GESTÃO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: PRÁTICAS INDISSOCIÁVEIS



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Transcrição:

GESTÃO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: PRÁTICAS INDISSOCIÁVEIS Sônia A. dos Santos Nobre EMEF Raul Pila, Campinas, SP nobrepaso@yahoo.com.br Silvia da Silva Solon EMEF Raul Pila, Campinas, SP silvia.solon@hotmail.com Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir a gestão escolar, seu vínculo indissociável com o projeto político-pedagógico e apresentar as práticas e ações desenvolvidas pela escola municipal de ensino fundamental (EMEF Raul Pila) localizada na cidade de Campinas, São Paulo. Acreditamos e investimos na gestão democrática e participativa com o envolvimento de toda a comunidade escolar. Nessa perspectiva a escola busca refletir coletivamente sobre suas práticas, regatar valores, elevar a auto-estima, melhorar a formação de seus profissionais e estabelecer novas relações de convivência no sentido de (re)significar a escola. Palavras-chave: gestão escolar; projeto pedagógico; (re)significação da escola. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas muito tem se falado sobre o papel da gestão escolar e da necessidade de mudanças para que haja melhoria na qualidade de ensino. Vivemos num mundo de desigualdades sociais e de constantes transformações. Não raro vemos na mídia cenas de violência, indisciplina e de desentendimento no interior da escola. Esse movimento social influi na ação educativa e gera uma certa insegurança aos educadores, visto que as mudanças socioculturais são diversas, rápidas e difíceis de acompanhar. Tomar conhecimento das dificuldades e problemas enfrentados pela escola já é um bom começo, mas não bastar. Para que haja mudanças é preciso ir além de discursos como: sempre foi assim, já se tentou mudar e não adiantou, é o sistema... Enfim, não se pode ver a realidade como algo imutável. É preciso acreditar que é possível e agir. Em busca de novas perspectivas de ações há de se considerar a realidade concreta da escola e o posicionamento do coletivo que nela atua. Normalmente, há uma dificuldade no avanço das práticas gestoras uma vez que já existe a presença de um discurso conformista que justifica o fracasso da escola. Sabemos da amplitude e complexidade do cotidiano escolar e que todo processo de mudança traz dúvidas, insegurança, visto que tira o sujeito da rotina, do estável. Quando se fala em gestão escolar o papel do diretor é importante, mas sozinho ele não consegue grandes avanços. Nesse sentido trazemos a concepção de equipe gestora, contemplando o diretor, o vice-diretor e o orientador pedagógico. Mas é bom lembrar que a 1

indissociabilidade entre os aspectos administrativo e pedagógico por si só não basta para que os resultados sejam positivos. Por mais que a equipe gestora se esforce no sentido de (re)significar a escola e elevar a qualidade de ensino, todo seu trabalho não traz resultados positivos se ela não tiver entendimento e parceria com a comunidade local, com o corpo docente e com os funcionários da escola. Para que o projeto político-pedagógico da escola se sustente ele precisa ser fruto de reflexões coletivas com a participação de todos os envolvidos: escola, família e comunidade. A articulação entre essas três instâncias rompe com a idéia de que um pensa e outro executa. Todos são atores do processo e responsáveis na construção de caminhos que levam a um ensino de melhor qualidade. É nessa perspectiva que se apresenta a seguir a experiência e resultado dos trabalhos realizados e projetos implementados nos últimos cinco anos na escola municipal - EMEF Raul Pila que fica na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo. DO IDEAL AO REAL: COMO A EQUIPE ENCONTROU A ESCOLA A escola - EMEF Raul Pila - possui cerca de 680 alunos e oferece o ensino fundamental regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos). Seu corpo docente é composto de quarenta e dois professores e a equipe gestora conta com uma diretora 1, duas vices e uma orientadora pedagógica. Atualmente a escola funciona nos períodos matutino, vespertino e noturno com o curso EJA. De manhã estão os alunos dos ciclos iniciais (de 1º ao 5º ano) e no período da tarde os alunos mais velhos. O curso de EJA é freqüentado pela comunidade local, na sua maioria, pais dos alunos. A escola situa-se num bairro de classe média alta, próximo a área central da cidade. Em seu entorno localiza-se um grande Shopping Center e uma favela. É justamente esse panorama urbano contraditório entre elite e favela que nos traz grandes desafios na busca de oferecer melhor formação a essas crianças que sofrem diariamente com a exclusão social. A comunidade em torno da escola apresenta diferentes níveis sócio-econômicos. De um lado tem-se a comunidade de classe média/alta que não freqüenta a escola e, raramente, se envolve com os problemas da mesma. De outro, a comunidade de classe média/baixa popular, que passa por várias privações e conflitos familiares. Esses últimos compõem a maioria dos alunos que freqüenta a escola. São famílias que, muitas vezes, vivem em condições alarmantes de pobreza. Grande parte mora na favela, muitos pais são analfabetos e não têm condições de auxiliar seus filhos nas tarefas escolares. 2

Além dos problemas sociais como desemprego e tráfico de drogas, as crianças, adolescentes e adultos convivem freqüentemente com cenas de violência e até mesmo de crimes graves, seja na família seja na comunidade onde moram. Um outro ponto a ser ressaltado é com relação à falta de estrutura familiar. Muitos alunos não têm a presença dos pais em seu dia-a-dia. Em alguns casos o pai, a mãe ou ambos cumprem pena no sistema prisional, tendo esses que viver com parentes. Há ainda casos de alunos em situação de vulnerabilidade social que são assistidos por instituições sociais Casa Abrigo. Durante a última década a escola ficou marcada por uma história de gestão inconstante. Num período de dez anos passaram por essa instituição muitos diretores, fato que impedia a realização sólida e continua do trabalho do gestor, deixando a comunidade escolar e, principalmente o corpo docente, bastante inseguro e desamparado. Em 2002, com a realização do concurso público, chegou à escola uma nova equipe gestora, trazendo junto um novo olhar de gestão e de escola pública. Essa equipe encontrou a escola em condição (tanto física, como pedagógica) bastante sofrível. O prédio encontrava-se sem manutenção. As paredes estavam pichadas, os banheiros eram precários e escassos. Os professores tinham apenas um banheiro à disposição, tendo que homens e mulheres fazer uso do mesmo espaço. Não havia limpeza nas caixas d água, nem bebedouros adequados para os alunos. Enfim, o próprio espaço físico sugeria o fracasso escolar. Tudo isso contribuía, e muito, para a baixa estima de alunos, pais, professores e funcionários. Como o entorno da escola não era protegido (por muro ou grades) os alunos viviam constantemente expostos ao perigo, pois as invasões de pessoas suspeitas eram permanentes. No dia-a-dia era difícil reconhecer quem era ou não aluno, pois muitos faziam do espaço escolar uma extensão do quintal de suas casas, ou seja, da favela. Os professores de Educação Física tinham que disputar os espaços externos com essas pessoas estranhas à escola e até mesmo com animais como: cachorros, cavalos, galinhas e porcos. Não havia quadra esportiva para a realização das aulas. A falta de infra-estrutura e o conjunto de dificuldades afetavam diretamente os resultados do processo ensino-aprendizagem. Até 2004 o índice de retenção nas primeiras séries 2 atingia o número absurdo de 30%. Além desse alto índice de retenção notava-se que os alunos aprovados apresentavam nível bastante baixo de aprendizado. Nos comentários e discussões pedagógicas prevalecia, na fala do corpo docente, o discurso do fracasso escolar baseado na defasagem de bagagem cultural. O fato dos alunos não terem em casa acesso à cultura letrada formal, era sempre vinculado à dificuldade de 3

aprendizagem. Era normal ouvir das pessoas envolvidas argumentos conformistas do tipo: é assim mesmo, isso não tem jeito, essas crianças não conseguem aprender, os pais não participam, os alunos não se interessam, não estudam, não podemos cobrar muito de nossos alunos... Havia uma necessidade muito grande de justificar o fracasso, porém a escola nunca tinha sua parcela de culpa. São os alunos que não estudam, os pais que não interessam pela vida escolar de seus filhos, o sistema que está errado, as famílias que estão desestruturadas, a sociedade que mudou. Tudo isso é verdade... Mas, o fato da reflexão sobre a prática pedagógica estar distante das discussões da escola era algo que incomodava (e incomoda até hoje) a equipe gestora. Um outro fator que nos trouxe grande preocupação foi a ausência, quase que total, das famílias na escola. A não participação dos pais era bastante visível. Pouquíssimas famílias mostravam-se interessadas em discutir com a escola o processo educativo, ficando à margem das atividades realizadas e decisões tomadas nos momentos de reuniões. A escola não era considerada como um espaço amplo de relações coletivas, de cooperação entre as diferentes partes envolvidas e trocas no processo ensino aprendizagem. Pelo contrário, era um local onde a mãe depositava seu filho de manhã e ia para o trabalho. Parecia que tudo estava em seu lugar. A responsabilidade de cada um não era discutida. Não havia articulação entre escola e família. PERSPECTIVAS DE SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS PRÁTICAS Os inúmeros problemas educacionais não se resolvem apenas com boas propostas pedagógicas e implementações de novos projetos. Não se pode ignorar a importância de políticas públicas coerentes e contínuas para a educação, de infra-estrutura adequada e de boa formação de professores para que ocorram mudanças significativas no âmbito educacional. Cada escola precisa ter competência e autonomia para estudar sua realidade, analisar seus resultados e elaborar propostas alternativas que venham atender suas necessidades. Com o auxílio do valioso Programa Conta Escola 3 que conforme a Lei nº 11.689 de 06/out/2003 e o Decreto nº 14.524 14/nov/2003, alterado pelo Decreto nº 14.576 de 31/dez/2003 prevê o repasse de verbas para as unidades educacionais públicas municipais, foi possível melhorar a infra-estrutura (pedagógica e física) e conquistar novos espaços. Sabemos que a sociedade é excludente por si só e que a escola não pode ser um espaço de correção de todas as desigualdades sociais geradas pelo acúmulo de riqueza no sistema 4

capitalista. No entanto, quando a comunidade escolar tem clareza de suas concepções de educação e de seus objetivos, muitas iniciativas podem ser implementadas no sentido de construir uma escola que seja comprometida com as relações entre educação e sociedade. Acreditar que o espaço escolar é um lugar privilegiado para que ocorram mudanças, investir nele e valorizar o professor pode ser um bom começo para desencadear na escola discussões coletivas sobre concepções de escola pública, sobre as dificuldades que ela enfrenta, sobre compromissos que ela assume com a melhoria da qualidade de ensino. Partindo desse princípio algumas posturas foram revistas e iniciativas de ordem pedagógica e estrutural foram implementadas ao longo desses cinco anos de trabalho, conforme se destacam abaixo. INVESTIMENTOS DE ORDEM ESTRUTURAL O local de trabalho é um lugar onde passamos grande parte de nossa vida. Dá-se aí a importância de nos sentirmos bem nesse espaço. É difícil despertar o interesse e a motivação se os aspectos físicos não são atrativos. Foi pensando em melhorar a estrutura física da escola e, ao mesmo tempo, as condições de trabalho do professor que investimos muito na reestruturação do espaço físico, da infra-estrutura e na construção do belo 4. A primeira ação foi no sentido de tornar a escola um espaço mais bonito e atrativo. Acabar com as pichações. Constatou-se que eram os próprios alunos que depredavam a escola; quebravam vidros, torneiras, escreviam palavrões, pichando as paredes externas e deixavam os banheiros em péssimas condições de uso. Nesse momento o trabalho com valores de higiene, de preservação do bem público foi intensificado e com a ajuda desses mesmos alunos a escola organizou mutirões de limpeza. Foi um longo trabalho de esclarecimento, convencimento e exaltação do sentimento de pertença. Por meio de diálogos, palestras e de atividades culturais a escola foi mostrada como um bem da comunidade, como um espaço constituído pelo e para o cidadão que dela faz parte. Vasos de plantas foram trazidos para a escola, dando à entrada e aos corredores mais vida e brilho. Gradativamente fomos conquistando mais respeito ao espaço público. Com o objetivo de oferecer ao professor maior possibilidade de enriquecer e diversificar suas aulas foram adquiridos novos aparelhos, tais como: televisores, rádios, DVDs, Vídeo, retroprojetor, data show, computadores, etc. A compra de jogos e outros materiais de caráter pedagógico têm também contribuído para o melhor trabalho do professor. 5

Na construção de uma nova escola com propostas diferentes de ensino percebeu-se a necessidade da criação de novos espaços físicos. Ao longo desses cinco anos foram construídos alguns espaços que têm contribuído, e muito, para melhor organização dos trabalhos na escola, como: sala de vídeo, sala de Educação Física, local onde os professores guardam seus materiais, sala pedagógica, brinquedoteca e parque infantil. A sala de informática foi reestruturada, onde hoje funcionam vinte computadores. Com relação ao laboratório de informática são necessárias algumas considerações. Esse espaço proporcionou um grande avanço no processo ensino/aprendizagem, visto que na atualidade fica difícil pensar a escola sem essa ferramenta de trabalho. É evidente o papel que a informática e os computadores podem ter na formação do aluno enquanto cidadão atuante. Acreditamos que a inclusão digital possa contribuir para amenizar a fragmentação social que se apresenta entre as elites e as camadas marginalizadas. A necessidade de fazer com que os nossos alunos conheçam e saibam fazer uso correto das novas tecnologias torna-se evidente a cada dia. Nesse sentido houve um grande esforço por parte da equipe gestora em revitalizar o laboratório de informática 5. No segundo semestre de 2006, a sala de informática da escola foi montada com novos computadores. Após a reforma física do laboratório a Secretaria Municipal de Educação instalou vinte computadores novos com software livre - Linux - e alguns programas didático-pedagógicos. Hoje todas essas máquinas possuem ligação de Internet em rede. Em maio, deste ano, chegou à escola um estagiário, enviado pela Secretaria de Educação, que nos tem prestado serviço de manutenção das máquinas e auxilia os professores e alunos no uso dos computadores e seus programas. Percebemos que quando o acesso às novas tecnologias é feito de modo significativo do ponto de vista da educação ou formação cultural, nota-se rapidamente a diferença que esse instrumento traz para o bom desenvolvimento dos trabalhos didático-pedagógicos. Não basta que os alunos sejam treinados para manejar alguns programas ou operações básicas, é necessário que eles possam, por meio de internet, por exemplo, adquirir novos conhecimentos e ampliar sua visão de mundo. A biblioteca é um outro espaço que tem sido bastante valorizado na escola. A biblioteca da escola Biblioteca Célia P. M. Belletti - possui um bom acervo tanto em quantidade como em qualidade. Além de doações de livros da comunidade local e/ou pessoas que vêm de outros locais, temos recebido, com muita freqüência, livros distribuídos pelo MEC, fato que nos tem permitido manter o acervo sempre atualizado. Atualmente o acervo conta com aproximadamente dez mil volumes catalogados, sendo a maioria livros de literatura infantil, infanto-juvenil e clássicos da literatura brasileira. 6

Uma das grandes dificuldades em colocar a biblioteca em uso e oferecer a toda a comunidade atendimento adequado é com relação à escassez de recurso humano. Não há na Secretaria de Educação o cargo de bibliotecário 6, sendo assim temos dificuldades em atender satisfatoriamente a escola em todos os períodos. Considerando que o espaço da biblioteca é inerente aos trabalhos pedagógicos desenvolvidos na escola e na tentativa de buscar soluções plausíveis a esse problema, foram tomadas as seguintes providências: a) cativar alunos que poderiam vir em período contrário ao de sua aula para colaborarem no trabalho junto à biblioteca; b) organizar material em caixas para facilitar o trabalho do professor (biblioteca ambulante) e c) colocar uma professora readaptada para trabalhar na biblioteca. Dessa forma temos dinamizado o uso da biblioteca e incentivado a leitura que é tão importante na construção da cidadania. INVESTIMENTOS DE ORDEM PEDAGÓGICA: REORGANIZAÇÃO DA ESCOLA E FORMAÇÃO CONTINUADA Sabemos que criar novos espaços e manter boa estrutura física na escola são ações indispensáveis na construção de melhoria do ensino. Mas, isso por si só não acarreta grandes mudanças. É necessário que haja também um grande investimento nas relações humanas, na (re)organização pedagógica e, principalmente, na formação continuada do professor e de todos os profissionais da escola. A indissociabilidade entre as instâncias pedagógicas e administrativas é um ponto essencial para que haja resultados positivos Foi pensando dessa forma que alguns procedimentos foram traçados no coletivo da escola. A equipe gestora permanente tem sido um fator importante para a construção e continuidade dos trabalhos. Com relação a esse aspecto a EMEF Raul Pila registra uma história de trocas continua de diretor 7. Para se ter uma idéia nos últimos dez anos, antes da chegada dessa equipe, a escola passou pela experiência de oito diferentes diretores. Ao assumir o desafio de construir uma escola de melhor qualidade, a equipe gestora fechou o compromisso de permanecer, pelo menos por cinco anos, na escola, isto é, ninguém deveria se remover. Além de oferecer maior estabilidade e segurança ao corpo docente esse fato permitiu que os trabalhos e projetos implementados tivessem continuidade. Outro fato importante que deu um grande impulso na reorganização interna da escola foi a diminuição de um período de funcionamento. Até o ano de 2004 a escola funcionava em quatro períodos, distribuídos no horário de 7:00 às 23:00 horas. Esse modelo de funcionamento dificultava a possibilidade de organização interna, visto que a escola não tinha 7

tempo para respirar. Terminava um período já iniciava outro. Não havia espaço para a realização das aulas de reforço, para as reuniões pedagógicas 8 e nem mesmo para a limpeza das salas de aula. A partir de estudos internos e de trabalho com a comunidade local a escola apresentou à Secretaria um projeto de diminuição de um período para o ano letivo de 2005 que foi prontamente aceito. A nova proposta possibilitou-nos vislumbrar outras organizações de tempo e espaço. Quando se pensa em melhoria das condições da escola é preciso incluir a formação continuada do professor e dos profissionais envolvidos nesse processo. Conforme afirma Libâneo uma formação permanente, que se prolonga por toda a vida, torna-se crucial numa profissão que lida com saberes e com a formação humana, numa época em que se renovam os currículos, introduzem-se novas tecnologias, modificam-se os comportamentos da infância e da juventude, acentuam-se os problemas sociais e econômicos. (2003, p.189). Não é por acaso que este tema está sempre pautado nas discussões sobre educação. A concepção de gestão democrática e participativa requer um olhar que valorize o desenvolvimento pessoal e profissional de toda a equipe escolar (professores, equipe gestora e funcionários). A escola de hoje é bem diferente da escola de décadas atrás. Vivemos um momento histórico de constantes mudanças: tecnológicas, de pensamento, valores, costumes, mas principalmente comportamentais. O perfil, tanto do aluno como do professor, mudou. As exigências são outras. Com a introdução das novas tecnologias e o aumento das desigualdades sociais surgiram novas necessidades na formação do professor. Apenas a formação inicial não é suficiente para que ele entenda e desenvolva de modo eficiente sua função pedagógica. O contexto atual requer do espaço escolar, da ação educativa muito mais compromisso e autonomia. Além de dominar o uso de meios tecnológicos o professor precisa também ser pesquisador do seu próprio trabalho. Precisa estudar as novas teorias que possam embasar sua prática cotidiana, saber comparar e analisar os resultados obtidos, assim como planejar novas metas a serem atingidas. Além dos cursos oferecidos pela Secretaria de Educação Municipal 9 a equipe gestora tem se preocupado em proporcionar a todos (professores, pais, alunos e funcionários) cursos de curta duração e palestra que abordam diferentes temas, de acordo com a necessidade da escola e do interesse dos docentes. A intenção é atualizar e ampliar o conhecimento de todos. Os momentos de reunião pedagógica são preciosos também para leitura e estudos teóricos. 8

Ainda pensando na formação a escola tomou outras iniciativas como assinatura de revistas, de jornal local diário, assim como a reorganização da sala de professores de modo que eles tenham sempre acessíveis materiais de leitura. A participação de todas as instâncias nos momentos decisórios é de extrema importância para que haja cumplicidade e co-responsabilidade nas ações desenvolvidas no interior da escola. O papel da equipe gestora é, sem dúvida, muito importante, visto que essa ocupa cargo estratégico. Mas, o avanço não ocorre sem a efetiva participação da comunidade. A complexidade do cotidiano escolar, assim como os resultados e conquistas não podem ser apenas de conhecimento da equipe gestora. A presença da comunidade na escola, especialmente dos pais, tem grande influência na construção de um projeto políticopedagógico eficiente e democrático. Segundo HORA a possibilidade de uma ação administrativa na perspectiva de construção coletiva exige a participação de toda a comunidade escolar nas decisões do processo educativo, o que resultará na democratização das relações que se desenvolvem na escola, contribuindo para o aperfeiçoamento administrativo pedagógico (2005, p 49). Com o intuito de promover maior integração e cativar a participação das famílias a escola tem organizado eventos de atividades culturais, oferecido palestras, realizado maior número de reunião de pais, convidado as famílias e alunos para os momentos de avaliação do projeto pedagógico, exposto seus trabalhos e aberto a escola à comunidade local. Além das iniciativas registradas acima se deve ressaltar a introdução do processo de Avaliação Institucional. No segundo semestre de 2005 a escola recebeu da Unicamp (Universidade de Campinas) a proposta de adesão ao projeto Avaliação Institucional que, naquele momento, seria articulado e apoiado por essa instituição. Movido pelo desejo de mudanças o Conselho de Escola aprovou, por unanimidade, a adesão a essa nova proposta de trabalho. Dessa forma foi criado mais um espaço de reflexão e discussão sobre as dificuldades, demandas e avanços encontrados no dia-a-dia dessa unidade escolar. PROJETOS E PARCERIAS Com a introdução da proposta de ensino por ciclo na Rede Municipal de Campinas em 2006 tornou-se evidente a necessidade de elaborar um projeto de trabalho com os alunos em defasagem idade/série. A Lei de Diretrizes e Bases n o 9.394/96 determina que os 9

estabelecimentos de ensino fundamental que utilizam progressão regular por série podem adotar o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo ensinoaprendizagem, observada as normas do respectivo sistema de ensino, primando pelo direito do cidadão a uma educação de qualidade. A concepção de educação escolar contida nessa Lei deixa claro que é tarefa da escola organizar situações de aprendizagem, valorizando as experiências dos alunos de modo que essas venham contribuir para o rendimento escolar. A Secretaria Municipal de Educação em seu documento - Reorganização do tempo escolar - incentivou as escolas a criar novas formas de organização afirmando que... a educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar (Boletim Agosto, 2005). Ao analisar a realidade da escola percebeu-se que era bastante significativo o número de alunos de 1 a a 4 a série que se encontrava em defasagem em relação à idade regular de matrícula da série que estavam cursando. Tínhamos um grande número de alunos que, por diversas razões, vinha repetindo, por várias vezes uma única série. Os anos de trabalho nessa escola têm nos mostrado que a retenção do aluno favorece também o aumento da evasão. Estatísticas educacionais revelam que, no Brasil, o aluno não abandona precocemente a escola; na realidade, ele permanece, em média, 6,4 anos antes de desistir da sua escolarização. A evasão ocorre quando o aluno se distanciou muito da série que seria ajustada à sua idade 10. Nesse sentido foi apresentada à Secretaria uma proposta pedagógica que tinha por objetivo atender, especialmente, aos alunos que ficaram para trás no desempenho escolar. A idéia era criar condições para que esses alunos pudessem avançar em seu percurso escolar, passando a freqüentar uma série mais compatível com seu grupo etário, ou seja, possibilitarlhe uma aprendizagem significativa para retomar, com sucesso, o percurso escolar estabelecido no Sistema de Ensino. Durante o ano letivo de 2006 a escola desenvolveu um projeto com esses alunos Proposta Pedagógica Diferenciada, PPD com duas salas, denominadas PPD1 e PPD2: uma turma de quinze alunos oriundos da primeira e segunda série e outra com dezessete alunos de terceira e quarta série. Ao término do ano percebeu-se que esses alunos progrediram no processo ensino/aprendizagem, podendo avançar nas séries. Os alunos de PPD1 foram inseridos na quarta série e os de PPD2 na quinta série. 10

Dentre outras iniciativas merece também destaque o projeto horta que foi introduzido na escola em 2006. A idéia da horta se firmou após a participação de uma professora em um evento de formação - Oficina de Hortas Escolares - promovido pela Secretaria Municipal de Educação por meio da Coordenadoria de Nutrição, em maio de 2006. O principal objetivo deste trabalho é promover educação ambiental, ensinar os alunos a adquirir hábitos alimentares saudáveis e praticar interdisciplinaridade. Atualmente há professores de várias áreas envolvidos no projeto e os alunos gostam muito dessa atividade. A carência afetiva e a violência doméstica que sofrem nossos alunos levam-nos a olhar não só para o pedagógico, mas também para o social, motivo que nos incentiva a discutir projetos de parcerias com outras entidades, como Posto de Saúde, ONGs e associações. O trabalho de parceria com o Posto de Saúde local tem sido muito produtivo. Desde o ano de 2004 foram organizadas palestras com profissionais da área de saúde, tanto para os professores como para a comunidade local. Foram realizados também, para os alunos menores, trabalhos relacionados à conscientização da importância da saúde corporal e bucal. Houve também vacinação para todos os alunos da escola. Além do trabalho com o Posto de Saúde mantemos contato com a APOT - Associação Promocional Oração e Trabalho. Essa instituição trabalha com adolescentes em situação de vulnerabilidade social, sendo muitos deles nossos alunos. Várias atividades são oferecidas, dentre elas preparação e encaminhamento para o trabalho, assim como curso de informática. As reuniões da Intersetorial regional também são de grande valia, visto que é, principalmente, a partir desses encontros que podemos firmar parcerias com outras entidades e secretarias. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma visão mais ampla da função de gestão escolar evidencia ações democráticas e participativas. A concepção de equipe em gestão tem nos possibilitado a implementação de novas propostas pedagógicas e administrativas. Nesse processo pensar a escola e seu projeto pedagógico requer clareza de conceitos e concepções relativas ao papel da escola como agente transformador de seu meio, ao currículo a ser trabalhado, à ineutralidade dos saberes docentes e aos novos paradigmas educacionais. Nesse sentido a construção coletiva do projeto políticopedagógico contribui, e muito, para que haja maior compromisso dos diferentes atores escolares em relação à melhoria da qualidade de ensino. 11

O trabalho coletivo envolvendo toda a comunidade escolar é imprescindível. Como resultado dessa prática já obtivemos pontos positivos como: redução do índice de repetência, de evasão, maior participação das famílias na vida escolar de seus filhos e, principalmente, mais respeito à escola. Além desses fatores o trabalho em equipe também tem nos possibilitado refletir e rever práticas, definir demandas, identificar possíveis falhas e solucionar, com maior rapidez, problemas pedagógicos e administrativos. A escola por si só não consegue resolver todos os desafios que a nova educação lhe impõe. Buscamos, a partir desse trabalho, estar atentos não apenas ao currículo, aos métodos de avaliação e a formação continuada do professor, mas também às parcerias com diferentes instituições que têm enriquecido o processo ensino-aprendizagem. Tanto as palestras como as oficinas pedagógicas oferecidas pelos parceiros têm contribuído para tirar muitos de nossos alunos da rua e da ociosidade. Entretanto, percebe-se que ainda há muito a avançar em alguns aspectos. Conquistar maior participação das famílias, assim como despertar maior motivação, envolvimento e compromisso de alguns professores e funcionários tem sido nosso grande desafio. Apesar dos bons frutos que já colhemos, acreditamos que ainda podemos oferecer muito mais aos nossos alunos. Se por um lado encontramos dificuldades e resistências por parte de algumas pessoas na implementação de novas propostas, por outro sabemos que essas mudanças, apesar de lentas, trazem grandes benefícios para a educação e especialmente para a formação de nossos alunos. A equipe gestora tem um papel importante na articulação de melhores resultados na aprendizagem escolar. Para atingir tal objetivo é necessário que o gestor seja ético e compromissado com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. NOTAS 1 A diretora da escola encontra-se em licença saúde desde fevereiro de 2006. Até a presente data a escola conta com um membro a menos na equipe. 2 Naquela época ainda não tinha sido implementado o ensino por ciclo nas escolas da Rede Municipal de Campinas. 3 O Programa Conta Escola tem por finalidade garantir maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira para as unidades educacionais, possibilitando maior agilidade na solução dos problemas e na implementação do projeto pedagógico. 12

4 A reforma do prédio da escola era uma reivindicação antiga da comunidade escolar. O Orçamento Participativo votou favorável à reforma e em 2005 iniciaram-se os trabalhos que perduraram até o término do ano de 2007. Foram momentos difíceis, mas que contribuíram para melhor entendimento entre escola e comunidade. Por questões políticas financeiras a reforma foi interrompida, fato que levou à organização da comunidade local a promover, junto à escola, várias assembléias coletivas, a fim de reivindicar a retomada das obras. 5 Quando a equipe gestora assumiu a escola o laboratório de informática encontrava-se em péssima condição de uso. Os computadores estavam sem manutenção, velhos, desatualizados e, quase todos, sem possibilidade de conserto. 6 Em maio de 2007 a Secretaria de Educação enviou à escola um estagiário, com carga horária de vinte horas semanais. O mesmo tem nos prestado grande auxílio nos trabalhos da biblioteca. Porém, deve-se ressaltar que isso não resolve o problema, visto que o estagiário permanece por tempo limitado na escola. 7 Dados pesquisados e retirados dos livros ponto da escola entre os anos 1997 a 2002. 8 Os professores da Rede Municipal de Campinas têm garantido em sua carga horária o direito de duas horas aulas semanais de reunião pedagógica, o que chamamos de TDC (Trabalho Docente Coletivo), assim como uma ou duas, depende da carga horária do professor, de aula reforço, ou seja, TDI (Trabalho Docente Individual). 9 Os professores efetivos da Rede Municipal de Ensino de Campinas têm garantido em sua carga horária três horas/aula semanais para formação. Semestralmente a Secretaria de Educação oferece cursos que abordam temas de várias áreas de interesse. 10 Cf. em RIBEIRO, 1993. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHABANNE, Jean-Luc. Dificuldades de aprendizagem: um enfoque inovador do sistema escolar. Tradução: Regina Rodrigues. São Paulo: Ática, 2006. HORA, Dinair Leal da. Gestão democrática na escola. 12. ed. São Paulo: Papirus, 2005. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 4. ed. Goiânia: Alternativa, 2003. (et alle). Educação Escolar: políticas, estruturas e organização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007. (Coleção: Docência em Formação). LÜCK, Heloisa. As exigências do novo milênio ao ensino brasileiro. Gestão em Rede, Consed. Nov. 2006, nº 74, p. 13-18. PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2006. PATTO, Maria Helena S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1991. RIBEIRO, Sérgio A. A Educação e Inserção do Brasil na Modernidade. Cadernos de Pesquisas, SP, Fundação Carlos Chagas, nº 84, 1993. SECRETARIA Municipal de Educação. Boletim, DEPE/SME Reorganização do tempo e espaço escolar. Agosto, 2005. SECRETARIA Municipal de Educação. Cartilha da Conta Escola. Fev. 2004. 13

SILVA Júnio, Celestino A. Sobre Ética, Educação e Cidadania. Alguns apontamentos. Anais do VI Simpósio do Laboratório de Gestão Educacional. Campinas/ Unicamp, SP. 2007, p. 104-110. THURLER, Mônica Gather. Inovar no interior da escola. Tradução Jeni Wolff. Porto Alegre: Artmed, 2001. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político-Pedagógico: Novas trilhas para a escola. In: VEIGA, I. A. e FONSECA M. (orgs). As dimensões do Projeto Político-Pedagógico. Campinas SP, Papirus, 2001, p.45-66. 14