Retirada da ISAF do Afeganistão e Implicaçoes para o Paquistão e Região



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Transcrição:

Maj Inf MUHAMMAD ZIA KHAN Retirada da ISAF do Afeganistão e Implicaçoes para o Paquistão e Região Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: Ten Cel Com Felipe Drumond Moraes Rio de Janeiro 2014

Maj Inf MUHAMMAD ZIA KHAN Retirada da ISAF do Afeganistão e Implicaçoes para o Paquistão e Região Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em / / COMISSÃO AVALIADORA TC FELIPE DRUMOND MORAES - PRESIDENTE Escola de Comando e Estado-Maior do Exército TC FLÁVIO ROBERTO BEZERRA MORGADO - MEMBRO Escola de Comando e Estado-Maior do Exército TC JULIO CESAR TOLEDO SOUSA DE ALMEIDA - MEMBRO Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

À minha família. A homenagem pelo carinho, compreensão e apoio demonstrados durante a realização deste trabalho.

Z64 Zia Khan, Muhammad Retirada da ISAF do Afeganistão e implicações para o Paquistão e região / Muhammad Zia Khan 2014. 57f. : 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014. Bibliografia: f. 54-57. 1. Isaf - Afeganistão. 2. Paquistão. I. Título. CDD 355.0581

AGRADECIMENTOS Ao TC Felipe Drumond meus sinceros agradecimentos por todas as orientações prestadas, que muito contribuíram para a realização desta pesquisa. Ao Brigadeiro Anwaar Ahmad, do Exército do Paquistão, a grata satisfação pelo apoio na transmissão de conhecimentos, imprescindíveis à elaboração deste trabalho. Ao TC Atif Rafique, do Exército do Paquistão, pelo suporte prestado na aplicação dos questionários, os quais colaboraram de maneira positiva para a conclusão deste estudo. A todos os oficiais integrantes da Seção de Pós-graduação da ECEME, que transmitiram importantes conhecimentos que muito contribuíram na realização desta monografia. A meus familiares meus sinceros agradecimentos por tudo.

RESUME Pakistan is located in a region of geo-strategic importance. On one side it has neighbours like China, India and Iran, which are regional powers with big economies with two of them nuclear powers and on the other hand it has country like Afghanistan to its West, which is war torn, ridden with conflicts and the play ground of major powers almost through the entire length of its history. On one side the presence of trans-national forces in Afghanistan generates a great conflict in its neighbourhood and on the other hand, various insurgent groups with their strength and base in Afghanistan harnessed by elements hostile to Pakistan are threatening the very existence of Pakistan. The security dilemma of Pakistan has never been that acute. Following the invasion of the Afghanistan by the US and its allies, Pakistan Army for the first time entered in its Tribal Areas (FATA) in 2002, which then turned into a battle field as a result of the skirmishes with the elements of the Talibans withdrawing from Afghanistan. Over a period of time, the elements hostile to Pakistan in Afghanistan turned these skirmishes into a full fledged insurgency by the creation of the TTP (Tehreek-e-Taliban Pakistan) in 2007. This insurgency has proven to be a stumbling block to the progress and stability of Pakistan, with the economy loosing to around 96 Billion US Dollars according to conservative estimates, killing of around 60,000 of its citizens in terrorist related incidents (including around 15,000 personnel from Law Enforcement Agencies) and enormous damage to the infra-structure. The prevailing situation in Afghanistan has become a subject of vital importance for the security, stability and well being of Pakistan. US and its allies having stayed in Afghanistan for around 13 years are now tired off the fighting and want to pull out of the región, mainly due to the heavy cost of the fighting, with no end to fighting in sight and adverse public opinion. In the absence of a stable government and reliable security mechanism in Afghanistan, the situation is likely to aggravate creating implications for the region especially Pakistan, which shares longest border with it. It is in this backdrop that this study has been carried out to determine the implications of the withdrawal of the ISAF from Afghanistan for the region in general and Pakistan in specific with a view to draw suitable conclusions and suggest a suitable course of action for the main players especially the United States and Pakistan. The study covers the brief history of the Afghanistan with events leading to the rise of the Talibans and their subsequent overthrow by the United States and its allies, main reasons for the failure of the allies in putting the Afghan Society on the path of progress and order, likely implications from the withdrawal of the ISAF and the recommendations for preventing the country sliding back into anarchy.

