DECISÃO JR Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil Nº PROCESSO ADMINISTRATIVO: 60840.000274/2007-13 Nº AI/NI: 167/SAC-SP/2006 Nº PROC.: 622.736/10-8 NOME DO INTERESSADO: TAM LINHAS AÉREAS S/A Nº ISR/RO PASSAGEIRO: 688/SAC-SP/06 Solange Saadi Ortiz RELATOR: Renata de Albuquerque de Azevedo Matrícula 1766164 RELATÓRIO Trata-se de recurso interposto pela TAM LINHAS AÉREAS S/A, face à decisão de primeira instância, proferida no Processo Administrativo nº 60840.000274/2007-13, originado do AI nº 167/SAC-SP/2006, lavrado em 14/12/2006 (fls. 03), em decorrência de reclamação efetuada por meio do ISR nº 688/SAC-SP/06, em 12/09/2006 pela passageira Solange Saadi Ortiz (fls. 01). A infração foi enquadrada na alínea l do inciso III e alínea b do inciso II do art. 302 do CBA - Código Brasileiro de Aeronáutica (fls. 03), devido à Empresa ter deixado de fornecer as informações solicitadas formalmente pela fiscalização da ANAC, por meio de carta S/Nº/SAC/SP de cópia do ISR nº 688/SAC-SP/06, de 14/09/2006 (fls. 02), dificultando a ação da fiscalização, assim como, a elucidação dos fatos que geraram o referido ISR. Após reclamação da passageira (fls. 01), a fiscalização desta ANAC, formalmente, solicita informações à Empresa, através de carta datada de 14/09/2006 (fls. 02). Regularmente notificada, a Empresa autuada não apresentou defesa, conforme despacho de 28/09/2009 (fls. 04), devendo o processo ser analisado a revelia. Em decisão motivada de primeira instância (fls. 05 e 06), após apontar a ausência de defesa, foi confirmado o ato infracional, enquadrando a infração na alínea l do inciso III do art. 302 do CBA, e aplicando, sem agravante e/ou atenuante, a multa no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). Notificada a empresa em 20/01/2010 (fls. 07). Em grau recursal (fls. 08 e 09), por meio da carta SAOTD01.050/2010 - WCA, de 28/01/2010, a Empresa requer efeito suspensivo e anulação total da decisão administrativa, onde menciona que concentrou esforços para reduzir tais ocorrências por estar preocupada em oferecer serviços de qualidade aos usuários, e refere-se, genericamente, à Portaria nº. 676/GC-5, de 13/11/2000, à IAC 2203-0399, bem como, ao Termo de Compromisso firmado entre as Empresas aéreas e o Ministério Público de São Paulo. Adicionalmente, a Empresa reitera as informações e documentos comprobatórios apresentados por meio da carta de contestação nº SAOTT. 034/2007, de 03/01/2007, a qual não está presente no referido processo. Relata, ainda, que foram disponibilizadas todas as facilidades previstas, sendo que o passageiro optou por ser acomodado em próximo voo imediatamente disponível da congênere GOL voo G3 1954. Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 1 de 6
RELATÓRIO Conforme despacho de 11/05/2010, foi certificado que o recurso interposto pelo interessado é tempestivo e seguiu para julgamento pela Junta Recursal (fls. 10). É o Relatório. VOTO DO RELATOR ASSUNTO: Informação à fiscalização alínea l do inciso III do art. 302 do CBA Recurso interposto tempestivamente, conforme despacho de fls. 10. Diante da infração do processo administrativo em questão, a autuação foi realizada com fundamento na alínea l do inciso III do art. 302 do CBA, Lei nº 7.565, de 19/12/1986, que dispõe o seguinte: Art. 302. A multa será aplicada pela prática das seguintes infrações: (...) III infrações imputáveis à concessionária ou permissionária de serviços aéreos: (...) l) recusar a exibição de documento, ficha ou informação sobre seus serviços, quando solicitados pelos agentes da fiscalização aeronáutica; Conforme autos, a Empresa deixou efetivamente de fornecer as informações à fiscalização. Prestar as informações quando solicitadas pela fiscalização representa um dever da empresa que viabiliza o exercício do poder de polícia pela autoridade e que, portanto, não admite possa ser dispensado. Dessa forma, o fato exposto se enquadra ao descrito no referido dispositivo. Com efeito, atributo do poder de