CARTA REGIONAL DE COMPETITIVIDADE PENÍNSULA DE SETÚBAL/ /ALENTEJO LITORAL



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Transcrição:

CARTA REGIONAL DE COMPETITIVIDADE PENÍNSULA DE SETÚBAL/ /ALENTEJO LITORAL 101

1. TERRITÓRIO 1.1. Península de Setúbal A proximidade à cidade de Lisboa, associada às novas condições de acessibilidade e de transporte da sub-região, tem sido um elemento fulcral nas dinâmicas territoriais da Península de Setúbal, conduzindo a que um número crescente de centros urbanos estejam cada vez mais imbricados na dinâmica polarizadora da Área Metropolitana de Lisboa (AML), actualmente com mais de 2,6 milhões de habitantes. O desenvolvimento da Península de Setúbal processou-se fundamentalmente centrado em Lisboa e sustentado pela acessibilidade fl uvial e rodoviária (Ponte 25 de Abril), o que originou uma extensa consolidação urbana que se desenvolve na margem esquerda do rio Tejo, de Almada ao Montijo/ Alcochete, e em Setúbal/Palmela, este como único eixo urbano que sempre conservou uma centralidade própria e uma relativa independência funcional. A sub-região apresenta portanto um perfi l territorial híbrido: partilha com o espaço metropolitano algumas das suas características e, ao mesmo tempo, revela uma capacidade própria, quer de polarização de uma área considerável que ultrapassa os próprios limites da região de Lisboa, quer de articulação directa com o exterior através do seu porto. As transformações recentes do sistema territorial e urbano da Península de Setúbal têm favorecido a emergência de dois tipos de dinamismos. Por um lado, os processos de concentração inter e intraconcelhios têm despoletado um crescente protagonismo territorial de centros urbanos de pequena e média dimensão. Por outro, têm vindo a consolidar-se subsistemas territoriais e urbanos, sob a forma de eixos e conurbações, sustentada pelas principais vias de comunicação existentes. FIGURA 1 - PENÍNSULA DE SETUBAL O pólo urbano principal é Setúbal, que constitui um centro de nível Subregional, com equipamentos mais especializados. Num segundo nível, destacam-se os centros de Almada, Seixal, Barreiro, Moita e Montijo, muito dependentes funcionalmente de Lisboa e com grandes desequilíbrios entre população e funções, essencialmente de nível hierárquico superior. Sesimbra e Alcochete 102

constituem os pólos de nível inferior, pouco especializados e com grandes dependências funcionais dos centros urbanos mais próximos. As dinâmicas territoriais da sub-região decalcam as alterações estruturais recentes da AML, associadas às novas acessibilidades e à relocalização de actividades e funções anteriormente concentradas na cidade de Lisboa. Deste dinamismo territorial resultaram diferentes tipos de espaços, presentes em toda a AML e muito importantes para a compreensão da dinâmica territorial da Península de Setúbal. O Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML), publicado em 2002, identifi ca sete tipos de espaços: Os Espaços Motores, com capacidade para atraírem e fi xarem novas actividades e funções de nível superior, integram a Coroa de Transição da cidade de Lisboa. São exemplos os eixos Almada-Seixal, Setúbal-Palmela e a Zona Industrial e de Serviços de Coina; Os Espaços Emergentes, que correspondem a áreas com potencialidades para protagonizarem transformações positivas na AML, tanto em novos usos e funções especializadas como na reestruturação e qualifi cação urbana. Integram esta classifi cação os espaços ribeirinhos dos Estuários do Tejo e do Sado e os municípios de Alcochete e Montijo; As Áreas Dinâmicas Periféricas, que se caracterizam por possuir uma boa capacidade de atracção de actividades e de residência, constituindo núcleos com alguma autonomia funcional em relação ao espaço central da AML. Estão neste caso as áreas de Marateca- Pegões e Sesimbra-Santana; Os Espaços Naturais Protegidos, são as áreas classifi cadas e integradas em Parques ou Reservas Naturais, a Rede Natura e as áreas defi nidas em legislação específi ca de âmbito nacional, que se procuram proteger das dinâmicas urbanas metropolitanas. Estão sujeitos a forte pressão urbanística e turística, em particular na Península de Setúbal. Refi ram-se os exemplos do Parque Natural da Serra da Arrábida, o Cabo Espichel, as Matas de Sesimbra e as praias da Costa da Caparica, para além da área estruturante de ligação ambiental entre o Estuário do Tejo e do Sado; Os Espaços Problema, correspondem a áreas periféricas, fragmentadas e desestruturadas com tendência para a desqualifi cação urbana e ambiental, e a áreas centrais da AML que registam um declínio urbano e fortes processos de degradação. Integram esta classifi cação as áreas do interior da Península de Setúbal com loteamentos clandestinos. As Áreas com Potencialidades de Reconversão/Renovação, concentram ocupações obsoletas ou em desactivação, essencialmente associadas a antigas ocupações industriais Margueira (Almada), Quimiparque (Barreiro) e Siderurgia (Seixal). Estes espaços apresentam um bom potencial de utilização que decorre de dois factores essenciais grande disponibilidade de terreno e qualidade paisagística, dada a contiguidade com o Estuário do Tejo. As Áreas Críticas Urbanas, caracterizadas por apresentarem uma elevada desqualifi cação urbanística e social, registam ainda carências em infra-estruturas e equipamentos, e uma elevada concentração residencial. Estas áreas distribuem-se pelos bairros problemáticos de Setúbal e pelo eixo Lavradio-Baixa da Banheira-Vale da Amoreira. 103

