XIV Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro (RJ) Sociólogos do Futuro

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Transcrição:

XIV Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro (RJ) Sociólogos do Futuro A indústria de confecções e as mudanças na organização da produção. Universidade Estadual de Londrina Cinthia Xavier da Silva (autor) Simone Wolff (co-autor)

2 A indústria de confecções e as mudanças na organização da produção. Cinthia Xavier da Silva (autor) Simone Wolff (co-autor) Qualquer aperfeiçoamento mecânico lança operários no desemprego, e quanto melhor for o aperfeiçoamento, mais numerosa é a categoria reduzida a ele. Cada aperfeiçoamento produz sobre um certo número de trabalhadores o efeito de uma crise econômica, engendrando miséria, infortúnio e crime (ENGELS, 1985, p. 158). Resumo O objetivo deste trabalho é estudar a precarização na cadeia produtiva de confecção própria da reestruturação produtiva e do modelo toyotista. Abordará conceitos como flexibilização, e os termos precarização e terceirização do trabalho. Para tanto tomará como objeto o setor de confecções na indústria têxtil em Londrina, Paraná, buscando reconhecer e argumentar sobre a condição de trabalho, métodos, técnicas e direitos trabalhistas no setor. Tem a hipótese de que a reestruturação das cadeias produtivas, segundo o modelo toyotista, precariza contratos e condições de trabalho. Metodologia de pesquisa A pesquisa ainda em andamento busca contextualizar a realidade de uma das cadeias de produção da indústria têxtil em Londrina, o setor de confecções. Durante a primeira fase da pesquisa buscou-se fazer a leitura e análise da bibliografia proposta pelo Grupo de Estudos sobre Novas Tecnologias e Trabalho GENTT, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Simone Wolff, e que constam na Bibliografia deste artigo. Na segunda fase da pesquisa foram coletados dados secundários em Institutos de Pesquisa, Sindicatos e sites relacionados como Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS/CAGED e na PNAD-IBGE, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Vestuário do Paraná (SIVEPAR), Associação Brasileira de Indústria Têxtil (Abit), está em andamento a análise deste dados. Na terceira fase da pesquisa será realizada a pesquisa de campo com

3 entrevistas com trabalhadores e proprietários de facções, empresas de confecções, assim como trabalhadores autônomos/domiciliar. Foi feita uma sondagem com visitas em facções para delimitar nosso objeto. Este será uma empresa (logomarca) com destaque na região e a cadeia de produção dela, ou seja, iremos pesquisar as empresas de confecções terceirizadas por esta empresa (logomarca). Se necessário para analisar a precarização em facções ou outros tipos de terceirização, também serão analisadas outras empresas (logomarca). Introdução O objetivo desta pesquisa é investigar e analisar as condições de trabalho dos trabalhadores inseridos em um momento da cadeia de produção têxtil. Tendo como objeto uma empresa relevante no setor na região, está se destacando pelo investimento na produção, propaganda e marketing. Concentrando analise dos lugares mais precarizados na terceirização, como trabalhadores sem carteira assinada e trabalhadores autônomo/domésticos. As empresas serão analisadas em sua trajetória, se surgiu como empresa, como facção, ou com trabalhadores domiciliar. As variáveis pretendem caracterizar as condições de trabalho no setor e as condições de terceirização com ou sem contrato. A partir de 1970 o capitalismo enfrentou novo momento de crise econômica pela queda da taxa de lucro no processo de produção. O tipo de produção fordista não respondia mais às necessidades de acumulação do capital. Uma crise caracterizada pela resistência dos trabalhadores e pelo fortalecimento dos sindicatos, por crises econômicas internacionais como a crise do petróleo em 1973, e o desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social, marcaram o fim de um modelo de produção. Modelo garantido por políticas de pleno emprego, e políticas sociais, estruturado em grandes fábricas, com grandes máquinas e grande número de trabalhadores para operá-las. Foi então que outros modelos de produção começaram a se tornar importantes tentativas de sobreviver à crise. Surgia no Japão um tipo de produção diferente da existente no Ocidente. O taylorismo havia tirado do trabalhador o saber-fazer, mas não totalmente sua autonomia. O modelo por linhas de produção ainda garantia ao trabalhador controle sobre a produção. Se uma máquina quebrasse comprometia

