Avaliação do tempo de congelamento da mangaba (Hancornia Speciosa Gomes) em ultrafreezer através dos modelos matemáticos de Planck e Pham

Documentos relacionados
ESTUDO DOS FRUTOS E SEMENTES DE MANGABA (HANCORNIA SPECIOSA) DO CERRADO

AVALIAÇÃO DO PROCESSO FÍSICO DE CONGELAMENTO DA POLPA DE LIMÃO TAHITI (Citrus latifólia Tanaka)

CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE

ALTERNATIVA PARA CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda)

DETERMINAÇÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA DE LEGUMES UTILIZANDO O MÉTODO GRÁFICO DE HEISLER

OPERAÇÕES UNITÁRIAS II AULA 13: EVAPORADORES E CONGELAMENTO. Profa. Dra. Milena Martelli Tosi

Redução da viscosidade da polpa de acerola

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena EEL

ENGENHARIA DE MATERIAIS. Fenômenos de Transporte em Engenharia de Materiais (Transferência de Calor e Massa)

OPERAÇÕES UNITÁRIAS II AULA 10: ESTERILIZAÇÃO. Profa. Dra. Milena Martelli Tosi

COMPARAÇÃO DE MODELOS FENOMENOLÓGICOS PARA A HIDRATAÇÃO DE GRÃOS DE SOJA

Obtenção e avaliação de parâmetros físico-químicos da polpa de goiaba (Psidium guajava L.), cultivar Paluma

Capítulo 08 - TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONDUÇÃO EM REGIME TRANSIENTE

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA CINÉTICA DE SECAGEM DO MORANGO.

EFEITO DO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS EM FRUTOS DE ACEROLA (Malpighia punicifolia DC)

Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia Química 2

SIMULAÇÃO DO PROCESSO DE SECAGEM OSMO- CONVECTIVA DE BANANA PRATA

These values were used to calculate the freezing time according to the Nagoaka, Pham and Plank mathematical models, which were compared to the freezin

CINÉTICA DE SECAGEM DE MASSA ALIMENTÍCIA INTEGRAL. Rebeca de L. Dantas 1, Ana Paula T. Rocha 2, Gilmar Trindade 3, Gabriela dos Santos Silva 4

LISTA DE EXERCÍCIOS Nº 4

ELABORAÇÃO DE DOCE EM PASTA DO TIPO EM MASSA A PARTIR DE FRUTAS DO SEMIÁRIDO

PARÂMETROS DE QUALIDADE DA POLPA DE LARANJA

Condução de calor Transiente

Caracterização físico-química do fruto de ameixa selvagem (Ximenia americana L.)

5. Análise dos Resultados

PÓS-COLHEITA E AGROINDUTRIALIZAÇÃO DO CUPUAÇU

CINÉTICA DE SECAGEM DE RESÍDUOS DE Artocarpus heterophyllus Lam

Lei de Fourier. Considerações sobre a lei de Fourier. A lei de Fourier é fenomenológica, isto é, desenvolvida de fenômenos observados.

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

TÍTULO: COMPARAÇÃO DE MODELOS MATEMÁTICOS PARA DESCRIÇÃO DA CINÉTICA DE SECAGEM DE CASCAS DE CENOURA (DAUCUS CAROTA L.) E BETERRABA (BETA VULGARIS).

CINÉTICA DE DESIDRATAÇÃO OSMÓTICA DA BANANA PACOVAN EM DIFERENTES TEMPERATURAS RESUMO

Tabela 5.1- Características e condições operacionais para a coluna de absorção. Altura, L Concentração de entrada de CO 2, C AG

PIR - Projetos de Instalações de Refrigeração

Processos de conservação de frutas e hortaliças pelo frio

ELABORAÇÃO DE GELEIA TRADICIONAL E LIGHT DE GUABIROBA BRUNA NAPOLI¹; DAYANNE REGINA MENDES ANDRADE²; CRISTIANE VIEIRA HELM³