polícia é a imperatividade, que consiste em sua força coercitiva. Assim, não pode o particular eximir-se de cumprir as determinações do Poder Público, sob pena da Fiscalização curvar-se aos interesses das empresas aéreas de prestar ou não obediência às imposições do Poder Público, em grave prejuízo à atividade regulatória. A carta encaminhada à empresa aérea, para que sejam prestadas as informações pertinentes, em resposta à reclamação formalizada pelo usuário, propicia a apuração do ocorrido e do eventual ilícito praticado. Assim, o concessionário de serviço público, enquanto um agente do Estado, no exercício de função pública não pode furtar-se ao dever de auxiliar na apuração dos fatos e na busca da verdade. Vale registrar que não se trata apenas de um dever enquanto concessionário, mas também enquanto parte no processo administrativo. Nesse sentido, cabe destacar o art. 4º da Lei 9.784/99, conforme redação que segue: Art. 4 o São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: I - expor os fatos conforme a verdade; II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; III - não agir de modo temerário; IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos. (grifo nosso) Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 2 de 6
VOTO DO RELATOR Finalmente, a recusa em atender ao solicitado pela fiscalização desmerece a atuação do fiscal, compromete a perquirição da verdade e prejudica a prestação do serviço público como um todo. Por fim, cabe ressaltar que o Código Brasileiro de Aeronáutica dispõe, em seu art. 295 que a multa será imposta de acordo com a gravidade da infração. Nesse sentido, a Resolução nº 25/2008, que dispõe sobre o processo administrativo para a apuração de infrações e aplicação de penalidades no âmbito da competência da Agência Nacional de Aviação Civil determina em seu art. 22 que sejam consideradas as circunstâncias agravantes e atenuantes na imposição da penalidade pecuniária. Quanto às questões de fato No processo administrativo em questão, a passageira fez a reclamação por meio de ISR (fls. 01) e a fiscalização desta ANAC solicitou informações à Empresa para esclarecimento dos fatos (fls. 02). Contudo, a Empresa deixou de prestar as informações solicitadas. Dessa forma, de fato, houve a comprovação do ato infracional, infringindo a legislação vigente, ficando, assim, a empresa sujeita a aplicação de sanção administrativa. Quanto às alegações da Empresa No entanto, a Empresa aduz, em sede recursal, que concentrou todos os esforços para reduzir tais ocorrências, reiterando as informações prestadas por meio da carta de contestação SAOTT. 034/2007, a qual não se encontra anexada aos autos. Relata, ainda, que foram fornecidas as facilidades previstas em legislação e que o passageiro Sr. Roger optou ser acomodado em voo da congênere GOL G3 1954 (fls. 08 e 09). Cabe ressaltar que, as informações quanto ao nome do passageiro apresentado em recurso pela Empresa (Sr. Roger Cangianeli) é divergente do descrito nos autos, como o ISR (fls. 01) e decisão de primeira instância (fls. 05 e 06). Adicionalmente, observa-se que a Empresa, em grau recursal, não se reporta ao objeto da autuação, limitando-se a prestar informações sobre o sobre o ocorrido com o voo e ao fornecimento de facilidades, deixando, assim, de contrapor as alegações da fiscalização. Ao deixar de prestar informações à ANAC, este órgão regulador deixa de processar o ato infracional da maneira adequada, comprometendo a ação fiscal ferramenta da ação regulatória. Nesse sentido, inclusive a orientação desta Junta Recursal no Enunciado nº 07/JR/ANAC/2009, aprovado na 24ª Sessão de Julgamento, em 25/06/2009, conforme redação que segue: ENUNCIADO Nº 07/JR/ANAC 2009 TÍTULO: Requerimento de informação pela fiscalização. ENUNCIADO: A pessoa, física ou jurídica, no exercício de atividade regulada por este órgão ou desde que no interesse da atividade aérea, deverá, quando diante de requerimento da fiscalização desta ANAC, fornecer todas as informações necessárias, salvo as protegidas por lei ou as dispensadas após motivação do interessado. O descumprimento, nos termos e no prazo estipulados no requerimento, poderá ensejar em instauração de processo administrativo sancionador independente. Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 3 de 6