RESUMO O Paquistão está localizado em uma região de importância geoestratégica. De um lado, tem vizinhos como China, Índia e Irã, que são potências regionais com grandes economias, sendo dois deles potências nucleares e, por outro lado, tem país como o Afeganistão, a oeste, que está devastado pela guerra, dedruçado em conflitos e de recreio das grandes potências durante quase toda a extensão de sua história. De um lado, a presença de forças transnacionais no Afeganistão gera um grande conflito na sua vizinhança e, por outro lado, vários grupos insurgentes, com a sua força e base no Afeganistão, com elementos hostis ao Paquistão, ameaçando a própria existência do Paquistão. O dilema de segurança do Paquistão nunca foi tão agudo. Depois da invasão do Afeganistão pelos os EUA e seus aliados, o Exército do Paquistão pela primeira vez entrou em suas áreas tribais (FATA), em 2002. Esta área depois se transformou em um campo de batalha, como resultado das escaramuças com os elementos dos Talibãs, oriundos do Afeganistão. Durante um período de tempo, os elementos hostis ao Paquistão no Afeganistão transformaram essas escaramuças em uma insurgência estruturada através da criação do TTP (Tehreek-e-Talibã Paquistão), em 2007. Este insurgência tem provado ser um obstáculo para o progresso e estabilidade do Paquistão, cuja perda econômica foi de cerca de 96 bilhões de dólares até agora, segundo estimativas conservadoras e que matou cerca de 60 mil habitantes, em incidentes relacionados ao terrorismo (incluindo cerca de 15.000 funcionários das forças de segurança), além de ter causado enormes danos à infraestrutura. A situação no Afeganistão tornou-se num assunto de importância vital para a segurança, a estabilidade e o bem-estar do Paquistão. Os EUA e seus aliados permanecem no Afeganistão há cerca de 13 anos e estão cansados com a luta. Querem sair da região, principalmente devido ao alto custo de conflito, sem previsos de acabar e à opinião pública adversa. Na ausência de um governo estável e de um confiável mecanismo de segurança no Afeganistão, a situação é susceptível de agravar e criar mais implicações para a região, especialmente o Paquistão, que compartilha maior fronteira com ele. É neste contexto que o presente estudo foi realizado, para determinar as implicações da retirada da International Security Assistance Force (ISAF) do Afeganistão para a região, em geral, e o Paquistão, em específico, com vista a tirar conclusões adequadas e sugerir um curso adequado de ação para aos principais envolvidos, especialmente os EUA e o Paquistão. O estudo abrange a breve história do Afeganistão, com eventos que levaram à ascensão dos Talibãs e sua posterior derrubada pelos os EUA e seus aliados, as principais razões para o fracasso dos aliados em colocar a sociedade Afegã no caminho do progresso e da ordem, prováveis implicações da retirada da ISAF e as recomendações para evitar que o país volte para a anarquia.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 1 1.1 PROBLEMA.. 2 1.2 OBJETIVOS... 3 1.2.1 Objetivo Geral... 3 1.2.2 Objetivos Específicos... 3 1.3 HIPÓTESE... 3 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO... 4 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO... 4 2 METODOLOGIA... 4 2.1 TIPOS DE PESQUISA... 5 2.2 COLETA DE DADOS... 5 2.3 TRATAMENTO DE DADOS... 5 2.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO... 5 3 PERSPECTIVA HISTÓRICA E OPERAÇÃO ENDURING FREEDOM... 3.1 BREVE HISTÓRIA... 6 6 3.1.1 SÉCULO 19 - THE GREAT GAME... 6 3.1.2 REVOLUÇÃO SAUR E A INVASÃO SOVIÉTICA... 6 3.1.3 RETIRADA DA UNIÃO SOVIÉTICA E DISPUTAS INTERNAS... 7 3.1.4 GOVERNO DOS TALIBÃS... 7 3.1.5 LIGAÇÃO ENTRE A AL QAEDA E O TALIBÃ... 7

