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Transcrição:

Os artigos publicados na Revista das Faculdades Santa Cruz são de inteira responsabilidade de seus autores. Os pontos de vista deles não espelham, a rigor, a percepção de mundo da Instituição. FACULDADES INTEGRADAS SANTA CRUZ DE CURITIBA Instituição de Ensino Superior, de caráter educacional e científico, fundada em 1º. de agosto de 1993, mantida pela União Paranaense de Ensino e Cultura UNIPEC - pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com a missão de promover o ensino, a iniciação científica e a extensão, almejando o estabelecimento de um processo norteador para a educação continuada. Diretor Geral José Antônio Soares Diretora Financeira Mirian Moreira da Silva Soares Editor Chefe José da Silveira Filho Editor de Arte Pedro Moreira da Silva Neto Conselho Editorial Fábio Marcelo Sorgon José Guilherme Silva Vieira Rodrigo Tadeu Gonçalves José da Silveira Filho Hugo Eduardo Meza Pinto Projeto Gráfico José da Silveira Filho Impressão Gráfica Ajiir Diagramação Kathia Delari Capa Camila Florêncio Martins Fotolito Ajiir Revista das Faculdades Santa Cruz v. 6, n. 1 (jan./jun. 2007) Curitiba: Gráfica Ajiir, 2008. ISSN 1676 0328 1. Administração Periódicos. 2. Economia Periódicos. 2. Contabilidade Periódicos 4. Tecnologia em Processamento de Dados. Periódicos. 5. Direito Periódicos. 6. Linguagem e Línguas Periódicos. CDD658 330 657 004.9 340 400 Endereço para correspondência: Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba Rua Pedro Bonat, 103 Capão Raso CEP 81110-040 Curitiba/PR C-eletrônico: revista@santacruz.br

Sumário Nota do Editor... 07 Crônica Tempo flor Pedro Moreira... 09 Conversando com o Piano Entrevista com a Professora Olga Kiun...11 Revolução empreendedora: ensinar a empreender Celso José de Oliveira; Maria Helena Moretto dos Santos e Patrícia Bellotti Carvalho... 17 Considerações sobre a importância das instituições para o desenvolvimento das metrópoles Gilson Batista de Oliveira... 25 Realidade brasileira, poder local e turismo social: as interfaces com o desenvolvimento social Grazielle Ueno e Silmara Carneiro e Silva... 31 Educação histórica e cultura política: pode o ensino de história evitar que os jovens vendam seus votos? Ivan Furmann... 43 Conto - O Pessimista Notório Pedro Moreira da Silva Neto... 55 Comentário A arte de reeducar nossos filhos Lucilia Bonfim... 57 Lavrando Sonhos Entrevista com o Professor José Antônio Soares... 61 Grande sertão: veredas e as figurações do Brasil Jaqueline Koehler... 65 A indústria automobilística brasileira: um enfoque interdisciplinar do caso Renault José da Silveira Filho... 71 Crimes tributários na legislação brasileira Maicon Guedes... 85 A tecnologia para a adequação do corpo deficiente Marcelo Madsen Barbosa e Roger Simon Steppan... 97 Resenha: Lavoura Arcaica de Raduan Nassar Fábio Luiz San Martins... 107 O olhar da Cordilheira dos Andes Entrevista com o Professor Hugo Eduardo Meza Pinto... 111

Nesta Edição Crônica TEMPO FLOR A singularidade do tempo no cotidiano 09 Entrevista A PEDAGOGIA DA MÚSICA Como imaginar o mundo sem a música e seus intérpretes? Talvez esse mundo não existisse ou fosse algo ainda mais intolerável. O homem não se suportaria pelo tédio, pela ausência da beleza criativa que nos aproxima uns dos outros. Que nos retira do instinto e nos aproxima mais da inteligência. Se a humanidade chegou até aqui é por causa de tudo o que produziu de bom. A música é uma dessas inventividades extraordinárias. 11 Empreendedorismo ENSINAR A EMPREENDER Determinados ensinamentos somente se aprenderiam na prática. Seria o caso do empreendedorismo. Este artigo vem modificar essa visão. É para contrariar o samba de Noel Rosa, que dizia ninguém aprende samba no colégio. Aprende sim. 17 Economia Regional METRÓPOLES E DESENVOLVIMENTO Este artigo estuda a importância das instituições e do planejamento no processo de desenvolvimento das cidades que compõem uma região metropolitana. Parte da compreensão e dos conceitos de Douglas North para explicar como a cooperação entre municípios limítrofes com a cidade central auxilia o desenvolvimento metropolitano. 25 Turismo TURISMO SOCIAL O desenvolvimento social deve se voltar para um modelo que seja sustentável e vise uma sociedade mais justa, digna e humana. Entende-se para isto uma forma de desenvolvimento sustentável, intimamente relacionado com a dinâmica da vida em sociedade no espaço local. Nesse escopo, o turismo social pode ser alternativa para atingir este objetivo uma vez que possui em suas bases o desenvolvimento local como meta. 31 Educação ENSINO DE HISTÓRIA Afinal de contas para que serve o ensino de História? Essa pergunta muitas vezes serviu de base para atacar a presença da disciplina na escola. Isso porque muitos acreditavam na sua inutilidade para a vida prática dos alunos. A forma tradicional de se ensinar História foi a grande responsável para a disseminação dessa visão. 43 Conto O PESSIMISTA NOTÓRIO Não se trata apenas do desenovelar de uma história curta. Para além disso, o texto é uma manifestação da capacidade de tornar original e emblemático fatos que em si passariam desapercebidos. 55 Comentário A ARTE DE REEDUCAR A difícil arte de educar nossos filhos num mundo quase ausente de valores humanos. Resgatar a crítica à estória infantil para reconstruir nossos rebentos num ser humano transparente, límpido como um cristal. Que se possa dizer humano. 57 Entrevista LAVRANDO SONHOS Qual ser humano um dia não sonhou com algo, mais ou menos realizável ou até quimérico? Justamente estas fantasias do espírito nos mantém vivos e prontos para lutar no dia a dia. Poucas pessoas viram suas criações se materializarem. Aqui segue a história de como as Faculdades Santa Cruz saltaram da imaginação para se tornar uma Instituição de referência pelo sonho de seu idealizador. 61 Literatura GRANDE SERTÃO Este estudo traz como objetivo estudar uma das maiores obras da literatura brasileira, o romance ímpar de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, quando a língua portuguesa se mostra em verdade língua brasileira com sua característica, jeito, definição própria, sendo praticamente reinventada ou redescoberta em seu espaço geográfico. 65 Indústria O CASO RENAULT A indústria automobilística se destaca entre as mais importantes no conjunto da indústria brasileira. Enfrenta acirrada concorrência entre seus pares, competindo pelo mercado brasileiro de automóveis. Este estudo procura avaliar sob um enfoque marxista, de universalidade, transformação e contradição dialética, a capacidade de sobrevivência da recém chegada Renault, representante do capital industrial francês, no cenário econômico brasileiro. 71