VOTO DO RELATOR Ademais, a Lei n 9784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, em seu art. 36, dispõe a redação que segue: Art. 36 Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. Desta forma, as alegações da Empresa se limitam apenas na defesa quanto ao ocorrido com o voo, contudo, sem se ater para o fato de que foi autuada devido a não prestação das informações solicitadas por nossa fiscalização, deixando, assim, de apresentar qualquer excludente de sua responsabilidade, não podendo, então, afastar a aplicação da sanção administrativa nem tão mesmo para atenuação da pena quanto ao ato infracional praticado. Quanto ao enquadramento da infração e valor da multa aplicada Pelo exposto, houve, de fato, violação à legislação que regula o contrato de transporte aéreo, com a prática de infração prevista na alínea l do inciso III do art. 302 do CBA. Nesse contexto, é válido observar que o valor da multa imposta pela autoridade competente R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), foi fixada dentro dos limites previstos na norma vigente à época do fato (IAC 012-1001) e de acordo com o valor médio previsto no Anexo II da Resolução nº 25/2008, o qual, conforme disposto no art. 57 1 da Instrução Normativa ANAC n 08/2008, é utilizado justamente nos casos em que não existem agravantes, nem atenuantes, ou quando estas se compensam. Dessa forma, considerando a inexistência de circunstâncias agravantes e/ou atenuantes, a multa deve ser mantida em seu grau médio, no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). Voto Dessa forma, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso, mantendo, assim, o valor da multa aplicada pela decisão de primeira instância administrativa no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). É como voto. Rio de Janeiro, 08 de junho de 2010. RENATA DE ALBUQUERQUE DE AZEVEDO Membro da Junta Recursal da ANAC Matrícula 1766164 1 Art. 57. A penalidade de multa será calculada a partir do valor intermediário constantes das tabelas aprovadas em anexo à Resolução n 25. Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 4 de 6
Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil CERTIDÃO DE JULGAMENTO JR AUTUAÇÃO Nº PROCESSO ADMINISTRATIVO: 60840.000274/2007-13 Nº AI/NI: 167/SAC-SP/2006 Nº PROC.: 622.736/10-8 NOME DO INTERESSADO: TAM LINHAS AÉREAS S/A Nº ISR/RO PASSAGEIRO: 688/SAC-SP/06 Solange Saadi Ortiz RELATOR: Renata de Albuquerque de Azevedo Matrícula 1766164 PRESIDENTE DA SESSÃO: ÂNGELA ONZI RIZZI Matrícula 158508-8 ASSUNTO: Informação à fiscalização alínea l do inciso III do art. 302 do CBA CERTIDÃO Certifico que a Junta Recursal da AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL ANAC, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Junta, por unanimidade, negou provimento ao recurso, mantendo a multa aplicada pela decisão de primeira instância administrativa, nos termos do voto do Relator. O Membro Julgador, Sergio Luís Pereira Santos, e a Presidente da Junta Recursal, Ângela Onzi Rizzi, votaram com o Relator. Rio de Janeiro, 08 de junho de 2010. ÂNGELA ONZI RIZZI PRESIDENTE DA JUNTA RECURSAL Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 5 de 6
DESPACHO JR Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil Nº PROCESSO ADMINISTRATIVO: 60840.000274/2007-13 Nº AI/NI: 167/SAC-SP/2006 Nº PROC.: 622.736/10-8 NOME DO INTERESSADO: TAM LINHAS AÉREAS S/A Nº ISR/RO PASSAGEIRO: 688/SAC-SP/06 Solange Saadi Ortiz Encaminhe-se à Secretaria da Junta Recursal para as providências de praxe. Rio de Janeiro, 08 de junho de 2010. ÂNGELA ONZI RIZZI PRESIDENTE DA JUNTA RECURSAL Proc. Adm. nº 60840.000274/2007-13 Proc. nº 622.736/10-8 RAA Página 6 de 6