3.1.6 O AMBIENTE LEVANDO À OPERATION ENDURING FREEDOM... 8 3.2 OPERAÇÃO ENDURING FREEDOM... 9 3.2.1 GERAL... 9 3.2.2 OBJETIVOS... 9 3.2.3 ACORDO DE BONN... 9 3.2.4 MISSÃO DA ISAF... 10 3.2.5 EXPANSÃO DA ISAF... 10 3.3 RESURGIMENTO DOS TALIBÃS... 10 3.3.1 REORGANIZAÇÃO... 10 3.3.2 RESURGIMENTO... 10 3.3.3 PASHTUNS DESENCANTADOS... 11 3.3.4 RESISTÊNCIA ENCORAJADA... 11 3.3.5 MUDANÇA DE FOCO PARA O IRAQUE... 11 3.3.6 REVISÃO DOS OBJETIVOS SOB A PRESIDÊNCIA DE OBAMA... 11 3.4 A RETIRADA... 11 3.4.1 LISBON SUMMIT- 2010... 11 3.4.2 CHICAGO SUMMIT- 2012... 12 3.4.3 CONFERÊNCIA DO TÓQUIO... 12 3.4.4 CALENDÁRIO PARA A TRANSIÇÃO DE SEGURANÇA... 12 3.4.5 O ESTADO ATUAL... 13 4 AMBIENTES PÓS RETIRADA NO AFEGANISTÃO... 14 4.1 GERAL... 14

4.2 DINÂMICA INTERNA DO AFEGANISTÃO... 14 4.2.1 REALIDADES GEOGRÁFICAS, ÉTNICAS E DEMOGRÁFICAS... 14 4.2.2 GOVERNANÇA NO AFEGANISTÃO... 15 4.2.3 CONDIÇÕES ECONÔMICAS... 16 4.2.4 SEGURANÇA MEIO AMBIENTE... 18 4.3 INTERESSES DOS ATORES EXTERNOS... 21 4.3.1 EUA... 22 4.3.2 PAQUISTÃO... 23 4.3.3 ÍNDIA... 24 4.3.4 IRÃ... 25 4.3.5 ARÁBIA SAUDITA... 25 4.3.6 CHINA... 25 4.3.7 REPÚBLICAS DA ÁSIA CENTRAL... 26 4.3.8 RÚSSIA... 26 4.3.9 EUROPA... 27 5 CENÁRIOS E IMPLICAÇÕES... 28 5.1 PRINCIPAIS ATORES MOLDANDO OS CENÁRIOS FUTUROS... 28 5.1.1 GERAL... 28 5.1.2 AS NEGOCIAÇÕES DE PAZ... 28 5.1.3 ELEIÇÕES AFEGÃS... 29 5.1.4 LÍDER PÓS-KARZAI... 29 5.1.5 GESTÃO ECONÔMICA... 30 5.1.6 SISTEMA DE GOVERNANÇA... 30 5.1.7 REAÇÃO DOS TALIBÃS... 30

5.1.8 ACEITAÇÃO REGIONAL / INTERNACIONAL... 30 5.1.9 CAPACIDADE DA ANSF... 30 5.2 CENÁRIOS PROVÁVEIS E IMPLICAÇÕES... 31 5.2.1 CENÁRIO 1 (GOVERNO DE BASE AMPLA - ESTABILIDADE RELATIVA)... 31 5.2.2 CENÁRIO 2 (CONTROLE TALIBÃ)... 32 5.2.3 CENÁRIO 3 (GUERRA CIVIL)... 33 5.2.4 CENÁRIO 4 (DIVISÃO)... 35 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES... 36 6.1 CONCLUSÕES... 36 6.2 RECOMENDAÇÕES... 37 6.2.1 EUA... 37 6.2.2 PAQUISTÃO... 39 7 CONCLUSÃO... 42 REFERÊNCIAS... 43