Operações Unitárias II Lista de Exercícios 1 Profa. Dra. Milena Martelli Tosi

Influência de hidrocolóides na cor de estruturado de maracujá-do-mato

Atividades Desenvolvidas

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO DE BANANA RESISTENTE À SIGATOKA NEGRA VARIEDADE CAIPIRA

DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE CONVECTIVO DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR EXPERIMENTAL EM CUPCAKE DE CHOCOLATE RESFRIADO A TEMPERATURA AMBIENTE

Efeito da temperatura de armazenamento na pós colheita da cagaita(eugenia dysenterica)

DIFUSIVIDADE TÉRMICA DO EXTRATO DE TOMATE PARA DIFERENTES TEORES DE SÓLIDOS

TRANSFERÊNCIA DE CALOR

PROCESSAMENTO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA DE FRUTOS DE MURICI-PASSA (Byrsonima verbascifolia)

5S.1 Representação Gráfica da Condução Unidimensional Transiente na Parede Plana, no Cilindro Longo e na Esfera

EXPERIMENTO I MEDIDAS E ERROS

MELO, Christiane de Oliveira 1 ; NAVES, Ronaldo Veloso 2. Palavras-chave: maracujá amarelo, irrigação.

APLICAÇÃO DA LEI DO RESRIAMENTO DE NEWTON EM BLOCOS CERÂMICOS: MODELAGEM, RESOLUÇÃO ANALÍTICA E COMPARAÇÃO PRÁTICA DOS RESULTADOS RESUMO

Frutas e Hortaliças. Resfriamento 12/11/2016 TÉCNICAS DE RESFRIAMENTO. Resfriamento ( ꜜT o C)

Refrigeração e Ar Condicionado

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPA DE ACEROLA IN NATURA E LIOFILIZADA PARA PREPARAÇÃO DE SORVETES

PROPOSTA DE PROCEDIMENTO DE SECAGEM DE BAGAÇO DE MAÇÃ PARA A PRODUÇÃO DE FARINHA

Avaliação de parâmetros de qualidade de doce em massa e das matérias primas utilizadas na formulação

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE FRUTOS DE JUAZEIRO NO ESTÁDIO DE MATURAÇÃO MADURO CENTESIMAL COMPOSITION OF JUAZEIRO FRUIT AT MATURE MATURATION STAGE

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CASQUILHOS

Aumento da vida de prateleira de goiaba utilizando tratamento com radiação ionizante

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO DE BANANA RESISTENTE À SIGATOKA NEGRA VARIEDADE THAP MAEO

Silvana Belém de Oliveira 1 ; Patrícia Moreira Azoubel 2 ; Ana Júlia de Brito Araújo 3. Resumo

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Tabuleiros Costeiros Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento A CULTURA DA MANGABA

Podemos definir como quente um corpo que tem suas moléculas agitando-se muito, ou seja, com alta energia cinética. Analogamente, um corpo frio, é

Descrição Macroscópica de um Gás ideal

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Engenharia. Transmissão de calor. 3º ano

QUALIDADE E POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE FRUTOS DE CAJAZEIRAS (Spondias mombin L.) ORIUNDOS DA REGIÃO MEIO-NORTE DO BRASIL

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DE SUCO DE CAJU. Iwalisson Nicolau de Araújo 1 Graduando em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual da Paraíba.

CONDUÇÃO DE CALOR APLICADO AO ESTUDO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS DO ENSINO MÉDIO. Douglas Gonçalves Moçato*** Luiz Roberto Walesko*** Sumário

1. Introdução Motivação

Estimativa da Difusividade e Condutividade Térmica da Massa de Tomate Comercial pelo Método de Levenberg-Marquardt

TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONVECÇÃO NATURAL E FORÇADA À VOLTA DE CILINDROS METÁLICOS TP4

DETERMINAÇÃO DE VIDA DE PRATELEIRA DA FARINHA OBTIDA A PARTIR DAS CASCAS DE ABACAXI (Ananas comosus L. Merril)