4 todo o processo de produção, pois, é próprio da linha de produção o fluxo contínuo e linear, um produto como o carro passava pela mão de todos os trabalhadores de uma linha de produção. Isto fortalecia a luta sindical, e a greve era um mecanismo de resistência ao capital. O novo modelo, japonês, também conhecido como toyotismo possui técnicas de gerenciamento que reduzem o custo da produção, desde o fornecimento da matéria-prima até o produto final. São características do toyotismo a flexibilidade, o sistema de fornecimento just in time, a cooperação, e a articulação por meio de redes de empresas, uma nova configuração de cadeias produtivas em que os setores de produção foram colocados fora das fábricas, putting-out-system, agora com uma estrutura organizacional horizontal e não mais vertical como no fordismo. Estas características, de acordo com os estudos de Manuel Castells (1999), podem ter se desenvolvido no Japão devido à influência cultural em que se estrutura esta sociedade. Seu estudo investigou outros modelos de organização econômica e de produção do Leste Asiático como a Coréia e a China. Os modelos de economia e produção destes países são pautados pela organização familiar que determina a administração, o gerenciamento e o financiamento da produção. Contudo, segundo Castells (1999) esse não foi o principal motivo de desenvolvimento e implantação do modelo toyotista. O modelo toyotista organizado em redes de empresas interligadas pela cooperação permite ao mesmo tempo a participação de livre concorrência do mercado. Um modelo mais flexível que, diferente do padrão taylorista/fordista, é capaz de se adaptar rapidamente à instabilidade do mercado. A cooperação é um fator importante no modelo toyotista. No Leste Asiático a cooperação era inerente ao tipo de produção familiar, um tipo de ajuda mútua financeira, administrativa e técnica. No capitalismo atual, a cooperação é um fator importante porque é capaz de trocar em escala global os mesmo elementos. A empresa em rede distribui suas atividades por meio de cadeias produtivas, pequenas instalações localizadas na parte externa da empresa-mãe. A lógica da produção em pequenos grupos se estende na terceirização de parte da produção a células de produção menores. As cadeias produtivas se mantém pelo relacionamento com empresas de grande porte, pelo fornecimento,

5 administração, investimento financeiro, e trabalho terceirizado. A estrutura das grandes empresas também se transformou com a reestruturação produtiva e com as políticas neoliberais do final do século XX. João Bernardo (2000) propõe uma discussão sobre o momento em que a esfera econômica se desligou do seu caráter nacionalista. Até então a economia nacional se relacionava com outras economias através da internacionalização. No modelo fordista de produção as empresas eram multinacionais, isto é, elas levavam toda estrutura necessária para a produção nos países em que se instalavam. Eram internacionais, pois estavam arraigadas ao país de origem, tinham caráter nacional. Mas, principalmente nas últimas décadas do século XX este modelo de empresa se transformou. O capitalismo encontrou outra forma de continuar a expandir e acumular: através da transnacionalização. De acordo com João Bernardo a mudança foi percebida a partir da década de 1960 em que, segundo ele, as companhias deixaram de ser consideradas como multinacionais, e agora como empresas transnacionais (BERNARDO, 2000). Isto porque as companhias ultrapassaram os limites das fronteiras e se instalaram onde conseguem obter maior lucro com mais produtividade e melhores condições tecnológicas. Não mais deslocando todas as partes da empresa, mas apenas partes da produção convenientes por baixo custo de produção, força de trabalho qualificada com menor custo. As políticas de ajuste estrutural, adotadas a partir da década de 1970 na Europa e Estado Unidos possibilitaram soluções ao grande capital que passava por crises de lucratividade em reação ao modelo político-econômico estruturado em políticas sociais amplas e pela luta sindical de grande peso no fordismo e no Welfare-State. As práticas políticas nos finais da década de 1970, chamadas de neoliberais são caracterizadas pela retomada de ideais do liberalismo somados a necessidade de estabilização monetária, queda de inflação, enfraquecimento do movimento sindical e restabelecimento de crescimento econômico das nações, ao menos para algumas nações. Estas políticas facilitaram o deslocamento de empresas para outros países e a redução de custos na produção. O que deixa em segundo plano o fato da empresa localizar prioritariamente em seu próprio país. Os grandes movimentos econômicos mundiais tornam-se mais claros se analisarmos na perspectiva das

6 relações entre companhias transnacionais e, no interior de cada companhia, entre matrizes e filiais (BERNARDO, 2000, p. 41). Castells (1999) percebe uma relação entre empresas, não somente entre matrizes e filiais. Contudo, análises empíricas sobre a estrutura e prática das grandes empresas globais parecem mostrar que os dois pontos de vista estão ultrapassados e devem ser substituídos pelo surgimento das redes internacionais de empresas e subunidades empresariais, como forma organizacional básica da economia informacional/global (CASTELLS, 1999, p. 209). Nos dois casos o fluxo das relações de produção internacionais se dá pela via matrizes e filiais, empresas centrais e redes de empresas, através da tecnologia informacional que diminui os custos e tempo entre o fluxo de informações. Contudo, o conceito de empresas-rede, possibilita analisar as empresas não apenas na sua relação dentro dela, mas considerando também sua relação com outras empresas. Empresas de todos os tipos em que podem ser trocadas informações sobre investimentos, marketing, transporte, e outros assuntos e serviços de apoio. Incorpora uma análise das relações que a empresa faz com empresas concorrentes e com empresas que lhe oferecem trabalho terceirizado, que fornecem ou prestam serviços. Segundo Bernardo (2004) não é todo tipo de mudanças no processo de produção, muito menos a inserção de tecnologias, informática e automatização que caracteriza o Toyotismo. O toyotismo é um método que explora o componente intelectual no processo de produção não necessitando em início da automação. Exemplo disso é o que aconteceu nos Estados Unidos na General Motors e a Toyota, na década de 1980 em uma fábrica em Fremont, a New United Motor Manufacturing Inc. (NUMMI). A General Motors havia automatizado outras fábricas, se concentrou em investir em máquinas com uso de tecnologia sem acontecer mudanças na organização do processo de trabalho. Sem alcançar resultados positivos para sua produção a General Motors buscou parceria com a Toyota utilizando o método toyotista de produção, não apenas com a automação, mas, sobretudo com mudança na organização da produção. Depois de alguns anos de experiência com a Toyota, a General Motors passou a utilizar os métodos toyotista. [...] tornou-se evidente que a verdadeira chave do sucesso para uma indústria automobilística competitiva não era a alta tecnologia, mas o modo como

