegaram entre sete e dez periférica mais frequente e é uma afecção que preocupa o médico dias. Os sintomas mais frequentes foram otorragia 56,25% e e angustia o paciente devido às alterações estéticas e funcionais parestesia da hemiface paralisada 7,5%. Foram observados que proporciona, trazendo consequências a ações cotidianas, zumbidos e vertigens em 1,25%, otalgia em 25%, plenitude como a dicção, a mastigação e a deglutição até a complexidade da auricular em 12,5% e dor retroauricular 12,5% dos casos; 1,2 questão psicossocial. 62,5% dos casos foram submetidos a tratamento clínico e cinco, A etiologia da PFP pode ser um importante desafio, uma 1,25% a tratamento cirúrgico. Nos casos ratados clinicamente, vez que a grande maioria dos casos é classificada como Paralisia obteve-se melhora de sete entre nove casos (77,7%) e entre os de Bell ou idiopática. Contudo, além da Paralisia de Bell, existem casos submetidos a tratamentos cirúrgicos de descompressão outras causas de PFP: as traumáticas; as infecciosas, como as ou enxerto, quatro entre cinco casos (80%) tiveram melhora decorrentes de otites médias agudas e crônicas e da infecção por expressiva. Conclusão: foram observados os perfis das vítimas herpes zoster oticus (Síndrome de Ramsay-Hunt); a Síndrome de de Paralisia Facial Traumática, seu diagnóstico e a conduta a ser Möebius e outras causas congênitas; as neoplasias benignas ou tomada nestes casos assim como os resultados do tratamento malignas como as de parótida, o glomus jugular, o colesteatoma e realizado. o neuroma do próprio VII nervo craniano e raramente causas Descritores: paralisia facial; traumatismos craniocerebrais; metabólicas, mais raras, como o diabetes melito, a gravidez, o nervo facial; distribuição por idade; distribuição por sexo. hipertireoidismo e a hipertensão arterial. 2 O trauma é a segunda causa mais frequente e pode ser ABSTRACT subdividido em iatrogênico, pós-traumas crânio-encefálicos Purpose: trauma is the second most common cause of facial (TCE), por ferimentos cortante e/ou contuso da face, por paralysis and can be caused by iatrogenesis, by brain injury, ferimento por projétil de arma de fogo e por trauma de parto.,4 blunt or cut facial injuries or gunshot injuries. Objective: to O nervo facial, diferentemente dos outros pares de nervos associate the cases of traumatic facial paralysis to the cranianos, tem um trajeto intraósseo. Deste modo, do trauma parameters of gender, age, type of accident and results of crânio-encefálico resulta uma secção ou uma compressão nervosa clinical and surgical treatment. Methods: retrospective analysis dentro deste canal pelo edema e, consequentemente, uma of 16 cases of Traumatic Peripheral Facial Paralysis in the isquemia das fibras nervosas. period between 2004 and 2010 in the Conjunto Hospitalar de Sorocaba outpatient clinic. Results: concerning the gender, 81% were male; the group aged between 9 and 60 years; as for Anatomia do Nervo Facial the type of trauma, 56.25% were related to an accident, 25% to O núcleo motor do nervo facial está localizado na ponte. an aggression assault and 19% were iatrogenic. Concerning the Antes de penetrar no meato acústico interno, ele recebe fibras period between the accident and the patient's arrival to the do núcleo salivatório e do trato solitário e penetra o meato clinic, 56.25% of the patients arrived between 7 and 10 days. acústico interno juntamente com o VIII par craniano, o nervo The most frequent symptoms were otorrhagia (56.25%) and vestíbulococlear. Ao final deste canal, as fibras não motoras paraesthesia of paralyzed hemiface (7.5%). Tinnitus and encontram o gânglio geniculado, onde emite o primeiro ramo vertigo were present in 1.25% of the patients, 25% had otalgia, 12.5% had ear fullness and retro auricular pain was present in Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, v. 15, n., p. 68-72, 201 12.5% of patients. Sixty two and a half percent of cases were 1. Acadêmica do curso de Medicina - FCMS/PUC-SP submitted to clinical treatment and 1.25% to surgical 2. Professor do Depto. de Cirurgia - FCMS/PUC-SP treatment. Of those who were clinically treated, 7 out of 9 cases.professor da Faculdade de Engenharia Biomédica - PUC-SP. Recebido em 17/11/2011. Aceito para publicação em 0/1/2012. (77.7%) and, among the patients who underwent surgical Contato: juliasjorge@hotmail.com 68

Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, v. 15, n., p. 68-72, 201 intratemporal, que é o nervo petroso superficial maior, TRATAMENTO responsável pelo lacrimejamento. Esta porção do nervo facial é denominada porção labiríntica. Após emitir este ramo, faz uma A paralisia incompleta tem um prognóstico em geral curva aguda, conhecida como primeiro joelho e, em seguida, favorável e a conduta pode ser expectante. O edema do nervo, atravessa a mastóide pelo Canal de Falópio. Dentro deste canal, o dentro do seu canal ósseo, comprime as fibras nervosas nervo facial atravessa a caixa timpânica, trajeto conhecido como gradativamente e pode levar à degeneração. A administração porção timpânica, onde emite o segundo ramo, o nervo de corticoesteróides, apesar de controvérsias na literatura, é estapediano, responsável pela inervação do músculo estapediano. geralmente recomendada, com a finalidade de minimizar o Em seguida, faz uma pequena curva, conhecida como segundo edema local e a degeneração nervosa. joelho, e desce verticalmente pela mastóide, porção conhecida Com a eletroneuromiografia avalia-se o grau de como vertical ou mastoídea. Pouco antes de sua saída da comprometimento nervoso. Aceita-se que, se a lesão nervosa mastóide, emite o seu terceiro ramo intratemporal, o nervo corda estiver igual a ou acima de 90%, é recomendado que o paciente do tímpano, responsável pela sensibilidade gustativa dos 2/ 6 seja submetido à cirurgia descompressiva ou reconstrutiva. anteriores da língua e pela salivação das glândulas salivares A cirurgia deve ser feita de modo a evitar a degeneração submandibulares. Saindo da mastóide pelo forame Walleriana e o topodiagnóstico é essencial na escolha do acesso estilomastoideo, ele emite seus ramos para a musculatura mímica cirúrgico. A cirurgia de descompressão do nervo facial é realizada 5 da face. quando o paciente apresenta sinais de degeneração. A anastomose é a cirurgia de escolha quando se tem perda de substância do O Trauma do Nervo Facial mesmo e é feita pela junção término-terminal ou pela interposição de um enxerto que é mais comumente extraído dos nervos sural ou Dependendo da extensão da lesão, o nervo facial pode 8,9 auricular posterior. perder parcialmente ou completamente sua função. Se o edema é mínimo, o nervo estará anatomicamente intacto, havendo OBJETIVO somente um bloqueio na sua condução, recuperando rapidamente e completamente sua função, sem sequelas. Conforme o O objetivo deste trabalho é de relacionar os casos de acometimento das fibras no VII nervo aumenta, assim também se paralisia facial traumática aos parâmetros de sexo, idade e tipo de agravam as sequelas. As lesões traumáticas do nervo facial são, acidente. Além disto avaliar os resultados de tratamento clínico e em sua maioria, por fratura do osso temporal com compressão cirúrgico usando a escala de House-Brackmann. (neuropraxia e/ou axioniotmese) ou completa transecção (neurotmese) do nervo facial. Em casos em que o nervo é MÉTODOS parcialmente acometido, o prognóstico é favorável, enquanto que a sua completa transecção exige intervenção cirúrgica para a Os autores realizaram análise retrospectiva dos casos de melhora do quadro de PFP. Deste modo, são fundamentais os Paralisia Facial Periférica Traumática durante o período entre exames de imagem e eletrofisiológicos para pesquisar o grau e a 2004 e 2010, no Setor de