ANÁLISE DA CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE LIMÃO TAHITI

CARACTERÍSTICAS FÍSICO QUÍMICAS, NUTRICIONAIS E VIDA ÚTIL DE JILÓ (Solanum gilo Raddi) RESUMO

CALORIMETRIA E TERMOLOGIA

Transferência de Calor 1

ENGENHARIA DE MATERIAIS. Fenômenos de Transporte em Engenharia de Materiais (Transferência de Calor e Massa)

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS CALOR/FRIO

BIOQUÍMICA DO PESCADO

AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE SECAGEM EM LEITO FIXO E CAMADA FINA DE BAGAÇO DE LARANJA E SEMENTES DE MAMÃO PAPAIA COM MUCILAGEM

EFEITO DO BRANQUEAMENTO E IMERSÃO EM ÁCIDO CÍTRICO NO CONGELAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS

Em todas as questões explicite seu raciocínio e os cálculos realizados. Boa prova!

Engenharia Civil / 2 Uenf - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro / LECIV - Laboratório de

4. Resultados Parâmetros de desempenho Variáveis de controle Tipo de nanopartícula

Volume Parcial Molar

ENGENHARIA BIOLÓGICA INTEGRADA II

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS POLPAS DE AÇAÍ COMERCIALIZADAS NAS FEIRAS LIVRES DE SÃO LUÍS-MA.

Transferência de Calor

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS GRÃOS DE QUINOA. Marianna Dias da Costa 1 ; Ivano Alessandro Devilla 2 RESUMO

Fundamentos de Transferência de Calor e Massa

ESTUDOS PRELIMINARES PARA OBTENÇÃO DE BEBIDA ALCOÓLICA DE UMBÚ SEMELHANTE A VINHO

Aula 3 de FT II. Prof. Geronimo

TECNOLOGIAS TRADICIONAIS DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO PESCADO

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

DILATAÇÃO TÉRMICA (INTRODUÇÃO)

AVALIAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO DE BANANA DESIDRATADA

TÍTULO: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS EM MONTES CLAROS-MG

Transferência de Calor

COMPARAÇÃO DAS QUALIDADES FÍSICO-QUIMICAS DA MAÇÃ ARGENTINA RED COM A MAÇÃ NACIONAL FUJI

Transferência de Calor

Elementos de Termodinâmica

Transcrição:

SCIENTIA PLENA VOL. 8, NUM. 4 2012 www.scientiaplena.org.br Avaliação do tempo de congelamento da mangaba (Hancornia Speciosa Gomes) em ultrafreezer através dos modelos matemáticos de Planck e Pham D. S. C. Soares; J. T. S. Santos; A. F. P. Campos; F. S. C. Costa; T. P. Nunes; A. M. O. Júnior 1 Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão-Se, Brasil (Recebido em 06 de novembro de 2011; aceito em 02 de março de 2012) O trabalho teve a finalidade determinar a cinética de congelamento da polpa de mangaba em ultrafreezer através de modelos matemáticos propostos por Plank e Pham, e comparar os resultados destes com os dados obtidos experimentalmente, além de propor o modelo mais adequado para a cinética de congelamento. As propriedades termofísicas da polpa foram determinadas pelo modelo de contribuição de grupos de Choi e Okos. Verificou-se que a temperatura inicial de congelamento da polpa foi de aproximadamente -1 C com um tempo de congelamento em torno de 11 minutos. Notou-se que o modelo de Pham é o mais apropriado para predizer o tempo de congelamento da polpa de mangaba, pois apresentou um erro relativo de 1,45% em relação aos dados experimentais devido à inclusão dos termos entálpicos. Já o modelo proposto por Plank não se mostrou adequado com um erro relativo de 52,64%. Palavras-chave: mangaba; congelamento rápido; cinética The study aimed to determine the kinetics of freezing the pulp mangaba in ultrafreezer using mathematical models proposed by Plank and Pham, and compare these results with data obtained experimentally, besides proposing the most appropriate model for the freezing kinetics.the thermophysical properties of the pulp were determined by group contribution model of Choi and Okos. It was found that the initial temperature of pulp freezing was approximately -1 C with a freezing time around 11 minutes. It was noted that the Pham model is most appropriate for predicting the freezing mangaba pulp time, because showed a relative error of 1.45% compared to the experimental data due to the inclusion of the terms of enthalpy. The model proposed by Plank was not adequate with a relative error of 52.64%. Keywords: mangaba, quickfreeze, kinetic. 1. INTRODUÇÃO No decorrer do tempo as frutas tropicais vêm conquistando seu espaço no mercado, pelo fato delas possuírem um sabor exótico diferenciado das demais frutas, além de serem boas fontes nutricionais. Dentre estas frutas encontra-se a mangaba, que apresenta grande potencial de exploração, principalmente na agroindústria. O fruto apresenta ótimo aroma e sabor, sendo utilizados principalmente na produção de doces, polpas, compotas, sorvetes e sucos, sua utilização industrial está cada vez mais sendo difundida, devido a sua grande aceitação. Aliado a este fato, a mangaba apresenta um alto rendimento de polpa, na ordem de 93,7% (VIEIRA, 1997). A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma árvore frutífera de clima tropical, nativa do Brasil e encontrada em várias regiões do País, desde os Tabuleiros Costeiros e Baixadas Litorâneas do Nordeste, onde é mais abundante, até os cerrados das regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste. Seu fruto, a mangaba, é classificado como climatérico, ou seja, pode amadurecer na planta ou após a colheita. Este aspecto proporciona a mangaba um elevado índice de perecibilidade, o que provoca a redução da vida útil do produto (CHITARRA e CHITARRA, 2005). A existência de alimentos deste tipo propicia o desenvolvimento de técnicas capazes de garantir sua conservação em longo prazo. Dentre elas, o congelamento surge como uma 041501-1

