introdução à língua brasileira de sinais - libras



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Transcrição:

introdução à língua brasileira de sinais - libras Profa. Renata Alves Orselli 1 * * Possui bacharel em Direito pela Universidade Braz Cubas (1999), graduada em Letras com licenciatura em língua portuguesa e língua inglesa pela Universidade Braz Cubas (2006). Especialização em Língua Portuguesa pela PUC/SP (2008). Aperfeiçoamento em Capacitação de Educação Especial - UMC/SP. Libras no Instituto de Educação para Surdos SELI/SP, no Centro Educacional Cultura Surda - SP/SP e no Trabalho de Apoio ao Deficiente Auditivo - TRADEF/MC. Mestre em Semiótica, Tecnologia da Informática e Educação na Universidade Braz Cubas - UBC. Atualmente docente da Universidade Braz Cubas UBC, Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ ministrando aulas de Libras e Língua Portuguesa na graduação, nos cursos de extensão e no ensino a distância EAD presencial e virtual. Tem experiência na área de Letras com ênfase em Morfossintaxe. Ministra aulas de francês/português em empresas e escolas por mais de 12 (doze) anos e no ensino de computação/português para surdos oralizados e não-oralizados. Voluntária da escola da família na Escola Estadual Dr.Morato de Oliveira na cidade de Suzano ministrando aulas de LIBRAS para surdos, ouvintes e professores da rede de ensino.

Sumário APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 9 Unidade I O INÍCIO DA HISTÓRIA... 11 1.1 Retrospectiva da Educação de Surdos no Brasil 11 1.2 O preconceito contra os deficientes auditivos 15 1.3 Cultura surda e cidadania Brasileira 16 1.4 A LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002, DISPÕE SOBRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS 18 1.5 Fisiologia do ouvido (ou orelha) humano 20 1.6 Causas da Surdez 21 1.7 Níveis de Audição 23 1.8 Perda Auditiva 24 1.9 A LÍNGUA PORTUGUESA NA lusofonia 25 1.9.1 O Brasil no mundo da Lusofonia 26 1.10 LÍNGUA E IDENTIDADE: UM CONTEXTO DE POLÍTICA LINGUÍstica 28 1.11 A Importância da Língua Portuguesa como segunda língua 31 1.12 Um projeto em desenvolvimento: O ensino de Português como segunda língua 33 1.13 Batismo do sinal pessoal 34 1.14 Língua Gestual 37 1.15 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE i 42 3 Sumário 3

Unidade II O QUE É libras 47 2.1 Os sinais 47 2.2 A Língua Brasileira de Sinais e seus parâmetros de articulação 48 2.3 Expressões: facial e corporal dos sinais 50 2.3.1 Materiais produzidos e utilizados no ensino de Libras e da língua portuguesa 51 2.3.2 Material didático usado no aprendizado dos surdos/ouvintes no ensino de Libras e da língua portuguesa. 60 2.4 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE ii 62 Unidade III ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 65 3.1 Características da Língua de Sinais 65 3.2 Construção e formação da Libras 66 3.3 SINAIS E SUAS CONFIGURAÇÕes 69 3.3.1 ORIENTAÇÃO espacial 69 3.3.2 Leitura dos movimentos das figuras (sinais) 71 3.4 Formas de cumprimento 74 3.5 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE iii 76 Unidade IV AS CONVENÇÕES DA libras 81 4.1 Algumas diferenças entre a Libras e o Português 81 4.2 Pronomes interrogativos 81 4.3 Pronomes indefinidos 82 4.4 Adjetivos 83 4 Sumário

4.5 Advérbio de Tempo 83 4.6 Língua portuguesa e a língua brasileira de sinais: uma breve análise. 85 4.6.1 As diferenças verbais entre a Língua Portuguesa e a Libras 86 4.6.2 Quando a Língua Brasileira de Sinais e o Português são semelhantes 89 4.6.3 Tempos e aspecto verbais 97 4.6.4 Tempo e aspecto em Libras 98 4.7 Características das línguas de sinais 110 4.7.1 Língua de sinais encontrada em cinco continentes 111 4.7.2 Representações gestuais da língua de sinais 112 4.8 Pronomes Pessoais 120 4.8.1 Gênero Masculino e Feminino 121 4.9 Números e dias da semana 125 4.9.1 Números cardinais 125 4.9.2 Números ordinais 127 4.10 MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A TECNOLOGIA PARA OS SURdos 134 4.11 O mundo é das palavras 135 4.12 O QUE É SIGNWRITING? 138 4.13 SignWriting - Escrita de Sinais 139 4.14 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE iv 144 REFERÊNCias 147 5 Sumário 5

APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Bem-vindo(a) à disciplina de Introdução a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS! É um prazer tê-lo(a) como aluno(a). Entraremos no universo de uma comunidade diferente da nossa, porém tão rica como a dos ouvintes. Os surdos percebem e elaboram o mundo apenas por meio do olhar, enquanto nós, ouvintes, percebemos este mesmo mundo usando a percepção visual associada à auditiva. Essa diferente condição fará com que, indivíduos com iguais potenciais tenham visões diferenciadas de um mesmo mundo. O bom aprendiz de libras é aquele que exercita os sinais aprendidos repetidas vezes. Por isso, não tenha vergonha de imitar o professor, pois no início é difícil movimentar os dedos. Alguns exercícios estarão disponíveis no final da leitura, visando melhorar o aprendizado e a fixação. 7 Apresentação 7

Lembre-se que a consulta periódica à plataforma, links, Podcast, webaula e o acompanhamento das teleaulas complementarão o entendimento adequado dos temas abordados. Espero que você aprecie a leitura. Bom estudo! Profa. Renata Alves Orselli 8 Apresentação

INTRODUÇÃO As línguas são convencionais e surgem de condições variadas. Ela só se realiza ligada histórica e culturalmente a uma comunidade de usuários. Não existe língua se não existirem os sujeitos da língua. Isso significa que aprender uma língua vai além do aprender o conjunto de regras ou normas que a rege, aprender uma língua é mergulhar no espaço em que ela vive. Este material está dividido em 4 unidades ilustradas com exercícios para facilitar o aprendizado e a memorização. Em cada unidade foi colocado um pouco da cultura surda e um pouco da língua que habita esse mundo. Portanto, fique atento(a) às dicas que complementam o seu aprendizado durante a leitura. 1. Retrospectiva da Educação do surdo no Brasil - Nesta reflexão parte-se da trajetória da educação do surdo no Brasil, isto é, desde os primeiro indícios da língua gestual até os dias atuais. A mesma unidade ressalta as leis que oficializaram a Libras como língua materna, garantindo a inclusão de pessoas com necessidades especiais nas instituições de ensino e as causas de surdez. Veremos como se dá o batismo do sinal, a língua e a identidade do surdo, bem como a importância da Língua Portuguesa para a formação e inclusão social do surdo no meio em que está inserido. Por fim, vamos aprender a datilologia das palavras por meio do alfabeto manual. 2. O que é Libras? - Neste livro faremos uma imersão ao mundo dos surdos, serão verificados alguns aspectos estruturais, expressão não manual/corporal da língua de sinais e suas particularidades, e materiais para o ensino da Libras e da língua portuguesa. 3. Aspectos estruturais da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Serão apresentados orientação espacial e classificadores, estes aspectos são responsáveis pelas configurações de alguns sinais e formas de cumprimento. 4. As convenções da Libras - Aqui serão descritas a formação e a construção da língua, isto é, a formação de verbos, pronomes, adjetivos, números ordinais 9 Introdução 9

e cardinais, dias da semana, variações linguísticas, novos vocabulários, signwrinting e os meios de comunicação e tecnologia para os surdos. 10 Introdução

1U nidade I O INÍCIO DA HISTÓRIA... OBJETIVOS DA UNIDADE Identificar as diferentes terminologias (surdo, mudo e deficiente auditivo); Conhecer a cultura e identidade da comunidade surda. HABILIDADES E COMPETÊNCIAS Identificação e aplicação dos Princípios da Inclusão para o desenvolvimento da competência cognitiva aprender a aprender. Fundamentação das ações da Libras para o desenvolvimento da competência produtiva aprender a fazer. Desenvolvimento do trabalho em equipe para o desenvolvimento da competência social aprender a conviver. Estímulo ao respeito à diversidade como riqueza cultural para o desenvolvimento da competência pessoal - aprender a ser. 1.1 Retrospectiva da Educação de Surdos no Brasil O mais antigo registro que menciona sobre Língua de Sinais é de 368 a.c, escrito pelo filósofo grego Sócrates, quando perguntou ao seu discípulo: Suponha que nós, os seres humanos, quando não falamos e queríamos indicar objeto, uns para os outros, nós o fazíamos como fazem os surdos mudos, sinais com as mãos, cabeça e demais membros do corpo? Unidade 11 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 11