Otorrinolaringologia do Ambulatório evolução desta lesão e, assim, fazer a triagem do caso para o de Atendimento Terciário, do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, 4,6 acompanhamento clínico ou para a cirurgia de descompressão. da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC - São As fraturas do osso temporal são, em sua maioria, Paulo. O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de cominutivas e didaticamente são classificadas em duas categorias Ética e Pesquisa da Instituição pelos números CEP 1250/10 e baseadas na localização das linhas principais da fratura em SISNEP 649/10. relação ao eixo da pirâmide petrosa. Deste modo, elas podem ser Foram tabulados os dados relevantes em cada caso de longitudinais ou transversais. Paralisia Facial Periférica Traumática, sendo estes: sexo, idade, As primeiras constituem 80% dos casos, podendo levar à data do acidente, data de chegada ao ambulatório, lado acometido, lesão da membrana timpânica e da cadeia ossicular, porém, por início súbito ou progressivo, presença de hipoacusia e/ou serem paralelas ao nervo facial, causam acometimento do mesmo zumbido; fator causal (acidente, agressão, queda ou iatrogenia); somente em 10% - 25% dos casos. Em relação às transversais, há sintomas (dor, lacrimejamento, parestesia, alteração gustativa, principalmente acometimento da cápsula ótica, levando à perda plenitude auricular, otorreia e otorragia); otoscopia; teste de neurossensorial e vertigem. Apesar dessas últimas ocorrerem em Schirmer, audiometria e tomografia computadorizada. somente 20% das fraturas de osso temporal, são responsáveis por Para avaliar a evolução dos pacientes acometidos e lesão em 8% - 50% dos casos. orientar o tratamento clínico ou cirúrgico foram realizados a 10 eletroneurografia e a escala de House-Brackmann, este na DIAGNÓSTICO chegada do caso ao setor e após o tratamento clínico ou cirúrgico realizado. O especialista deve sempre perguntar por que, onde e Em relação à eletroneurografia foi considerado o quanto da paralisia facial. limite de 90% de fibras lesadas para a decisão do tratamento O por que refere-se à etiologia do processo. clínico ou cirúrgico. O onde corresponde ao topodiagnóstico da lesão, A partir dos dados coletados, foram confeccionadas através dos testes de Schirmer, do reflexo estapediano e da tabelas para a análise de incidência em relação a sexo e idade, tipo gustometria. de trauma, intervalo entre o acidente e a chegada do paciente ao O quanto é medido através dos testes eletrofisiológicos ambulatório do CHS, sintomas paralelos mais frequentes, e da escala de House-Brackmann, adotada pela Academia indicação de tratamento clínico ou cirúrgico e evolução avaliada Americana de Otorrinolaringologia. Por fim, baseado nestes através da classificação de House-Brackmann. 1,2,7 aspectos, faz-se a escolha de tratamento clínico ou cirúrgico. 69

Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba RESULTADOS Em sua maioria, os pacientes com PFP periférica como otalgia em quatro casos (25%), plenitude auricular em traumática eram do sexo masculino: 1 casos (81%). A idade do dois casos (12,5%) e dor retroauricular em dois casos (12,5%) grupo variou de 9 a 60 anos, com uma média de 6 anos. Quanto à (Figura 2). distribuição do tipo de trauma, observamos que nove (56,25%) Dos dezesseis casos estudados, dez casos (62,5%) foram foram por acidente, sendo cinco por acidente automobilístico, três submetidos a tratamento clínico, cinco (1,25%) ao tratamento por queda e um pela queda de um objeto no osso temporal. Os cirúrgico e um caso (6,25%) veio somente à primeira consulta no outros casos foram quatro devido à agressão (25%) e três (19%) ambulatório e não retornou. casos são iatrogênicos (Figura 1). Quanto ao grau das lesões encontrado na primeira Foi observado o período que decorreu entre o acidente e a consulta ambulatorial, de acordo