PGT/CCR/PP/ Nº 10204/2013 INTERESSADOS: MARCOS ELI SILVA e SEBRAE SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS ASSUNTO: IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E DISCRIMINAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO EMENTA: PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO NÃO HOMOLOGADA. NECESSIDADE DE DILIGÊNCIAS. DISCRIMINAÇÃO. PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Hipótese que se refere a uma das metas prioritárias do Ministério Público do Trabalho igualdade de oportunidades e discriminação de pessoas portadoras de deficiência no mercado de Trabalho. A natureza do bem a ser tutelado reclama atuação do Ministério Público do Trabalho, razão pela qual se mostra precipitado o arquivamento sem a realização de nenhuma diligência. RELATÓRIO Trata-se de representação formulada por Marcos Eli Silva, em face da empresa SEBRAE SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, noticiando, em suma, suposta situação de dispensa em virtude de prática discriminatória. Em breve síntese, aduz o noticiante que é deficiente auditivo e que trabalhava na empresa supracitada na função de assistente I e que, em fevereiro de 2013, foi promovido à função de assistente II, sendo que poucos dias depois foi demitido sem que lhe fosse informado o motivo de sua dispensa. A razão do pedido de representação, conforme consta à f. 03, encontra 1
guarida no fato de o noticiante acreditar ter sido demitido por discriminação decorrente de sua dificuldade de ouvir as pessoas. A Procuradora do Trabalho Sílvia Silva da Silva, às fls. 13/16, indeferiu o mencionado pedido de representação e promoveu o arquivamento do feito, por não vislumbrar razões para a continuidade do inquérito, sobre o fundamento de que, não haveria, no caso dos autos, ofensa a direito metaindividual, por entender que os fatos relatados não se coadunam com a alegação de discriminação sustentada pelo noticiante, posto que o representante informou ter sido promovido antes que se desse a sua demissão. Às fls. 19/41, o denunciante apresenta recurso administrativo, acompanhado de cópia de Laudo médico, que atesta a sua condição de deficiente (fl. 22), convocação para perícia e edital do processo seletivo do SEBRAE (fls. 23 e 24/35), dentre outros documentos, sustentando, em breve síntese, que sua dispensa foi motivada por uma atitude discriminatória e desumana, que não chegou a ser promovido de fato para a função de Assistente II, porque não houve aumento salarial, mas mera extinção do cargo de Assistente I e reitera os termos da denúncia, requerendo seja exigido da Diretoria do SEBRAE a devolução imediata do emprego do recorrente. Às fls. 43/44 o Procurador oficiante, por não vislumbrar atitude discriminatória no caso sob análise, manteve seu entendimento no tocante ao arquivamento, reiterando os motivos já expostos por ocasião da proposta arquivatória formulada. É o relatório 2
ADMISSIBILIDADE O Recurso atende os pressupostos de conhecimento e tempestividade. Por seu conhecimento. VOTO Analisando detidamente os autos e, com a máxima vênia da ilustre colega oficiante neste feito, entendo que a promoção de arquivamento não está em condições de ser homologada. Isso porque, ausente nos autos qualquer início de investigação ou de realização de diligências por parte do Ministério Público do Trabalho com a finalidade de apurar, no presente caso, se houve ou não a prática de atitude discriminatória pela empresa supracitada contra a pessoa de Marcos Eli Silva. Com efeito, apesar de, em tese, a suposta ofensa perpetrada pela empresa atingir apenas um único indivíduo, é inquestionável que a matéria versada nestes autos mostra-se sumamente relevante às missões e metas prioritárias institucionais que cabem ao Ministério Público do Trabalho, já que relacionada à inserção de portadores de deficiência no mercado de trabalho e a discriminação nas relações de trabalho. Pelo que, entendo precipitado o arquivamento do feito sem que tenha sido realizada 3