A comunicação por sinais foi a solução encontrada também pelos monges beneditinos da Itália, cerca de 530 d.c, para manter o voto do silêncio. Mas pouco foi registrado sobre esse tema ou sobre os sistemas usados por surdos até a Renascença, mil anos depois. Até o fim do século XV, não havia escolas especializadas para surdos na Europa porque, na época, os surdos eram considerados incapazes de serem ensinados. Por isso, as pessoas surdas foram excluídas das sociedades e muitas tiveram sua sobrevivência prejudicada. Existiram leis que proibiam o surdo de possuir ou herdar propriedades, casar-se, votar como os demais cidadãos. A grande mudança aconteceu com o Abade de L Épée, na França em 1755. Não somente pelo reconhecimento da língua gestual, mas, sim, pelas portas que ele conseguiu abrir em benefício dos surdos. Abade aprendeu a língua utilizada pela comunidade surda parisiense e a partir dela desenvolveu uma suposta língua gestual universal, estruturada de acordo com a sintaxe da língua francesa, que ele próprio inventou para representar as inflexões, os tempos, os artigos etc. Com a insistência de L Épée em sua metodologia (publicada em 1776, a Institution des sourds-muets, que apresenta seu sistema de sinais metódicos ), ele conduziu muitos alunos surdos a terem acesso à cidadania, pela primeira vez na história da cultura ocidental. No início do século XX, Pintner afirmou que os surdos são intelectualmente inferiores aos ouvintes em várias áreas da cognição: inteligência, memória e pensamento abstrato. Referiu-se, ainda, às dificuldades de compreensão na comunicação e na inter-relação social dos surdos. Desde então, muitos ouvintes confundem a habilidade de falar, com a voz, com a capacidade intelectual desta pessoa, talvez seja porque a palavra fala esteja etimologicamente ligada ao verbo/pensamento/ação e não simplesmente ao ato de emitir sons articulados. Em 1855, foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil, a Imperial Instituto de surdos-mudos (atual INES - Instituto Nacional de Educação dos Surdos). Era uma mistura da Língua de Sinais Francesa, trazida por Ernest Huet com a língua de sinais brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais. 12 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

Em 1880, em Milão, foi realizado o Congresso Internacional de Surdo-Mudez e ficou definido que o melhor e o mais adequado método para o ensino dos surdos seria o método oral, pois somente através da fala ele poderia ter um desenvolvimento pleno. Assim, a língua oral é uma condição básica para a aceitação em uma comunidade majoritária de ouvintes. Segundo Skliar (1997), o congresso constituiu não o começo da ideologia oralista, senão sua legitimação oficial. As consequências dessa filosofia educacional, o oralismo, foi um fracasso acadêmico. Para Sacks (1990, p.45), o oralismo e a supressão do sinal resultam numa deterioração dramática das conquistas educacionais da criança surda. Deve-se compreender que as escolas podem ser um dos fatores de integração ou desintegração das comunidades surdas, dependendo da metodologia adotada. Se uma escola rejeita a língua de sinais, as crianças surdas que estudam nesta escola ou não vão conhecer a comunidade surda de sua cidade e, consequentemente, não aprenderão uma língua de sinais, ou poderão se integrar com os surdos de sua cidade somente após a adolescência. Felizmente essa situação mudou e hoje podemos contar com profissionais surdos, homens e mulheres, que estão se destacando também na área de educação. Unidade 13 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 13

