O ENSINO DE CIÊNCIAS PARA PESSOAS AUTISTAS COMO PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR.

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Transcrição:

O ENSINO DE CIÊNCIAS PARA PESSOAS AUTISTAS COMO PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR. Viviana Freitas da Silva Cláudio Bertolli Filho Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"- Bauru Eixo Temático: Práticas pedagógicas inclusivas Palavras-chave: Ensino de Ciências, autismo, inclusão escolar. 1. Introdução Um dos temas amplamente discutidos em relação aos direitos de pessoas com algum tipo de deficiência, diz respeito à inclusão escolar. A realidade inclusiva caracterizada com leis e estruturas sistemáticas, presumivelmente promove a inclusão escolar com maestria, porém a medida que nos aproximamos das escolas e nos propomos a pesquisar as vias práticas que embasam essa estrutura, encontramos lacunas que carecem de mais estudos e organização para tornar possível um ensino de qualidade para as pessoas com deficiência. O autismo como tema, emerge do trabalho que ocorre nas salas de aula, de alunos com autismo matriculados no ensino regular, da necessidade de ensinar conteúdos escolares como meta da inclusão escolar e da busca de novas possibilidades de adaptação curricular na disciplina de Ciências para a ascensão do ensino. 1. Objetivos O trabalho tem como objetivo discutir a possibilidade de desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas em Ciências, em salas de aula regulares, a partir do diagnóstico da relevância dada ao Ensino de Ciências para alunos autistas. 2. Desenvolvimento O termo Autismo que hoje é amplamente discutido, foi introduzido na literatura psiquiátrica por Plouller, em 1906 (GAUDERER, 1993). Em 1943, a revista Nervous Childre publicou o trabalho do psiquiatra austríaco Leo Kanner, intitulando Autistic disturbances of affective contact, tal trabalho apresenta importante destaque em relação à terminologia e

definição do autismo, (KANNER, 1943). Kanner, discerniu os distúrbios autísticos do contacto afetivo, o autismo como uma identidade nosológica com critérios diferenciados às psicoses graves da infância e à esquizofrenia. Identificou a tríade de características do autismo composta por prejuízos na interação social, comunicação e comportamento, (1943, p.217). No atual Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a Desordem do Espectro do Autismo baseia-se em quatro critérios: atraso e desvios sociais; problemas de comunicação; comportamentos incomuns; e maneirismos, com início antes dos 30 meses de idade, (DSM-5, 2014). Pensando na escolarização de crianças com autismo, além dos atendimentos realizados em instituições especializadas, faz-se necessário pensar em possibilidades para tornar o ensino regular acessível e de qualidade também para esse público. Muitas são as leis e documentos que contemplam a trajetória da inclusão no Brasil, contudo, com a instituição da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (BRASIL, 2012), novas diretrizes garantem o acesso à educação. A proposta de incluir crianças com autismo em salas de aula regulares passa a suscitar uma grande abertura à inclusão, porém, tendo em vista que esta não pode ser a única finalidade, emerge então a inquietação da necessidade do ensino de conteúdos escolares. É possível encontrar alguns trabalhos de pesquisa que apresentam preocupação e discussões com o Ensino de Língua Portuguesa, (BRANDEE e ZANFELICE, 2012) e no Ensino de Matemática (CHEQUETTO, 2015), entretanto, quanto ao Ensino de Ciências, não foi encontrado nenhum trabalho. A princípio o Ensino de Ciências pensado para alunos com autismo pode causar estranheza, porém, Baron-Cohen (2013) afirma que pessoas com autismo podem ter talentos incomuns para a sistematização, fazendo emergir a hipótese de que alunos com autismo são capazes de aprender conteúdos sistematizados também no ensino regular. Descobrimos que as pessoas com autismo ou Síndrome de Asperger podem ter talentos incomuns na sistematização (por exemplo, na física), [...] que mesmo entre o baixo funcionamento, indivíduos com autismo clássico, interesses mesquinhos 'obsessivos' tendem a se concentrar em sistemas, e que seu comportamento excessivamente repetitivo e interesse podem ser sinais de forte sistematização (BARON-COHEN et al., 2013, não paginado). Ao observarmos a lacuna em pesquisas quanto ao Ensino de Ciências para este público e vislumbrarmos novas possibilidades partindo dos pressupostos de Baron-Cohen, estruturarmos uma pesquisa baseada na percepção dos professores de uma Rede Municipal de Ensino de uma

cidade do interior do Estado de São Paulo, frente ao Ensino de Ciências, para alunos com diagnóstico de autismo regularmente matriculados no Ensino Fundamental I. Para este trabalho, levantamos uma questão principal a fim de discutir a possibilidade de desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas que contemplem o Ensino de Ciências: De acordo com a proposta curricular de ensino municipal, qual a relevância dada ao Ensino de Ciências para alunos autistas? 3. Método Diferentes métodos auxiliam no estudo de fenômenos humanos. Para Giorgi (1985), com a fenomenologia e a descrição é possível observar os fenômenos humanos, assim como ocorrem, ou seja, privilegiando a descrição das experiências dos sujeitos no fenômeno pesquisado. Giorgi (1985, p. 10) organizou de forma sistematizada o procedimento analítico da pesquisa fenomenológica em quatro passos flexíveis: a leitura minuciosa dos registros,; a releitura do material salientando os principais pontos do estudo fenomenológico sob a perspectiva apropriada, (unidades de significado); a partir das unidades identificadas, explanar o significado direto que elas abrangem (Descrição Ideográfica) discriminando categorias; realizar a redução das unidades de significado (Análise Nomotética), estruturando consistentemente o fenômeno e sua essência. A pesquisa foi realizada com a análise fenomenológica de casos múltiplos ocorrentes no ensino regular, em escolas públicas municipais. Esta escolha ocorreu devido ao grande número de alunos com diagnóstico de autismo e a emergente necessidade de escolarização deste público. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados, o questionário e o diário de campo. Ao todo, dezenove professores caracterizam os sujeitos desta pesquisa, sendo cinco Professores Itinerantes de Educação Especial, sete Professores Titulares do Ensino Fundamental I e sete Professores Auxiliares de Educação Especial que atuam em cinco escolas municipais. 4. Resultados e discussão Ao analisarmos as respostas e impressões dos professores sobre a relevância dada ao Ensino de Ciências para alunos autistas, verificamos que pelo fato da proposta curricular de ensino estar baseada no Sistema SESI- SP, todas as atividades deveriam atender os prérequisitos nela dispostos. Um ponto comum observado foi a organização do ensino para crianças com autismo ou algum tipo de deficiência no município. Este público conta com o apoio do Professor Titular da classe; do Professor Itinerante e do Professor Auxiliar de

