EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA NUM CONTEXTO AMAZÔNICO: APORTES PARA UMA EFICIÊNCIA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO DA CULTURA



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Transcrição:

EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA NUM CONTEXTO AMAZÔNICO: APORTES PARA UMA EFICIÊNCIA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO DA CULTURA Silvia Gomes Correia - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá Nelson dos Santos Dutra - Secretaria de Estado da Educação no Amapá Sheila Cristina Cunha Maués - Faculdade Estácio Amapá Eixo Temático: Práticas pedagógicas inclusivas Palavras-chave: Educação Musical. Inclusão. Projetos musicais inclusivos. 1 Introdução A pesquisa da qual trata o presente artigo, que está em andamento, tem como objetivo investigar projetos de Educação Musical (EM) desenvolvidos em dois contextos educacionais distintos: um centro educacional especializado e numa orquestra quilombola, ambos situados no município de Macapá. A partir do entendimento de que são múltiplos os modos pelos quais se pode formar um indivíduo musicalmente, surgiu o interesse de conhecermos como a EM vem sendo construída e articulada em um contexto da Amazônia legal na perspectiva inclusiva. Trata-se de compreender confluências entre o campo da Educação Musical em interface com a Educação Inclusiva e sobre modos de apropriação aqui entendidos como polifonias na construção do conhecimento pedagógico musical. O texto se apoia em reflexões de alguns autores estudiosos do tema e nas contribuições filosóficas de Dewey (1936, 2010) e Louro (2006), como atributos para pensar a EM na contemporaneidade e na perspectiva inclusiva. A partir de tais reflexões e partindo do pressuposto de que objetivo central do ensino de Música é a formação humana (KOELLREUTER apud BRITO, 2008), a pergunta central é: Como é instaurado o processo pedagógico e musical nesses espaços e quais são as expetativas dos alunos em relação a esse trabalho? 2 Metodologia A pesquisa vem sendo conduzida pela abordagem qualitativa, que busca envolver uma postura interpretativa e naturalística diante do campo e dos sujeitos investigados. Os

pesquisadores estudam as coisas em seus contextos naturais, tentando entender ou interpretar os fenômenos em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem (GIBBS, 2009). A opção metodológica é o estudo de caso com entrevistas semiestruturadas com os sujeitos integrantes dos projetos musicais em pauta. O estudo também poderá ser apoiado com observações participantes a ser realizadas no campo empírico da aprendizagem musical desses indivíduos, assim como as apresentações artísticas que decorrerem no período da coleta de dados. 3 Resultados e discursão A educação da sensibilidade estética e a multidimensionalidade da experiência artística como uma das interfaces da Educação na perspectiva inclusiva têm inserido a utilização da Música nos chamados projetos sociais, trazendo à tona que não é um desafio somente da área de Artes refletir sobre o papel da Música na formação dos sujeitos e sua inserção expressiva na sociedade. Louro (2015) adverte que um dos conflitos que dificulta o avanço pedagógico musical inclusivo é que ainda há distorções na compreensão das práticas inclusivas em Música. Para a autora, é comum confundirem-se, por exemplo, a Educação Musical Especial e a Educação Musical Inclusiva com a Musicoterapia. No entanto, para pensar em uma sociedade e educação inclusivas, esse tipo de pensamento precisa ser eliminado, na perspectiva de que a inclusão parte do pressuposto de que todos podem e têm o direito legal de participar de qualquer campo social, desde que queiram, incluindo a aprendizagem musical (LOURO, 2015, p. 37) O educador musical alemão Hans-Joachim Koellreuter buscou fundamentos para uma ação pedagógica musical na mediação do sujeito com o outro. Para Brito (2001), as atitudes pedagógicas desse educador se voltavam para a música que humaniza e universaliza, transcendente, que é expressão do tempo e de um novo estado de inteligência. Trata-se de uma formação musical que revela a expressão do novo. O ensino de Música, para esse teórico, não pode ser um início e nem um fim, mas um modo de ser e estar no mundo. O educador americano John Dewey (1859 1952) foi um importante pensador e filósofo da Educação da Era Moderna. Na defesa da democracia e da liberdade de pensamento como alicerces para uma Educação pautada no desenvolvimento crítico intelectual e emocional das crianças, Dewey foi considerado um dos grandes representantes do