14 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

Dica de Leitura A história da surdez é, portanto, a história da luta dos surdos na busca de um espaço como sujeitos sociais, com direito a educação e a saúde assim como os ouvintes. Para aprofundar o conhecimento dessa história, indicamos a leitura dos livros a seguir: CAPOVILLA, F.C. e RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue: língua de sinais brasileira - LIBRAS. Volumes I e II. São Paulo: Edusp, 2009. SÁ, R. L. de. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Ed. da Ufam, 2002. 1.2 O preconceito contra os deficientes auditivos Tanya (2001) remete-se para tratar da questão que envolve integração do deficiente auditivo em sociedade a uma época em que existiam leis que proibiam o surdo de possuir ou herdar propriedades, casar-se e votar, como os demais cidadãos. Daquela época até hoje, muitos ouvintes confundem a habilidade de falar com voz com a inteligência. Pode-se até indagar o quanto o pensamento está diretamente ligado ao poder da fala, mas é absurdo imaginar que uma deficiência física específica possa alterar a capacidade de abstração de um ser humano. Com este pensamento, chegamos à conclusão de que uma vez que o deficiente auditivo tenha o domínio da Língua Portuguesa, este deve ter todos seus direitos preservados. E mais: deve ter toda a possibilidade de recursos para se aprimorar e desenvolver novas qualidades. O deficiente auditivo não tem deficiência intelectual, isto é, sua capacidade de aprendizado é a mesma de qualquer ouvinte. O fato é que, pela dificuldade de comunicação, o surdo não tem acesso às mesmas informações que o ouvinte tem. A linguagem visogestual tem como finalidade, exatamente, dar ao deficiente a possibilidade de se comunicar e interagir com o mundo, como o ouvinte, assim, podendo ter acesso à educação e às informações para sua formação. Unidade 15 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 15

1.3 Cultura surda e cidadania Brasileira Normalmente um grupo predominante, como os das pessoas ouvintes, julgamse superiores aos grupos minoritários, como os dos surdos, ainda mais neste caso em que o ouvinte goza do privilégio da habilidade da audição que não está disponível ao surdo. Esquecemos que cada indivíduo possui características próprias, com habilidades extraordinárias em campos distintos, além de deficiências em relação aos outros. O surdo, por sua vez, também possui suas habilidades, independentemente de sua deficiência auditiva, podendo ser considerado um indivíduo comum, como qualquer outro, apenas com uma deficiência mais característica. A falta de audição, necessariamente, não trata de uma perda, mas de uma diferença, pois muitos surdos, especialmente os congênitos, não tiveram a sensação de perda auditiva. Devemos romper o paradigma da deficiência e perceber as restrições de ambos os lados, tanto do surdo, quanto do ouvinte. Por exemplo: o ouvinte não consegue se comunicar debaixo d água, em local barulhento, a menos que grite. Já o surdo se comunica sem problemas em ambos os lugares. Atualmente vivenciamos um momento de grandes conquistas, em que grupos socialmente excluídos, entre eles os surdos, estão cada vez mais integrados na comunidade, lutando por seu espaço e empreendendo esforços gigantescos para garantir sua cidadania. Muitas leis foram e estão constantemente sendo aprovadas pelo Congresso Nacional para dar suporte legal, priorizando a inclusão e a promoção humana, a partir do direito de ser diferente no contexto da sociedade brasileira. Um marco significativo que demonstra o avanço das conquistas dos movimentos surdos está mencionado no Decreto Lei nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, dispondo sobre a Língua Brasileira 16 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

de Sinais Libras. O art. 3º trata da inclusão da Libras como disciplina curricular, que será obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, em instituições de ensino, públicas e privadas. O art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, reconhece a Libras como idioma das comunidades surdas do Brasil. Entretanto, essas novas conquistas precisam ser traduzidas em ações que permitam aos surdos o acesso aos saberes sistematizados por ouvintes e, ao mesmo tempo, os ouvintes precisam ter acesso aos saberes produzidos pelos surdos ao longo da história da humanidade. Um desses saberes dos surdos é a própria Língua Brasileira de Sinais Libras - que já está no Decreto e Leis acima mencionados. A importância de uma língua está exatamente no fato de que ela serve de forma de comunicação. Não existiria sentido se não fosse por isso. A comunicação entre os homens tem sido a peça mestre no desenvolvimento e evolução do ser humano e suas culturas. Sem a troca e o armazenamento de cultura e experiência nunca chegaríamos à evolução científica, social e, por que não dizer, moral dos povos. A Língua Portuguesa, por sua vez, representa a nossa cultura nacional e proporciona toda a chance e oportunidade que um indivíduo tem para conquistar uma carreira profissional e, assim, ter uma acessão social, cultural e econômica. O deficiente auditivo necessita, como qualquer outro indivíduo, de uma linguagem de comunicação e o aprendizado da Língua Portuguesa é essencial para que possa usufruir da mesma sorte de oportunidades. A Língua Brasileira de Sinais entrou em vigor a partir da lei n.10.436 de 24 de abril de 2002, que decretou e sancionou como meio de comunicação e expressão LIBRAS como forma ideal para o professor ensinar a Língua Portuguesa, pois é comprovadamente a melhor forma de comunicação com o deficiente auditivo. Como discute Lemle (2002 p.83), a língua de sinais parece contribuir para que isso ocorra no texto de aprendizes surdos, pelas características de sua estruturação sintática. Unidade 17 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 17