1 1. INTRODUÇÃO O Afeganistão tem uma história traiçoeira e seu futuro não é previsível. O País tem uma história de um elevado grau de descentralização e resistência à invasão e ocupação estrangeira. Sua história está repleta de guerras e outros conflitos violentos, inclusive recentemente,com mais de três décadas de ocupação estrangeira, guerra civil, e uma insurgência, desde 1978. Mais de 11 anos depois de iniciada, a tragédia da guerra Americana no Afeganistão tem-se revelado extremamente irrelevante para a vida do povo Afegão e para as tropas americanas. Os EUA têm lutado a sua própria guerra, em defesa de uma forma de governo, e de um conjunto de funcionários do governo, há muito desacreditada, que os Afegãos comuns nunca teriam escolhido, por vontade própria e que não têm poder de substituir. A ajuda tem fornecido muito do progresso desde 2001, inclusive em serviços essenciais, infraestrutura e administração do governo, mas também tem sido relacionada com a corrupção, a baixa eficácia da ajuda e uma governança enfraquecida. A incerteza e a insegurança política poderiam minar a transição e o desenvolvimento do Afeganistão. A experiência internacional demonstra que a violência e, especialmente, a insurgência interna prolongada são extremamente prejudiciais para o desenvolvimento, e que a estabilidade política e a consolidação são ingredientes-chave da transição para um desenvolvimento pacífico. Isto destaca a importância de se chegar a uma solução pacífica para a insurgência do Talibã e a necessidade de consolidação política. O sucesso no Afeganistão não está, e não pode ser alcançado, através da derrota militar dos Talibãs. Encontra-se na construção da alternativa positiva viável. A questão não está em quando as tropas desocuparão o Afeganistão, mas em que condições e estado, estão deixando o país, que foi governado pelos EUA por mais de uma década? Qual é o futuro do Afeganistão sitiado e quais são as perspectivas futuras para o país vizinho, o Paquistão? Qual é o papel que o Paquistão pode desempenhar na transição suave de poder dos EUA e seus aliados para o povo Afegão? As últimas três décadas de combates no Afeganistão tiveram um sério efeito sobre o Paquistão, prejudicando sua economia e a situação de lei e da ordem. Se o Afeganistão desestabilizar, o Paquistão vai sofrir e vice-versa. Assim, é de

2 maior interesse do Paquistão que haja a paz, o progresso e a estabilidade no Afeganistão. 1.1 PROBLEMA Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos mudaram a percepção de segurança no mundo. A primeira região afetada pelo resultado destes ataques foi o Afeganistão, que enfrentou a ataque dos Estados Unidos e seus aliados, tendo falhado em extraditar Osama Bin Laden para os EUA (responsável pelas ataques de 11/9 nos EUA). Os pensadores e os planejadores da invasão do Afeganistão em 2001 não pensaram nas repercussões futuras de sua ação, expulsando o governo Talibã no Afeganistão. Em uma série de erros que a coalizão cometeu nos anos seguintes, implantou o governo mais corrupto que já existia no país, mantendo-o apoiado durante os últimos 13 anos. Isto resultou em aumento no ódio entre a população para o governo afegão em geral, e para os EUA e seus aliados em particular, resultando em refortalecimento dos Talibãs e de outros grupos. A região localizada no entorno do Afeganistão sofreu como um todo, devido à deterioração da situação de segurança naquele país. Compartilhando a mais longa fronteira com o Afeganistão, o Paquistão recebeu a maior parte do problema. As suas áreas tribais, entre a fronteira com o Afeganistão, tornaram-se o centro de combates entre o Exército do Paquistão e os Talibãs e outros elementos, oriundos do Afeganistão. A situação se agravou ainda mais com a criação do TTP(Tehreek-e- Talibã) em suas áreas tribais, financiados e treinados principalmente, pelos elementos hostis ao Paquistão no Afeganistão. A insurgência que se seguiu resultou na morte de milhares de cidadãos e sérios danos à economia e à infraestrutura. Cansados com a guerra no Afeganistão, os EUA e seus aliados estão se preparando para deixar o país nas mãos de órgãos da administração e forças de segurança altamente impopulares e corruptas, cuja capacidade real está a ser determinada ainda. Qualquer situação futura no Afeganistão afetaria toda a região. É neste cenário que há uma necessidade de se estudar as implicações da retirada da ISAF do Afeganistão e as várias medidas para evitar o resultado negativo.