com a classificação de Housechegada do paciente ao ambulatório de Otorrinolaringologia do Brackmann, e com exceção do caso de evasão acima citado, um CHS. Observamos que a maioria dos casos chegaram entre sete e caso (6,66%) foi grau I, um caso (6,66%) foi grau III, cinco dez dias (56,25%), sendo de três casos nos três primeiros dias até (,%) foram grau IV, três (20%) foram grau V e cinco um caso que demorou 0 dias para chegar ao ambulatório. casos (,%) foram grau VI. Os sintomas mais frequentes foram otorragia em nove Na tabela 1 estão relacionados os casos submetidos a casos (56,25%) e parestesia da hemiface paralisada em seis tratamento clínico ou cirúrgico e seus resultados, baseados nos casos (7,5%). Além disso, também foram observados critérios de House-Brackmann (H-B) pré e pós-tratamento. Nas zumbido em cinco casos (1,25%) e vertigem também em cinco figuras e 4, os resultados quantitativos obtidos de acordo com casos (1,25%). Outros sintomas também foram relatados, a classificação de H-B. Tabela 1. Resultados obtidos com as opções de tratamentos sugeridas Figura 1. Ocorrência de paralisa facial periférica traumática em relação aos fatores causais. FAF ferimento por arma de fogo. Figura 2. Sintomas mais prevalentes nos pacientes com Paralisia Facial Periférica Traumática Obs.: figuras em cores estão disponíveis na versão on line desta revista (http://revistas.pucsp.br/rfcms). 70

Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, v. 15, n., p. 68-72, 201 Figura. Evolução dos nove pacientes submetidos a tratamento clínico avaliados pela escala de House-Brackmann (H-B) NÚMERO DE PACIENTES Escala H-B DISCUSSÃO Escala H-B Figura 4. Evolução dos cinco pacientes submetidos a tratamento cirúrgico avaliados pela escala de House-Brackmann (H-B) Obs.: figuras em cores estão disponíveis na versão on line desta revista (http://revistas.pucsp.br/rfcms). A paralisia facial de causa traumática tem fundamental É de grande importância que os casos traumáticos sejam importância devido a sua alta incidência em nosso meio. O nervo atendidos clínica e, principalmente, cirurgicamente o mais rápido facial, pelo fato de ter um longo trajeto intracraniano, favorece possível para que se obtenham resultados mais favoráveis. De lesões que acometem parcial ou totalmente sua função. Os 4 acordo com Bento e outros autores observam-se que os casos traumas podem ser por: fratura do osso temporal, fratura dos ossos operados até as primeiras três semanas após o trauma terão da face, ferimento por arma de fogo, ferimento contuso da face, recuperação melhor, uma vez que as células nervosas mantêm trauma no canal do parto e iatrogênicos. As lesões por trauma de uma capacidade de regeneração funcional satisfatória, sendo que osso temporal são a causa mais frequente de paralisia facial as células musculares permanecem viáveis à reinervação até 18 8 traumática. Raramente seccionam totalmente o nervo, sendo que, meses, mas mesmo passados alguns meses deve-se intervir, pois na maior parte das vezes, o nervo sofre pela compressão da bainha a maioria dos pacientes apresenta melhora. Observamos neste nervosa. Dessas fraturas, o acometimento longitudinal do levantamento que a maioria dos casos chegaram entre sete e dez temporal tem uma incidência bem maior e melhor prognóstico dias (56,25%), possibilitando o pronto atendimento. comparado com as fraturas transversa ou cominutivas. Já as Quanto aos sintomas apresentados além da paralisia, lesões originadas de ferimento por arma de fogo mais são os evidentemente esperados decorrentes do trauma do osso frequentemente lesam os nervo na sua totalidade; essa causa tem temporal e de seu nobre conteúdo, as orelhas média e interna. incrementado muito as estatísticas, principalmente devido aos Daí as otorragias, otalgias, zumbidos, vertigens e plenitude 11,12 casos de agressão e tentativas de suicídio. auricular. 