1.4 A LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002, DISPÕE SOBRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS Descreveremos a lei, que instituiu a Língua Brasileira de Sinais, suas intenções e analisaremos os benefícios que a sociedade terá com a sua aplicação. Em seu Art. 1º, a lei 10.436 reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Libras, sendo um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. No 2º Artigo, ela garante, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias, formas institucionalizadas de apoio ao uso e difusão da Libras. Os artigos 3º e 4º tratam dos direitos do deficiente auditivo, como de assistências, tanto médica como educacionais por serviços públicos federais, estaduais e municipais. Dá garantia de inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudióloga e Magistério, em seus níveis médio e superior, sendo parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs. Também menciona que a Língua Brasileira de Sinais não poderá substituir a modalidade escrita da Língua Portuguesa. Esta lei entrou em vigor na data de sua publicação, dia 24 de abril de 2002, e foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e então pelo Ministro da Educação, Paulo Renato Souza. 18 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

Podemos considerar dois aspectos diferentes no conteúdo da lei. O primeiro visa garantir e integrar o cidadão portador de deficiência auditiva no mais amplo aspecto de direitos civis, garantindo-lhe o direito de atendimento médico em qualquer serviço público, ressaltando sua equidade social de acordo com as normas legais gerais e oficializando a Libras como uma linguagem visual-motora oficial do Brasil, isto é, dando a ela um aspecto patriótico e cultural. Em outro aspecto, a lei oficializa a garantia da inclusão do deficiente auditivo, tanto no ensino do nível médio como no superior, nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e Magistério, assim, abrindo portas de formação e profissão a todos os deficientes auditivos. A lei 10.436 tem como objetivo o progresso de uma sociedade, que sabidamente é formada por pessoas de características diferentes uma das outras. O preconceito em relação à qualificação do deficiente físico é superado e transformado em garantia de oportunidade na formação e atendimento a estas pessoas. Desta forma, dá-se um passo à frente na qualidade de vida, não subsidiada pelo governo, isto é, pela própria sociedade, mas sim, conquistada pelo próprio esforço e trabalho, que remunera o deficiente e aumenta o potencial de mão-de-obra de um país inteiro. Dessa maneira, o surdo terá garantida por lei a mesma oportunidade e poderá, com a Língua Portuguesa, ter um avanço profissional, possibilitando sua inclusão e participação na sociedade, além de ter um melhor acesso ao mundo que vive. Dica de Leitura Para ver na íntegra essa lei, acesse o link no AVA. Unidade 19 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 19

1.5 Fisiologia do ouvido (ou orelha) humano O homem tem dois ouvidos que ajudam a escutar. Apenas um deles trabalhando sozinho não consegue fazer isso bem. O cérebro precisa comparar e contrastar ruídos, volume e o tempo dos sons dos dois ouvidos para que os sons tenham um sentido. O sistema auditivo humano pode ser dividido em duas partes: Periférico e Central. O Sistema Auditivo Periférico é formado pela Orelha Externa, Média e Interna. A Orelha Externa é formada pelo pavilhão auricular (conhecida como orelha), conduto auditivo externo, o qual é totalmente fechado pela membrana timpânica (Tímpano). Na Orelha Interna localiza-se a cóclea (responsável pela audição) e o vestíbulo e canais semicirculares (responsáveis pelo equilíbrio). A cóclea tem a forma de um caracol e o seu interior é preenchido por líquidos onde encontramos pequenas células, chamadas de células ciliadas, as quais mantêm um íntimo contato com as fibras do nervo auditivo. Este por sua vez, envia os impulsos nervosos para o cérebro, permitindo-nos percebê-los como som. O ouvido humano http://www.aparelhosauditivosecia.com.br/surgimento-aparelhos-auditivos.html Acesso 19/04/2011 às 19:36 20 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

