ACÓRDÃO 9ª Turma PROCESSO: 0000317-92.2012.5.01.0076 - RTOrd POLICIAL MILITAR REFORMADO. VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Não hã qualquer impedimento à formação de vínculo de emprego com o policial militar reformado. Recurso a que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: TRANSPORTES PARANAPUAN S.A. (Dr. Tulio Claudio Ideses, OAB/RJ: 95.180-D), como recorrente e MARCELO CORREIA BENDAVID (Dr. Sergio Murilo Gomes, OAB/RJ: 64.420-D), como recorrido. Insurge-se a reclamada em face da r. sentença de fls. 58/62, proferida pelo MM. Juízo da 76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, da lavra do Exmo. Juiz Leonardo Saggese Fonseca, que julgou procedentes em parte os pedidos contidos na petição inicial, reconhecendo o vínculo empregatício e condenando-a ao pagamento das verbas rescisórias e horas extraordinárias. Aduz, em síntese, que o autor jamais foi seu empregado, não havendo, nem mesmo pela prova testemunhal, qualquer indício de prestação de serviço, nos moldes do artigo 3º da CLT; que sequer o autor chega a mencionar quem seria o seu superior hierárquico, argumentando, ainda, que há seguranças contratados para prestar o mesmo serviço; que pelo depoimento de sua testemunha, restou evidenciado que o autor trabalhava no máximo por duas ou três vezes no mês, sendo que em alguns deles não havia prestação de serviços. 2974 1
Depósito recursal e custas às fls.75/76. Contrarrazões às fls. 80/83. Deixo de encaminhar os autos ao douto Ministério Público do Trabalho, eis que não configuradas quaisquer das hipóteses previstas no art. 85, I, do Regimento Interno, do E. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. É o relatório. DO CONHECIMENTO Apelo tempestivo; subscrito por advogados regularmente constituídos nos autos; preparo efetuado. Por preenchidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, conheço do recurso ordinário. MÉRITO POLICIAL MILITAR REFORMADO. VÍNCULO EMPREGATÍCIO O MM. Juízo de primeiro grau reconheceu a relação jurídica de emprego no caso vertente, baseado na própria prova oral, concluindo pela existência dos elementos configuradores do vínculo. Inicialmente, cumpre registrar que é com reservas que nos reportamos à jurisprudência consolidada pelo C. TST, expressa na Súmula 386 daquela Corte Superior, que permite o reconhecimento do liame de emprego entre policiais da ativa e entes privados, independentemente dos resultados nefastos que 2974 2
disso venham a decorrer, já que, por ser o reclamante agente público, vinculado à secretaria de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, e, por consequência, ao próprio ente político, prestando serviços como policial militar, cuja dedicação ao nosso entender, é integral; que não havendo qualquer pretensão de desligar-se da função pública exercida, mas sim de ver-se vinculado legalmente, com a chancela do Judiciário, a um ente privado a fim de perceber os direitos trabalhistas postulados na petição inicial; que, na verdade, a função de segurança só é exercida em razão da qualidade do autor, ou seja, agente público vinculado ao Estado no exercício da função de policial militar; que não fosse a atividade pública exercida, que pressupunha uma qualificação específica para o agir, nos limites de competência legalmente fixados, certamente não se lhe apresentaria esse tipo de oportunidade na iniciativa privada. Contudo, a presente hipótese toma nuances diversas, porque o demandante afirma na petição inicial, que é policial militar reformado. Observa-se, que muito embora a demandada tenha negado o vínculo empregatício, bem como tenha admitido que o autor somente prestava-lhe serviços de maneira eventual, sua tese de defesa restringe-se ao fato de aquele ser policial militar da ativa e que, portanto, comparecia à empresa somente nos dias em que não estava prestando serviços à Polícia Militar, olvidando-se de rebater a alegação do autor, de que é policial militar reformado, razão pela qual não havia qualquer impedimento para a caracterização do vínculo de emprego. Ressalte-se que tal alegação, além de não ter sido debatida pela ré, foi confirmada pelas duas testemunhas ouvidas (fls. 53/54). Note-se, ainda, que, ao mesmo tempo em que a ré afirma que o autor admite que os serviços prestados não eram diários, reconhece a escala de revezamento indicada na petição inicial, ao afirmar na contestação que O demandante, quando prestava serviços para a ré, laborava no regime de 12X36, usufruindo de 01 (uma) hora de intervalo, perfazendo assim, módulo inferior às 220 2974 3
horas mensais conforme previsto em lei.. Outro fato curioso, é que a ré afirma na peça de defesa que o autor não mencionou quem seria o seu superior hierárquico, quando encontra-se expressamente registrado na peça inicial que o seu coordenador era o sr. Carlos Raimundo Batista, mas que as determinações eram transmitidas pelo Dr. Jorge, diretor da ré. Assim, reunindo tais informações com o depoimento do preposto da ré (fls. 56), que nada soube informar, com o depoimento da testemunha indicada pela ré, que confirmou que o superior hierárquico do reclamante era o Sr. Jorge, dono da empresa e a escala de revezamento de 12X36, bem como o depoimento da testemunha Wendel de Azevedo Silva, que corroborou as alegações contidas na petição inicial, inclusive o autor percebia a diária de R$150,00, restam comprovadas a habitualidade, onerosidade e pessoalidade, razão pela qual irretocável a r. sentença de origem. Nego provimento. Tendo esta Relatora adotado tese explícita sobre o thema decidendum e sabendo-se que o juiz não está obrigado a refutar todos os argumentos das partes, desde que fundamente o julgado, nos termos do que dispõem os artigos 131 e 458 do CPC, 832 CLT e 93, inciso IX, da Constituição Federal, tem-se por prequestionados os dispositivos legais invocados pelas partes. CONCLUSÃO Pelo exposto, CONHEÇO do recurso ordinário interposto e no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO nos termos da fundamentação supra. 2974 4
A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, proferir a seguinte decisão: unanimidade, nos termos da fundamentação do voto da Exma. Srª. Relatora, CONHECER do recurso ordinário PROVIMENTO. por interposto e, no mérito, NEGAR-LHE Rio de Janeiro, 24 de Abril de 2013. Desembargadora do Trabalho Claudia de Souza Gomes Freire Relatora étmc/ 2974 5