7 os trabalhadores eram treinados, geridos e motivados (THE ECONOMIST apud BERNARDO, 2004, p. 93). A automatização foi inserida nos métodos de organização toyotista pela exigência de qualidade do produto e foi como conseqüência deste processo de expropriação do componente intelectual que a informática se desenvolveu e foi incorporada no processo de produção. Mas antes de ser tecnologia o modelo de produção toyotista é, mudanças na forma de produzir. Se antes, no fordismo, a fábrica produzia por linhas de produção, em que entrava o aço no inicio do processo e no fim o carro estava pronto, agora no toyotismo os trabalhadores estão dispostos por células de produção, ou seja, cada momento de produção de um carro tem o seu início e o seu fim em uma célula de produção. De acordo com Silver (2005), antes desta forma de produzir, por células, fosse incorporada no processo de produção da fabricação do carro ela era utilizada no setor têxtil O poder de perturbação que a produção de fluxo contínuo coloca nas mãos dos trabalhadores não se aplica ao setor têxtil. Em contraste com a integração vertical e a produção contínua que caracterizavam a produção em massa fordista, a indústria têxtil era desintegrada verticalmente, e seu processo de trabalho dividido em fases distintas. [...] Cada máquina podia ser operada (e cada operador podia trabalhar) independentemente de outras máquinas (e operários), o que é uma impossibilidade organizacional na indústria automobilística e demais indústrias de fluxo contínuo (SILVER, 2005, p. 97). Beverly Silver (2005) analisa as transformações nas cadeias produtivas via soluções encontradas pelo capitalismo. São estas: solução de produto, solução espacial e solução tecnológica/organizacional. A solução espacial significa a busca por novos locais de trabalho e uma nova forma de utilizar a força de trabalho, nisto a produção expandiu partes da produção para países periféricos. A periferização do complexo têxtil, nas primeiras décadas do século XX, coincidiu com a ascenção de um inovador complexo automotivo de produção em massa, concentrado nos Estados Unidos um novo setor principal, não apenas em termos econômicos, mas também por ditar os padrões sociais e culturais de sua época (SILVER, 2005, p. 83). Enquanto a indústria têxtil já possuía uma produção fragmentada e expandia sua produção a outros países e

8 regiões, a indústria automobilística ainda produzia no modelo fordista. De acordo com Silver (2005), a fase de inovação da indústria automobilística, de 1913-4 com a linha de montagem da Ford até 1936-7 com as greves do COI nos Estados Unidos. Neste mesmo período a produção têxtil estava em sua fase madura, caminhando para a padronização. Considerando que as agitações operárias são maiores na fase de inovação e que para a indústria têxtil Os custos iniciais em termos de capital fixo eram relativamente menores. Firmas pequenas conseguiam ser competitivas, pois a economia de escala na produção têxtil era relativamente insignificante e o maquinário necessário podia ser importado com facilidade (SILVER, 2005, p. 91). Contribuí para entendermos como na indústria têxtil a organização da produção em cadeias produtivas iniciou antes da indústria automobilística, indústria modelo do fordismo. A precarização do trabalho nas franjas das cadeias produtivas. Através da cadeia produtiva os ramos de produção podem ser deslocados para lugares em que a lucratividade seja maior i.e., lugares em que a força de trabalho seja mais barata. De acordo com João Bernardo (2004) há um vínculo entre investimento externo direto e tipos de trabalhos qualificados. Nos países em desenvolvimento em que o custo da força de trabalho é menor e o trabalho é menos qualificado se dirigem ramos da produção que exigem menor produtividade, e tipo de trabalho no qual a exploração do componente intelectual não é necessária. Pois, são áreas nas quais o componente intelectual já foi transferido para a máquina e o domínio sobre ela se torna mais mecânico. Por isso a grande maioria dos fluxos de investimento externo direto, entre dois terços e quatro quintos, tem ocorrido no interior do triângulo formado pela Europa ocidental, os Estados Unidos e o Japão, onde a mais-valia relativa se concentra [...] O que geralmente interessa às companhias transnacionais é a força de trabalho mais produtiva, não mais miserável, e os baixos salários só se tornam atraentes quando se trata de tarefas que não requerem habilitações especiais (BERNARDO, 2004, p. 125; 127) De acordo com Bernardo a mais-valia relativa é explorada com maior freqüência nos países desenvolvidos, enquanto que nos países menos desenvolvidos é mais freqüente a exploração da mais-valia absoluta. Ainda, segundo o autor, a microeletrônica possibilita que as sugestões