FIGURA 2 - ESPAÇOS DA PENÍNSULA DE SETÚBAL Adaptado de: PROT-AML. A presença de áreas com potencialidades de reconversão/renovação conduz à importância da requalifi cação territorial na Península de Setúbal, em particular as intervenções ligadas ao conceito de brownfi elds, desenvolvido nos EUA e em vários países da Europa para áreas que já acolheram outro tipo de actividades (industriais, portuárias, mineiras, entre outras) mas que, em resultado de alterações estruturais, entraram em declínio e libertaram extensas superfícies 1. Neste tipo de intervenções, a expansão urbana é direccionada para os brownfi elds, opção que permite conter a expansão em mancha. Um dos exemplos mais recentes é o Millenium Greenwich em Londres, projecto desenvolvido junto ao Millenium Dome. A Península de Setúbal apresenta alguns espaços que se enquadram nesta tipologia (Margueira, em Almada, Siderurgia, no Seixal, e a Quimiparque, no Barreiro) e que desfrutam de localizações privilegiadas junto ao Estuário do Tejo. Numa análise territorial mais detalhada da Península de Setúbal é possível identifi car as seguintes unidades territoriais homogéneas (também identifi cadas no PROT-AML e retomadas no Plano Estratégico de Desenvolvimento da Península de Setúbal, PEDEPES): Arco Ribeirinho Sul - constitui a grande coroa urbana da margem sul e identifi cam-se no seu interior várias sub-unidades: o espaço urbano consolidado de Almada/Montijo; o interior dos municípios de Almada e Seixal; a faixa litoral das praias urbanas e naturais da Costa da Caparica até à Fonte da Telha; as áreas ribeirinhas do município de Almada. O desenvolvimento urbano desta unidade foi inicialmente suportado pela acessibilidade fl uvial a Lisboa, tendo a construção da Ponte 25 de Abril intensifi cado o fenómeno da suburbanização aqui evidente, fundamentalmente no troço Almada-Fogueteiro. Outra característica desta área é a forte presença industrial que apresenta sintomas de abandono devido à obsolescência e decadência de muitas unidades industriais. 1 De acordo com a lei dos EUA intitulada Small Business Liability Relief and Brownfi elds Revitalization Act (2002), o conceito brownfi elds significa instalações industriais ou comerciais abandonadas e/ou subutilizadas cuja reconversão é dificultada pela contaminação real ou percebida, mas que detêm um potencial activo para novas actividades ou utilizações. 104

Arrábida/Espichel/Matas de Sesimbra, unidade que integra 5 sub-unidades autónomas: Serra da Arrábida, Cabo Espichel, matas de Sesimbra, área agrícola de Azeitão e eixo urbano Sesimbra/Santana/Lagoa de Albufeira. Planície Interior Sul, unidade que constitui o território central da Península de Setúbal. É uma área que resultou de um crescimento desorganizado e não planeado, o que levou à ocupação por construção de áreas não vocacionadas para a urbanização, com a consequente desqualifi cação ambiental e paisagística. Estuário do Sado, unidade integrada numa Reserva Natural que apresenta fortes relações, tanto a nível físico como a nível funcional, com o eixo Setúbal-palmela e com a península de Tróia que, embora exterior à Península de Setúbal e à AML, requer o seu equacionarmento no contexto da AML. Espaço de transição nascente, que se assume como um território de transição entre as unidades atrás referidas e o extenso espaço rural da Lezíria do Tejo e do Alentejo. É uma área muito vasta, que se desenvolve desde Alcochete para sul, pelo Pinhal Novo, até Palmela. Setúbal/Palmela, unidade constituída por duas sub-unidades: o pólo urbano e industrial de Setúbal, associado a Palmela por razões históricas, de complementaridade funcional e pela existência da área agrícola a norte de Setúbal. O eixo Setúbal/Palmela representa uma centralidade de nível subregional dentro da AML e supra-regional com o Alentejo. Nascente agroflorestal, território vasto para nascente da linha Alcochete/Montijo, Pinhal Novo, Setúbal/Palmela, que delimita as unidades mais urbanas da Península de Setúbal e que se estende desde o Estuário do Sado até Benavente/Samora Correia, estando parcialmente incluída no Estuário do Tejo. FIGURA 3 - UNIDADES TERRITORIAIS DA PENÍNSULA DE SETÚBAL Adaptado de: PROT-AML. A Península de Setúbal benefi cia de uma localização geográfi ca privilegiada, o que lhe confere boa acessibilidade quer no contexto nacional, quer internacional, ao desfrutar das vias aéreas (em Lisboa), de importantes vias terrestres (auto-estradas e sistema ferroviário), complementadas por 105

