Susana Monteiro 1 e Sandra Silva 2. CeFIPsi: Centro de Formação e Investigação em Psicologia 3



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Intervenção psicossocial em comunidade de risco social Susana Monteiro 1 e Sandra Silva 2 CeFIPsi: Centro de Formação e Investigação em Psicologia 3 O projeto de Intervenção na Comunidade iniciada em janeiro de 2006 e com termino em março de 2011 surge duma parceria entre o CeFIPsi e Câmara Municipal de Santarém, para o terreno foi destacada uma equipa de psicólogos que atuaram em articulação com o Serviço de Ação Social da CMS e com outras entidades no domínio social. A intervenção psicossocial realizou-se num Bairro ribeirinho junto às margens do Rio Tejo, que se localiza na Cidade de Santarém, na parte inferior das barreiras das Portas do Sol. Comunidade com imagem negativa e marginalizada por elementos exteriores à comunidade. No início da intervenção foram estabelecidos os seguintes objetivos: desenvolver estratégias de diminuição do stress sentido face à possibilidade de derrocada; monitorizar as reações dos moradores face a uma eventual evacuação e traçar perfil sócio-psicológico da população. Após entrevista a todos os moradores nas suas habitações (realizadas no primeiro fim-de-semana de Janeiro de 2006 por seis técnicos do CeFIPsi) para recolha de informação, levantamento das necessidades e para auscultação da percepção dos moradores sobre a situação de risco identificou-se a necessidade de uma intervenção psicossocial no sentido de promover a coesão social entre os moradores, o seu sentimento de pertença a Alfange e o empowerment (autonomia) de cada habitante. Paralelamente destacou-se a necessidade de se intervir junto de algumas famílias (designadas na literatura por famílias em risco ) no sentido de melhorar/aumentar as competências parentais dos adultos e estimular, desse modo, o desenvolvimento das crianças a seu cargo. Alargou-se o âmbito dos objetivos iniciais e procurouse a promoção da coesão social, identidade local e competências parentais - combate à exclusão social e promoção do desenvolvimento harmonioso das crianças e jovens e a prevenção do risco e preparação dos moradores para uma evacuação apoio antes, durante e após uma situação de emergência. Da avaliação inicial destetaram-se alguns fatores de risco, nomeadamente, ausência de percepção de risco, inexistência de comportamentos pautados por normas sociais e regras, comportamentos de risco na adolescência (ao nível de consumos e da sexualidade), abandono escolar precoce, insucesso escolar (em 2006 apenas 1 menina de 10 anos e um jovem de 15 nunca haviam ficado retidos), baixa escolaridade, absentismo escolar e profissional, pequenos atos de delinquência e marcadas carências económicas. 1 Doutoranda em Psicologia; Assistente Convidada no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz; sdeus@vodafone.pt 2 Psicóloga Clínica;smargaridasilva@hotmail.com 3 CeFIPsi: Centro de Formação e Investigação em Psicologia (www.cefipsi.com; info@cefipsi.com)

Em termos de enquadramento teórico, realça-se o conceito de comunidade enquanto unidade psico-sócio-territorial mínima, no interior da qual se desenvolvem relações significativas (Fernandes,2000). No âmbito da intervenção psicossocial em comunidades problemáticas, do combate à exclusão social e da intervenção em famílias de risco utilizamos três modelos de referência de acordo com a literatura: o Modelo Ecológico de Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (1979), o Community Counseling Model de Lewis, Lewis, Daniels e D Andrea, (2002) e o Modelo de Avaliação Diagnóstica junto de famílias em risco de Jan Horwath (2000). De acordo com Bronfenbrenner (1979) (esquema 1) o desenvolvimento e comportamento humanos apenas são plenamente compreendidos quando analisados nos contextos em que os indivíduos se inserem (sistemas). Modelo Ecológico de Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner s, 1979) Casa Micro-sistema SOCIEDADE REDES SOCIAIS e/ou LABORAIS DOS PAIS Casa Sistemas Modelo holístico Escola Bairro Meso-sistema Exo-sistema Macro-sistema Esquema 1 - Modelo Ecológico de Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner, 1979) Na perspetiva de Horwath (2000) e de acordo com o seu modelo de avaliação Diagnostico (modelo utilizado pelo ISS nas comissões de promoção e proteção de crianças e jovens em perigo/risco) a avaliação completa sobre o bem-estar da criança/jovem é necessário atender a três grandes dimensões: as necessidades de desenvolvimento da criança, as competências parentais e os fatores familiares e ecológicos (Esquema 2). Estes domínios constituíram não só as áreas a focar na avaliação inicial com famílias em risco como as metas da intervenção realizada com as crianças e jovens da aldeia.