9 dos trabalhadores sejam incorporadas a sistemas automatizados, que saíram dos trabalhadores como inovação e retornam como mecanismo de coação e de controle do seu trabalho através das próprias máquinas. Não se trata apenas de divisão internacional do trabalho, mas quando o trabalho intelectual foi incorporado à maquinaria, potencializada pelo fator Cadeias Produtiva a mais-valia pode ser explorada tanto na sua forma relativa quanto a mais-valia absoluta. A produção Just in time, diminuição e ajuste dos estoques, e o controle de qualidade total realizado pelos próprios trabalhadores foram desenvolvidos pelo toyotismo para que fossem reduzidos os custos da produção como o desperdício de matéria-prima e sobra de produtos que não foram absorvidos facilmente pelo mercado. Quando se opera com estoques mínimos não se dispõe de peças que possam substituir imediatamente as peças defeituosas, por isso o controle da qualidade deve ocorrer durante a própria produção, senão a passagem de um componente defeituoso seria suficiente para estrangular toda a seqüência do processo produtivo. Ora, ao encarregarem-se do controle, os trabalhadores estão a ser explorados de capacidades que antes não eram aproveitadas (BERNARDO, 2004, p. 85-86). O putting-out-system uma forma de produzir próprio da manufatura, em produção em pequena escala, coexiste na reestruturação produtiva como forma de exploração da força de trabalho. Ela tinha ficado esquecida no modelo fordista, em que era utilizado o putting-in, a produção toda dentro da grande fábrica. A cadeia de produção pode ser considerada putting-out, porque produz fora da fábrica-mãe. A produção é dividida e descentralizada, enquanto a produção permanece centralizada. Nos Estados Unidos em 1980, cerca de 10.000 pessoas trabalhavam no domicílio em regimes que recordam o putting-out (BERNARDO, 2004, p. 122). O putting-out-system na confecção não é apenas porque a confecção é uma cadeia de produção da indústria têxtil, mas há costureiras que inseridas no processo de produção de costura trabalham em casa, são as costureiras autônomas/domiciliar. O caráter mais centralizador da acumulação de capital e o caráter descentralizador da produção relacionam grandes corporações e cadeias produtivas. O efeito cascata da produção pode se desenvolver entre uma

10 empresa de médio porte para uma micro-empresa e desta para setores mais precarizados. Este efeito cascata é financiado pelo tipo de contratação por terceirização. A empresa central terceiriza parte da produção para outra empresa que terceiriza para outra. Este processo fragiliza as condições de trabalho e a garantia de direitos trabalhistas antes melhores definidos e protegidos legalmente, e hoje mais flexibilizados. A empresa que terceiriza não responde pelas responsabilidades de pagamento de INSS, Fundo de Garantia, e outros encargos para os trabalhadores das empresas terceirizadas. Segundo Marcelino (2008) flexibilização do trabalho possui um amplo significado que pode ser incorporado em situações do nosso cotidiano e ser empregado em vários tipos de acontecimentos escondendo, o que usualmente chamamos por flexibilização do trabalho, formas de precarização das condições de trabalho e da legislação trabalhista. De maneira geral, na língua portuguesa, o termo flexibilidade tem uma conotação bastante positiva, associada à possibilidade de adaptação à mudança, à aptidão para variadas atividades, à destreza e agilidade (MARCELINO, 2008, p. 84). A idéia de flexibilização do trabalho começou a ser assimilada a partir da década de 1970 com o início da implementação das políticas ditas neoliberais. Indicam mudanças que ocorreram no que estava estabelecido nos direitos e leis trabalhistas conquistadas durante o Welfare-State, Estado Providência e o Fordismo. No Brasil, a flexibilização das leis trabalhistas ou a desregulamentação trataram de modificar principalmente as conquistas garantidas pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhista) na década de 40 (MARCELINO, 2008; LIMA, 1998). Ainda que a CLT não tenha significado proteção dos direitos sociais a todos os trabalhadores brasileiros, é uma garantia em se estabelecer seguridade e proteção social no Brasil. De acordo com Marcelino a efetiva flexibilização no Brasil ocorreu em 1990 com Fernando Collor de Melo e posteriormente com Fernando Henrique Cardoso com novas formas de contratação; novas formas de resolução de conflitos; e modificações no tempo de trabalho (GALVÃO apud MARCELINO, 2008, p. 91-92). A terceirização não onera o capital, pois requer poucos encargos. Apoiados pelo Estado, estes setores buscam modificar a legislação em nome da necessidade de maior flexibilização na legislação vigente, com a redução ou

