APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO 9258-SE (2006.85.00.000355-0). APELANTE REPTE APELADO ADV/PROC ORIGEM RELATOR PODER JUDICIáRIO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE : NIVALDO DA SILVA : REGES COELHO CORREIA E OUTRO. : JUíZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE. : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT. RELATÓRIO 1. Trata-se de Remessa Oficial e de Apelação Cível interposta pelo INSS em adversidade à sentença da lavra do eminente Juiz Federal da 1ª. Vara da SJ/SE que julgou procedente o pedido, para condenar o INSS a converter a aposentadoria por tempo de contribuição concedida à parte autora em aposentadoria especial, após o reconhecimento do tempo de serviço laborado pelo autor em condições especiais. Condenou, ainda, o INSS a pagar as diferenças desde a data do requerimento administrativo, ressalvadas as parcelas prescritas (anteriores a 01.02.2001) até a efetiva implantação do benefício, corrigidas monetariamente desde o vencimento de cada parcela de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para Cálculo na Justiça Federal, e juros moratórios simples de 1% ao mês a partir da citação, vedada a aplicação da SELIC. Honorários arbitrados em 10%. 2. O INSS, em sede de razões recursais, alega em síntese que diante das inconsistentes provas de que se vale o autor para fundamentar suas alegações, não ficou caracterizado o exercício de atividade com agente agressivo prejudicial à saúde ou a integridade física de modo habitual e permanente, não eventual, nem intermitente, conforme legislação. Ao final requer a reforma da sentença e caso mantida que seja observada a aplicação da Lei 11.960/2009 quanto aos juros de mora e a correção monetária. 3. Contrarrazões apresentadas. 4. É o que havia de relevante para relatar. 1
APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO 9258-SE (2006.85.00.000355-0). APELANTE REPTE APELADO ADV/PROC ORIGEM RELATOR PODER JUDICIáRIO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE : NIVALDO DA SILVA : REGES COELHO CORREIA E OUTRO. : JUíZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE. : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT. VOTO 1. Versa a matéria dos presentes autos na possibilidade de conversão da aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial, reconhecida administrativamente. 2. Inicialmente, vale tecer algumas considerações acerca do reconhecimento do caráter insalubre das atividades exercidas em condições especiais, para fins de concessão de aposentadoria. 3. A aposentadoria especial foi instituída pelo art. 31, da Lei 3.807/60, e pode ser conceituada como sendo o benefício decorrente do trabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física do segurado, de acordo com a previsão de lei. 4. Referido benefício tem natureza extraordinária e objetiva compensar o trabalho dos segurados que são expostos a agentes físicos, químicos e biológicos, ou uma combinação destes, acima dos limites de tolerância aceitos, o que se presume produzir a perda da integridade física e mental em ritmo acelerado, diminuindolhe, inclusive, a expectativa de vida útil. 5. O Decreto 611/92, ao regulamentar a Lei 8.213/91, reiterou o disposto nos anexos I e II dos Decretos 83.080/79 e 53.831/64, possibilitando a aposentação por segurados pertencentes a determinadas categorias, conforme o disposto no seu art. 292, in verbis: 2
Art 292 - Para efeitos de concessão das aposentadorias especiais, serão considerados os anexos I e II do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, aprovados pelo Decreto 83.080, de 24 de janeiro de 1979, e o anexo do Decreto 53.831, de 25 de março de 1964, até que seja promulgada a lei que disporá sobre as atividades prejudiciais à saúde e a integridade física. 6. O atual regramento legal deste benefício foi basicamente delineado pela Lei 9.032/95, que excluiu a possibilidade de alguns se aposentarem de modo precoce, sem comprovação da nocividade de sua atividade, somente por pertencerem a determinadas categorias profissionais. 7. Dessa forma, atualmente, não se admite mais o enquadramento por atividade para concessão do benefício, mas, sim, a comprovação efetiva da atividade em condições especiais, em face da Lei 9.032/95, que, ao alterar o dispositivo insculpido no art. 57, parág. 3o., da Lei 8.213/91, passou exigir como condição sine qua non para a concessão da aposentadoria especial, além das anteriormente exigidas, também o tempo de trabalho de maneira permanente, não ocasional, nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde e a integridade física. 8. No entanto, entendo, respeitando os que pensam de forma contrária, que tais classificações, quanto a atividades e agentes nocivos, são meramente exemplificativas visto que é a presença do agente danoso no processo produtivo e no meio ambiente de trabalho quem determina o benefício. 9. Partilha do mesmo entendimento da doutrina a jurisprudência dos Tribunais, através de inúmeros acórdãos: PREVIDENCIÁRIO, PROCESSUAL CIVIL. RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE INSALUBRE E PERIGOSA PARA FINS DE APOSENTADORIA ESPECIAL. ATIVIDADES PREVISTAS NOS DECRETOS 72.771/73 E 3