Dimensões da Avaliação Diagnóstica (Horwath, 2000) Necessidades de desenvolvimento da criança Educação Desenvolvimento emocional e comportamental Identidade Relacionamento familiar e social Apresentação social Capacidade de autonomia Saúde Protecção e Promoção dos Direitos da criança/jovem Cuidados básicos Segurança Afetividade História e funcionamento familiar Família alargada Condições habitacionais Rendimento familiar Integração social da família Recursos comunitários Fatores familiares e ecológicos Estimulação intelectual e cognitiva Estabelecimento de regras/ limites Estabilidade Competências Parentais Esquema 2 - Modelo de Avaliação Diagnóstica (Horwath, 2000) Lewis et al. (2002) no Community Counseling Model preconiza a importância de utilizar um quadro de referência que se centra em estratégias de intervenção e serviços que promovam o desenvolvimento e bem-estar dos indivíduos e das comunidades (esquema 3). SERVIÇOS À COMUNIDADE SERVIÇOS AO INDIVÍDUO Intervenção Direta Ações de sensibilização Aconselhamento Intervenção com indivíduos vulneráveis Intervenção Indireta Influenciar políticas públicas Defesa do cliente Consultoria Esquema 3 - Modelo de Aconselhamento Comunitário (Lewis et al., 2002) Em termos da descrição socio-demográfica da comunidade podemos referir que em janeiro de 2006, contabilizou-se um total de 189 pessoas, com faixa etária distribuída entre os 6 meses e os 85 anos, cerca de 34 crianças e jovens e 39 idosos com mais de 65 anos. Atualmente, abril de 2012, em resultado do contato frequente com elementos da comunidade após o término da intervenção, como etapa de follow-up, contabiliza-se um total de 145 pessoas, uma faixa etária distribuída entre os 5 meses e os 91 anos, entre este 23 crianças e jovens e 44 idosos com mais de 65 anos.

A intervenção psicossocial foi delineada em 2 fases distintas e complementares, designadamente, o diagnóstico das necessidades, o estabelecimento da relação (aproximação aos moradores) e nesta comunicação iremos apresentar genericamente algumas das estratégias implementadas ao nível da intervenção direta, destacando-se as estratégias realizadas para cada uma das faixas etárias (crianças em idade escolar e adolescentes, adultos e Idosos e a comunidade). Na fase de diagnóstico das necessidades foram realizadas entrevistas para recolha de informação levantamento das necessidades e identificação das áreas de intervenção, os objetivos e as áreas abordadas nas entrevistas são apresentadas na tabela 1. ATIVIDADES OBJETIVOS ÁREAS ABORDADAS Entrevistas aos moradores da aldeia nas suas habitações Traçar o perfil sócioeconómico, emocional e psicológico; Recolher informação e preparar a população para uma evacuação de emergência. - Identificação do Inquirido/proprietário da habitação; - Agregado familiar; - Dados de identificação; - Saúde; - Suporte Familiar; - Evacuação por meios próprios; -Animais domésticos e de subsistência; -Bens a Salvaguardar; Tabela 1 Objetivos e áreas abordadas nas entrevistas iniciais aos moradores Tendo como referência os pressupostos do Community Counseling Model de Lewis et al. (2002) na fase de estabelecimento da relação (aproximação aos moradores) realizaram-se atividades com objetivos definidos e que obtiveram mudanças atitudinais ao nível do comportamento individual e coletivo da comunidade, tal como está descrito na Tabela 2. COMUNIDADE INDIVÍDUO Intervenção Direta Informação sobre o estado das barreiras; Treino através de simulações de evacuação; Ações de sensibilização; Atividades Comunitárias: - Festa da aldeia e reinauguração da Igreja; -Comemorações de datas simbólicas (Carnaval; 25 de Abril; 1 de Maio; Dia do Pai; Dia da Mãe; Dia da Criança; Natal) - Visitas/passeios (atividades pedagógicas e didáticas de reforço); Acompanhamento Psicológico (individual e familiar); Avaliações Psicológicas; Grupos de apoio (adultos) e de treino de competências pessoais e sociais (crianças e jovens); Formação Parental Amigo à Distância Cantinho da Leitura