1. O som (sons ambientais, ruídos e a fala) é captado pelo pavilhão auricular, atravessa todo o conduto auditivo externo e choca-se contra o tímpano (2), pondo-o em movimento. 2. Como o tímpano está preso aos três ossículos da orelha média, através do martelo, todo o sistema, tímpano e ossículos, vibra fazendo com que o som alcance os líquidos da cóclea (3). 3. Na cóclea o som alcança as células ciliadas e estas o transformam em impulsos nervosos estimulando as fibras do nervo auditivo (4). Daí estes impulsos chegam ao cérebro onde os interpretamos. Em resumo: o som é captado pela nossa orelha (ouvido externo) entra no ouvido médio e se depara com o tímpano, fazendo-o vibrar. O tímpano é uma membrana bem fina e muito sensível. Essa vibração do tímpano se transfere, por meio de contato, para os três ossículos que estão ligados ao tímpano (bigorna, martelo e estribo) que passam a vibrar e transferem essas vibrações para o ouvido interno, (caracol e canal semicircular) onde o som é transformado em impulsos elétricos. Esses impulsos elétricos são conduzidos ao cérebro pelo nervo auditivo, o cérebro recebendo esses impulsos elétricos irá interpretá-los e distingui-los como som que nós ouvimos. 1.6 Causas da Surdez A deficiência auditiva tem origens diversas. Causas pré-natais (antes do parto): Hereditárias; Malformações congênitas, adquiridas pelo embrião devido a infecções virais Unidade 21 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 21

ou bacterianas intra-uterinas (ex.: rubéola, sarampo, sífilis, citamegalovirus, herpes simplex, toxoplasmose); Intoxicações intra-uterinas (ex.: quinino, álcool, drogas); Alterações endócrinas (ex.: patologias da tiróide, diabetes); Carências alimentares (ex.: vitamínicos); Agentes físicos (ex.: raios X); Causas pré-natais (durante o parto); Traumatismos obstétricos (ex.: hemorragias do ouvido interno ou nas meninges); Anóxia; Incompatibilidades sanguíneas (do fator RH que podem provocar danos no sistema nervoso central); Causas pós-natais (depois do parto e no decurso da vida do indivíduo); Doenças infecciosas; Bacterianas (ex.: meningites, otites, inflamações agudas ou crônicas das fossas nasais e da naso-faringe); Virais (ex.: encefalites, varicela); Intoxicações (ex.: alguns antibióticos, ácidos acetilsalisílico, excesso de vitamina D que pode provocar lesão com hemorragia ou infiltração calcária nas artérias auditivas); Trauma acústico (ex.: exposição prolongada a ruídos nos locais de trabalho ou em recintos de diversão; sons de elevada intensidade e de curta duração, 22 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

tais como: nas explosões e na caça; diferenças de pressão, como no caso dos mergulhadores); Causas desconhecidas ou idiopáticas. 1.7 Níveis de Audição Os níveis utilizados para caracterizar os graus de severidade da deficiência auditiva podem ter algumas variações entre os diferentes autores. Segundo o critério de Davis e Silverman (1966), os graus de severidade se subdividem em: 1. Audição normal: a pessoa ouve bem o tic-tac de um despertador (até 24 decibéis); 2. Deficiência auditiva leve: a pessoa não ouve o tic-tac do despertador, mas escuta um sussurro (de 25 a 40 decibéis); 3. Deficiência auditiva moderada: neste estágio a pessoa só consegue escutar sons mais altos como o de uma sala de trabalho (escritório) e tem muita dificuldade de falar no telefone (de 41 a 70 decibéis); 4. Deficiência auditiva severa: a pessoa precisa de um som tão alto quanto o barulho de uma impressora rotativa (de 71 a 90 decibéis); 5. Deficiência auditiva profunda: a pessoa só ouve ruídos como os provocados por uma turbina de avião (120 decibéis), disparo de revólver (150 decibéis) e tiro de caminhão (200 decibéis). Este grau de severidade é classificado acima de 90 decibéis. Unidade 23 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 23