1 Schiatkin e May, apresentam 2% de causas Para a decisão entre recorrer-se ao tratamento clínico ou 2 traumáticas, Rodrigues et al. apresentam 7,8% dos casos de cirúrgico, utilizamos os critérios clínicos de diagnóstico, como sua casuística. Pinna et al., num estudo com 82 pacientes a audiometria, o reflexo estapediano, os testes de Hilger e, descrevem dois casos de origem iatrogênica. principalmente, a eletroneurografia, aplicados assim que o A incidência de PFP traumática em relação a todas as 1,2 paciente deu entrada no serviço. A maioria dos casos (62,5%) foi outras causas de PFP neste estudo apresentou-se de acordo com a tratada clinicamente, pois apresentavam prognóstico favorável de 1,,4,11 literatura como a segunda causa mais frequente, ocorrendo acordo com esses exames. em 20% do total de casos de PFP. Observa-se ainda que a grande 10 Foi utilizada a classificação de House-Brackmann maioria (81%) dos casos pertence ao sexo masculino, como para a avaliação pré e pós-operatória e observou-se que dos mostra toda a literatura, talvez por expor-se mais a situações de casos ratados clinicamente, obteve-se melhora de sete entre risco que as mulheres, principalmente a agressões, ferimentos por nove casos (77,7%), e entre os casos submetidos a tratamentos arma de fogo e acidentes automobilísticos. cirúrgicos de descompressão ou enxerto, quatro entre cinco Mesmo com uma grande variação de idade entre os casos (80%) tiveram melhora expressiva. pacientes estudados (9 a 60 anos), a maioria encontra-se na faixa de idade economicamente ativa, o que acarreta em grande CONCLUSÃO prejuízo para a sociedade e pessoalmente interfere nas atividades de vida diária, comprometendo o trabalho e, Foram observados os perfis das vítimas de Paralisia consequentemente, sua renda familiar. Facial Traumática, seu diagnóstico e a conduta a ser tomada 71

Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba nesses casos assim como os resultados do tratamento realizado. 6. Danner CJ. Facial nerve paralysis. Otolaryngol Clin N Am. Nesta série, os resultados têm se mostrado satisfatório, com a 2008;41:619-2. recuperação funcional e estética da maioria dos pacientes. 7. Cardoso HR. Parálisis facial periférica. Rev Med Clin Condes. 2009;20(4):528-5. 8. Rapaport PB, Marque FP, Corrêa MA. Paralisia facial: REFERÊNCIAS resultados cirúrgicos de 19 pacientes. Arq Int Otorrinolaringol. 2000;4(1). 1. Jorge Jr JJ, Boldorini PR. Paralisia facial periférica. Rev Fac 9. Lazarini PR. Tratamento da paralisia facial periférica pós- Ciênc Méd Sorocaba. 2005; 7(2):9-14. trauma craniocerebral. Acta ORL Téc Otorrinolaringol. 2. Rodrigues REC, Ceccato SB, Rezende CEB, Garcia RID, Costa 2005;2():6-1. KS, Campilongo M, Rapoport PB. Paralisia facial periférica: 10. House JW, Brackmann DE. Facial nerve grading system. análise de 8 casos. Arq Méd ABC. 2002; 27(2):62-6. Otolaryngol Head Neck Surg. 1985;9:146-7.. Pinna BR, Testa JRG, Fukuda Y. Estudo de paralisias faciais 11. Atolini Jr N, Jorge Jr JJ, Gignon VF, Kitice AT, Prado LSA, traumáticas: análise de casos clínicos e cirúrgicos. Rev Bras Santos VGW. Paralisia facial periférica: incidência das várias Otorrinolaringol. 2004;70(4):479-82. etiologias num ambulatório de atendimento terciário. Arq Int 4. Bento RF, Salomone R, Brito Neto R, Tsuji RK, Hausen M. Otorrinolaringol. 2009;1(2):167-71. Lesões parciais no segmento intratemporal do nervo facial. 12. Baumann BM, Jarecki J. Posttraumatic delayed facial nerve Enxerto total ou reconstrução parcial? Arq Int Otorrinolaringol. palsy. Am J Emerg Med. 2008;26:115.e1-115.e2. 2007;11(4):459-64. 1. Schiatkin B, May M. Disorders of the facial nerve. In: 5. Moore KL, Dalley II AF. Anatomia orientada para clínica. 4ª ed. Kerr AG, Booth JB. Scott-Brown's otolaryngology. 6th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 979-80. Oxford: Butterworth-Heinemann; 1997. v., p.1-8. 72