3 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Analisar a retirada da ISAF e das forças dos EUA do Afeganistão, as suas implicações para o Paquistão e para a estabilidade regional mais ampla, com vista a recomendar medidas adequadas para o Paquistão e para os EUA. 1.2.2 Objetivos Específicos - Analisar perspectiva histórica e a Operação Enduring Freedom. - Analisar os ambientes pós retirada da ISAF do Afeganistão. - Analisar os cenários e implicações. - Apresentar recomendações de medidas adequadas para solucionar o problema. 1.3 HIPÓTESE A situação no Afeganistão é volátil e tem o potencial de afetar toda a região, como já o fez no passado. Todos os países vizinhos têm as suas apostas sobre o possível resultado da retirada da ISAF. A partir do Oriente, a China tem o problema da militância islâmica em suas áreas adjacentes ao Afeganistão, que ganhariam impulso se o Afeganistão desestabilizasse. Da mesma forma, os Estados da Ásia Central, no Norte, que também têm problemas de militância islâmica. O Irã a oeste do Afeganistão, não é uma exceção, pois tem problema da militância islâmica sunita, em áreas de fronteira, que tem seus refúgios no Afeganistão. O Paquistão, a sudeste do Afeganistão, compartilha a mais longa fronteira desse país. Nessa fronteira, há pashtuns que vivem em ambos os lados. Nessas áreas, em território paquistanês, comumente conhecidas como Áreas Tribais sob Administração Federal (FATA), têm o problema da insurgência Talibã, que está tentando expandir para outras áreas habitadas e tem o potencial de ameaçar a existência do país. Estes elementos do Talibã têm uma fonte constante de reforço no Afeganistão. Se a situação pós ISAF no Afeganistão continuar caótica, a insurgência nas FATA provávelmente, ganharia mais força. Mantendo estes aspectos em mente, o estudo baseia-se na hipótese de que a estabilidade pós ISAF no Afeganistão é do interesse de todo o mundo em geral e dos seus vizinhos em particular, e todos os esforços possíveis devem ser

4 assegurados por todos os stakeholders para estabilizar o Afeganistão e evita a volta da guerra civil da década passada. 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Esta pesquisa concentra-se principalmente sobre a história do Afeganistão e as várias razões geoestratégicas e étnicas que levaram ao atual estado de coisas no país. Além disso, um esforço foi feito no estudo para identificar os erros cometidos pelas forças de coalizão no país, o que resultou no estado atual, apesar dos gastos de centenas de bilhões de dólares. O estudo das consequências tem sido geralmente limitada à região, embora a instabilidade continuada tenha o potencial de afetar o mundo inteiro, caso o foco da Al-Qaeda volte para a região e se o comércio de ópio continuar a florescer. No entanto, devido à limitação de espaço, este aspecto não foi coberto em detalhe e é dado apenas um toque superficial no estudo. As recomendações do estudo também são mantidas restritas aos principais atores no país, especialmente o Paquistão e os EUA. 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO No norte do Afeganistão estão localizadas as ricas repúblicas da Ásia Central e no oeste, está localizado o rico, mas conflituoso, Oriente Médio. A China, localizada no oriente, e o Paquistão e a Índia, para o sudeste, também são países de importância geoestratégica. A sua localização central nesta área de importância geoestratégica faz com que seja relevante, para o mundo inteiro, e sua estabilidade também tem resultado global. Estando localizado em tal região, o mundo inteiro tem os olhos sobre o Afeganistão. É neste contexto que considera-se que este estudo é muito importante para saber as formas e os meios para trazer o Afeganistão no caminho da paz e a estabilidade e, finalmente, para o caminho da prosperidade; onde o Afeganistão desempenha o seu papel positivo como um ator regional responsável, negando sanctuários a Al-Qaeda e conter a produção de ópio, que hoje em dia contribui com cerca de oitenta por cento da produção mundial de ópio. 2. METODOLOGIA De acordo com o previsto em Neves, Domingues (2007, p. 64), a presente pesquisa utilizou o Método Dedutivo. Haja vista que o estudo partiu de premissas

