Após anos de abandono, antigos cinemas de rua do Rio vivem o suspense da reestreia Prefeitura anuncia que projeto de revitalização de salas de projeção será retomado. Seis espaços da Zona Norte podem renascer. Cine Guaraci: tombado em 2006, mas esquecido Felipe Hanower / Agência O Globo O roteiro de abandono dos cinemas de rua da Zona Norte ganhou mais um capítulo. Três anos depois de divulgar o início de um projeto de revitalização de antigas salas de projeção da cidade, a prefeitura agora anuncia que o trabalho está sendo retomado. Desta vez, com mais chances de um final feliz. A reestreia da iniciativa é prevista para o mês que vem, quando uma equipe da RioFilme, em parceria com uma do Instituto Rio
Patrimônio da Humanidade (IRPH), começa a percorrer seis cinemas do subúrbio para verificar as condições físicas e jurídicas dos prédios. O objetivo da vistoria, explica a presidente da RioFilme, Mariana Ribas, é descobrir quais desses espaços poderão ser incluídos na Rede CineCarioca, que já inaugurou dois espaços com salas de projeção de última geração e preços acessíveis no Méier e no Complexo do Alemão. A RioFilme fez um levantamento em 2012. Mas vamos retornar ao locais para ver novamente a situação e o estado de cada um dos imóveis e entender as demandas das comunidades do entorno. Temos que avaliar as necessidades de cada prédio, se precisaremos fazer desapropriações e que tipo de uso cada um dos endereços pode ter explica Mariana. Ela prevê que o projeto só será implantado no ano que vem. A lista de antigas estrelas que passará por vistoria inclui o Cine Vaz Lobo; o Cine Cachambi; o Cine Guaraci (em Rocha Miranda); o Cine Madureira; o Cine Rosário (em Ramos); e o Tijuca-Palace. Com exceção do Madureira e do Tijuca-Palace, todos são tombados pelo patrimônio municipal. O estudo preliminar listou dez cinemas, mas reduzimos para seis endereços. E incluímos o Tijuca-Palace, que não estava originalmente no inventário diz Mariana, completando: O estudo será concluído até o final deste ano. Cenários de Filme de Horror Na visita aos endereços, os técnicos, certamente, não gostarão do que vão encontrar. Dos seis imóveis, só um, o Cine Cachambi, ainda tem algum uso. Mas, apesar de tombado em setembro de 2014 pela importância da arquitetura art déco, o prédio (da década de 50, e que desde 1976 abriga estabelecimentos comerciais) já não lembra em quase nada o estilo. Atualmente, é ocupado em parte por um hortifrúti. Os outros cinco prédios de antigos cines da Zona Norte estão fechados, e poderiam servir de cenários para uma película de
terror. Um dos casos mais graves é o do Cine Guaraci, tombado desde 2006. Por uma fresta nos pedaços de madeira que encobrem suas portas, ainda é possível observar resquícios da decoração que misturava os estilos art noveau e art déco. Inaugurado em 1954, o cinema tinha 1.379 poltronas, escadas de mármore de carrara e colunas gregas. Cine Rosário: fachadas pichadas em joia do art déco Felipe Hanower / Agência O Globo Segundo a vizinhança, o edifício, esquecido há mais de 30 anos, virou depósito de lixo e moradia de ratos. Outro cinema que aguarda um final feliz é o Vaz Lobo. Apesar de ter escapado recentemente de ser demolido para a construção da Transcarioca, ele segue vazio e deteriorado. Inaugurado em 1941, com a presença da então primeira-dama da República, Darcy Vargas, foi construído como cineteatro, com 1.800 lugares, coxia, camarim e palco. Funcionou até 1986. A reabertura seria boa para meu negócio e também para os moradores do bairro, que não têm nenhuma diversão por aqui
comenta Luís Melo, de 59 anos, dono do Café Cine, bar no térreo do prédio. O abandono se repete no Cine Madureira que não é tombado e teve a fachada transformada em suporte para cartazes de propaganda eleitoral e também no Cine Rosário. Na Rua Leopoldina Rego, em Ramos, o Rosário é uma joia do art déco americano, projetado em 1938 por Ricardo Wriedt, o mesmo autor dos desenhos dos cines Odeon, Império e Pathé-Palácio, na Cinelândia. O edifício de três andares foi tombado pelo município em 1997, mas a medida não impediu o abandono: a fachada está pichada e descascada e, as laterais, tomadas por vegetação. Ele contava com uma planta generosa: um hall espaçoso e uma sala de projeção dividida em balcão e plateia, com 1.442 cadeiras, além de um pequeno palco. Segundo o pesquisador Renato Gama-Rosa, autor de Salas de cinema art déco no Rio de Janeiro, o interior tinha decoração com desenhos de ondas, fontes e conchas feitos em gesso. Desativado desde 1992, o local já abrigou um bingo e uma boate. Incluído em 2012 no Circuito dos Cinemas conjunto de endereços com relevância histórica e artística, o Tijuca- Palace recebeu uma plaquinha que divulgava a história do prédio. Na última quinta-feira, uma equipe do GLOBO esteve lá e descobriu que a placa não estava mais na fachada. Um triste final. Os Cinemas de Rua da Zona Norte
Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo
Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo
Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo Por Simone Candida, Ludmilla de Lima e Rodrigo Bertolucci
Fonte original da notícia: O Globo