vias marítimas (em Setúbal). Por outro lado, a Península de Setúbal encontra-se próxima, não só dos principais mercados de abastecimento, como dos grandes pólos de consumo. No futuro, prevêem-se importantes melhorias do sistema de acessibilidades e mobilidade da subregião com intervenções como: fecho do Anel Rodoviário Interno da AML, formado por ambas as circulares internas regionais (CRIPS/IC32 e CRIL/IC17); fecho do Anel Ferroviário da AML, nas suas componentes de ferrovia pesada (CP e Fertagus) e ligeira (Metro Sul do Tejo e na sua ligação com a circular de eléctricos da AML Norte); a acessibilidade às novas polaridades criadas pelo Novo Aeroporto de Lisboa e pela Plataforma do Poceirão nas componentes rodo e ferroviária; o reforço das ligações internas ao Arco Ribeirinho em toda a sua extensão. 1.2. Alentejo Litoral A sub-região Litoral Alentejano apresenta uma localização de proximidade e de charneira entre a AML e o Algarve, benefi ciando da presença e atravessamentos de infra-estruturas internacionais de acessibilidades e transportes, indutoras de relevantes dinâmicas económicas e territoriais. FIGURA 4 - ALENTEJO LITORAL De acordo com o Programa Regional de Ordenamento do Território (PROT) do Alentejo (2008) é possível distinguir no Alentejo Litoral as seguintes unidades territoriais: Estuário do Vale do Sado: directamente associada à presença do rio Sado, destacam-se nesta unidade como particularidades a restinga de Tróia onde se localizam o porto palafítico da Carrasqueira e importantes investimentos turísticos (frente atlântica está integrada nas 106

áreas defi nidas como de vocação turística de importância nacional, daí a integração em vários Projectos de Interesse Nacional no domínio do turismo). Uma parte da unidade está classifi cada como Reserva Natural do Estuário do Sado, associada a uma zona húmida de importância internacional. O aglomerado urbano mais importante é Alcácer do Sal; Transição litoral/interior: com início na planície arenosa do Vale do Sado e estendendose até às Serras de Grândola/Cercal e Colinas de Odemira, é a unidade de transição para a planície Alentejana e para as Serras do Sul. Os dois principais centros urbanos são as sedes de município Grândola e Santiago do Cacém; Planície litoral arenosa: constitui a faixa de continuidade da pressão urbana e turística da frente atlântica da Península de Tróia, estendendo-se pela área costeira dos municípios de Grândola e Santiago do Cacém. É portanto marcada por grandes projectos turísticos para a frente marítima, além da presença do complexo industrial e portuário de Sines e da consolidação do triângulo urbano Sines/Santo André/Santiago do Cacém. Como elementos particulares destacam-se os sistemas lagunares presentes nesta costa Melides, Santo André e Sancha no extenso areal de praias e dunas adjacentes; Litoral Alentejano/Vale do Mira: é uma unidade territorial com elevada identidade e singularidade - integra a planície litoral cortada pelo vale do Mira e respectivo sistema estuarino e corresponde à faixa litoral mais bem conservada do País, com um signifi cativo conjunto de valores naturais (o que explica a sua inclusão no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, no Sítio da Rede Natura 2000 e na Zona de Protecção Especial para as aves selvagens da Costa Sudoeste). É marcada pela presença de um povoamento concentrado em aglomerados de pequena dimensão; Charnecas do Tejo e do Sado: Engloba duas sub unidades Terras de Nisa e Tejo Superior Internacional e Vale do Sorraia. Corresponde a uma utilização dominante de sistemas agro silvo pastoris e fl orestais de folhosas e eucaliptais. Esta unidade territorial tem ajuste directo com a confi nante do PROT Oeste e Vale do Tejo Montado Benavente/Coruche, a qual é igualmente atravessada pela do Vale do Sorraia. Montados (da Bacia do Sado): Corresponde a uma planície suavemente ondulada com densidades variáveis de montados associados a usos extensivos, traduzindo um padrão de uso do solo que combina actividades agrícolas, silvícolas e pecuárias. A utilização dominante é de sistemas agro-silvo-pastoris e fl orestais e sistemas arvenses de sequeiro. Como aspectos particulares identifi ca-se a presença de um conjunto de albufeiras de dimensão relevante como Pego do Altar, Vale de Gaio e Odivelas na Bacia do Sado. Terras Agrícolas (regadio do Alqueva): Corresponde a uma planície suavemente ondulada com montado aberto a norte com utilização dominante a sul de sistemas arvenses de sequeiro, em grande propriedade, com solos de elevada fertilidade. As infra-estruturas do regadio de Alqueva conferem a este território uma nova centralidade na especialização agroindustrial, determinante quando asseguradas as ligações rodo ferroviárias que permitam o transporte de mercadorias de e para o Porto de Sines, benefi ciando da proximidade da frente marítima ao interior da Península Ibérica. Serras do Sul: embora esta unidade territorial se estenda sobretudo pela região do Algarve, também caracteriza uma parte do território do Alentejo Litoral. Destaca-se como elemento particular a Albufeira de Santa Clara, no município de Odemira, com um plano de água de dimensão signifi cativa. 107