Direito CRIMES TRIBUTÁRIOS O Estado oferece bens e serviços às classes sociais que não podem retribuir por itens que lhe são necessários como saúde, educação, alimentação, transportes, acesso ao judiciário. O descumprimento da obrigação tributária implica na incidência do Direito Penal como forma de prevenir e retribuir a conduta desviante. O discurso declarado do Estado passa a idéia de punição severa àqueles que afrontam fraudulentamente a Ordem Tributária. Entretanto, o discurso real prega um afrouxamento da política criminal quando a clientela se trata de classes sociais mais abastadas. A sensação criada é de impunidade perante toda a sociedade, criando um ar de seletividade social à persecução penal. 85 Informática TECNOLOGIA E MEDICINA Este artigo traz de forma bem ampla o quanto a tecnologia pode ajudar a romper as barreiras que uma deficiência motora pode causar. Recentemente tem-se aplicado soluções tecnológicas para co-agir no ambiente biológico, gerando resultados físicos, tudo isso para atender pessoas com necessidades especiais. As primeiras experiências surgem da idéia de captar as informações cerebrais e através do estímulo amplificado, aproveitar na parte corrompida do processo. 97 Resenha LAVOURA ARCAICA Raduan Nassar escreve um clássico da literatura brasileira em 1975. Esta bela obra é resenhada, meditada cuidadosamente pelo professor Fábio San Martins. 107 Entrevista O OLHAR DOS ANDES Quem sabe administrar conflitos? Quem? Saber contemporizar, reunir objetivos para persegui-los ao mesmo tempo lidando com os seres humanos que, volta e meia, acabam por se desentender, é um dos principais desafios de quem gerencia. Sem o entendimento entre as pessoas o objetivo de construir se extravia pelo caminho e os esforços vão por água abaixo. Aí está alguém com o devido mérito na questão. Aproximar as pessoas, fazê-las se entrelaçarem com os mesmos fins, não obstante a disparidade de cada uma. 111

Nota do Editor G ostaria de perceber o tempo parar, impedir o relógio de badalar as horas, jurar que não vai sulcar seu caminho, aquela trilha infinita, que no famoso quadro dos campos de trigo de Van Gogh perdese numa curva do horizonte, como se em breve anunciasse o fim ou o fim que nunca se avista, pois quando se o alcança, a estrada já fez outra curva mais ao longe. Pudera! Não é assim. Melhor para a humanidade, assim a realidade se transforma sempre em algo novo. O que ficou foram as marcas de um trabalho em etapa superada, as lembranças do que foi cuidadosamente semeado. As imagens bucólicas do relógio esquecido de marcar as horas metaforizava aquele mundinho estático no qual nos sentíamos seguros. O tempo seria somente percepção humana, não um ente do universo a nos cutucar para ir em frente. Mas, os desafios estão aí. A Santa Cruz seria sempre a pequena faculdade de bairro, distante num desvão de Curitiba, na parte Sul que envereda para os campos da Lapa. Foi o que ficou. A Santa Cruz cresceu. Continua como uma faculdade de bairro. Mas, não é mais aquela pequena instituição de ensino superior dividindo espaço anônimo com tantas outras. Destacou-se. É vista. Lembrada. Notada. É reconhecida como organismo promotor do ser humano, da cultura, da integração social, da transformação de atitudes e de preleções fluentes em ações palpáveis. Completaram-se 14 anos de paciencioso e persistente trabalho conjunto, sabendo agremiar as contribuições do corpo docente e discente, sabendo envolvê-los em projetos compartilhados de construir algo significativo para a comunidade, tanto cultural quanto material. E esses anos voaram. Somos seres materiais, de carne, nervos, ossos, matéria e energia físico-química ao juízo dos descrentes. Para os crentes, somos alma para além da matéria. Mas, tanto para crentes quanto aos descrentes, esse corpo requer as luzes da cultura, do espírito criador, para não ser inoperante, vazio de sentido. Necessitamos do pão da cultura, sem o qual a carne nem sabe por onde andar. Nem sabe o que de si fazer. Nã o Há Fim Boa Leitura! Editor Chefe José da Silveira Filho Foto: Pedro Moreira da Silva Neto E a revista das Faculdades Santa Cruz celebra esta caminhada com novos artigos que procuram divisar o todo. Esquecer a antiga página aonde os conhecimentos eram apostos de forma estanque, pouco interligados, aquela elucubração enfronhada em solitário pensamento dividido consigo mesmo. O mundo lá fora é multicolorido, imbricado, irregular, caótico, mas mundo sem fundo. O pensamento deve refletir esse vozerio ambulante e vivo. Captar o universo das cores, expressá-lo com energia. Sim, como nas pinturas inconformadas de Van Gogh, na busca sôfrega de retratar a vida. Esta missão está sendo cumprida ao pé da letra ao persistir no horizonte da educação continuada. De fato, não há fim para isso. Há recomeços. Somente. A curva sempre mais ao longe. Nesta edição, sobressaem algumas dessas radiantes pinturas humanas do conhecimento: a entrevista da pianista e professora Olga Kiun, convidada especial para descerrar as comportas da Santa Cruz. Às visitas sempre se reserva lugar de relevo e uma menção ao artigo dos professores Roger Steppan e Marcelo Barbosa sobre o avanço da informática no campo da robótica em preanúncio das conquistas da ciência. Quanto aos demais estudos, igualmente meritórios, também possuem suas cores vivas com luz própria para expressar as tantas facetas de nossa cosmonave azul, vagueante da Via Láctea.