Intervenção Indireta Articulação constante com autarquia e freguesia locais; Realização de Simulacro de Evacuação (articulação com bombeiros e proteção civil). Através das parcerias com IEFP, CPCJ, IPSSs locais, Escolas, Santa Casa da Misericórdia, Rádio; Jornais Regionais, Pastelarias; Tabela 2 Estratégias de Intervenção direta e indireta ao nível da comunidade e do individuo As mudanças atitudinais não ocorreram de imediato mas ao longo da implementação e desenvolvimento da intervenção foi possível constatar as mudanças identificadas. As atividades realizadas tiveram o objetivo central de provocar essas mudanças ao nível das atitudes e comportamentos dos elementos da aldeia. Por questões de limitação de tempo e tendo em conta as diversas atividades/estratégias realizadas ao longo dos cerca de 5 anos e meio da intervenção psicossocial passamos apenas a descrever algumas das estratégias efetuadas com as crianças em idade escolar e os adolescentes, os adultos e Idosos e a globalidade da comunidade. Para as crianças em idade escolar e adolescentes foram inúmeras as atividades/estratégias realizadas com objetivos bem definidos para a sua implementação tal como se apresenta na tabela 3. De realçar a incidência de atividades e acompanhamento muito próximo e regular junto das crianças enquanto futuros agentes de mudança da Comunidade. ATIVIDADES/ESTRATÉGIAS OBJETIVOS Avaliações Cognitivas e Emocionais Acompanhamento psicológico Grupos de competências pessoais e sociais Cantinho da Leitura Amigo à Distância Quermesse da Festa da Aldeia Visita a Exposições e Museus Caracterizar e estimular/potenciar o desenvolvimento cognitivo, emocional e sócio-cognitivo; Promover um desenvolvimento saudável; Fomentar o interesse pela leitura, promover hábitos de leitura e escrita, prevenir o abandono e/ou a desmotivação escolar, expor as crianças/jovens a adultos com um percurso escolar/profissional positivo (modelagem); Promover a coesão de grupo e a autonomia individual (empowerment) por modelagem; Reforçar o envolvimento nas atividades através de momentos pedagógicos e didáticos; Tabela 3 Atividades/estratégias implementadas com crianças em idade escolar e adolescentes

No que concerne às atividades/estratégias para adultos e idosos foram estabelecidos objetivos na implementação de todas as atividades tal como descrito na tabela 4. ATIVIDADES/ESTRATÉGIAS OBJETIVOS Apoio psicológico Manter uma resposta de suporte em situações de maior fragilidade; Sessões de formação parental Reconhecer os modelos parentais e estilos educativos praticados; Promover/Enriquecer as competências parentais; Atividades de Sensibilização e Prevenção de Risco Estratégias de modificação de comportamentos; Adquirir competências para situações de riscos; Tabela 4 Atividades/estratégias com adultos e idosos Em relação às atividade/estratégias realizadas com toda a comunidade passamos a descrever algumas delas e os objetivos estabelecidos na sua implementação (tabela 5). ATIVIDADES/ESTRATÉGIAS OBJETIVO Reinauguração da Igreja São João Evangelista Valorizar um elemento de identidade comunitária, de sentimento de pertença (local) e mecanismo de coesão grupal. Festa da Aldeia Estimular a coesão social e o empowerment da comunidade. Passeios/Visitas Reforçar o envolvimento em atividades anteriores; Fomentar o convívio entre os elementos da comunidade num espaço neutro ; Promover a coesão grupal e espírito de interajuda. Encerramento da Intervenção da Equipa de Psicólogos Marcar o momento chave de desvinculação face aos técnicos. Tabela 5 - Atividades/estratégias com a comunidade As atividades desenvolvidas visaram o envolvimento dos vários elementos da comunidade, a intervenção direta e indireta quer ao indivíduo, quer à comunidade no seu todo tal como conceptualiza Lewis et al., (2002).