Mas segundo o decreto n 3.298, de 20 de dezembro de 1999, a deficiência auditiva é perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis: a) De 25 a 40 decibéis considerado surdez leve; b) De 41 a 55 decibéis considerado surdez moderado; c) De 56 a 70 decibéis - considerado surdez acentuada; d) De 71 a 90 decibéis - considerado surdez severa; e) Acima de 91 decibéis considerado surdez profunda; f) Anacusia (ausência total de audição). 1.8 Perda Auditiva De todos os sentidos, provavelmente a audição é o seu mais importante órgão de comunicação. Mesmo enquanto dormimos, os ouvidos continuam funcionando. O processo de perda auditiva é lento e progressivo. Em geral, a família é quem nota os sintomas primeiro por ter que repetir as coisas mais de uma vez ou deixar o volume da televisão muito alto. É importante que, assim que os sintomas aparecerem, recorra-se a um especialista para que se inicie o uso do aparelho auditivo, pois o ouvido pode não estar mais acostumado a ouvir sons de intensidade normal. Em outras palavras, o ouvido se esquece de como ouvir. Assim, pessoas com perdas auditivas são consideradas deficientes auditivos e as pessoas com perda auditiva profunda são chamadas de surdas. Porém, pode-se dizer que por muito tempo as leis que classificavam os direitos dos surdos eram a mesma 24 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...

para todos os graus de surdez, mas a partir de 2002 foi criada a lei Art. 1º, a lei 10.436 reconhecendo a língua de sinais como meio legal de comunicação especifica para a comunidade surda estabelecendo seus direitos tanto na educação como na saúde, reconhecendo a Libras como língua materna e como segunda língua brasileira. DICA DE CONSULTA O exame da orelha poderá ajudar a criança ter melhor desenvolvimento e aprendizagem quando a surdez tem um diagnostico precoce. Consulte o link no AVA para saber mais sobre o exame da orelha. 1.9 A LÍNGUA PORTUGUESA NA LUSOFONIA A Língua Portuguesa, juntamente com o espanhol, catalão, francês, italiano, romeno, vem se transformando através dos séculos. Elas surgem do latim, o que explica serem referidas como línguas românicas ou neolatinas, constituindo uma única família linguística. O latim tem origem na região do Lácio onde, em 711 a.c, fundou-se Roma, e pertence ao tronco linguístico originário do indo-europeu, falado pelos árias ou arianos. As migrações desse povo, que deixou seu território em diferentes tribos entre o século XV e XX a. C., ocuparam novas regiões da Europa e parte da Ásia, provocando a disseminação de sua língua. Estudos realizados pelo filólogo alemão Franz Bopp no começo do século XIX demonstram, pelo método da gramática comparada, que quase todas as línguas faladas na Europa e na Ásia provêm do indo-europeu, que atesta por diversos fatos fonéticos, morfológicos e sintáticos a existência do indo-europeu. Com a dispersão do povo ariano, verificou-se o fracionamento do indo-europeu em diversos ramos: o germânico, o itálico, o eslavo, o grego, o céltico etc., e distribuídas em regiões que vão da Europa Ocidental até a Índia. Unidade 25 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 25

A difusão do latim se expande com o Império Romano dando inicio à história da Língua Portuguesa pelo processo de romanização da península ibérica, iniciada em 197 a.c. Após a queda de Roma, ocorre a invasão árabe. Em decorrência dessa invasão, a formação da Língua Portuguesa ganha força com um movimento para a expulsão dos árabes e pela influência político-cultural, o que a tornou polo de resistência e irradiação do cristianismo. Com a reconquista da península, os árabes são expulsos e Portugal fixa sua capital, Lisboa, em 1255. As grandes navegações, que deram origem ao descobrimento, em particular, o descobrimento do Brasil, por Pedro Álvares Cabral, em 1500, estabelecem importantes definições geopolíticas do mundo ocidental e a difusão da Língua Portuguesa. 1.9.1 O Brasil no mundo da Lusofonia A etimologia da palavra LUSO-FON-IA (Buyold, 2008) é explicada como LUSOdo latim, lusu- relativo a lusitano, Português, relativo a Portugal. A Lusitânia era uma das três províncias romanas da Hispânia (Península Ibérica) que correspondia ao que é hoje o Sul do Douro em Portugal e à Estremadura espanhola. Os lusitanos eram um dos povos que habitavam esse território na época pré-romana; sendo considerados os descendentes de uma legendária personagem chamada Luso. FON- do grego som ; voz ; palavra ; língua -IA: sufixo de origem grega que se emprega sobretudo com substantivos abstratos, derivados de adjetivos e que designam uma qualidade ou defeito, ou a capacidade ou um estado. Assim sendo, lusofonia, quer dizer, etimologicamente, a qualidade abstrata do lusófono que tem a capacidade de falar a língua dos lusos, lusíadas ou portugueses. 26 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA...