www.casa.com.br/cursodedecoracao2012 aula 11 Por Teo Vilela Garimpo de móveis Circulando por entre tesouros raros e preciosos de suas conceituadas lojas e oficina de restauro, nosso professor, o designer de interiores Teo Vilela, revela o universo estimulante das compras de peças antigas. Ele abre segredos e ensina a apurar o olhar. Patrocínio Realização
Os hits do momento Disputado por aqui e por galerias e colecionadores no mundo todo, o mobiliário brasileiro dos anos 1950, 60 e 70 é o foco das atenções atualmente. As peças mais antigas atraem pela solidez de madeiras maciças, como o jacarandá e a caviúna ambas praticamente extintas. Outras primam pela estrutura nobre, feita de cedro ou de peroba, requinte impossível nos móveis atuais. Sem falar nos elaborados desenhos curvilíneos, que davam áurea de obra de arte ao produto. Já as criações da década de 1960, ganham valor por suas linhas modernistas. Os designers de maior cotação são Joseph Scapinelli (móveis de linhas orgânicas), Joaquim Tenreiro (mobiliário sem pregos, nem parafusos, apenas com encaixes), Peter Kraft, Jorge Zalszupin, Sergio Rodrigues e Zanine Caldas. Carla de Carvalho A decoração desta sala é o resultado de um garimpo minucioso. Entre os destaques estão o par de poltronas de Peter Kraft (1970), o banco maciço de jacarandá (1960) e o tapete da Santa Helena (1950).
Olhos atentos, espírito aberto A não ser que você vá a lojas de móveis restaurados, descobrir peças dessas gerações em bom estado é tarefa difícil. O mais comum é encontrá-las em estado deplorável, que num primeiro olhar não têm valor nenhum. Mas está aí a arte do garimpo: saber avaliar se vale ou não a pena o investimento. Madeiras lascadas, descoladas ou faltando pedaço, são facilmente recuperadas, assim como peças sem estabilidade, com tecidos rasgados e molas quebradas. Nas mãos de um bom restaurador, elas serão lixadas, terão suas partes falhadas preenchidas como no original, lustradas e envernizadas, resgatando o valor que já teve no passado. Todo esse processo, incluindo a tapeçaria, é rápido, leva cerca de três dias em tempo quente e seco. Por outro lado, móveis com cupim são bem mais difíceis de ser recuperados, pois têm sua estrutura comprometida. Nesses casos, o procedimento é passá-los por um caro processo de descupinização e depois esconder a madeira danificada atrás de pintura laqueada, o que irá descaracterizar a peça. Luminárias do período entre 1950 e 70 também são grandes achados. Feitas em pequenas séries artesanalmente, são artigos praticamente únicos. Porém, se tiverem vidros quebrados ou rachados, esqueça, pois é impossível consertar. Já se o problema está apenas nas partes de metal e de elétrica, a aquisição compensa. Dica: certifique-se da qualidade profissional do restaurador. Artesãos inexperientes podem destruir toda a história e importância da peça com um trabalho mal executado. Para compor com a mesa de pés torneados, a moradora escolheu cadeiras de Sergio Rodrigues restauradas pela Loja Teo.
Trabalho de detetive Com peças das décadas de 1950, 60 e 70, os proprietários montaram uma bela coleção de cristais alemães, exposta sobre o nicho da lareira. Projeto do designer de interiores Fábio Galeazzo. Até mesmo para os mais experientes no garimpo de peças antigas, identificar a idade do item não é lá muito fácil. Um dos procedimentos usados é analisar as dobradiças, as manchas e as marcas. O tempo deixa sinais indeléveis, difíceis de serem falsificados. Alguns móveis ainda preservam na parte inferior o seu selo de autenticação, com a marca do fabricante e a data do imposto pago na época. Um indício irrefutável de sua procedência. Outras fontes relevantes são os catálogos das coleções das empresas, bem como suas propagandas da época. Há, ainda, livros que reúnem criações significativas dos anos 1950, 60 e 70. Designers dessas gerações ainda vivos e restauradores juramentados também podem autenticar a verossimilhança do objeto. Sites especializados em móveis e objetos vintage são mais uma fonte respeitável de pesquisa. Certos detalhes ajudam nessa identificação. Por exemplo, vinil era um revestimento bastante usado na década de 1950, assim como os bufês espelhados internamente. Já móveis de 1960 e 70 geralmente são feitos de compensado ou aglomerado e apenas revestidos de madeiras nobres.
Visual preservado Devolver a aparência original da madeira não tem mistério para o restaurador. Mas quando se trata da tapeçaria, a coisa complica. Dificilmente será possível usar o mesmo tecido. O pulo do gato para não comprometer a raridade da peça é resgatar cortes da mesma época. Você pode procurar lojas especializadas nesse comércio ou dar uma busca no armário dos parentes mais velhos. Vestidos de tecidos resistentes rendem belos assentos de cadeiras e poltronas. Os de trama mais delicada ficam perfeitos nas cúpulas de abajures antigos. Dica: em móveis de madeiras nobres, como o jacarandá, prefira tecidos lisos e de cores neutras, assim eles não competem com a beleza da estrutura. A atriz Gorete Milagres é fã do mobiliário da década áurea do design brasileiro. Para sua cozinha, escolheu mesa dos anos 1970 e cadeiras de fibra de vidro da década de 1960, renovadas por tecido com estampa gráfica. Ambientação dos arquitetos Gustavo Jansen e Viviane Daue.
Mapa da mina Quem procura móveis antigos de qualidade não pode ter preguiça. A regra de ouro do garimpo é a perseverança. Vá várias vezes ao mesmo lugar, não tenha pressa ao selecionar os itens, aventurese por entre montanhas de cadeiras, armários, mesas e muita quinquilharia, aguce o seu faro instintivo. Um bom roteiro para tal empreitada são as instituições de caridade, antiquários, depósitos de móveis, casas com placa de Família vende tudo e bazares. Vale também visitar os parentes mais velhos e olhar com mais atenção o conteúdo de caçambas estacionadas na rua. Você vai se surpreender com as suas descobertas. Coordenação e reportagem: Maria Helena Pugliesi Produção e edição: Cristiane Komesu Veja como luminárias antigas imprimem um astral descontraído na decoração contemporânea. O arquiteto Marcelo Alvarenga optou por uma arandela dourada e por um abajur vermelho.