11 eliminação destes encargos (LIMA, 1998, p. 3). Assim os setores terceirizados não encontram uma saída mais viável do que precarizar ainda mais o trabalho, utilizando de contratos de trabalho precários ou até mesmo do trabalho informal. Em última instância, de acordo com Marcelino, flexibilização das leis trabalhista significa precarização das condições trabalhistas, [...] quando se fala em flexibilidade do trabalho o que está em jogo, na verdade, é um processo de precarização das condições de trabalho e emprego (MARCELINO, 2008, p. 86). De que forma a terceirização acontece na indústria de confecções? Poderíamos perguntar como em uma sociedade informatizada pode haver tipos de produção onde não há quase nenhuma automatização com um tipo de trabalho que pode ser tão especificamente manual, como no setor de confecções? Comparados a outros setores com a aplicação altamente tecnológica na produção, o setor de confecções avançou pouco nas máquinas, técnicas e modo de execução de trabalho. A confecção é a área menos automatizada da cadeia têxtil. Pois o trabalho é em grande parte manual, não dispensa a força de trabalho das costureiras. Mas se quanto à tecnologia não houve muitos avanços, o capitalismo encontrou outra forma de aumentar a produção e diminuir seu custo, através da terceirização. O toyotismo como paradigma organizacional estendeu seus limites a praticamente todos os ramos de produção. Como objeto de investigação das características do modelo de produção capitalista será utilizada a indústria de confecções em Londrina, Paraná. A região esta crescendo como um pólo de desenvolvimento da indústria têxtil no estado, no entanto, enfrentam muitas dificuldades no que se refere a investimento, condições de trabalho e proteção jurídica. E assim como outros setores da produção, o setor de confecções também sofreu modificações com esse novo tipo de organização da produção, isto porque as empresas não produzem isoladas, condições não apenas da reestruturação produtiva do fim do século XX, mas característica própria do mercado em que se trocam tudo que é mercadoria, desde produtos de consumo de massa, meios de produção, força de trabalho e tecnologias de produção. O que estudos como o de Jacob Carlos Lima (1998) e de Jinkings e

12 Amorim (2006) mostram é que existem pelo menos duas formas de terceirização no setor de confecções. Pode ser tanto na forma de cooperativas como na forma de facções. Ainda não há registro de cooperativa de confecção em Londrina, no entanto estamos encontrando facções e costureiras que trabalham em casa, que possuem máquinas próprias ou emprestadas por empresas para qual fornecem o serviço. Quando há pouco crédito, as pequenas empresas possuem poucas condições de obter máquinas mais sofisticadas, assim quando não emprestadas, a falta de maquinário adequado determina o tipo de produto fabricado. Esta pesquisa destina-se a investigar a precarização na cadeia produtiva de confecção nas condições de trabalho, na terceirização, discutindo direitos trabalhistas e mudanças no processo de trabalho. Assim sendo nosso objeto de pesquisa trata-se de uma empresa, ou melhor, uma logomarca de peças de vestuário, sobretudo, com tecido jeans. Essa empresa está se destacando na cidade pelo investimento em propaganda, marketing. O que foi encontrado até este momento é que a empresa terceiriza parte de sua produção para facções e confecções registradas, ou seja, são empresas que existem legalmente e empregam legalmente. Isto porque esta empresa exige nota fiscal às terceirizadas. Mas em contrapartida não foi verificado nenhum tipo de contrato com estas facções. Pelo contrario, quando a empresa não tem trabalho a ser repassado às facções, estas precisam em última hora procurar trabalho ou aceitar trabalho de outras empresas (logomarcas) que muitas vezes pagam. Que garantias possuem os trabalhadores de confecções com este tipo de terceirização? Ainda que registrados, se seu empregador não possui garantia de um ritmo de trabalho. São empregadores, mas que vivem na instabilidade. Serão analisados também dados de outras empresas (logomarcas) sempre que necessário para analisar a precarização do trabalho. Além disso, esta pesquisa pretende investigar se há costureiras que trabalham em domicilio para esta empresa, que chamaremos aqui de Empresa A, seja terceirizada pela empresa, seja terceirizada pela facção. Reestruturação produtiva e extração de mais-valia. Parece-nos que a indústria têxtil atua numa forma híbrida de organização