D. S. C. Soares et al., Scientia Plena 8, 041501 (2012) 2 tecnologia que alia qualidade à redução de perdas. Dessa maneira, a diminuição da temperatura como método de preservação de alimentos é de grande importância, pois se pode, por meio dela, retardar reações químicas e enzimáticas, decaindo assim o ritmo de crescimento microbiano (OETTERER, et. al., 2006). Durante o congelamento, primeiramente o calor sensível é removido para diminuir a temperatura do alimento até o ponto de congelamento. Esta remoção pode interferir ou não na composição e estrutura do produto através da formação de cristais. Desta forma existe o congelamento lento, no qual há a formação de grandes cristais de gelo, pontiagudos, que provocam o rompimento das estruturas celulares, tendo como consequência a perda de suco celular e, portanto, redução do valor nutricional, durante o descongelamento. E em oposição, o congelamento rápido evita a formação de grandes cristais de gelo e a ruptura de membranas celulares, mantendo o valor nutricional do alimento (CORREIA, FARAONI, PINHEIRO- SANT ANA, 2008). O tempo de congelamento é um parâmetro difícil de determinação experimental com precisão devido às diferenças da temperatura inicial, no tamanho e forma dos alimentos, diferenças no ponto de congelamento e na taxa de formação dos cristais de gelo entre diferentes pontos do alimento, além de mudanças na densidade, condutividade térmica, calor específico e na difusividade térmica com a redução de temperatura do alimento (FELLOWS, 2006). Os modelos teóricos existentes são baseados em equações razoavelmente precisas se as condições de contorno e a variação dos fatores envolvidos forem consideradas. Na prática, para a maioria dos casos, uma solução aproximada é baseada no modelo proposto por Plank, no entanto existem diversas adaptações que tem uma aplicação mais abrangente, como no caso do modelo de Pham. Plank foi o primeiro a descrever a cinética e determinar o tempo de congelamento em produtos alimentícios. No seu primeiro trabalho ele apresentou uma fórmula para calcular o tempo de congelamento por um bloco de gelo. Diferentes formas geométricas foram consideradas: hastes dos cilindros, quadrática e retangulares. Um segundo método de cálculo similar foi usado para produtos alimentícios, porém apresentou como limitação a hipótese da forma regular para os alimentos (LEIVA, HALLSTROM, 2002). Este modelo está baseado em três relações simples: descreve a transferência de calor convectivo do meio de resfriamento à superfície do corpo, a segunda descreve a liberação de calor latente no ponto de congelamento e a terceira estabelece a transmissão de calor por condução através do material congelado. Plank ainda assume que a temperatura do material a ser congelado permanece no ponto de congelamento do início até o fim do processo e toda água do produto está na fase líquida antes da operação de congelamento. O modelo de Pham é uma modificação da equação de Plank, que na realidade já era derivada de Rjutov. Ele descreve a cinética de congelamento utilizando formas irregulares dos alimentos, considerando-os similares a elipsóides. A equação de Pham supõe a liberação de calor latente à uma temperatura definida e despreza os efeitos de calor sensível. Como isto não acontece na prática, duas considerações são feitas: primeiro pela definição de um ponto médio de congelamento um pouco abaixo do ponto de congelamento do material, já que o congelamento acontece numa faixa de temperatura; e segundo são calculadas separadamente as componentes do tempo devido ao pré-resfriamento, congelamento e super resfriamento (PHAM, 1996). Deste modo, objetivou-se neste trabalho avaliar o tempo de congelamento da polpa de mangaba em um ultrafreezer, através dos modelos matemáticos de Plank e Pahm e compará-los com o tempo de congelamento obtido experimentalmente, assim como determinar qual o modelo é mais apropriado para a cinética de congelamento. 2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no Laboratório de Processamento de Produtos de Origem Vegetal da Universidade Federal de Sergipe. Os frutos utilizados, neste experimento, foram adquiridos na praia do Abaís, Estância/SE e transportados para o Laboratório, à temperatura ambiente.