87.374/82. ROL NÃO EXAUSTIVO. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO POR LAUDO PERICIAL. NECESSIDADE DE HABILITAÇÃO ESPECÍFICA DO PERITO. ANULAÇÃO DO PROCESSO. 1. O rol de atividades insalubres, nocivas ou perigosas que consta nos Decretos 72.771/73 e 87.374/82 não é exaustivo, sendo possível ao Poder Judiciário reconhecer outras como geradoras do direito à aposentadoria especial mediante laudo elaborado por perito com habilidade específica para aferir que o exercício de determinado tipo de atividade é prejudicial à saúde. (Cf. TRF, AC 104.491/SP, Primeira Turma, Ministro Carlos Thibau, DJ 14/11/1985; AC 99.201/SP. Segunda Turma, Ministro Gueiros Leite, DJ 08/08/1985; AC 85.464/SP, Segunda Turma, Ministro Gueiros Leite, DJ 03/05/1984, e AC 60.260/SP, Terceira Turma, Ministro Hélio Pinheiro, DJ 24/10/1985). (TRF 1R., AC 587.662-MG, Primeira Turma, Rel. Des. Federal JOÃO CARLOS MAYER SOARES, DJU 29.01.04, p.35). 10. A condição fundamental é, portanto, a comprovação pelo segurado da efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física. 11. Portanto, a legislação superveniente não poderia afastar o direito adquirido do trabalhador, deixando-o desamparado, depois de, efetivamente, ter exercido atividades sob condições desfavoráveis à sua integridade física; de maneira que, para a possibilidade da conversão requerida é necessário o demandante comprovar, tão só, o exercício de atividades perigosas, insalubres ou penosas. 12. Quanto ao uso de EPI - Equipamento de Proteção Individual, por parte do segurado, segundo a multiplicidade de precedentes desta Corte, sua eficácia não descaracteriza a natureza 4
insalubre ou perigosa da atividade exercida, servindo apenas para resguardar a saúde do trabalhador e evitar que venha a sofrer possíveis lesões: APOSENTADORIA ESPECIAL. ELETROTÉCNICO. COMPROVAÇÃO DAS CONDIÇÕES ESPECIAIS DAS ATIVIDADES. ART. 57 DA LEI Nº 8213/91. PERÍODO SUPERIOR A 25 ANOS. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. (...) "O uso de equipamento de proteção individual de trabalho (EPI), não retira o caráter nocivo ou agressivo à saúde ou integridade física do segurado, não podendo ser considerado como óbice à concessão da aposentadoria." (REOMS 92447, Des. Federal Relator Marcelo Navarro, DJ 27.08..2007, p. 608). (APELREEX 14924, Rel. Des. Federal NILCéA MARIA BARBOSA MAGGI, Quarta Turma, DJE - 24.03.11 p. 648) APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO/SERVIÇO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO. PPP E LAUDO TÉCNICO PERICIAL. ART. 57 DA LEI Nº. 8.213/91. CONVERSÃO EM TEMPO DE SERVIÇO COMUM. POSSIBILIDADE. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DE TRABALHO (EPI). APELAÇÃO DO INSS IMPROVIDA. (...) Esta Turma vem entendendo que o uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual de Trabalho) serve para garantir a integridade física do segurado, todavia não afasta o caráter nocivo ou agressivo à saúde da atividade insalubre exercida, não podendo ser considerado como óbice ao reconhecimento do tempo de serviço especial. (AC 515625, Rel. Des. Federal FRANCISCO WILDO, Segunda Turma, DJE -02.03.11, p.132) 5
E PROCESSUAL CIVIL. RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. DECRETOS NºS 53.831/64 E 83.080/79. SUJEIÇÃO A RUIDO. POSSIBILIDADE. USO DE EPI. LAUDO EXTEMPORÂNEO. VALIDADE. DIREITO À CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM. POSSIBILIDADE. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO COM PROVENTOS PROPORCIONAIS. REQUISITOS CUMPRIDOS ATÉ A VIGÊNCIA DA. EC Nº 20/98. RMI. ART. 53, II, DA LEI Nº 8.213/91. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. (...) 