Dados Básicos Fonte: 990.10.423.737-8 Tipo: Acórdão CSM/SP Data de Julgamento: 19/04/2011 Data de Aprovação Data não disponível Data de Publicação:06/07/2011 Estado: São Paulo Cidade: Carapicuíba Relator: Maurício Vidigal Legislação Legislação: Arts. 195 e 237 da Lei nº 6.015/73. Ementa REGISTRO DE IMÓVEIS Dúvida Título judicial Qualificação registrária Necessidade Inventário Renúncia translativa ou in favorem Ausência de instrumento público ou termo nos autos Carta de adjudicação do imóvel diretamente à donatária Sentença em que não se explicitou a transmissão do imóvel à herdeira necessária Oficial de registro que não pode, por sua iniciativa, atribuir o domínio, excedendo o limite formal do título Pretensão recursal incompatível com o princípio da continuidade (Lei nº 6.015/73, arts. 195 e 237) Recurso não provido. Íntegra ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 990.10.423.737-8, da Comarca de CARAPICUÍBA, em que é apelante o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SÃO PAULO e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores JOSÉ ROBERTO BEDRAN, Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ SANTANA, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, ANTONIO LUIZ REIS KUNTZ, Decano, CIRO PINHEIRO E CAMPOS, LUIS ANTONIO GANZERLA e FERNANDO ANTONIO MAIA DA CUNHA, respectivamente, Presidentes da Seção Criminal, de Direito Público e de Direito Privado do Tribunal de Justiça. São Paulo, 19 de abril de 2011. (a) Desembargador MAURÍCIO VIDIGAL, Corregedor Geral da Justiça e Relator VOTO REGISTRO DE IMÓVEIS Dúvida Título judicial Qualificação registrária Necessidade Inventário Renúncia translativa ou in favorem Ausência de instrumento público ou termo nos autos Carta de adjudicação do imóvel diretamente à donatária Sentença em que não se explicitou a transmissão do imóvel à herdeira necessária Oficial de registro que não pode, por sua iniciativa, atribuir o domínio, excedendo o limite formal do título Pretensão recursal incompatível com o princípio da continuidade (Lei nº 6.015/73, arts. 195 e 237) Recurso não provido. Da sentença de procedência de dúvida registrária exarada pelo Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Carapicuíba, cujo relatório se adota (fl. 27), interpôs apelação o Ministério Público (fls. 32-41). Alegou-se, em essência, que no curso do inventário foi praticada renúncia translativa ou in favorem, configurando cessão de direitos hereditários gratuita ou doação e que a
ausência de lavratura do respectivo termo nos autos não pode redundar em prejuízo à parte interessada. Ainda, sustentou-se que a decisão homologatória, fundada em manifestação inequívoca de vontade da herdeira, transitou em julgado, concretizando o sentido teleológico do formalismo exigido pela norma legal. A Procuradoria Geral da Justiça se manifestou pelo provimento (fls. 50-51). Esse o relatório. O oficial de registro suscitou dúvida porque da carta de adjudicação do imóvel matriculado sob nº 125102 no Registro de Imóveis de Barueri, expedida em autos de inventário (nº 127.01.2008.016122-1/000000-000, da 1ª Vara Cível da Comarca de Carapicuíba), constou como adjudicatária Daiane Silva Rosa Figueiredo, que não é herdeira do autor da herança nem cessionária de direitos hereditários (Código Civil, art. 1.793, caput), de modo que o ingresso do título violaria o princípio da continuidade (fls. 2-4). É cediço que o título judicial se submete à qualificação registrária (Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, Capítulo XX, item 106). Com efeito, a aferição efetivada pelo oficial não implica reexame do mérito da decisão do juiz, mas apenas apreciação das formalidades extrínsecas da ordem e da conexão dos seus dados com o registro, conforme jurisprudência remansosa do Conselho Superior da Magistratura (Apelações números 801-6/8, Rel. Des. Gilberto Passos de Freitas, j. 14.12.07, e 22.417-0/4, Rel. Des. Antonio Carlos Alves Braga, j. 31.8.95). Assim, não obstante o trânsito em julgado da decisão, é dever do oficial qualificar o título respectivo; ao fazê-lo, não desrespeita a força e autoridade do decisum, e sim apenas vela pela segurança registrária. No caso, o título provém do inventário dos bens de Carlos Alberto Ribeiro da Silva. A ascendente e única herdeira, Sra. Maria José da Silva, renunciou à herança em favor de Daiane Silva Rosa Figueiredo, noiva do de cujus.
Houve o que se denomina em doutrina como renúncia translativa ou in favorem, consistente de alienação que se segue à aceitação da herança. São dois atos, suscetíveis de duas tributações. Em verdade, não se trata propriamente de renúncia, mas sim aceitação tácita e subsequente cessão expressa (compra e venda ou doação, conforme seja onerosa ou gratuita). Embora recolhidos os impostos referentes à transmissão causa mortis e doação inter vivos, não se formalizou a liberalidade por instrumento público ou termo judicial, como preceitua o art. 1.806 do Código Civil. Além disso, não se explicitou na sentença a transmissão do imóvel à herdeira necessária; houve simples adjudicação à donatária (fl. 55 do apenso). Ora, o oficial não poderia, sponte sua, atribuir o domínio à herdeira necessária, excedendo o limite formal do título. Tampouco lhe seria lícito registrar diretamente a carta de adjudicação do imóvel a Daiane Silva Rosa Figueiredo sem que antes, na matrícula, se refletisse o princípio de saisine (Código Civil, art. 1.784), por força da continuidade essencial ao sistema imobiliário (Lei nº 6.015/73, arts. 195 e 237). A solução seria a retificação do título, pelo juízo do inventário, a fim de se atribuir expressamente o imóvel a Maria José da Silva e em seguida a Daiane Silva Rosa Figueiredo. Enfim, nos termos em que deduzida, a pretensão recursal não se compatibiliza com o princípio da continuidade. O pleito do apelante se assimila à partilha per saltum, proscrita em precedentes deste Colendo Conselho Superior da Magistratura (Apelação nº 917-6/7, Rel. Des. Ruy Camilo, j. 4.11.08; Apelação nº 1.067-6/4, Rel. Des. Ruy Camilo, j. 14.4.09). Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso. (a) Desembargador MAURÍCIO VIDIGAL, Corregedor Geral da Justiça e Relator
(D.J.E. de 06.07.2011)