qualquer diligência e averiguada a regularidade da conduta do empregador no caso em comento. De fato, conforme se vislumbra nos autos, não obstante o recorrente ter sido admitido na empresa SEBRAE justamente através de processo seletivo para ocupar vaga destinada a portadores de deficiência, há de se ponderar a possibilidade de a dispensa do recorrente ter se verificado em virtude de discriminação em razão do tipo de deficiência apresentada pelo recorrente. Decerto, às fls. 20 dos autos, o recorrente apresenta declarações de que sofreria discriminações nesse sentido: Percebi que a Diretoria do SEBRAE-AP demonstrou um conceito errado de que Deficiente físico é quem tem dificuldade de locomoção ou de mobilidade, situação das duas funcionárias que foram aprovadas junto comigo, nas três vagas do Processo Seletivo, eles não assimila surdez parcial como deficiência, além de colocarem em duvidas minhas limitações auditivas. Tais atitudes preconceituosas e irresponsáveis expuseram-me ao ridículo diante dos funcionários e estagiários, pois inúmeras vezes manifestei a minha chefia imediata a necessidade de uma prótese auditiva, equipamento que estou buscando adquirir, há muitos meses, com o Centro de Reabilitação do Amapá-CREAP, Mas o SEBRAE-AP mesmo ciente disto, não ofereceu nenhum meio para que eu tivesse um. 4
Desse modo, considerando as declarações do trabalhador, impõe-se a necessidade de realização de diligências para verificação se a dispensa do recorrente teve cunho discriminatório, tendo em vista ser mister do Ministério Público do Trabalho, o zelo pela igualdade de oportunidade e ausência de discriminação nas relações de trabalho, seja na admissão, no curso do contrato ou na demissão do trabalhador, uma vez que a discriminação no trabalho se constitui em uma das formas de atentado aos direitos humanos. Outrossim, consta nos autos que o recorrente teria trabalhado na empresa SEBRAE-AP por mais de dezoito meses e que, apesar de ter trabalhado mais de um ano no referido local teria sido considerado inapto para o cargo, o que evidencia mais uma vez o interesse público no feito, na medida em que a inaptidão do deficiente para determinado cargo tem nítida relação com a matéria de inserção de portador de deficiência no mercado. Decerto, há de se ter em mente que quando a Constituição assegurou que fossem destinados percentual de vagas aos portadores de deficiência, o fez com a finalidade de garantir o princípio da igualdade e da dignidade da pessoa humana, princípios básicos que, nos termos do artigo 127 da nossa Lei Maior, incumbem ao Ministério Público zelar. Assim, o presente feito não comporta o encerramento das investigações, mormente quando envolve questão de tamanha relevância e repercussão social afeta à atenção do Parquet laboral. Ademais, o art. 10 da Resolução nº 69, de 12 de dezembro de 2007, estatui que o arquivamento de inquérito civil ou 5
procedimento investigatório será cabível quando, depois de esgotadas todas as possibilidades de diligências, o membro do Ministério Público do Trabalho se convença inexistir fundamento para a propositura de ação civil pública, o que não é o caso dos autos, uma vez que não se observa a realização de diligências mínimas pelo Parquet. Com efeito, os elementos dos autos possibilitam o manejo de diligências investigatórias no intuito de satisfazer, por completo, o objeto deste procedimento, averiguando todas as irregularidades apontadas na representação, as quais reclamam, de pronto, a atuação ministerial. Assim sendo, outras providências se impõem à melhor instrução deste feito e à persecução ministerial. Logo, é conveniente que se alcance a devida complementação investigatória, para só então decidir sobre o arquivamento. Mostra-se precipitado o indeferimento de instauração de inquérito civil sem um início de investigação para verificar a veracidade das denúncias relatadas. Deste modo, tendo em vista a inexistência de diligências suficientes aptas a reconhecerem a regularidade de conduta da empresa denunciada em relação à ocorrência de discriminação, a não homologação da promoção de arquivamento sub examine é medida que se impõe. Nesse contexto, determino o retorno dos autos à origem, a fim de que se procedam a diligências, para melhor instruir a presente homologação de arquivamento. CONCLUSÃO 6
Por todo o exposto, voto pelo provimento do recurso e não homologação do arquivamento da Representação nº 10204/2013, devolvendo os autos à origem para as providências pertinentes. Brasília, 06 de setembro de 2013. MANOEL ORLANDO DE MELO GOULART Subprocurador-Geral do Trabalho Membro da CCR - Relator 7