Em termos dos resultados da intervenção apresentam-se os resultados obtidos no Questionário de Avaliação da Intervenção Psicossocial, realizados numa 1ªfase em dezembro de 2006 e numa 2ªfase em janeiro de 2011 (momento em que preconizava o término da intervenção para março de 2011). Passamos a apresentar alguns dos resultados obtidos na avaliação realizada em dezembro de 2006, designadamente para os parâmetros continuidade da intervenção e avaliação da equipa de psicólogos, em que verifica um número maioritário de habitantes que consideram necessário e muito necessário a continuação da intervenção psicossocial (gráfico 1) e a maioria dos habitantes que responderam ao questionário que avaliaram com muito bom o trabalho realizado pela equipa de psicólogos (gráfico 2). Gráfico 1 Continuidade da intervenção psicossocial Gráfico 2 Avaliação da equipa de psicólogos

Para a avaliação realizada em janeiro de 2011, apresentamos genericamente alguns dos parâmetros avaliados, tais como, avaliação da equipa de psicólogos e finalizar da intervenção psicossocial, em que verifica um número maioritário de habitantes que responderam ao questionário que avaliaram com bom e muito bom o trabalho realizado pela equipa de psicólogos (gráfico 3) e um número significativo de habitantes refere não concordo com o finalizar da intervenção de psicólogos, mas de destacar que alguns respondem concordo que poderá indicar a aquisição de competências ao nível de autonomia individual e comunitária e empowerment (gráfico 4). Gráfico 3 - Avaliação da equipa de psicólogos Gráfico 4 - Finalizar da intervenção psicossocial Apresentamos seguidamente uma breve comparação ao nível da percepção de risco, um dos parâmetros avaliados nas duas avaliações realizadas, destacamos esta comparação pelos

resultados verificado, entre dezembro de 2006 e janeiro de 2011 verificou-se um aumento significativo ao nível da percepção de risco dos habitantes (gráfico 5 e gráfico 6), não foram apresentadas mais comparações entre as duas avaliações uma vez que o número de questionários realizados aos habitantes era substancialmente diferente. Gráfico 5 Percepção de Risco em dez.2006 Gráfico 6 Percepção de Risco em jan. 2011 Da avaliação realizada em janeiro de 2006 destacamos o parâmetro que avaliava as alterações pessoais decorrentes da intervenção realizada, onde se verificou um numero significativo de respostas que indicam apoio /suporte individual, apoio /suporte individual e segurança e bem-estar (gráfico 7). Gráfico 7 - alterações pessoais decorrentes da intervenção Em jeito de balanço final podemos indicar que após 5 anos e meio de intervenção psicossocial se verifica uma diminuição de conflitos interpessoais (maior capacidade para gerir conflitos), um aumento da coesão social que possibilitou um aumento do sentido de pertença local, a motivação para o envolvimento em tarefas que envolvem o grupo comunitário, um aumento significativo da

identidade grupal e local, resultando na assimilação de mecanismos de autonomia comunitária e implica diretamente e positivamente no Empowerment individual e comunitário e a diminuição de Situações de Risco Social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amaro, J. (2007). Sentimento Psicológico de Comunidade: uma revisão. Análise Psicológica, vol.25, no.1, p.25-33. Bronfenbrenner, U. (1979). The Ecology of Human Development: Experiments by Nature and Design. Cambridge, MA: Harvard University Press. Cameron, R. J., & Maginn, C. (2009). Achieving positive outcomes for children in care. Sage. Fernandes, A. (2000). (Alguns) quadros teóricos da Psicologia Comunitária. Análise Psicológica, vol.18, no.2, p.225-230. Horwath, J. (Ed.) (2010). The Child s World: the comprehensive guide to assessing children in need (2nd ed.). London: Jessica Kingsley Publishers. Lewis, J. A.., Lewis, M. D., Daniels, J. A., & D Andrea, M. J. (2002). Community Counselling: empowerment strategies for a diverse society. Brooks Cole. Ornelas, J. (1997) Psicologia comunitária: Origens, fundamentos e áreas de intervenção. Análise Psicológica, vol.15, no.3, p.375-388. Trevithick, Pamela (2005). Ecological perspectives in social work. In P. Trevithick. Social Work Skills: A Practice Handbook. Berkshire: Open University Press. pp. 278-280. Vidal, A. (1996). lntervención comunitaria: concepto, proceso y panorámica. ln Vidal, A. (Ed.), Psicología Comunitaria. Bases conceptuales y métodos intervención (p.257-331). Barcelona, EUB.