ECOGRAFIAS. Ecografias. Imagens estruturais, baseadas na reflexão dos ultra-sons nas paredes dos tecidos.

Documentos relacionados
2.4 ECOGRAFIAS (2.68)

1 T. Ondas acústicas ONDAS. Formalismo válido para diversos fenómenos: o som e a luz, por exemplo, relacionados com dois importantes sentidos.

INSTRUMENTAÇÃO PARA IMAGIOLOGIA MÉDICA

Ondas Mecânicas. Exemplos de interferência construtiva, genérica e destrutiva.

1- Quais das seguintes freqüências estão dentro da escala do ultrassom? 2- A velocidade média de propagação nos tecidos de partes moles é?

PRINCIPIOS DA ULTRA-SONOGRAFIA. Profa. Rita Pereira

Execícios sobre Radiologia Industrial.

INSTRUMENTAÇÃO PARA IMAGIOLOGIA

Fenómenos ondulatórios

Impedância Acústica - Relação Entre Componente De Pressão e de Velocidade

ULTRA-SONS: DEFINIÇÃO MÉDICA

Lista de exercícios 2. Propagação da onda acústica, atenuação, absorção e espalhamento

REFLEXÃO E REFRACÇÃO A presença de defeitos ou outras anomalias em materiais pode ser detectada através da variação da impedância acústica.

Fenómenos ondulatórios

ONDAS. José Luiz Rybarczyk Filho

O SOM E A ONDA SONORA

IMAGEM MÉDICA EQUIPAMENTO (ECÓGRAFO)

SOM. Para ouvir um som são necessários os seguintes elementos: PROPAGAÇÃO DO SOM

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (SMM-EESC-USP) SMM-311 ENSAIOS NÃO-DESTRUTIVOS

Ondas Sonoras. Profo Josevi Carvalho

O Som O som é uma onda mecânica, pois necessita de um meio material para se propagar. O Som. Todos os sons resultam de uma vibração (ou oscilação).

1 T. equação equação k. equação 59

ULTRA-SONS - EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Propagação da onda sonora Prof. Theo Z. Pavan

The Big Bang Theory - Inglês. The Big Bang Theory - Português Ressonância PROF. DOUGLAS KRÜGER

18/6/2011 ULTRASSONOGRAFIA. Introdução. Introdução. Introdução. Introdução. Ultrassonografia. Arquitetura Muscular

Teste Sumativo 2 A - 07/12/2012

Física II. Capítulo 04 Ondas. Técnico em Edificações (PROEJA) Prof. Márcio T. de Castro 22/05/2017

GALDINO DISCIPLINA: FÍSICA CONTEÚDO:

8.2. Na extremidade de uma corda suficientemente longa é imposta uma perturbação com frequência f = 5 Hz que provoca uma onda de amplitude

ACÚSTICA ONDAS SONORAS. Patrick de Almeida

FÍSICA. Oscilação e Ondas. Acústica. Prof. Luciano Fontes

CURCEP 2015 ACÚSTICA

3Parte. FICha De avaliação N.º 3. Grupo I

ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE VILA FRANCA DO CAMPO CURSO VOCACIONAL ANO LETIVO 2016/2017. Módulo I. Som e Luz MARILIA CARMEN DA SILVA SOARES

Ana Gonçalves. Curso: TSHT- Técnico de Segurança e Higiene no trabalho UFCD: Unidade de Formação de Curta Duração

Ondulatória. Onda na ponte. Onda no mar. Exemplos: Som Onda na corda. Prof. Vogt

As ondas electromagnéticas penetram até uma curta profundidade na água salgada.

Física e Química 11.º ano /12.º ano

PROPRIEDADES ACÚSTICAS DA ÁGUA DO MAR

Apostila 8 Setor B. Aulas 37 e 38. Página 150. G n o m o

ULTRASSONOGRAFIA. Prof. Fernando Henrique Alves Benedito

CAPÍTULO VII ONDAS MECÂNICAS

Ondas. Onda é uma perturbação em movimento

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA AGROALIMENTAR UNIDADE ACADÊMICA DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS DISCIPLINA: FÍSICA II ONDAS SONORAS. Prof.