Crônica Tempo Flor Domingo estarei menor, do tamanho da azeitona das festas familiares quando servia-se a bacalhoada. O meu tamanho será ínfimo e dormitarei depois da refeição à beira do fogão. E todos os demais estarão ali olhando o fogo. Estarei no ambiente que inventarei no espaço das minhas condições, e poderei rir internamente e voar, e cantar, contarei histórias e ouvirei as mais trágicas, e as mais profundas e singelas. Entregarei o presente de sempre, um livro, uma carta, curtas palavras de afeto, um beijo, farei promessas impossíveis como parar de ser verde e amargo tantas vezes, e sentarei para ler e retomar aquele assunto esquecido, e depois olhar as paredes com o nó que se tem na garganta quando se tem espaços fechados num mundo onde poucos estão libertos. Servirei café, ou vinho doce, ou liqueur, água com pedras de gelo, um doce inesquecível o dia mais belo será iluminado. Deixarei no jardim as minhas lágrimas e os meus risos nas pedras, e falarei um palavrão só para ser doce-mente admoestado. Eu disse inconstitucionalissimamente. Assoprarei minhas válvulas entupidas, não mostrarei as marcas do catéter e beijarei, e sentirei cheiro de alfaze- Ilustração: Lucília Alencastro sobre pintura de Célia Maura ma e o som sutil em vibrato de um poeta que apresenta o mar impossível, e irei ao piano, e novamente a mesma canção soará até refazer o arranjo, e se pensar naquele hino que havia alguém à porta. Alguém a pé, sem banco, sem BMW, sem coca-cola que chamava um nome. E depois os dias contados serão esquecidos, menos esse porque a gente fica sem dor quando ama e morre sem mãe. PEDRO MOREIRA DA SILVA NETO

CONVERSANDO COM O PIANO ENTREVISTA COM A PROFESSORA OLGA KIUN APRESENTAÇÃO Olga Kiun é convidada especial da Revista Santa Cruz. É instrumentista de mão cheia que, segundo os ouvidos mais refinados, possui o curioso talento de conversar com o piano. Parece algo mágico, ou seria conversa para encantar as crianças? A partitura não é apenas um conjunto enigmático de caracteres musicais a serem decifrados e executados com precisão em determinado espaço de tempo. As notas em seu encadeamento e seqüência transmitem poesia e emoção. Podem nos infundir e despertar os mais variados matizes de sentimento e beleza. Todavia, para isso acontecer é preciso dar ao instrumento certo intervalo de paciência para que ele responda naturalmente, sem atropelo, para que declare de própria boca o que quer esculpir na alma de cada ouvinte. Então, o pianista deve sentar-se ao piano, aproximar-se da partitura e, sem forçar, deixar que as notas fluam ao seu modo, sem pressa, como os rios que correm ao mar, em respeito ao compositor e ao espírito da composição. Daí, realmente o encanto aparece, é como se o piano estivesse conversando com seu executor e este instrumento ao invés de mero engenho de sistema mecânico de percussão de cordas, torna-se um habitáculo de poesia, sonho, divagação, calor humano. O ouvinte se acomoda na poltrona para ouvir uma conversa com a música, sem briga, sem vacilação, apenas a mágica de se deixar levar. Deixemos esta pianista agora falar com espontaneidade para nos ensinar a pedagogia de envolver o ser humano e mostrar o quanto é vasta a sensibilidade do homem e aguda sua inteligência criadora no livre propósito de traduzir em versos os arabescos da partitura. Boa leitura! Professor José da Silveira Filho Painel Santa Cruz Em primeiro lugar, defina quem é Olga Kiun? Como Você se vê? Olga Kiun - Deixe primeiro respirar fundo. Olga Kiun é uma cidadã simples, organizada e de boa conversa, que precisa ir ao supermercado fazer compras e luta pela vida com garra e determinação, igual à maioria dos trabalhadores brasileiros. Gosto de coisas feitas com capricho, detalhe e requinte, porém um requinte simples, sem esnobismo. Gosto dos meus amigos e sinto satisfação em conhecer pessoas, fazer amizades e aprecio muito a natureza. De jeito nenhum sou carrancuda. Gosto de sorrir. Não estou rica, porém sinto-me realizada em minha profissão como professora e concertista que me permitiu conhecer diversos lugares, partes do mundo e angariar respeito e carinho de colegas e alunos. Exerço a música 11