5 gerais para se chegar a uma particular, com o objetivo de se comprovar a hipótese apresentada. 2.1 TIPOS DE PESQUISA O tipo de pesquisa realizada foi descritiva. Além do uso extensivo da internet como fonte de informação, vários livros de autores bem conhecidos, com profundo conhecimento do assunto, foram consultados durante a pesquisa, para formar a base do argumento para a resolução do problema. Artigos escritos por vários conhecidos analistas mundiais sobre o assunto e comandantes militares também foram consultados. 2.2 COLETA DE DADOS Esta pesquisa teve início com uma pesquisa bibliográfica em livros e publicações diversas, cuja objetivo era descobrir o contexto histórico da situação no Afeganistão. Posteriormente, uma extensa pesquisa na internet foi feita para estudar as condições que existiam lá e a experiência de vários analistas e os comandantes militares, que tinham grande visão sobre a questão. 2.3 TRATAMENTO DOS DADOS As técnicas de tratamento de dados foram a de Análise de Conteúdo, a qual foi aplicada para os dados da pesquisa bibliográfica e documental. 2.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO O método Dedutivo, utilizado na presente pesquisa, de acordo com Marconi, Lakatos (2000, p. 71), tem como críticas ser limitado, tendo em vista que parte de premissas gerais para se deduzir um acontecimento, ou seja, a conclusão.

6 3. PERSPECTIVA HISTÓRICA E OPERAÇÃO ENDURING FREEDOM 3.1 Breve História 3.1.1 Século 19 - The Great Game Durante o século 19, o Afeganistão foi pego na luta pelo poder anglo-russa conhecida como "The Great Game. A Grã-Bretanha tentou trazer o Afeganistão sob o domínio direto, mas sofreu uma derrota retumbante na primeira Guerra Anglo- Afegã (1839-1842). O poder imperial tentou novamente em 1878-80; desta vez o Afeganistão perdeu muito território e controle de seus assuntos externos à Grã-Bretanha. Em 1893 a Linha de Durand foi fixada como uma fronteira com a Índia Britânica, mas áreas tribais foram divididos, deixando metade no que é hoje o Paquistão. O Afeganistão permaneceu um protetorado Britânico até 1919. Em seguida, após a Revolução Bolchevique de 1917 e a onda de rebeliões populares que varreu a Ásia, posteriormente, o então rei do Afeganistão, Amanullah Khan, declarou a independência plena de seu país ao assinar um tratado de ajuda e amizade com Lenin, e declarar guerra à Grã-Bretanha. Depois de um breve período de escaramuças de fronteira, e o bombardeio de Cabul pela Royal Air Force, a Grã-Bretanha concedeu a independência do Afeganistão. No entanto, a eclosão de uma revolta e guerra civil forçou Amanullah a abdicar em 1929. Os diferentes lideres disputavam o poder até que um novo rei, Muhammad Nadir Shah assumiu o poder. Ele foi assassinado quatro anos depois pelo filho de uma vítima de execução do Estado, e foi sucedido por Muhammad Zahir Shah, que seria o último rei do Afeganistão, e que governaria os próximos 40 anos. 3.1.2. A Revolução Saur e Invasão Soviética Zahir Shah foi deposto em um golpe palaciano por seu primo, Mohammad Daoud, que declarou o Afeganistão uma república, com ele como presidente. No golpe comunista em abril de 1978, conhecido como a Saur, ou Revolucão de abril, o presidente Daoud e sua família foram mortos a tiros, e Nur Mohammad Taraki assumiu o poder como chefe do primeiro governo marxista do país. Hafizullah Amin, que se tornou primeiro-ministro, se opôs a Taraki, e em outubro de 1979, Taraki foi secretamente executado, com Amin se tornando o novo presidente. Em uma cadeia rápida de eventos em dezembro de 1979, Amin foi assassinado e o Exército Vermelho Soviético invadiu o Afeganistão. Babrak Karmal foi levado da Tchecoslováquia para ser o novo presidente.