FIGURA 5 - UNIDADES TERRITORIAIS DO ALENTEJO LITORAL Adaptado de: PROT Alentejo. No que respeita à estruturação do sistema urbano, o referido triângulo Sines/Santiago do Cacém/ Santo André constitui a centralidade fundamental do Alentejo Litoral. O complexo industrial e portuário de Sines projecta internacionalmente este triângulo urbano, que ainda necessita de aprofundar e valorizar alguns projectos e complementaridades funcionais. Ancorado a esta centralidade urbana, desenvolveu-se o sub-sistema urbano do litoral que se estende entre Grândola e Odemira. A parte norte do sistema urbano do Alentejo Litoral desenvolve espaços de relacionamento com Setúbal e mesmo com Lisboa no domínio do comércio e serviços, ao passo que o sul do mesmo sistema evidencia a infl uência e atractividade do Algarve. É também importante a crescente potencialidade de articulação com Évora e Beja. 108

FIGURA 6 - SISTEMA TERRITORIAL DO ALENTEJO LITORAL Adaptado de: PROT Alentejo. O tipo de ocupação urbana da sub-região é frequentemente linear ao longo das vias, na maioria dos casos completada por uma malha ortogonal. Do ponto de vista urbano, o IP1 constitui um elemento fortemente estruturante de todo o território. Este foi um dos factores de expansão urbana e funcional de Grândola, município que se encontra a meia distância do itinerário Lisboa-Algarve, no local de cruzamento de dois itinerários viários principais (IP1 e lp8) e de confl uência de uma rede viária radial. Um conjunto de pequenos aglomerados periféricos da sede do município têm vindo a consolidar-se seguindo uma forma linear ao longo do IP1. Além daqueles dois eixos viários principais, e de uma terceira via fundamental para o reforço das 109

acessibilidades do Alentejo Litoral, é também fundamental o IC33, de ligação com o IP7/A6 e com a fronteira espanhola, com passagem por Évora. Falta o reforço/qualifi cação do corredor rodoviário do Litoral Alentejano (Tróia-Lagos), dando continuidade ao IC4 (Sines-Odemira-Lagos), que assegurará a ligação ao Algarve através do litoral, além de concluir a ligação do IP8 Sines-Beja-Espanha e do IC33 Sines-Évora-Espanha. A concretização do IC33 e do IP8, são cruciais para a afi rmação europeia do porto de Sines e da plataforma logística, industrial e energética que lhe está associada. O grande trunfo da sub-região em termos de infra-estruturas de transportes é o porto de Sines, que benefi cia de uma localização privilegiada (boas condições climatéricas, águas profundas). Dotado de cinco terminais (petroleiro, petroquímico, multipurpose, gás natural liquefeito e contentores) e dois portos interiores (um de pesca e outro para embarcações de recreio), este porto assume-se actualmente como uma infraestrutura portuária multifacetada, moderna e capaz de acolher qualquer tipo de navios. FIGURA 7 - PORTO DE SINES Fonte: Administração do Porto de Sines. 110

FIGURA 8 - IMAGEM AÉREA DO PORTO DE SINES Fonte: Google Earth Para além das suas vantagens naturais e locacionais, o porto de Sines apresenta as seguintes vantagens competitivas, quando comparado com outros portos nacionais e estrangeiros: Um porto artifi cial, não localizado na embocadura de um rio, e portanto sem custos de dragagem e com capacidade de expansão; Uma multiplicidade de valências, que permite que um investidor possa importar matériasprimas por um dos terminais e exportar produtos acabados por outro dos terminais; Uma extensa zona logística e de implantação industrial em torno do porto, já infra-estruturada, sem limitações de espaço e rodeado de centros urbanos de pequenas dimensões que, se devidamente enquadrados na sua expansão, não cercarão o porto (como acontece em Lisboa ou Leixões); Um regime de trabalho único nos portos portugueses que permite uma operação 24 h sobre 24 h todos os dias do ano, por turnos e com elevados níveis de produtividade; Um terminal moderno, com despacho totalmente computorizado e actividade intensa de manobras computorizadas. O enorme potencial do porto de Sines, tanto à escala nacional como na sua articulação com a economia regional, é decisivo para a consolidação económica do Alentejo Litoral e para a viabilização das suas comunicações com a AML, com o Algarve, bem como com o interior do Alentejo e com a Estremadura e Andaluzia. O corredor rodoviário Sines-Beja-Vila Verde Ficalho pode vir a constituir um potencial de desenvolvimento regional, ancorado não só na plataforma logístico-industrial de Sines como também no aeroporto de Beja. Os investimentos no sector industrial e de produção de energia em curso, a par dos que se perspectivam na plataforma portuário-industrial de Sines, bem como os investimentos no sector turístico faixa litoral, dão forma a importantes transformações económicas e territoriais, que, como se retomará adiante, conduzirão a um reforço da posição do Alentejo Litoral, e em particular dos seus eixos mais dinâmicos, no conjunto da economia regional e nacional. Por outro lado, a linha de costa, marcada por um valor natural ímpar no contexto nacional e europeu, apresenta-se como uma das componentes estruturantes/emergentes da organização territorial da sub-região. 111