SÉRIE/ANO: 3 TURMA(S): A, B, C, D, E, F e G Disciplina: FÍSICA MODERNA DATA: / / 2018 PROFESSOR (A): DIÂNGELO C. GONÇALVES ONDULATÓRIA

ONDAS : Oscilação. Onda & Meio. MEIO : onde a onda se propaga. água. ondas na água. corda. ondas em cordas. luz. vácuo. som

Prof. Luis Gomez. Ondas

Comprimento de onda ( l )

Velocidade. v= = t tempo necessário para completar 1 ciclo. d distância necessária para completar 1 ciclo. λ T. Ou seja

Comportamento da Onda Sonora:

Aula-6 Ondas IΙ. Física Geral IV - FIS503 1º semestre, 2017

Sumário. Comunicações. Comunicação da informação a curtas distâncias 12/11/2015

ACÚSTICA. Professor Paulo Christakis, M.Sc. 05/09/2016 1

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Prof.ª Adriana Martins

Exercícios de Revisão Global 3º Bimestre

RELEMBRANDO ONDAS LONGITUDINAIS

Comportamento da Onda Sonora:

Correção da Trabalho de Grupo 1 Física e Química do 8ºAno

ONDAS. Ondas Longitudinais: Ondas Transversais: Ondas Eletromagnéticas: Ondas Mecânicas:

ONDAS SONORAS. Nesta aula estudaremos ondas sonoras e nos concentraremos nos seguintes tópicos:

O que são s o ondas sonoras? Ondas? Mecânicas? Longitudinais? O que significa?

@Prof.italovector. facebook.com/italovector

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Lista Extra Refração de Ondas Prof. Caio

Fenómenos ondulatórios

André Ito ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO

Capítulo 17 Ondas II. Neste capítulo vamos estudar ondas sonoras e concentrar-se nos seguintes tópicos:

Fundamentos físicos da Sismoestratigrafia

1) A sucessão de pulsos representada na figura a seguir foi produzida em 1,5 segundos. Determine a frequência e o período da onda.

FÍSICA ONDAS. Prof. Rangel M. Nunes

Comunicações. Comunicação de Informação a Curtas Distâncias. Transmissão de sinais

Transmissão de informação sob a forma de ondas

Atenuação Espalhamento

Estes exames podem registar-se em filme ou simplesmente em imagens fotográficas.

Física: Ondulatória e Acústica Questões de treinamento para a banca Cesgranrio elaborada pelo prof. Alex Regis

Fenómenos ondulatórios

ACÚSTICA DA EDIFICAÇÃO

ACOPLAMENTO ACÚSTICO

Espectro da radiação electromagnética

2.7. Difração, bandas de frequência e efeito Doppler

Módulo 04 Física da Fala e da Audição. Ondas Sonoras. Prof.Dr. Edmilson J.T. Manganote

SISTEMAS ÓPTICOS FIBRAS ÓPTICAS

Fenómenos Ondulatórios

Prof. Dr. Lucas Barboza Sarno da Silva

Escola Básica do 2.º e 3.ºciclos Álvaro Velho. Planeamento Curricular de Físico-Química 7.º ano ANO LETIVO 2015/2016

Ondas. Denomina-se onda o movimento causado por uma perturbação que se propaga através de um meio.

Velocidade. v= = t tempo necessário para completar 1 ciclo. d distância necessária para completar 1 ciclo. λ T. Ou seja

Física B Extensivo V. 6

Elementos de Óptica ÓPTICA GEOMÉTRICA. Um feixe luminoso como um conjunto de raios perpendiculares à frente de onda.

Estudo das ondas. Modelo corpuscular de transferência de energia. v 1. v = 0. v 2. Antes do choque. Depois do choque

Aula 25 Radiação. UFJF/Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica. Prof. Dr. Washington Orlando Irrazabal Bohorquez

Ultrassom em biomedicina. Onda Acústica. Theo Z. Pavan. Universidade de São Paulo, FFCLRP, Departamento de Física.