Entrevista com a Professora Olga Kiun com paixão, sentimento inseparável da carreira ba, professor Samuel Crasneanscky. Com estes e personalidade que construí sem conseguir me novos tempos, pude viajar e visitá-lo. Aqui em ver como outra pessoa. Estou inteiramente en- Curitiba, entrei em contato com uma professora volvida com a música e da Escola de Música e Exerço a música com paixão, sentimento meus alunos e também Belas Artes, professopara atender pedidos inseparável da carreira e personalidade ra Leila Paiva. Aí as de recitais e concertos que construí sem conseguir me ver portas começaram a se que batem à porta volta abrir a partir deste concomo outra pessoa. e meia. Trabalho aqui tato, pois quando estuem Curitiba, na Escodei na União Soviética la de Belas Artes. Ah! Antes que me esqueça, fui aluna de destaque. Era uma das melhores da nasci em 1943, na ex-união Soviética, Repúbli- Academia de Moscou, uma escola de elevado ca do Kasaquistão, na capital Akmolinsk, mais grau de exigência, reconhecida mundialmente, ao centro do país, já na região da Sibéria. Meus onde me doutorei em piano. Passei a realizar pais eram refugiados da II Guerra que começou concertos em meu país natal viajando de trem em 1941, quando Hitler invadiu a URSS. Mas, por várias repúblicas e acumulei experiência de somente nasci lá e logo fui embora para a Mol- inestimável valor quando aqui cheguei. Senti dávia, já com a guerra terminada, onde estudei que poderia construir outra vida aqui porque a piano, tendo as primeiras aulas com minha avó política de perestroika desorganizou completae mãe. Fiquei órfã de pai aos três anos e como mente a União Soviética e afetou principalmense diz aqui no Brasil, sou aquele caso típico em te a vida cultural do país, a qual eu pertencia. que a fruta não cai longe do pé. A União Soviética sai do comunismo e acaba repentinamente entrando no capitalismo e este período de transição foi bastante difícil, complicado, incerto e angustiante. Apareceram fatos que não estava acostumada. Em Curitiba, meu talento se impôs e recebi ajuda de muitas pessoas que queriam que eu ficasse para transmitir o que sabia. Senti que era hora de construir um novo lar. Painel Santa Cruz - Você estudou piano em Moscou, uma das mecas da música erudita, somente comparável à Nova Iorque, Paris, Londres, Bonn, Roma... Enfim são cidades de tradição cultural centenária no trato com a música, autênticos berços culturais. O que Curitiba, no Sul do Brasil, uma terra tão distante, com costumes diferentes de sua origem, foi capaz de cativar em sua pessoa? Olga Kiun - Minha vinda para Curitiba está ligada de certa forma à política de reconstrução da União Soviética, denominada Perestroika. Esta nova política começa em 1985, quando se pôde respirar maior liberdade de expressão. Então, em 1990, recebi convite para conhecer o Brasil de um parente meu, que vivia em Curiti12 Painel Santa Cruz - Você emigrou para o Brasil depois da desintegração da ex União Soviética. O que o socialismo real lhe deixou saudade e o que nele lhe inspira contrariedade e pesar? Olga Kiun O aspecto positivo do socialismo real foi minha educação. Isto por sinal era acessível a todas as pessoas. Qualquer um que Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007

Conversando com o Piano quisesse estudar na ex-urss teria as melhores condições de se desenvolver em qualquer campo do conhecimento humano. Quase o mesmo acontecia com a saúde. Tínhamos médicos de gabarito e a população inteira poderia usufruir de qualquer tratamento médico com boa qualidade sem pagar um rublo. Se alguém quisesse um atendimento particular melhor, poderia pagar ao médico, contudo não havia preço. Agora, o que eu não tenho saudade é da influência política sobre o cotidiano dos cidadãos. Debussy era um compositor que não podíamos tocar. Era considerado demasiado descritivo e essa pecha fazia dele um proscrito da pedagogia musical. Havia censura em nosso pensamento e grande falsidade no relacionamento interpessoal, quase não tínhamos opinião própria. Precisávamos fazer o culto a Stalin. E mesmo após a morte de Stalin, ainda existiam os campos de concentração para os discordantes do regime. Os membros do Partido Comunista compunham uma casta privilegiada, com muitas regalias, proporcionais à posição ocupada. Havia até as lojas especiais para os funcionários do Partido. Também passei muitas horas de minha vida nas filas para comprar comida. Tínhamos dinheiro e emprego, mas era pouco o que comprar assim como a variedade das coisas. A perestroika trouxe uma abertura política, mas junto com ela apareceram os aproveitadores que enriqueceram do nada e da noite para o dia. samba em especial, é sincopado, criativo. Não segue o mesmo padrão. Agora estou estudando Villa Lobos e Camargo Guarnieri para concertos em Brasília e no Rio. E o meu estilo de tocar é escolher as peças ao meu alcance e energia. Veja você, o 1º. Concerto de Tchaikovisky exige muita força, volume, intensidade. É uma peça endereçada a pianistas jovens. Depois que você termina um concerto como esse, o executor está com dores nos braços, extenuado dos movimentos vigorosos que precisa fazer para dar conta das dificuldades e da grande intensidade emotiva que parece se derramar como um rio sobre o teclado. Painel Santa Cruz - Você já compôs alguma música? Chegou a desenvolver a paixão pela composição? Olga Kiun - Para que aumentar o número de peças fracas se há tantas peças geniais para Painel Santa Cruz - É inevitável quando se serem tocadas. Tenho pensado assim e não me conversa com uma pianista não perguntar de aproximo da partitura com lápis e borracha para seu compositor ou compositores favoritos. Co- rabiscar notas. Sou realmente uma executante e mente um pouco sobre eles e, principalmente, me delicio com o desafio de outros compositosobre Rachmaninoff, que sabemos ser sua pre- res a serem tocados. Minhas maiores criações ferência. artísticas são minhas duas filhas. Nada mais belo Olga Kiun - O meu compositor preferido é do que a expressão da vida humana. Somente aquele que toco e estume sinto consternada do no momento, tentan- Nada mais belo do que a expressão da por que aqui no Brasil do absorver o que há de ainda há pouco espaço vida humana. original nele, extraindo para a música erudita. o motivo que o fez ficar Em São Paulo, há uma para a posteridade. Cada um com sua beleza. rádio que toca 24 horas de música erudita. Este Agora, estudo o segundo concerto de Chopin. papel era cumprido aqui pela rádio educativa Sou pianista profissional e aprendo a assimilar que agora toca bem pouca música erudita. Soos diversos estilos de música. Por exemplo, a mente uma vez por semana com programação música alemã é quadrada, certinha, seguindo erudita. Deveria haver um equilíbrio maior entre sempre a mesma forma. A música brasileira, o o popular e o erudito como é na Europa. No BraRevista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007 13