2. DEMOGRAFIA 2.1. Península de Setúbal A Península de Setúbal tem apresentado nos últimos anos um signifi cativo dinamismo demográfi co, destacando-se no contexto da Área Metropolitana de Lisboa e do País como um dos territórios com maior crescimento da população residente (que nas duas últimas décadas cresceu cerca de 30%). Em 2009 residiam na sub-região cerca de 797 mil habitantes, o equivalente a cerca de 30% da população da AML. Almada e Seixal concentram cerca de 43% da população da sub-região. Esta proporção sobe para os 60% se se considerar o município de Setúbal. FIGURA 9 - POPULAÇÃO RESIDENTE - 2009 Fonte: INE. Entre 2001 e 2009, o crescimento demográfi co da Península de Setúbal foi de 10% (contra os 3,8% na AML). Em 2009, a taxa de crescimento efectivo 2 foi de 0.9%, superior aos valores médios da AML (0,52%) e de Portugal (0,10%). Alguns municípios destacam-se pelos valores elevados de crescimento efectivo da população: Sesimbra (4,03%), Alcochete (3,65%) e Palmela (1,64%). Apenas o Barreiro apresenta uma tendência de perda demográfi ca, com um decréscimo populacional de 0,47%. 2 Contabilização dos indivíduos que nascem e que morrem, que entram e que saem num dado país ou região num determinado período de tempo. Consiste no somatório do crescimento natural e do saldo migratório. 112

FIGURA 10 -TAXA DE CRESCIMENTO EFECTIVO DA POPULAÇÃO - 2009 Fonte: INE. Conclui-se que a positiva dinâmica demográfi ca da sub-região é consequência dos movimentos migratórios, se se considerar que o saldo natural tem acompanhado a tendência nacional de decréscimo (em 2009 foi de 0,26%, valor muito superior à média nacional de 0,03% e próxima da média metropolitana, de 0,23%). A percentagem de indivíduos estrangeiros que solicitaram a residência na região rondou naquele ano os 0,75%, valor superior aos registados na AML (0,57%) e no País (0,56%). Destaque para os municípios de Setúbal e Montijo, ambos com taxas superiores a 1% nesta variável. Um outro aspecto a salientar é a fraca tendência de envelhecimento demográfi co observada na Península de Setúbal: em 2009, o índice de envelhecimento 3 foi de 103.9 idosos por cada 100 jovens, ano em este indicador já atingia os 108,4 na AML e os 117,6 em Portugal. Os saldos migratórios 4 positivos têm justifi cado as importantes proporções de população jovem na sub-região. 2.2. Alentejo Litoral Ao contrário da Península de Setúbal, nas últimas décadas o Alentejo Litoral tem registado uma dinâmica demográfi ca negativa. Desde 1960, a sub-região perdeu mais de 35000 habitantes, metade dos quais só no município de Odemira. Em 2009 residiam no Alentejo Litoral cerca de 95 mil habitantes, isto é, 12.6% da população do Alentejo. Mais de 45% da população da sub-região reside no eixo Santiago do Cacém-Sines. Sines é o município com maior dinamismo demográfi co da sub-região, registando uma taxa de variação positiva da população de -1.2%, entre 1991 e 2009 (Sines é o único município com uma positiva taxa de crescimento efectivo da população, de 0,21%). O dinamismo demográfi co 3 Relação existente entre o número de idosos e a população jovem. É expresso em número de residentes com 65 ou mais anos por 100 residentes com menos de 15 anos. 4 Diferença entre o número de entradas e saídas por migração, internacional ou interna, para um determinado país ou região, num dado período de tempo. 113