7 3.1.3. Retirada da União Soviética e Disputas Internas Grupos de combatentes islâmicos Afegãos - ou os Mujahedines - lutaram incessantemente para tentar forçar a retirada soviética, com muito apoio secreto dos EUA e o apoio declarado do Paquistão. Após quase 10 anos, a União Soviética acabou de retirar, deixando no poder o presidente Najibullah, que havia substituído Babrak Karmal como líder. Ele pendurou por três anos após a partida do Exército Vermelho, mas caiu em 1992, quando a Organização das Nações Unidas estava tentando organizar uma transferência pacífica do poder. A guerra deixou o Afeganistão com problemas políticos, econômicos e ecológicos graves; mais de um milhão de Afegãos morreram na guerra, cinco milhões tornaram-se refugiados nos países vizinhos, enquanto do lado Soviético, 15.000 soldados foram mortos e 37 mil feridos. Os Mujahedines entraram vitoriosamente em Cabul, mas estavam longe de estarem unidos no governo do presidente eleito do Burhannaudin Rabbani e uma luta amarga pelo poder se seguiu. Quatro grupos principais, cada um com seus próprios patrocinadores estrangeiros, lutaram pelo controle de Cabul. 3.1.4 Governo dos Talibãs Os Talibãs surgiram como uma força para a ordem social, em 1994, na província Afegã de Kandahar. Ao final de 1996, com o apoio popular ao Talibã, entre o grupo étnico Pashtun do sul do Afeganistão, bem como com a assistência dos elementos conservadores islâmicos no exterior, permitiu-se a facção tomar a capital, Cabul. Em 2001, os Talibãs controlavam toda o que mais uma pequena parte do norte do Afeganistão. A opinião mundial, no entanto, em grande parte, desaprovou as políticas, como a exclusão quase total das mulheres da vida pública (incluindo o emprego e a educação), a destruição de relíquias artísticas não-islâmicas, e da implementação de punições criminais severas. Só o Paquistão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos reconheceram o regime. 3.1.5. A Ligação Entre a Al Qaeda e o Talibã Em 1996, o dissidente saudita Osama Bin Laden foi para o Afeganistão, a convite do líder da Aliança do Norte Abdur Rabb ur Rasool Sayyaf. Quando os Talibãs chegaram ao poder, Bin Laden foi capaz de forjar uma aliança entre os

8 Talibãs e a Al-Qaeda. Exerceu influência cada vez maior sobre o mulá Omar (o lider dos Talibãs), ajudando a financiar ofensivas dos Talibãs contra outros lideres no norte do país. 3.1.6 O Ambiente Levando à Operacão Enduring Freedom 3.1.6.1 Política de Envolvimento dos EUA com os Talibãs Os EUA não reconheram os Talibãs como o governo legítimo do Afeganistão, nem reconheram formalmente nenhuma facção como o governo. Antes dos ataques de 11 de setembro, a política do governo Bush foi aplicar pressão econômica e política sobre os Talibãs, mantendo um diálogo com eles, e de se recusar a ajudar militarmente os adversários do Talibã. 3.1.6.2. Polarização Interna As políticas dos Talibãs impeliram diferentes facções Afegãs a se aliaram com o núcleo Tajik da oposição anti-talibã e do presidente deposto Rabbani, Ahmad Shah Masoud, e seu aliado na área de Herat, Ismail Khan. No final de seu governo, o Talibã controlou pelo menos 75% do país, incluindo quase todas as capitais provinciais. 3.1.6.3. Ataques de 11 de Setembro de 2001 Depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, a administração do presidente Bush decidiu derrubar militarmente os Talibãs, quando esse governo recusou a demanda final dos EUA para extraditar Osama Bin Laden, a fim de evitar uma ação militar. Os EUA acreditavam que era necessário um regime amigável em Cabul para auxiliar as suas forças busca dos integrantes da Al Qaeda, no Afeganistão.

9 3.2. Operação Enduring Freedom 3.2.1. Geral A Operação Enduring Freedom, que foi uma operação conjunta dos EUA e de seus aliados no Afeganistão. Difere-se da ISAF, que trata-se de uma operação de OTAN, incluindo os EUA e Reino Unido. 3.2.2. Objetivos Os objetivos militares iniciais da Operação Enduring Freedom, articulados pelo ex-presidente George W. Bush, incluiram "a destruição de campos de treinamento de terroristas e de infraestrutura dentro do Afeganistão, a captura de líderes da Al-Qaeda, e a cessação de atividades terroristas no Afeganistão ". Em 27 de outubro de 2001 os EUA, apoiados pela Grã-Bretanha, lançaram a Operação Enduring Freedom. A luta em terra foi conduzida por forças Afegãs da Aliança do Norte com o apoio das Forças Especiais de Coalização. Em 13 de novembro, os Talibãs abandonaram Cabul e a Aliança do Norte entrou na cidade. 3.2.3. Acordo de Bonn Em dezembro de 2001, no Acordo de Bonn, líderes da oposição Afegã que participaram da conferência concordaram com a Autoridade de Transição Afegã. O conceito de uma força internacional mandatada pela ONU para ajudar a Autoridade Transitória Afegã recém-criada também foi lançada nesta ocasião para criar um ambiente seguro e apoiar a reconstrução do Afeganistão. Estes acordos abriram o caminho para a criação de uma parceria tripartida entre a Autoridade Transitória Afegã, Missão das Nações Unidas de Assistência no Afeganistão (UNAMA) e a ISAF. Uma autoridade interina foi criada. A Loya Jirga (ou grande assembleia) foi convocada em 2002, liderada por Hamid Karzai. Em 2004, uma nova constituição Afegã foi ratificada e Hamid Karzai foi eleito presidente. As eleições legislativas e provinciais foram realizadas no ano seguinte, trazendo uma maior proporção de mulheres deputadas. A ISAF, criada de acordo com a Conferência de Bonn, começou em dezembro de 2001 nos termos da Resolução do Conselho de Segurança da ONU 1386. A Aliança tornou-se responsável pelo comando,