Entrevista com a Professora Olga Kiun sil é 99% de música popular e as salas raramente estão lotadas, sempre se vê poltronas vagas na platéia, aqueles ocos horríveis. Isto causa certo pesar haja vista a beleza da arquitetura presente na música erudita. boca, como se ali tivesse nascido. Muito poucos pianistas chegam neste estágio e é muito bom assimilar a naturalidade de tocar. O registro das notas está enraizado no cérebro e é como se o pianista quase soubesse a próxima nota e suas seqüências sem necessitar da partitura para ler. Mostra que a música deve ser como as águas que descem montanha abaixo. Painel Santa Cruz Você aprecia a música popular brasileira? O que lhe chama a atenção principalmente no samba? Os ponteios de Camargo Guarnieri. Peça curtas, tipo prelúdios. Jeito de tocar violas caipiras. Olga Kiun - Gosto do ritmo de samba, é alegre. Não é quadrado, é assimétrico. Se muitas vezes as letras de música brasileira são trágicas, porém é um trágico que se torna alegre, eu vejo isto como uma forma de autodefesa do povo. Não adianta chorar, o melhor é enfrentar a vida, apesar dos sacrifícios. É melhor enfrentar com alegria e sorriso nos lábios do que tristeza. Daí não se chega a lugar nenhum. A gente fica deprimido e este sentimento atrapalha mais ainda. Mas, sem dúvida, o povo brasileiro é mais sorripainel Santa Cruz - Como você percebe o dente também pelo clima ensolarado, a praia, o futuro de sua terra natal, a Rússia? calor. Estes aspectos geográficos ajudam o povo Olga Kiun Esta pergunta é complicadíssia ser mais alegre, de boa vontade uns para com ma de responder. Muitas coisas estranhas, difeos outros. Este bom humor aparece na música. rentes na transição para o capitalismo surgiram Como venho de um país de clima temperado, em meu País. Para onde vai, difícil predizer... quando chega o invera Rússia mal teve trano, o desejo das pesso- Importante é aprender a caminhar dição capitalista. Lênin as é chegar o mais rásozinho, ninguém deve ser forçado ao inventou muitas coisas pido possível em casa, da cabeça sem uma exaprendizado, apenas convencido pela há toneladas de neve se periência anterior caderramando do céu. As justeza e necessidade de que aquele é paz de transmitir seguum caminho melhor pessoas andam rápido, rança na orientação de de cara fechada, nem novos caminhos. Mas, se olham, loucas para o que importa é o ensise esconder do frio buscando o aconchego de namento que vai ficar com os ventos da mudancasa. ça. Comparar, aprender com a vida para saber verdadeiramente o que se quer e como deve ser. Painel Santa Cruz Você chegou a conhecer Importante é aprender a caminhar sozinho, ninalgum pianista brasileiro de renome enquanto guém deve ser forçado ao aprendizado, apenas ainda estudava na ex-união Soviética? convencido pela justeza e necessidade de que Olga Kiun - O pianista brasileiro que conheci aquele é um caminho melhor. Nada como aprense chama Nelson Freire. Ele me impressionou der levando tombos. de forma inolvidável, dado a naturalidade como toca. A música flui de dentro dele como se espainel Santa Cruz - O político russo mais tivesse respirando. É quase como se respirar e famoso no Brasil é Mikhail Gorbachev, evocatocar fosse a mesma coisa. Lembrei até de Lu- do pela grande mídia como um libertador e um ciano Pavarotti, que abre a boca e as notas vão democrata. Que impressão ele deixou para o se projetando no ar, a música parece brotar da povo russo? 14 Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007

Conversando com o Piano Olga Kiun Os russos o sentiam como grande demagogo. Falava três horas quando na verdade com poucas palavras se diria tudo. Ele caiu como presidente. Ele não foi vencedor. Algumas coisas boas foram deixadas, mas ele deve ter sofrido muitas pressões de outros países. O que ficou claro era o fato de ter sido mais inteligente que presidentes anteriores, seres humanos sem expressão, meros ocupantes de cargos. Painel Santa Cruz - Você chegou a conhecer lendas vivas como Emil Gilels, Sviatoslav Richter, Vladimir Horowitz e Vladimir Askenazy? Em que eles mais se destacavam quando tocavam? Olga Kiun Conhecer uma leva de grandes intérpretes ensina a desenvolver o gosto pela execução. Ver a riqueza de tantos seres humanos que fizeram da música sua alegria e razão de existir. Há várias formas de prazer, de se sentir bem com a vida, com o cosmos que nos rodeia. Uma destas formas está na arte, exprimir as emoções, o sentimento humano, através da música, da pintura, do teatro, da literatura, da poesia. Para mim, tudo isso é uma coisa só. Uma frase na literatura é o mesmo que na música. Não se separam, aprimoram o ser humano. Fazem com que o homem seja mais homem, quero dizer, o homem somente é mais homem quando é mais inteligente. Este é o significado da arte, sermos mais humanos, mais inteligentes, enxergarmos mais o universo. Por isso, admiro estas figuras. Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007 Sviatoslav Richter tocava de maneira intelectual, sabendo cada passo que dava. Emil Gilels era mais sentimental, grande virtuose, capaz de coisas extraordinárias ao piano. Vladimir Askenazy era o pianista perfeito, sem erro, irretocável. Vladimir Horowitz era de uma precisão técnica estonteante. Cada intérprete, uma lição. Painel Santa Cruz - Que sonhos você ainda acalenta e gostaria de ver realizados? Olga Kiun Que a música erudita tome seu lugar nesse país tão lindo que aprendi a gostar naquilo que há de bom e ruim. Que as pessoas ricas banquem mais a cultura erudita com salas cheias e boa música executada para o povo conviver com uma diversidade cultura maior. Espero menos mediocridade, coisas ruins apresentadas como boas. Nesse sentido há uma desproporção muito grande. Painel Santa Cruz - Você acredita na humanidade, apesar das tantas barbaridades acontecidas? Que mensagem gostaria de manifestar? Olga Kiun O ser humano é difícil. Não quero ser radical porque pode acontecer de tudo. O que posso deixar como mensagem é um pouco daquilo que sou. O gosto pela conversa franca e alegre, o gosto pelo mar, nadar, viajar e aprender. De certa forma ainda sou menina, como se ainda tivesse 10 anos. Meus alunos não são mais alunos, são amigos. 15