LISTA 13 Ondas Eletromagnéticas

Ondas. Jaime Villate, FEUP, Outubro de 2005

Física B Extensivo V. 8

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Departamento de Física. Electromagnetismo e Óptica. Objectivo

Física B Extensivo V. 6

ULTRASSONOGRAFIA PEQUENOS ANIMAIS

Transcrição:

ECOGRAFIAS Ecografias Imagens estruturais, baseadas na reflexão dos ultra-sons nas paredes dos tecidos. Imagens dinâmicas baseadas no efeito de Doppler aplicado ao movimento sanguíneo. ULTRA-SONS, ECOS E IMPEDÂNCIA ACÚSTICA A descoberta do efeito piezoeléctrico permitiu aceder aos ultra-sons, tendo sido a sua primeira aplicação ao nível das comunicações em alto mar. Nos anos de 930 iniciaram-se aplicações terapêuticas e apenas nos anos 940 se iniciou a sua aplicação no diagnóstico médico. Como qualquer onde mecânica, os ultra-sons necessitam de um meio para de propagarem. Quando esse meio é um fluido, criam-se zonas de compressão e de rarefacção que são responsáveis pela propagação longitudinal destas ondas. A gama de frequências audível ao ouvido humano está entre 0 e 0 000 Hz. Abaixo de 0 Hz são chamados infra-sons e acima de 0 000Hz são chamados ultra-sons, sendo, para efeitos de diagnóstico utilizados ultra-sons na gama entre e 0 MHz. Para compreender os princípios nos quais se baseia a construção de ecografias, comece-se por atender a alguma considerações associadas ao comportamento dos ultra-sons nos tecidos humanos Embora nos sólidos a direcção do movimento das moléculas seja ligeiramente diferente do que a direcção de propagação, este efeito não é muito notório nos tecidos biológicos. Quanto à velocidade de propagação dos ultra-sons nos tecidos biológicos ela é aproximadamente constante (ou seja, os tecidos funcionam como um meio não dispersivo, não existindo dependência da velocidade com a frequência da onda) e cumpre a relação: c Como em outras grandezas físicas, a potência sonora de um feixe é dada pela energia transportada por unidade de tempo. Enquanto que a intensidade é dada pela potência por unidade de área. 37

Tendo em conta a elevada gama de frequências audíveis, a escala mais apropriada para lidar com as ondas sonoras é a logarítmica. Assim, em acústica, define-se decibel através da relação: db 0log I I 0 A intensidade da onda depende da pressão máxima a que o meio fica sujeito, através da relação: I P máx c Assim, a expressão de db, pode também ser dada por: db 0 log P P máx máx 0 A velocidade do som em gases é muito menor do que nos sólidos. A título de exemplo, pode referir-se que no ar é de cerca de 344 m s -, enquanto que no aço é de cerca de 500 m s -. Nos líquidos, o som apresenta uma velocidade intermédia que é de 540 m s - para a água, por exemplo. Não é de estranhar que nos tecidos biológicos (à excepção dos ossos e dos pulmões) se assuma que a velocidade do som seja, pois, 540 m s -. Os mecanismos de atenuação dos ultra-sons são, como no caso das radiações: a absorção, a reflexão e a dispersão. Também no caso dos ultra-sons a atenuação depende da frequência dos mesmos. No caso dos tecidos moles o coeficiente de atenuação é aproximadamente 0.9, com frequência do ultra-som. No caso das ecografias, o mecanismo fundamental para a formação da imagem é o do da reflexão. Quando encontra um obstáculo, o som, como qualquer outra onda, tem um comportamento dependente da dimensão relativa do obstáculo e do comprimento de onda (c.d.o.). Quando o obstáculo é maior do que o c.d.o. e não apresenta arestas abruptas o feixe atravessa-o, mantendo as propriedades, ainda que possa mudar de direcção. Nesta situação, uma parte do feixe é reflectido e a outra parte é transmitida, dando-se o nome de reflexão especular. Quando o obstáculo tem dimensões da mesma ordem de grandeza ou menores do que o c.d.o. o feixe é disperso. De modo que apenas uma pequena parte do feixe regressa ao transdutor. 38