5. O uso eficaz de EPI (equipamento de proteção individual), por parte do segurado, embora reduza os efeitos do agente agressor à saúde e integridade física, não descaracteriza a periculosidade e/ou insalubridade da atividade desenvolvida. (AC 445386, Rel. Des. Federal JOSé MARIA LUCENA, Primeira Turma, DJE 13.01.11, p. 201) 13. Inicialmente, cumpre observar que poderão ser consideradas insalubres, para fins de contagem de tempo especial, a atividade desenvolvida pelo autor como mecânico, na empresa Petróleo Brasileiro S/A PETRÓLEO, o qual estava exposto a agentes nocivos, conforme laudos de fls. 16/18. 14. Por outro, é de se verificar que a Junta de Recursos da Previdência, fl. 22, reconheceu como característica de contagem especial as condições dos trabalhos exercidos pelo autor. 15. Outrossim, faço registrar parte do voto no qual o MM. Juiz sentenciante ao julgar procedente a ação assim se pronunciou: [...] A manifestação final proferida em sede de 6
processo administrativo é imodificável e vinculante para a Administração, que somente poderia vir a juízo para discutir tal decisão fundamentando-se na existência de vícios graves (dolo, fraude,etc.) que a inquinem. Do contrário o processo administrativo seria inútil e de todo dispensável, pois o autor teria se submetido a um processo administrativo regular, para depois simplesmente, vê-lo desconsiderado pelo mesmo órgão que o julgou [...]. 16. Verificando, na hipótese, que o direito do autor foi reconhecido administrativamente pela Autarquia e que não há nos autos nenhuma manifestação de ilegalidade do ato administrativo, é de se manter a sentença em todo o seu teor. 17. No tocante à condenação em juros de mora, curvo-me ao entendimento desta Primeira Turma, fixando-os em 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação válida, até o advento da Lei 11.960/2009, quando os atrasados passam a sofrer a incidência exclusiva dos índices oficiais de remuneração básica e juros de mora aplicáveis à Caderneta de Poupança: A norma do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, segundo entendeu o STF no AG. Reg. no Re n.º 559.445/PR, deve ser aplicada imediatamente aos processos em curso. Assim, considerando a data de ajuizamento da ação, 3.9.2010, quando já vigente a Lei n.º 11.960/09, os juros de mora e a correção monetária deverão ser calculados conforme os ditames desta novel legislação, obedecendo os índices oficiais de remuneração e juros aplicáveis à caderneta de poupança. (AC 00007025720114059999, Rel. Des. FEDERAL JOSé MARIA LUCENA, DJU 28.03.11, p. 33). 19. Pelo exposto, nego provimento à Apelação do INSS e à Remessa Oficial. 7
20. É como voto. 8
APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO 9258-SE (2006.85.00.000355-0). APELANTE REPTE APELADO ADV/PROC ORIGEM RELATOR PODER JUDICIáRIO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE : NIVALDO DA SILVA : REGES COELHO CORREIA E OUTRO. : JUíZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE. : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT. ACÓRDÃO PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO EM APOSENTADORIA ESPECIAL. RECONHECIMENTO PELA VIA ADMINISTRATIVA. SEGURANÇA JURÍDICA. JUROS. CORREÇÃO MONETÁRIA. PRECEDENTE DO STJ (RESP 572.358/CE). 1. Versa a matéria dos presentes autos da possibilidade de conversão da aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial, reconhecida administrativamente. 2. O tempo de serviço é regido sempre pela lei da época em que foi prestado. Dessa forma, em respeito ao direito adquirido, se o Trabalhador laborou em condições adversas e a lei da época permitia a contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve ser contado e lhe assegurado. 3. Na hipótese, não havendo nenhuma manifestação de ilegalidade do ato administrativo que reconheceu como característica de contagem especial as condições dos trabalhos exercidos pelo autor, e, em observância da segurança jurídica é de se conceder a pretensão requerida. Precedente do STJ. (RESP 572.358/CE). 4. Os valores em atraso deverão ser monetariamente corrigidos de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal e acrescidos de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação válida, até o advento da Lei 11.960/2009, quando passarão ambos a 9
incidir na forma prevista no art. 1º. F da Lei 9.494/97, com a redação da nova Lei. 5. Apelação do INSS e Remessa Oficial improvidas. Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELREEX 9258-SE, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da Primeira Turma do TRF da 5a. Região, por unanimidade, em negar provimento à remessa oficial e à apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte do presente julgado. Recife, 08 de março de 2012. Manoel de Oliveira Erhardt RELATOR 10