e a proximidade daqueles dois aglomerados urbanos com Santo André (distância inferir a 15 km) determinam que o já referido triângulo Sines-Santiago do Cacém-Vila Nova de Santo André possua uma dimensão demográfi ca das mais signifi cativas do Alentejo. FIGURA 11 - POPULAÇÃO RESIDENTE (2009) FIGURA 12 - TAXA DE CRESCIMENTO EFECTIVO DA POPULAÇÃO (2009) Fonte: INE. A sub-região enfrenta uma forte tendência para o duplo envelhecimento da população residente: o envelhecimento pela base, marcado pela diminuição do número de jovens; o envelhecimento pelo topo, em virtude do forte crescimento do número de idosos (em 2009, cerca de 24% da população residente tinha mais de 65 anos). 3. ACTIVIDADES ECONÓMICAS, POLOS INDUSTRIAIS E CLUSTERS 3.1. Península de Setúbal Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes da Península de Setúbal rondava os 9.1 mil milhões de euros (o equivalente a 5.4% do total nacional e a 15% do total da região Lisboa). Em 114

termos de Valor Acrescentado Bruto (VAB), a relevância nacional e regional da sub-região rondava os mesmos valores. Naquele ano, o PIB per capita a preços correntes da sub-região era de 11.4 milhares de euros, valor inferior aos registados a nível nacional (de 15.8 milhares de euros) e na região Lisboa (21.7 milhares de euros). O índice de disparidade do PIB per capita da sub-região em relação à média nacional, permite aferir que a Península de Setúbal apresenta ainda um PIB per capita cerca de 28% abaixo do valor médio nacional. As actividades industriais representam cerca de 15% do total do VAB da sub-região (correspondendo a 6% do VAB industrial do País). Apesar de representar apenas cerca de 9% dos fl uxos do comércio internacional em Portugal. Em 2009, a taxa de cobertura das entradas pelas saídas na sub-região foi de 101% (muito acima da média regional de 32% e da média nacional de 62%). Numa aferição à intensidade exportadora da sub-região, conclui-se que as exportações representam cerca de 40% do PIB regional. Em 2009, cerca de 185 mil indivíduos desenvolviam a sua actividade económica na Península de Setúbal, o equivalente a 5% do emprego total do país. As actividades económicas mais representativas em termos de emprego são: construção civil (12% do emprego total da sub-região), comércio a retalho (11%), administração pública (10%) e educação (8%). As actividades industriais representam cerca de 15% do emprego total da Península de Setúbal. Destacam-se as seguintes actividades industriais: indústrias alimentares e das bebidas (16% do emprego industrial), fabricação de produtos metálicos (14%), fabricação de veículos automóveis (13%), construção e reparação naval (10%) e indústria da madeira e da cortiça (10%). Em 2009, cerca de 72 mil empresas tinham sede nos municípios da sub-região (25% das quais em Almada, seguindo-se os municípios do Seixal e Setúbal, com valores respectivos de 20% e 17%). Os sectores de actividade económica mais representativos em termos empresariais são, por ordem decrescente de importância, o comércio por grosso e a retalho (33% do total de empresas), a construção civil (20%), o alojamento e restauração (11%) e as actividades imobiliárias e os serviços de apoio às empresas (10%). As actividades industriais representam apenas cerca de 5% do total de empresas com sede nos municípios da Península de Setúbal. No contexto das actividades industriais, os sectores com maior número de empresas com sede na sub-região são: as indústrias metalúrgicas de base e de produtos metálicos (26% das empresas industriais), a indústria têxtil (13%), as indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco (12%), as indústrias de pasta e de papel (10%), as indústrias da madeira e da cortiça (8%) e a fabricação e material de transporte (5%). Os municípios de Almada e Seixal concentram cerca de 44% das empresas industriais da subregião, destacando-se na presença de empresas que desenvolvem as suas actividades no domínio das indústrias metalúrgicas e das indústrias alimentares. Em 2008, a taxa de natalidade de empresas na sub-região ultrapassou a média nacional (17.0% contra 14.2%). A taxa de mortalidade de empresas foi, em 2007, de 19.3% (também superior ao valor registado a nível nacional 16.1%). No que respeita à estrutura dimensional das empresas, a Península de Setúbal é marcada pela forte dualidade: de um lado, empresas de pequena e média dimensão ligadas às actividades terciárias ou a determinados sectores industriais (mais tradicionais, como a metalomecânica, a produção de minerais não metálicos, as indústrias têxteis ou mesmo o agro-alimentar); do outro, empresas de grande dimensão, algumas de capital estrangeiro, pertencentes a sectores de fortes economias de escala (fabricação de material de transporte) ou ao sector da metalomecânica e reparação naval. 115

A análise da distribuição dos trabalhadores por conta de outrem por empresas com menos de 10 trabalhadores ou com mais de 250 trabalhadores, permite ilustrar esta dualidade empresarial da sub-região. Cerca de 25% dos Trabalhadores por Conta de Outrem (TCO) da Península de Setúbal desenvolvem a sua actividade em empresas com menos de 10 trabalhadores (destacando-se os municípios da Moita, com 38%, de Sesimbra, com 36%, e Almada, com 31%). A nível nacional, a proporção de TCO em empresas daquela dimensão foi de 25%. Por seu turno, cerca de 28% dos TOC estão empregados em empresas com mais de 250 trabalhadores, com destaque para os municípios de Palmela (37%) e Setúbal (32%). A nível nacional esta proporção não ultrapassou os 24%. FIGURA 13 - TAXA DE TCO EM EMPRESAS COM MENOS DE 10 TRABALHADORES - 2008 Fonte: INE. 116