Educação Especial. Seis Professores Auxiliares que participaram da pesquisa atuam individualmente, ou seja, há um professor de educação especial exclusivo para cada aluno. Outro ponto comum a todos os professores foi que o ensino para alunos autistas, em todas as disciplinas, ocorre de forma adaptada, organizadas em um Plano de Ensino Individualizado elaborado em comum acordo pelos professores. Os Professores afirmam que não existe uma preocupação especial com o Ensino de Ciências em relação às outras disciplinas e que devido à complexidade da proposta de ensino alguns conteúdos irrelevantes. Para resguardar a identidade dos sujeitos, os nomes que serão apresentados a seguir foram alterados. Como Professora titular, Sara afirma que: [...] Creio seja importante destacar o que é significativo para eles, como: higiene, alimentação e outros. Alice, Professora Auxiliar, diz que: Conforme o ensino SESI (adotado pelo município), muitas atividades não se aplicam à realidade de alunos autistas [...]de fato, são relevantes as atividades de vida diária, higiene corporal, alimentação, tudo relacionado à vida funcional do aluno. Quanto à funcionalidade dos conteúdos, Laura, Professora Auxiliar, destaca que: São relevantes para o aluno atividades funcionais. Tais afirmações amparam a ideia de que alunos com autismo não são capazes aprenderem todos os conteúdos dispostos na proposta curricular comum, porém, Baron-Cohen (2013) afirma que crianças com autismo são capazes de aprender conteúdos sistematizados. Cinco, dos dezenove professores acreditam que o Ensino de Ciências deve vislumbrar apenas conteúdos funcionais, porém não observam que todos os conteúdos em Ciências para o Ensino Fundamental I são importantes para o desenvolvimento da autonomia e da cidadania. Três professores afirmaram que o aluno com autismo não apresenta capacidade de aprender conteúdos escolares. Daniela, Professora Titular afirma que: Esta criança vai apenas se socializar, devido ao conteúdo escolar ser muito abrangente para seus limites. O conceito de funcionalidade está embasado em trabalhos como os de Brown, L. et. al. (1989) na qual, em geral, o público alvo é caracterizado por crianças com deficiência intelectual, contudo, crianças com autismo nem sempre apresentam diagnóstico de deficiência intelectual associados. 5. Conclusão Com base na referência teórica apresentada e nos dados obtidos, é possível concluir que apesar de termos leis que amparam a inclusão escolar de crianças com autismo, o Ensino de Ciências ainda não é compreendido como possibilidade para inclusão social. Seus conteúdos

ainda são desenvolvidos de maneira restrita ou meramente funcional. Esse fato restringe as possibilidades de sistematização que os alunos com autismo poderiam ter se fossem desenvolvidos mais conteúdos de ciências. Apesar de poucos estudos referentes ao tema, fazse necessário ainda ampliar o ensino para este público. Práticas pedagógicas inclusivas precisam necessariamente almejar o cumprimento da finalidade da educação como formação humana e não apenas funcional. Referências ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5). Porto Alegre: Artmed; 2014. BARON-COHEN, S. et al. Systemizing in autism spectrum conditions. Autism research centre. 2013. Disponível em: http://www.autismresearchcentre.com/project_2_systemize. Acesso em: 28 mar 2016. BRANDE, C., & ZANFELICE, C. (2012).A inclusão escolar de um aluno com autismo: diferentes tempos de escuta, intervenção e aprendizagens. Revista de Educação Especial,25 (42),43-56. Disponível em: http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial. Acesso em: 16 mar 2016. BRASIL. Decreto Federal nº 8.368/2014, de 02 de dezembro de 2014. Regulamenta a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. BROWN, L. et. al. (1989). Should Students with Severe Intellectual Disabilities Be Based in Regular or in Special Education Classrooms in Home Schools? In The Journal of the Association for Persons with Severe Handicaps, 14(1), 8-13. CHEQUETTO, J. J.; GONÇALVES, A. F. S. Possibilidades no ensino de matemática para um aluno com autismo. Revista Eletrônica Debates em Educação Científica e Tecnológica-ISSN 2236-2150, v. 5, n. 02, 2015. GIORGI, Amadeo. Phenomenology and Psychological Research. N. Jersey, Humanities Press: 1985. GAUDERER, E. C. Autismo. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 1993. KANNER, L. et al. Distúrbios autísticos do contato afetivo. Criança nervosa, v 2, n. 3, p. 217-250, 1943.