13 da produção, uma parte totalmente inserida na reestruturação produtiva, mas outra parte com condições de trabalho com pouco desenvolvimento dos padrões de automatização e tecnologia. Existem momentos da produção em que é explorada mais-valia absoluta dentro de um processo de produção toyotista que desenvolveu a exploração do componente intelectual e o desenvolvimento tecnológico, ou seja, maximizou a exploração da mais-valia relativa. Deste modo, ao mesmo tempo que introduziu um novo estágio de maisvalia relativa, o toyotismo levou ao aparecimento de certas modalidades de exploração, que comparadas com os estágios anteriores apresentamse como mais-valia relativa, mas que comparadas com a situação nas empresas mais evoluídas do estágio atual revelam-se como mais-valia absoluta. Tal como sempre tem sucedido, também hoje a mais-valia absoluta é o complemento necessário da mais-valia relativa (BERNARDO, 2004, p. 132). Na indústria de confecções podemos encontrar as duas formas de realização da mais-valia imbricadas no processo de produção. Quando a produção se dá pela subsunção formal do trabalho, ou seja, em formas de produção em pequena escala, prolongamento da jornada de trabalho, o tipo de mais-valia extraída é a mais-valia absoluta. Mas quando as pequenas facções estão inseridas em uma rede de produtos ampla, de fabricação de grandes marcas funcionando na lógica do modelo de produção toyotista, soma-se a isso a utilização de tecnologias para elaboração e marketing de marcas divulgadas nacional e internacionalmente, as facções também participam da subsunção real do trabalho onde é extraída a mais-valia relativa. Quanto maior a quantidade de capital, meios de produção que possui o capitalista, maior é a subordinação que se estabelece entre os trabalhadores e o empregador. Quanto menor for a quantidade de capital, menor será a subordinação e menor a extração de maisvalia. A extração da mais-valia relativa se dá em produção em larga escala, geralmente em padrões já consolidados pelo capitalismo, onde o capitalista possui condições de repor os meios de produção (MARX, s./d.). Quando a costureira trabalha para sua própria renda e por sua conta, o caso das costureiras autônomas, com produção para o consumo próprio, não existe relação de subordinação, apenas relação no sentido puramente monetário. Este tipo de produção não trata de produção capitalista, pois não há extração de

14 mais-valia. Mas há possibilidade da facção ou mesmo cooperativa terceirizar seu trabalho para costureiras autônomas que trabalham em seu domicílio, assim elas também foram inseridas na produção capitalista e lhe é extraída mais-valia relativa e absoluta. A Indústria Têxtil no Brasil. No Brasil a alteração no processo de produção da indústria têxtil acompanhou o momento de crise do mercado interno e externo dos anos 80 e 90. Até 1980 a indústria têxtil ainda estava amparada por uma relativa estabilidade, ao menos no que se refere ao trabalhador. Contudo, na década de 1990 o setor têxtil no Brasil passou a sofrer o impacto das políticas econômicas de ajuste fiscal que favoreceu a abertura do mercado para importações de modo geral. O primeiro impacto sobre o setor têxtil, segundo Jinkings e Amorim (2006), foi a abertura do mercado, pois aumentou a concorrência entre as empresas nacionais e as internacionais, e na medida em que o investimento nas indústrias nacionais era menor, elas não tiveram, em grande parte, condições de inovar tecnologicamente e em novos produtos. Desta forma, apenas as empresas maiores puderam manter relativa estabilidade para a competição no mercado internacional. As empresas têxteis com maior poderio econômico mantiveram-se no mercado à custa de intensa reestruturação produtiva. O uso de tecnologia para aumentar a produtividade do trabalho, as novas formas de organização da produção e a introdução maciça da terceirização para reduzir os custos do trabalho resultaram em forte aumento dos níveis de desemprego e subemprego no setor têxtil. Nesse quadro, o crescimento explosivo de micro e pequenas empresas têxteis na década de 1990 pode ser pensado como conseqüência da expulsão de enorme contingente de trabalhadores do mercado formal de trabalho e das tentativas desses trabalhadores de se reinserir no mercado, agora na condição de autônomos (JINKINGS; AMORIM, 2006, p. 342). O crescimento do setor no Brasil aconteceu principalmente pelo aumento do número de micro e pequenas empresas, o que significa a inserção na lógica da descentralização da produção, característica da reestruturação produtiva ensejada pelas políticas neoliberais. Podemos perceber também o enfoque da