FIGURA 14 - TAXA DE TCO EM EMPRESAS COM MAIS DE 250 TRABALHADORES - 2008 Fonte: INE. Em 2009, as empresas da sub-região atingiram um volume de negócio de 15.2 mil milhões de euros. Os sectores mais representativos em termos de volume de negócios foram, por ordem decrescente de importância: comércio por grosso, excepto de veículos automóveis e motociclos (18% do volume de negócios total); fabricação de veículos automóveis, reboques, semi-reboques e componentes para veículos automóveis (12%); comércio a retalho, excepto de veículos automóveis e motociclos (11%); promoção imobiliária (desenvolvimento de projectos de edifícios) e construção de edifícios (5%); comércio, manutenção e reparação, de veículos automóveis e motociclos (4%). Antes de se abordar mais detalhadamente o perfi l de especialização produtiva da Península de Setúbal, e ainda dentro da análise da importância do sector industrial da sub-região, é importante referir que o padrão industrial deste território tem nos últimos anos evidenciado uma signifi cativa mudança: o predomínio das actividades secundárias parece estar defi nitivamente arredado do arco ribeirinho da Península de Setúbal. Perdeu a importância que já teve nos municípios de Almada, Seixal e Barreiro e surge, essencialmente, nas áreas imediatamente recuadas destes municípios e para o interior da sub-região, no alinhamento Montijo/Setúbal. Especialização da base produtiva O sector mais representativo na Península de Setúbal em termos de VAB é o da Administração Pública, responsável por 12% do VAB da sub-região, seguido das Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas (12%), do Comércio por Grosso e a Retalho (10%), da Educação (9%), da Construção (8%) e dos Transportes, Armazenagem e Comunicações (7%). 117

A sub-região tem portanto uma forte presença do sector terciário: quer daquele que responde a necessidades básicas da população e das actividades económicas (Administração Pública e Acção Social, Educação, Saúde, Actividades Associativas e Serviços às Famílias, Comércio, Turismo e Restauração, Electricidade, Gás e Água); quer do terciário baseado em actividades mais intensivas em conhecimento, gestão da informação ou tecnologia (como os Serviços Prestados às Empresas, as Telecomunicações e Correios, as Actividades Informáticas, os Serviços Financeiros e Actividades Imobiliárias e as Indústrias Criativas). No entanto, a forte dependência funcional em relação a Lisboa tem limitado o crescimento das actividades terciárias e sobretudo das que são mais exigentes em conhecimento e tecnologia, não obstante o impacto pontual que a presença da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa tem tido no surgimento de pequenas empresas na área dos serviços informáticos e software. Um dos traços mais interessantes da evolução das actividades terciárias na Península de Setúbal é o desenvolvimento do Cluster Comunicação/Informação, com a multiplicação de pequenas empresas na área do software (como a CHIRON, a que não é estranha a presença daquela instituição universitária, ou a VIATECLA). Apesar da importância das actividades terciárias, o que continua a especifi car a Península de Setúbal são em larga medida as actividades industriais. Em termos de peso no VAB, destacam-se: a Fabricação de Material de Transporte (que representa 6% do VAB e que integra não só a Indústria Automóvel como a Construção e Reparação Naval), as Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco (4%) e a Fabricação de Equipamento Eléctrico e de Óptica (2%). Todavia, outros sectores industriais ainda fazem a diferença, como são exemplos o Material Electrónico, a Indústria Química Pesada, a Siderurgia e Metalurgia, a Indústria de Pasta e Papel e a Indústria Química Ligeira. Em termos de clusters industriais, o que especifi ca esta sub-região são as seguintes características: As suas actividades estão centradas no Cluster Automóvel, já desde a instalação do projecto Renault nos anos 80. Actualmente, e depois da saída da Renault, as actividades do cluster estão organizadas em torno de um construtor a Volkswagen (VW) na AutoEuropa (AE) e do seu grupo de fornecedores dedicados, localizados na maioria no parque industrial anexo às instalações fabris da AE. Para além da AE e dos seus fornecedores mais directos. Conta ainda com dois importantes fabricantes de autorádios a Visteon do grupo Ford, que também se dedica à produção de equipamento de ar condicionado e a Pioneer. De referir que o cluster automóvel tem sido um forte indutor de investimento na economia da Península de Setúbal, em particular do município de Palmela, seja com origem em empresas estrangeiras, seja motivado pelo crescimento das empresas de base nacional. Com um peso de cerca de 0.7% no PIB nacional, a indústria automóvel da Península de Setúbal contribui para 12% da riqueza gerada neste território. Representa cerca de 16% do emprego industrial e 5% das exportações da sub-região.a produção da VW-Autoeuropa representa entre metade e ¾ do total de veículos produzidos em Portugal, constituindo-se como o maior gerador de emprego na montagem automóvel, com cerca de 3 mil empregos directos e um impacto total em termos de emprego na ordem dos 8 mil indivíduos. A indústria de componentes concentrada em torno de Palmela tem um volume signifi cativo face ao total nacional. O sector de componentes em Portugal é composto por cerca de 118