10 coordenação e planejamento da força, incluindo a prestação de um comandante da força no Afeganistão. A OTAN assumiu o comando da operação em agosto de 2003 e seu mandato foi sucessivamente prorrogado pelo Conselho de Segurança da ONU. 3.2.4. Missão da ISAF - Realização de operações de segurança e estabilidade em todo o país em conjunto com a Força de Segurança Nacional Afegã. - Monitar, treinar e equipar as forças de segurança nacionais afegãs. - Apoio à reconstrução e ao desenvolvimento do Afeganistão através das suas Equipes de Reconstrução Provincial. 3.2.5. Expansão da ISAF A resolução 1510 do CSNU, em outubro de 2003 ampliou o mandato da ISAF para cobrir todo o território do Afeganistão e, assim, estabelecer as bases para os comandantes da ISAF para expandir as operações para além de Cabul. 3.3. Ressurgimento dos Talibãs 3.3.1. Reorganização Durante o final de 2002 os Talibãs começaram a mover armas, munições e suprimentos para o Afeganistão, acrescentando aos estoques que tinham armazenados durante sua retirada. O Paquistão tinha retirado suas tropas da FATA para enfrentar a ameaça da Índia e al-qaeda e os Talibãs estavam livres para se movimentar à vontade. 3.3.2. Ressurgimento Os Talibãs iniciaram sua campanha militar na primavera de 2003, quando a invasão americana do Iraque era iminente, lançando ataques de guerrilha nas províncias de Helmand e Zabul, onde não havia quase nenhuma presença das tropas dos EUA e seus aliados.

11 3.3.3. Pashtuns Desencantados Durante este mesmo período, muitos Pashtuns se desencantaram com a Administração Transitória Afegã (ATA), devido à sua corrupção e incapacidade de proteger os Pashtuns. Táticas dos EUA, especialmente nas áreas dominadas pelos Pashtuns, também adicionaram combustível para o fogo. 3.3.4. Resistência Encorajada No início de setembro de 2003, as forças dos EUA lançaram a Operação Mountain Viper, para limpar cerca de 500 Talibãs que lutaram sob comando do Dadullah. Pela primeira vez os Talibãs se levantaram e lutaram por nove dias, causando pesadas baixas, que animava as resistências. 3.3.5. Mudança de Foco para o Iraque A mudança de foco americana do Afeganistão ao Iraque, em 2003, também foi um fator, o que resultou no fortalecimento da resistência. 3.3.6. Revisão dos Objetivos sob a Presidência de Obama Assumindo o cargo em 2009, em 1 de dezembro de 2009, Obama anunciou uma versão revista do "Caminho Adiante no Afeganistão e no Paquistão" em West Point. Ele também anunciou a implantação de umas tropas adicionais de 30.000 norte-americanos. Conforme estratégia do Presidente anunciada em West Point, o envio de tropas adicionais dos EUA começaram no início de 2010, com 9.000 dos 30.000 planejados, antes do final de março e outras 18.000 em junho, com as tropas dos EUA no Afeganistão. 3.4. Retirada 3.4.1. Lisbon Summit 2010 Em uma reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros da OTAN, no final de abril de 2010, foi alcançado um acordo sobre um roteiro comum para a transição progressiva de segurança para as autoridades afegãs, começando no final de 2010.