D. S. C. Soares et al., Scientia Plena 8, 041501 (2012) 3 No laboratório, os frutos foram selecionados de acordo com o grau de maturação, aqueles que apresentavam coloração amarelada, com o teor de sólidos solúveis de aproximadamente de 15 Brix, além da aparência dos frutos, para os que apresentavam injúrias eram descartados. Em seguida, foi feita a sanitização dos frutos com solução de cloro a 200 ppm por 20 min, logo após estes foram lavados com água potável em abundância. Depois deste processo, os frutos foram submetidos a extração da polpa, que foi realizada em uma despolpadeira modelo Compacta nº 189, fase 220 m. Com isto, colheu-se amostras para as análises físico-químicas e para o congelamento em ultrafreezer da marca Sanio, modelo MDF. 2.1. Determinação das propriedades físico-químicas As polpas de mangaba submetidas ao congelamento apresentaram espessura e diâmetro, com os valores de, 1,5 cm e 4,7 cm, respectivamente, Foi utilizado um paquímetro Mitutoyo com divisões de 0,01 mm. As amostras foram submetidas às análises de proteínas, umidade, fibras e cinzas de acordo com as metodologias descritas pelo Instituto Adolfo Lutz (1985). Estas foram realizadas em triplicata. 2.2. Cinética de congelamento das frutas 2.2.1. Tratamento experimental Para determinar a cinética de congelamento da mangaba, foram colocados termopares, da marca MT 600, tipo K, no centro geométrico das fatias da polpa de mangaba dispostas em placa circular. A temperatura do freezer foi monitorada por termopar instalado próximo as amostras. Os dados de temperatura foram registrados a cada minuto, até que atingisse a temperatura próxima à de equilíbrio (-78,3 C). Com o auxílio de termômetros digitais MT 600, foram obtidos dados de temperatura e tempo de congelamento com aquisição de dados em tempo real. 2.2.2. Modelos Matemáticos Utilizou-se os modelos descritos por Plank e Pham para descrever a cinética e determinar o tempo de congelamento das fatias de polpa de mangaba, que tem um formato semelhante de placa. As propriedades termofísicas foram determinadas numericamente usando o modelo de Choi e Okos (1986). Os resultados encontrados foram comparados aos obtidos experimentalmente. 2.2.2.1. Modelo de Plank O modelo de Plank, permite determinar uma solução aproximada do tempo de congelamento das fatias da polpa de mangaba, de acordo com a equação 1. (1) Para o calculo do calor latente ( ) utilizou-se a relação umidade do produto e calor latente de fusão da água, 333,2 KJ/Kg, conforme Equação 2. (2)