No caso das imagens médicas, embora existam algumas situações em que a dimensão das fronteiras é da mesma ordem de grandeza do c.d.o. dos ultra-sons utilizados, ao nível dos órgãos, as suas paredes possuem dimensões superiores ao do c.d.o. e, portanto, a reflexão pode considerar-se especular (repare-se que para ultra-sons com MHz, o comprimento de onda será de aproximadamente.54 mm). Nestas condições, para caracterizar o que acontece ao nível das interfaces, comece-se por definir impedância acústica: Z c Ora, a fracção reflectida (ou coeficiente de reflexão) de um feixe de ultra-sons que incida perpendicularmente numa superfície é dada por: R Z Z Z Z E, consequentemente, a fracção transmitida (ou coeficiente de transmissão), por: T 4Z Z Z Z Donde, facilmente se verifica que quanto maior a diferença entre as impedâncias acústicas dos meios, maior será a fracção de feixe que é reflectido. Tendo em conta esta informação, pode afirmar-se que, por exemplo, nas interfaces ar/tecido, a maior parte do feixe é reflectido, enquanto que na interface músculo/fígado o feixe é quase todo transmitido. É por este motivo que em ecografia se utiliza um gel entre o transdutor e a pele que funciona como adaptador de impedâncias. Em muitos dos equipamentos utilizados, o mesmo dispositivo funciona como emissor e receptor e, por isso, é necessário que a incidência nas paredes que se está a estudar seja perpendicular. Seja como for, não é possível evitar a detecção de ecos provenientes de refracção, a qual é governada, como se sabe, pela Lei de Snell: 39

sen sen c c Um outro aspecto a considerar é a atenuação do feixe devido à absorção, a qual corresponde, essencialmente, à transformação da energia do feixe em energia térmica, responsável pelo aquecimento local dos tecidos. EQUIPAMENTO Um transdutor para ecografia tem os seguintes elementos: O cristal deverá ter uma espessura múltipla de um c.d.o. para que a sua eficiência seja máxima. O material de recuo serve para atenuar os ultra-sons que se propagam em sentido contrário ao desejado. A construção de um destes transdutores é optimizada para uma dada frequência, 3, sendo o factor-q, uma medida da sua qualidade, dada por: Q, 3 3 e 3 são as frequências para as quais a resposta do transdutor se reduz para metade Os cristais podem funcionar em modo contínuo ou pulsado. Os feixes possuem, essencialmente, duas zonas de funcionamento: a de Fresnel, na qual as frentes de onda são planas; e a de Fraunhofer, na qual as frentes de onda são esféricas. 40

A zona de Fresnel apresenta um comprimento que é dado por: D r, sendo r o raio do cristal. Já a zona de Fraunhofer é caracterizada por uma divergência cujo ângulo cumpre: sen 0. 6 r A qualidade do feixe é de tal forma dependente da construção do mesmo que os testes de qualidade são feitos após a sua construção. A utilização de transdutores com múltiplos cristais é já uma prática comum. FORMAÇÃO DA IMAGEM Existem, basicamente, três modos de visualização da informação obtida através dos ecos de ultra-som: o modo A (de amplitude), o modo B (de brilho) e o modo M (de movimento). Representação do modo A: Representação do modo B: 4

Representação do modo M: ECOGRAFIA DE EFEITO DE DOPPLER Nas ecografias de efeito de Doppler são obtidas imagens dinâmicas do fluxo sanguíneo. O efeito de Doppler é representado através da expressão matemática: vs 0 ou, quando a v s >> c: 0 c vs c v S Quando é a superfície reflectora que se move e quando a direcção de propagação dos ultra-sons é diferente da direcção do movimento dessa superfície, a expressão toma a forma: v 0 cos c A variação da frequência é obtida através da subtracção do sinal emitido e do sinal recebido. Enquanto que nos equipamentos Doppler contínuos existem dois cristais: um que se encontra continuamente a emitir, o outro a receber; nos Doppler pulsados é utilizado um trem de ondas o que permite saber também a distância a que se encontra o reflector. 4

As aplicações são variadas: tiróide, mama, útero sendo o seu maior sucesso no acompanhamento da gravidez e nos estudos cardíacos, tanto através das ecografias tradicionais, quer das ecografias de efeito de Doppler. Feto de 7 semanas - http://www.medical.philips.com/us/products/ultrasound/education/education_hub.html Imagem ecográfica 3D - http://www.medical.philips.com/us/products/ultrasound/education/education_hub.html Imagens normal e anormal - http://www.wehealnewyork.org/services/cardiology/goodultrasound.html 43