REVOLUÇÃO EMPREENDEDORA: ENSINAR A EMPREENDER 1 Celso José de Oliveira 2 Maria Helena Moretto dos Santos 3 Patrícia Bellotti Carvalho 4 RESUMO O presente artigo propõe uma metodologia para o ensino da disciplina Administrador Empresarial, nos cursos de graduação da Universidade Tuiuti do Paraná, que se fundamenta numa abordagem aberta, flexível, baseada em princípios de auto-aprendizado, de forma a permitir que os alunos criem uma forma própria de aplicá-la, de acordo com suas características pessoais. O objetivo da disciplina é o desenvolvimento do profissional tanto na ótica do empregado-empreendedor quanto do empresário-empreendedor, na iniciativa privada ou social. Para isso é proposta uma metodologia que estimula o conhecimento e experiência dos alunos e que desperte o desenvolvimento dos comportamentos de sucesso de empreendedor. A metodologia é constituída por estudos de casos; atividades individuais e em grupos; entrevista com empreendedores; dinâmica de grupo, e elaboração de artigos sobre atitudes empreendedoras e a criação de um laboratório de ações de incentivo ao empreendedorismo, com parcerias entre UTP/PR e o poder público e entidades de classe. A premissa que permeia a ação educadora da disciplina é que é possível o ensino do empreendedorismo. Palavras-chave: Ensino; Empreendedorismo; Comportamento. ABSTRACT Summary the present article considers a methodology for the education of disciplines Enterprise Administrator, in the courses of graduation of the Tuiuti University of the Paraná, that if it bases on an opened boarding, flexible, based in auto-learning principles, of form in accordance with to allow that the pupils create a proper form to apply it, its personal characteristics. The objective of disciplines is the development of the professional in such a way in the optics of the employed-entrepreneur how much of the employer-entrepreneur, in the private or social initiative. For this a methodology is proposal that stimulates the knowledge and experience of the pupils and that improve the development of the behaviors of entrepreneur success. The methodology is constituted by studies of cases; individual activities and in groups; interview with entrepreneurs; dynamics of group, and article elaboration on enterprising attitudes and the creation of a laboratory of action of incentive to the stile entrepreneur, with partnerships between UTP/PR and the public power and entities of class. The premise that involves the action educator of disciplines is that the education of the stile entrepreneur is possible. Key words: Education; To be Entrepreneur; Behavior. INTRODUÇÃO O mundo está presenciando a velocidade das mudanças nos cenários político, econômico e social. Os países formam blocos, derrubando fronteiras comerciais e impondo um novo tipo de relacionamento ao mercado; o consumidor está cada vez mais exigente quanto à qualidade dos produtos e serviços disponibilizados; a tecnologia da informação, a cada dia, agrega inovações que têm impactos diretos na vida das organizações e pessoas. Pessoas ou equipes de pessoas com características diferenciadas é que estão liderando essas mudanças. Elas são visionárias, questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e, enfim, empreendem. Os empreendedores são considerados pessoas diferenciadas, possuem 1 Artigo apresentado no 19 Congresso Internacional de Administração da UEPG/2006. 2 Contabilista, graduado pela Universidade Federal do Paraná. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, professor de Contabilidade Gerencial da Universidade Tuiuti do Paraná. C-eletrônico: celso.oliveira@utp.br. 3 Teóloga, graduada pela Universidade Regional de Blumenau. Especialista em Pegagogia Empresarial pela Universidade Tuiuti do Paraná. Leciona a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica, Projeto de Pesquisa e Filosofia nesta mesma Instituição. C- eletrônico: maria.moretto@utp.br. 4 Economista, graduada pela Universidade de Passo Fundo. Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Leciona as disciplinas de Administração de Recursos Humanos, Empreendedorismo, Planejamento e Gerenciamento Estratégico na Universidade Tuiuti do Paraná. C-eletrônico: patrícia.bellotti@utp.br. 17

CARVALHO, P. B.; OLIVEIRA, C. J. & SANTOS, M. H. M. motivação singular, são apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem deixar algo para posteridade, e estão revolucionando o mundo. Pode-se chamar o momento atual de a era do empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando os conceitos econômicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. Alguns questionamentos fundamentais presentes nas pesquisas sobre empreendedorismo enfocam: Quais são as características dos empreendedores de sucesso? Eles têm algo diferente dos demais profissionais? É possível ensinar alguém a ser empreendedor? Por que tanta importância é dada à pesquisa do ensino do emprendedorismo? Há uma necessidade premente no desenvolvimento de habilidades empreendedoras, de promover a capacidade de liderança, de despertar nos alunos, formas autônomas de pensar e gerir a vida profissional. Isso tem desafiado os Cursos a desenvolverem metodologias de ensino que abordem os problemas e oportunidades dos novos negócios e desenvolvam a potencialidade empreendedora dos alunos e que possam, efetivamente, estimular a iniciativa empreendedora. É perceptível que o ensino de Empreendedorismo no Brasil tem mudado significativamente, desde a década passada. As universidades, que atuavam de forma esporádica no fomento ao Empreendedorismo, passaram a adotar uma nova postura em que o tema não só passou a ser explorado nos cursos de graduação, mas também na maioria dos cursos de pós-graduação. No entanto ainda predomina a abordagem teórica, numa área de conhecimento eminentemente comportamental, que deveria contar com uma abordagem tridimensional, composta pela pessoa, empresa e meio ambiente. O que se percebe é o foco na elaboração de planos de negócios, esquecendo-se Filion (1991) tem dedicado grande parte do seu trabalho para a educação empreendedora, e afirma que o empreendedor possui um processo de aprendizagem próprio e utiliza a imaginação, a criatividade e a intuição como elementos fundamentais para chegar à visão do negócio. Dessa forma, o professor precisa rever os seus métodos de ensino e aprendizagem e a própria maneira de ensinar que propicie ao aluno condições de questionar, refletir e relativizar ao invés de fornecer respostas prontas. Aprender não é a recepção passiva das informações que são transmitidas, mas sim um processo ativo onde o aluno investiga, reflete, incorpora e muda sua visão de mundo à medida que aprende. A base da aprendizagem para ser um empreendedor é o estudo dos comportamentos e atitudes que conduzem à inovação, à capacidade de transformação do mundo, à geração de riquezas, e em qualquer campo, seja na pesquisa, no ensino, no emprego e na empresa. O instrumental necessário ao empreendedor de sucesso é visto como uma conseqüência do processo natural da capacidade de aprender a aprender aprender o que for necessário para a criação, desenvolvimento e realização de sua visão. No ensino do empreendedorismo o ser é mais importante do que o saber: este será conseqüência das características pessoas que determinam a sua própria metodologia de aprendizagem. É consensual a importância atribuída ao papel que os empreendedores representam para a construção do futuro do nosso país, como o agente de desenvolvimento, que gera idéias, provoca mudanças, mobiliza recursos, motiva as pessoas a criar riquezas para si e para seus parceiros. Portanto, a metodologia a ser utilizada no ensino de empreendedorismo deve favorecer a ampliação da percepção do aluno sobre si mesmo, para que ele reconheça a necessidade de desenvolvimento de competências empreendedoras e seja capaz de identificar estratégias para seu desenvolvimento como empreendedor de sucesso, seja em organizações privadas, sociais ou no seu próprio negócio. Para que o ensino do Empreendedorismo se torne mais eficiente, é preciso adotar metodologias próprias, diferentes das adotadas, para o ensino convencional. da dimensão comportamental e organizacional, que são fatores decisivos no processo de Empreendedorismo. Para que o ensino do Empreendedorismo se torne mais eficiente, é preciso adotar metodologias próprias, diferentes das adotadas, para o ensino convencional. Nesses termos, é necessária uma abordagem andragógica e fundamentada no aprender fazendo, que utilize técnicas como oficinas, modelagem, estudos de caso, metáforas e dinâmicas. Por isso, também o professor precisa se reconfigurar, tornando-se muito mais um incentivador e condutor de atividades do que alguém que dita procedimentos padrões. É necessário que também o professor seja empreendedor. (MALHEIROS, 2004). Dessa forma uma disciplina que se propõe a desenvolver a atitude empreendedora deve propiciar ainda oportunidades para que o aluno tenha contato com empresários dos mais diversos ramos, aliando a teoria com a prática. A experiência empresarial que será relatada pelos que ousaram na aventura de empreender um negócio seja em empresa privadas, sócias ou no seu próprio negócio enriquecerá o curso, auxiliará no estabelecimento da rede de relações e na formação dos modelos de referência. E ainda representa uma oportunidade para que os alunos possam perceber o comportamento empresarial, principalmente no que concerne à tomada de decisões e à superação dos entraves à expansão e crescimento da empresa, aliando a teoria à prática empresarial. Por este motivo, julgamos importante o presente trabalho que visa, principalmente, colaborar na capacitação de 18 Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007

Revolução empreendedora: ensinar a empreender graduandos de todos os cursos, potenciais empreendedores, e traz uma proposta de mudança na forma de ensinar o empreendedorismo. Nesse sentido, o presente artigo apresenta uma proposta de abordagem aplicada aos graduandos de todos os cursos, na disciplina Administrador Empresarial, da UTP Universidade Tuiuti do Paraná, que visa despertar o senso crítico do aluno em relação ao processo de gestão empreendedora e propiciar o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, para fazer frente ás mudanças tecnológicas, sociais e, principalmente, no mercado de trabalho atual. Assim, o objetivo geral da disciplina Administrador Empresarial é propiciar o estudo e reflexão sobre o que é ser empreendedor e os comportamentos de sucesso de empreendedores, observados por pesquisadores e pelos próprios alunos. Sendo a empresa considerada a imagem do seu criador, a expressão da internalidade de cada um, é importante que o empreendedor se conheça, para saber o que vai criar, quais os recursos internos de que dispõe e os que deverá adquirir, seja por meio de seu próprio desenvolvimento ou por meio de pessoas que o complementem. Assim, o foco central e norteador, em todos os conteúdos abordados na disciplina, é o perfil empreendedor. inquietação, ousadia e proatividade. A crença de que o empreendedor é um ser inato é questionada. Atualmente acredita-se que o processo empreendedor pode ser aprendido e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, de como são administradas as adversidades e do perfil do empreendedor. Os empreendedores inatos continuam existindo e sendo referências de sucesso, no entanto, outros podem ser capacitados para a criação de empresas duradouras (DORNELAS, 2001). O sucesso do empreendedor está fundamentado em três pontos básicos. O primeiro deles é o desafio que estimula as pessoas a lutar por alguma coisa: o resultado que dá a sensação de vitória e autoconfiança para continuar adiante e, por fim, a própria responsabilidade de comemorar as vitórias e corrigir erros cometidos. O empreendedor não aceita derrotas, aprende com elas e segue adiante. O empreendedorismo é marcado pela coragem, mas isso não significa que o medo de empreender não existe. Significa que o medo é sobrepujado pela ação de seguir a visão. A visão pode surgir de uma necessidade ou de um despertar para algo novo; ambos têm o mérito da luta. Pois não há empreendedorismo sem luta. O empreendedorismo nasce da crença na competência pessoal. É vital que empreendedores conheçam as características fundamentais, apontadas em pesquisas, para que possam desenvolver e adotar comportamentos e atitudes adequadas. O estudante deve estar preparado para identificar as características que o seu futuro trabalho irá dele exigir, e avaliar o seu potencial em relação a elas, com a consciência de que assim terá mais chances de ser bem sucedido em seu empreendimento. Outro ponto importante na abordagem da disciplina é o desenvolvimento de uma visão e da capacidade de identificar aproveitar e gerenciar oportunidades. A visão, para Filion (1991), é uma imagem, projetada no futuro, do lugar que se quer ver ocupado pelos seus produtos no mercado, assim como da imagem projetada do tipo de organização da qual se tem necessidade para conseguilo. Como o empreendedor desenvolve visões durante toda a sua vida, ele deve ser preparado para identificar oportunidades. É importante registrar que boas idéias não são necessariamente oportunidades e não saber distinguir umas das grandes causas de insucesso, comuns entre os empreendedores iniciantes. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O processo criativo do empreendedor gera novos contextos e promove o desenvolvimento de novos negócios. O sonho do empreendedor é transformado em realidade através do árduo trabalho, dedicação e perseverança, sem mágicas ou truques. Estudar o empreendedorismo é estudar a natureza comportamental do ser humano diante de desafios e envolve uma atitude pessoal ou coletiva de Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007 Sabe-se que não foi ainda possível estabelecer um perfil psicológico absolutamente científico do empreendedor. Entretanto, foram relacionadas características e aptidões que permitem aos futuros empreendedores, identificá-las e aperfeiçoá-las de forma a garantir maiores chances de sucesso (FILION apud GAUTHIER, 1999). As características determinantes do comportamento humano são as necessidades, as habilidades, o conhecimento e os valores. Sendo assim, a criação de uma empresa é o instrumento utilizado pelo empreendedor para satisfazer suas necessidades, em consonância com os seus valores, conhecimentos e habilidades (LONGEN, 1997). O empreendedorismo nasce da crença na competência pessoal e no conceito e significado do empreendedorismo. Alça vôo através da visão bem delineada dos clientes, do mercado e da concorrência, das necessidades ainda não descobertas, dos recursos e pessoas. Ganha segurança pela forma de investimento e grau de planejamento do capital e é glorificado ou morto pelo uso do poder que o empreendedor tem de gerir o seu empreendimento. 3 A PERSONALIDADE DO EMPREENDEDOR Os estudos e pesquisas realizados em relação ao comportamento e à personalidade do empreendedor fundamentam-se na crença de que o eventual sucesso do novo empreendimento dependerá principalmente do comportamento do empreendedor. O trabalho pioneiro realizado acerca das características comportamentais dos empreendedores foi conduzido pelo professor da Universidade de Harvard, David Mc- 19