15 descentralização no discurso em torno da necessidade de se empreender, muitas vezes utilizado como marketing pelas empresas de educação (privadas ou parcialmente privadas) de que no contexto atual o trabalhador precisa ser um empreendedor, e de que não faltam empregos para quem se qualifica e recicla seus conhecimentos freqüentemente. Embora o aprendizado técnico e profissionalizante seja necessário para a inserção no mercado de trabalho, o que percebemos é que se mascaram os problemas estruturais, o agravamento da exploração da força de trabalho, o que precariza condições de trabalho, entre outros problemas sociais. Ao ir a campo, durante a sondagem, nas confecções em Londrina percebemos que um dos problemas enfrentados pelos donos de facções e/ou empresas é a falta de trabalhadores qualificados para a produção de peças mais sofisticadas. Tanto as máquinas como o tipo de peça produzida em tecidos planos, é mais difícil de manejo do que tecidos como malhas. As máquinas custam mais caro e por isso facções menores tendem a costurar tecidos como malha. A falta de força de trabalho qualificada para lidar com cortes de costura mais detalhados e que necessitam de conhecimento de novas máquinas interferem na quantidade e qualidade da produção nas confecções. A qualidade neste setor é um grande diferencial no momento da venda, pois, são as peças que valem mais na fabricação das facções de costura. Ainda sobre as qualificações, as dificuldades permeiam os órgãos que apóiam às micro e pequenas empresas. No caso as confecções, há incentivo à elaboração de marca de vestuário às micro e pequenas empresas que quiserem começar a fabricar sua própria peça através do auxilio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE, mas a título de evidenciar o problema colocamos aqui a questão de um proprietário entrevistado no ramo de confecções. Segundo ele, a tentativa do SEBRAE é boa, mas está começando pelo lado errado, do que adianta ter bons empreendedores se não há profissionais qualificados para produzir novos produtos? O surgimento de micro e pequenas empresas, segundo o estudo desenvolvido pelas autoras Jinkings e Amorim (2006), na indústria de Santa Estamos considerando empresas aqui aquelas que possuem marca própria e que é responsável pela produção desta marca.

16 Catarina, especificamente o caso da Levi Strauss do Brasil, verifica-se como estratégia de terceirização, de redução de custos e flexibilização da jornada de trabalho e dos direitos trabalhistas. Neste caso, a micro e pequena empresa, assim como as cooperativas aumentaram em número depois que as grandes empresas passaram por processo de reestruturação produtiva e despediram boa parte dos empregados. Estas foram incentivadas para abrirem seu próprio negócio com a garantia de que a empresa, a Levi s, as contrataria agora terceirizadas, mas que elas continuariam trabalhando para a empresa como era antes. As dificuldades são maiores para quem possui pouco capital, pouco crédito e incentivos. No caso das cooperadas não podem se filiar em sindicatos, o que possibilitou o enfraquecimento da luta por melhorias das condições de trabalho, dentro da empresa maior e fora dela. No caso dos proprietários de facção, em Londrina, não possuem sindicato próprio, o sindicato patronal apenas representa aqueles donos de facções que possuem marca ou produto próprio, e não o produto terceirizado que fabricam. Sendo assim, o dono de facção está por conta própria no mercado sem direitos e garantias de trabalho. Pode haver o contrato de terceirização, mas não é certeza de que toda terceirização tenha sido feita através de contrato formal, e mesmo se assim fosse que tipo de direitos estariam garantidos? O contrato de terceirização foi forjado pela lógica da flexibilidade, o que nesse caso é sinônimo de fragilidade. A precarização do trabalho para aqueles que trabalham em casa, ou que mesmo nas facções trabalham sem registro em carteira ou outro tipo de contrato é ainda maior, visto que não possuem garantia de direitos trabalhistas como em caso de acidente de trabalho, demissão sem justa causa, licença maternidade, entre outros. Para ajudar na produção, geralmente a mulher da família, os filhos e parentes podem desempenhar serviços que não serão remunerados simplesmente por não serem reconhecidos como trabalhadores. É uma forma de exploração de mais-valia absoluta, da extensão da jornada de trabalho, é a utilização de trabalho não pago. De acordo com o Relatório de acompanhamento setorial: Têxtil e Confecção (2008), em 2007, 52,1% dos estabelecimentos de vestuário no Brasil Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABDI e o Núcleo de Economia Industrial e da

17 possuem até 4 empregados e 19,3% possuem de 5 a 9 empregados, e 14,2% possuem de 10 a 19 empregados, ou seja, 85,6% são microempresas e 12,9% são pequenas empresas de acordo com a classificação do SEBRAE. Esse dado pode representar duas faces de um mesmo movimento. Primeiro porque mostra a viabilidade para o grande capital de terceirizar sua produção, especificamente no setor de confecções, através de contratação de microempresas, pequenas empresas, cooperativas, e facções diretamente, mas também implica a terceirização da terceirização, ou seja, a quarteirização quando a empresa terceirizada também terceiriza parte da sua produção. Segundo, que pela instabilidade econômica, principalmente por representar instabilidade para o trabalhador, a falta de emprego tem como resposta o incentivo ao empreendedorismo, ao faça você mesmo. É esta a solução que o mercado tem dado a crise que ele próprio gera? Em Londrina, conforme reportagem do Jornal de Londrina (JL), a cidade possui destaque no setor de confecções na indústria e no comércio. Possui mais de 430 indústrias de confecções e gera cerca de 12 mil postos de trabalho. De acordo com os dados da RAIS do Ministério do Trabalho, Londrina possuía em 2007, 464 estabelecimentos de confecções, destes 196 tinham até 4 vínculos ativos, 77 estabelecimentos de 5 a 9 vínculos ativos e 53 não possuíam nenhum vinculo ativo. O que evidencia que na cidade 58,8% dos estabelecimentos de confecções são microempresas. Segundo o CADERNO SETORIAL INDÚSTRIA DE LONDRINA (s./d., p. 14), Londrina é a cidade em que apresenta o menor custo da força de trabalho no país. Em Londrina, tal aspecto representa um ponto positivo da análise. O custo médio da mão-de-obra na cidade é caracterizado como abaixo da média nacional, todavia quando comparado aos mercados internacionais (China, Coréia, Singapura, etc.), percebe-se que os baixos salários, pagos naqueles países, favorecem suas políticas agressivas de preços impostas ao mercado de confecções (CADERNO SETORIAL INDÚSTRIA DE LONDRINA, grifo nosso, s./d., p. 14). O que para os autores do Caderno Setorial soa como um aspecto positivo, visto que o menor custo da força de trabalho pode significar maior investimento no setor. Menor custo da força de trabalho é precarização do trabalho, os Tecnologia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas Unicamp, vol. II, dezembro de 2008.