D. S. C. Soares et al., Scientia Plena 8, 041501 (2012) 4 2.2.2.2. Equação de Pham O modelo de Pham é descrito segundo a Equação 3, esta é calculada com o tempo total de congelamento de uma temperatura uniforme T 1 até a temperatura final no centro da fatia em formato de placa. (3) 2.3. Determinação das propriedades termofísicas As propriedades termofísicas são dependentes da composição e temperatura do alimento. Estas foram determinadas usando os modelos de Choi e Okos para massa específica, calor específico, difusividade e condutividade térmica. Os valores foram ponderados pela composição centesimal. A fórmula genérica deste modelo é dada pela Equação 4 : (4) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores obtidos da determinação das propriedades físico-químicas da polpa de mangaba encontram-se na Tabela 1. Com estes dados, podem-se estimar as propriedades termofísicas da fruta, pelo modelo de Choi e Okos (1986). Parâmetros Tabela 1. Propriedades físico-químicas da mangaba. Amostra Umidade (%) 72,39 ± 0,25 Lípidios (%) 11,01 ± 2,45 Carboidratos (%) 9,69 ± 1,67 Fibra Alimentar (%) 5,06 ± 1,94 Cinzas (%) 0,93 ± 0,45 Proteína (%) 0,93 ± 0,18 Com a análise da Tabela 1, percebe-se que a mangaba possui um elevado teor de umidade, o que possibilita a formação de uma curva de congelamento da fruta semelhante com a curva da água pura. As propriedades termofísicas da mangaba estão dispostas na Tabela 2. Estas são imprescindíveis para os cálculos do tempo de congelamento da mangaba. Parâmetros Tabela 2. Propriedades termofísicas da mangaba Amostra Massa específica((kg/m3) 1047,42 Calor especifico (J/kg.⁰C) 3513,33 Difusividade térmica (m2/s) 1,03 Condutividade térmica (W/m ⁰C) 0,48 Foi possível observar a cinética de congelamento através da Figura 1. Notou-se que a curva se aproximou com a curva da água devido ao alto teor de umidade existente na mangaba.

D. S. C. Soares et al., Scientia Plena 8, 041501 (2012) 5 Figura 1. Curva de congelamento da mangaba em ultrafreezer. Através da Figura 1, pode-se observar que a temperatura inicial ao ponto de sub-resfriamento, -1,1 C ocorre uma retirada imediata de calor sensível, sem mudança de fase. O ponto de subresfriamento é abaixo de 0 C devido a existência de sólidos solúveis no produto antes da formação de cristais de gelo, devido ao estágio de maturação da polpa. Nos frutos neste estágio de maturação ocorre o aumento dos sólidos solúveis, além do que, a água presente na polpa ainda se encontra no estado líquido mesmo com a temperatura abaixo do seu ponto de congelamento. O início da nucleação acontece em -1,1 C. Neste momento os cristais de gelo liberam calor latente de solidificação mais rápido do que a perda de calor para o meio, isto vai elevar a temperatura até -1 C, que é o ponto inicial de congelamento da polpa. O período de congelamento compreende a região do ponto inicial de congelamento até -1,8 C. Nesta fase ocorre o aumento dos cristais de gelo e remoção do calor latente, assim como o aumento da concentração dos sólidos solúveis. Logo após o congelamento, a temperatura diminui através da retirada do calo sensível abaixo do ponto de congelamento até chegar em -78,3 C. Para efeito de visualização, a curva de congelamento foi apresentada até a temperatura de -18,3 C Por meio das propriedades termofísicas determinadas, foi possível calcular o número de Fourier, e estimar o número de Biot através do Diagrama de Heisler para uma placa plana, uma vez que a polpa foi disposta em placa circular de camada delgada. O coeficiente de transferência de calor estimado foi de 263,3 W/m²K -1. Desta forma foi possível estimar o tempo de congelamento teórico da polpa e mangaba madura, em camada delgada, no ultrafreezer, como pode ser visto na Tabela 3. Tabela 3. Tempos de congelamento experimental e teóricos. Amostra da polpa madura Modelo Tempo de congelamento (min) Experimental 11 Modelo de Plank 5,21 Modelo de Pahm 10,84 Erro Relativo (%) - 52,6 1,4 Com isto observa-se que o modelo de Pham se aproxima mais com o tempo obtido pelo experimento. Isto implica que os parâmetros acrescentados na equação fornecem um resultado mais acurado e próximo ao da realidade, como no caso o uso da entalpia. Por outro lado o modelo de Plank, não teve um resultado satisfatório, pelo fato de que o próprio apresenta limitações, considera o mesmo tempo de congelamento do inicio ao fim, a densidade, a