CARVALHO, P. B.; OLIVEIRA, C. J. & SANTOS, M. H. M. Clelland, em 1961. Segundo a teoria de McClelland, as pessoas são motivadas devido à necessidade de realização, poder e afiliação. Ele tomou por base a afirmação de que o ser humano é um produto social e tende a reproduzir seus próprios modelos. Assim, quanto mais empreendedores uma sociedade tiver, e quanto maior for o valor dado a eles, maior será a quantidade de jovens que tenderão a imitá-los, incutindo na cultura da sociedade o espírito e as características peculiares do empreendedor (LAUTHIER & LAPOLLI, 2000). A necessidade de realização estimula a pessoa a colocar à prova seus limites, a realizar um bom trabalho. Pessoas com alta necessidade de realização são pessoas que procuram mudanças em suas vidas, estabelecem metas e se colocam em situações competitivas, estipulando também para si, metas que são realistas e realizáveis. Seus estudos comprovam que a necessidade de realização é a primeira necessidade identificada entre os empreendedores bem sucedidos e é a grande impulsionadora das pessoas na construção de um empreendimento. A necessidade de afiliação existe apenas quando há alguma evidência sobre a preocupação em estabelecer, manter ou restabelecer relações emocionais positivas com outras pessoas. A necessidade de poder é caracterizada principalmente pela forte preocupação em exercer poder sobre os outros. Em 1982, David McClelland, realizou uma pesquisa mundial para conhecer o que havia de comum entre as pessoas bem-sucedidas nos negócios, procurando detectar se as características mais observadas eram comuns entre os países. McClelland identificou doze principais competências: Quadro 1 Competências de McClelland Os estudos realizados por Collins, Moore e Zaleznisk (1964), têm como base a crença de que o empreendedorismo é uma ação imitada dos modelos copiados da infância. O ponto chave das características dos empreendedores descoberto pela pesquisa foi a sua alta necessidade de autonomia, independência e autoconfiança. Uma outra visão psicanalítica dos empreendedores provém do trabalho de Abraham Zaleznik e Manfred Kets de Vries (1996), que também percebem os empreendedores como pessoas profundamente influenciadas por uma infância turbulenta e conflitante. Suas vidas eram freqüentemente sofridas, com temas reais ou imaginários de pobreza, depravação, morte significativa e solidão. Eles acreditam que o empreendedor é motivado por sentimentos persistentes de insatisfação, rejeição e impotência, derivados de conflitos relacionados com os pais. Jeffry Timmons (1994) e seus colaboradores pesquisaram também os atributos de personalidade dos empreendedores. Seu estudo representa uma síntese de mais de cinqüenta pesquisas compiladas da literatura acerca de atributos e comportamentos dos empreendedores bem sucedidos, os quais são citados a seguir: a) Total comprometimento, determinação e perseverança; b) Guiados pela auto-realização e crescimento; c) Senso de oportunidade e orientação por metas; d) Iniciativas por responsabilidades pessoais; e) Persistência na resolução de problemas; f) Conscientização e senso de humor; g) Busca de feedback; h) Controle racional dos impulsos; i) Tolerância ao stress, ambigüidade e incerteza; j) Riscos moderados; k) Pouca necessidade de status e poder; l) Integridade e Confiabilidade; m) Decisão, Urgência e Paciência; n) Lidar bem com o fracasso; o) Formador de equipes. Em 1988, Ray e Turpin, também pesquisaram empreendedores da França, Canadá, Japão e USA, visando entender como os empreendedores percebiam o sucesso. As habilidades identificadas por eles foram: a capacidade de identificar novas oportunidades; avaliar oportunidades e pensar criticamente; comunicação persuasiva; negociação; comunicação interpessoal; escutar e adquirir informação; e resolução de problemas. As pesquisas e estudos centrados no entendimento dos atributos de personalidade dos empreendedores como fator determinante do sucesso empresarial são alvos de muitas críticas. As principais decorrem do fato dos pesquisadores tomarem os atributos de personalidade como sendo definitivos, não dando suficiente atenção ao conjunto de habilidades, conhecimentos e experiências da pessoa. Segundo Ray (1988), a personalidade do empreendedor tem um papel relevante na obtenção do sucesso de um empreendimento, pois ela será a base que formará a cultura, os valores e o comportamento social da nova empresa. Ele ressalta que não há um tipo ideal de personalidade ou um conjunto marginal de atributos que garanta o sucesso. Sendo assim, acredita que as pesquisas, os estudos e os programas de desenvolvimento que cultivam certos atributos de personalidade como fator determinante do sucesso de um empreendimento não está na direção errada. Pondera, no entanto, que é necessário realizar pesquisas ampliadas sobre empreendedores, não apenas centradas 20 Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 6, n. 1, janeiro/junho 2007