18 trabalhadores estão submetidos a piores condições de trabalho. Considerações Finais. De que forma as mudanças no processo de produção acontecem e quais suas implicações para a vida do trabalhador, são questões que ainda estão em discussão. Mas podemos concluir que no capitalismo as mudanças tendem a aumentar a distância entre a produção social do trabalho e os produtores dos bens de consumo e seu próprio trabalho. Ainda que em fases econômicas que possibilitam o aumento da riqueza social o poder de consumo dos trabalhadores aumente, não aumenta a sua autonomia sobre o trabalho, e muito menos equivale sua condição de vida com a riqueza e diversidade da produção que realizam. A reestruturação produtiva do começo dos anos 1980 nos trouxe o que temos de mais avançado em informática, em tecnologia, mas utilizou-as como meio de exploração e desenvolvimento do capital em detrimento dos trabalhadores. Que direitos possuem os trabalhadores? Qual sua parcela na produção social? Qual a importância do trabalho humano na sociedade da informação e qual é o lugar de reconhecimento de direitos deste trabalhador? São essas questões que orientam este estudo sobre a reestruturação produtiva no setor de confecções em Londrina. Sobre a pesquisa em Londrina, ainda está em andamento, e os dados ainda são muito limitados. Contudo, é possível perceber que as novas tecnologias na produção interferem na indústria de confecções. No Brasil, ainda é incipiente a qualificação, os métodos de controle de qualidade durante a produção, e a inserção de novas tecnologias. Quanto às condições dos trabalhadores, vê-se que a precarização do trabalho, a desregulamentação das leis trabalhistas, o desemprego estrutural, insere-se totalmente na produção da confecção. Na cadeia produtiva de confecções prevalece ainda o trabalho humano sobre a tecnologia. A indústria de confecções executa um trabalho manual. Percebemos que as máquinas são adquiridas conforme as condições financeiras da facção. Tecido plano como o jeans necessita de máquinas mais sofisticadas, e segundo os faccionistas, mais caras. Por outro lado, roupas de tecidos como malhas podem ser fabricadas com máquinas mais simples e mais baratas. O tipo

19 de máquina interfere na qualidade da peça, entre outros fatores, o que pode determinar o valor do custo da peça para a facção. Também foi observado durante a sondagem que em Londrina e região há falta de trabalhadores qualificados para a confecção. A costureira é contratada pela sua experiência, mas se esta não é comprovada, ou quando esta experiência não corresponde com o tipo de trabalho que irá executar, há um tipo de treinamento dado pelo proprietário ou costureira da facção. A qualificação é importante, mas escassa no setor. A profissão de costureiro (a) em Londrina, segundo proprietário de confecção, é cultural, as mulheres ganham uma máquina de costura aos 15 anos, e acham que são costureiras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, Ruy. O trabalho na trama das redes: para uma crítica do capitalismo cognitivo. In Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, Vol. VI, n. 3, Sep. Dec. 2004. BERNARDO, João. Integração econômica mundial e ilusões nacionalistas. In: Transnacionalização do Capital e fragmentação dos trabalhadores: ainda há lugar para os Sindicatos? São Paulo: Boitempo, 2000. BERNARDO, João. O toyotismo: exploração e controle da força de trabalho. In: Democracia totalitária: teoria e prática da empresa soberana. São Paulo: Cortez, 2004. CASTELLS, Manuel. A empresa em rede: a cultura, as instituições e as organizações da economia informacional. In:. A Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. ENGELS, F. Os diferentes ramos da indústria. In: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1985. JINKINGS, Isabella; AMORIM, Elaine R. A. Produção e desregulamentação na indústria têxtil e de confecção. In: ANTUNES, Ricardo (org.). Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006. LIMA, Jacob C. Desconcentração industrial e precarização do trabalho: cooperativas de produção do vestuário no Brasil. XXI International Congress, Chicago, september, 1998.

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