D. S. C. Soares et al., Scientia Plena 8, 041501 (2012) 6 condutividade térmica e o calor especifico do alimento permanecem constantes, além de que as perdas de calor sensíveis são ignoradas. 4. CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que a curva de congelamento da polpa de mangaba em ultrafreezer disposta em placa circular com camada delgada são semelhantes à curva de congelamento da água pelo fato de a mesma possuir um elevado teor de umidade. A modelagem matemática proposta por Pham foi mais apropriada com um tempo de 10,8 min quando comparado com o obtido experimentalmente, 11 min, este apresentou um erro relativo de 1,54%. Já o modelo proposto por Plank com um tempo de 5,2 min proporcionou um erro relativo de 52,64%. Com isto o modelo de Pham forneceu resultado satisfatório, e o modelo de Plank, sem os ajustes entápicos, apresentou tempo de congelamento inapropriado, com erro relativo superior a 50%. A determinação do tempo de congelamento é um parâmetro fundamental para os processos industriais que envolvem o congelamento de alimentos. 5. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Iniciação Científica e pelo apoio financeiro necessário para a realização do experimento, e a UFS pelo apoio estrutural. 1. ARAÚJO, M. S. O.; BRAGA, M. E. D.; MATA, M. E. R. M. C. Cinética de congelamento de polpa de acerola a baixas temperaturas. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.1, p.27-34, 2000. 2. CHITARRA, M.I.F; CHITARRA, A.B. Pós colheita de frutas e hortaliças: Fisologia e manuseio. 2.ed., Lavras, UFLA, 2005. 3. CORREIA, L. F. M.; FARAONI, A. S.; PINHEIROSANT ANA,H. M. Effects of industrial foods processing on vitamins stability. Alim. Nutr., Araraquara, v.19, n.1,p. 83-95, jan./mar. 2008. 4. FELLOWS, P. J. Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática. 2 ed., 430 p., Porto Alegre: Artmed, 2006. 5. IAL. Instituto Adolfo Lutz. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz: métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3. ed. São Paulo, 1985. 533 p. 6. IBARZ, A.; CÁNOVAS, B.; GUSTAVO V. Unit operations in food engineering: Food preservation technology. CRC PRESS, 2003. 7. LÓPEZ-LEIVA, M. BENGT H. The original Plank equation and its use in the development of food freezing rate predictions. Journal of Food Engineering, 58, pp. 267-275, 2003. 8. MELO, A.S.; Fruteiras potenciais para os Tabuleiros Costeiros e Baixadas Litorâneas. Embrapa, 2002. 9. OETTERER, M; SPOTO, M.H.F;REGITANO-d ARCE. Fundamentos de ciência e tecnologia de alimentos. São Paulo, Manole, 2006. 10. SINGH R. P.; HELDMAN D. R. Introduction to Food Engineering, 4 edição, 2008. 11. VIEIRA, R. F.; et. Al. Frutas nativas - Centro-Oeste Brasil. I. 1ed. Brasília, Embrapa, 2006.