2 centenas de empresas, com áreas de actividade que vão desde a produção de peças para motor até ao fabrico de moldes e ferramentas. Em Palmela predominam as empresas de componentes de capital estrangeiro, consequência do fornecimento directo à VW- Autoeuropa, sobretudo de módulos e sistemas de elevada complexidade em regime de proximidade. A sub-região poderá ser muito seriamente afectada em termos de desemprego futuro por deslocalização e encerramento de empresas na área da construção automóvel, dos componentes para a indústria automóvel e da electrónica automóvel. FIGURA 15 - PARQUE INDUSTRIAL DA AUTOEUROPA FIGURA 16 - EXEMPLOS DE FORNECEDORES DA AUTOEUROPA Analisando os principais fornecedores da Autoeuropa instalados no Parque Industrial, é possível distinguir três situações: As empresas estrangeiras que são fornecedores e ao mesmo tempo exportam directamente: exemplos da CONTINENTAL TEVES, da FAURECIA e da VANPRO (refi ra-se que esta empresa tem como sócios a JOHNSON CONTROLS e a FAURECIA e, além de produzir 119

os assentos para todos os monovolumes produzidos na fábrica da AUTOEUROPA, fornece peças de substituição à Ford, Seat e Volkswagen); As empresas estrangeiras que são fornecedores dedicados: WEBASTO, TENNECO, BENTELER; As empresas nacionais que são fornecedores dedicados: o caso da INAPAL. Nos Clusters Madeira/Papel e Cortiça, a produção de pasta de papel e papel é uma tradição da sub-região, estando nela implantadas unidades fabris da Portucel e da Inapa. A transformação da cortiça, é outra actividade tradicional em que se integram empresas como a Interchampagne - Fabricante de Rolhas de Champagne, a Manuel Joaquim Orvalho, e que foi enriquecida com a implantação da AIS Amorim Industrial Solutions, orientada para o desenvolvimento e fabrico de novos produtos com base na cortiça; No que respeita ao Macro Cluster Agro-indústrias, a sub-região partilha com a Lezíria do Tejo actividades de agricultura de regadio que suportam a transformação de produtos hortícolas e com o Oeste a transformação de carnes nomeadamente de suíno, apesar da diminuição registada nos últimos anos nesta actividade; de referir que chegaram a existir na Península de Setúbal, sobretudo no município do Montijo, cerca de 3 dezenas de empresas pertencentes a esta actividade industrial (os animais depois de transportados de comboio do Alentejo para este município, eram aí abatidos e enviados em peças para Lisboa). Actualmente, restam apenas 3 empresas, com destaque para a Carmonti, que resultou da fusão de 7 empresas de pequena e média dimensão. Esta empresa, localizada no Montijo, transforma carne fresca de suíno e produz salsicharia, exportando para países como Luxemburgo, Holanda, França e Cabo Verde, bem como para a RAPORAL. A sub-região tem ainda uma forte tradição nos vinhos de qualidade J. M. Fonseca ou Bacalhoa Vinhos. No Cluster Equipamentos/Naval sobreviveram a Lisnave/Setenave, na reparação naval, e a Alstom, no fabrico de caldeiras para centrais termoeléctricas. As plataformas de produção de bens intermédios das indústrias pesadas químicas e metalúrgicas que existiam na região Seixal, em torno da Siderurgia Nacional (SN) e Barreiro/Lavradio, em torno do grupo CUF foram profundamente transformadas durante a década de 90, nomeadamente após o processo de privatizações. No domínio da siderurgia, destacam-se algumas entidades que foram resultado do processo de privatização da SN: A Siderurgia Nacional - Empresa de Produtos Longos, especializada no fi o-máquina e no varão para construção civil; faz parte do grupo Atlansider, controlado pela Megasa Metalúrgica Galaica. As suas duas unidades dispõem de fornos eléctricos com capacidade de 1 milhão de toneladas no Seixal e de 800 mil toneladas na Maia e, exportam para Espanha; A Lusosider - Aços Planos, especializada na produção de chapa de aço galvanizada e de folha de fl andres. Depois de ter estado integrada sucessivamente nos grupos europeus Acelor e Corus, o seu controlo passou para a maior empresa brasileira do sector a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Para além destas empresas está instalada no mesmo pólo a Gonvarri Produtos siderúrgicos, especializada em serviços na área siderúrgica. E na metalurgia podem ainda referir-se a AMAL e a Metalurgica Central de Alhos Vedros 120