pragmatismo, que ele concebia como instrumentalismo, por conta de seus pressupostos ideias como instrumentos para a resolução de problemas reais. Leva-se em conta nessa perspectiva, de que o contexto educacional vem sendo configurado pela diversidade social. Ao vislumbrar o potencial humanizador do conhecimento, o objetivo da eficiência como qualquer outro objetivo educacional deve considerar as aptidões instintivas do homem e a realização de experiências propiciadoras de cultura que aprimorem as relações sociais. Para Dewey (1936), a eficiência social não pode ser classificatória e deve considerar aspectos voltados para a edificação espiritual e humana do indivíduo. Isso influenciará nos modos como nos posicionamos enquanto associados a outras pessoas, na ideia de reciprocidade. Exemplificamos nas figuras a seguir duas instâncias de ensino de Música na perspectiva inclusiva realizadas no estado do Amapá, campo empírico de nossas investigações para aprofundar sobre as questões sublinhadas neste trabalho. A foto 01 da Figura 1 trata de práticas musicais desenvolvidas com jovens autistas de um Centro Educacional Especializado no município de Macapá, mantido pelo poder público estadual. A foto 02 da Figura 1 retrata os participantes do projeto Orquestra Quilombola, realizado com crianças e jovens da comunidade do Curiaú quilombo situado no município de Macapá, dependente de apoio da iniciativa pública e privada. Figura 1. Atividades de Educação Musical Inclusiva Macapá (AP) 2015 Fonte: Registros da autora. Os locais onde ocorrem essas práticas inclusivas na EM, uma desenvolvida em uma instituição escolar para pessoas com Transtorno do Espectro Autismo (TEA) e a outra voltada para inserção, são espaços diferenciados, mas atuam na direção dos objetivos da Educação propostos por Dewey (1936): a eficiência social e o desenvolvimento da cultura.

No pensamento do filósofo americano, cultura implica algo cultivado e que necessita de amadurecimento. Trata-se de uma via contrária a algo que esteja cru, verde ou bruto. Na Arte, especificamente na Música, a noção de cultura está ancorada no desenvolvimento da liberdade e da criação e valorada na experiência. A cultura vincula-se a algo pessoal, que, para Dewey (1936), reside no sentido do gosto por ideias, pelas Artes e por aspectos com dimensões amplas compreendidas no modo de ser e experimentar de cada sujeito. As experiências que a pesquisa têm nos possibilitado levam a refletir, para além do delineamento e refinamento da pesquisa, sobre o sentido cultural de complementaridade, de desenvolvimento cognitivo e do exercício de cidadania que a EM pode proporcionar para os sujeitos participantes desse projeto. O que mudou na vida deles? De que modo é instaurada e pensada a continuidade desses projetos? São algumas das questões que nos guiarão nas entrevistas durante a próxima fase da pesquisa. 4 Conclusão A inserção num campo de pesquisa levanta questões que são construídas a cada dia. Ao discorrer sobre a importância da EM na contemporaneidade, sobretudo na perspectiva da inclusão escolar, buscamos também apontar outros aspectos subjacentes à necessidade de ações político-pedagógicas para que alunos privados de oportunidades educacionais tenham acesso à arte musical em suas diversas interfaces. Como qualquer atividade criadora, a Música surge das inquietudes da vida, de aspirações reais e seu ensino há que ser estruturado de acordo com as necessidades do aluno ou de determinado grupo, sem a rigidez de conteúdos musicais hierarquizados ou da promoção de um currículo musical engessado. Nesse sentido, o objeto da EM é o sujeito que aprende e o ensino de música deve ser para todos os que veem nela uma oportunidade de se expressar. Dewey (1936) ressalta que devemos lembrar que a Educação, por si só, não tem objetivos. São os sujeitos que os têm, e não é uma ideia abstrata, como a de Educação. O objetivo da EM, na perspectiva inclusiva, não é exclusivamente musical, têm-se outros valores educacionais inclusos nesse processo e que favorecem o desenvolvimento humano. Frente ao exposto, os resultados dessa pesquisa poderão contribuir para uma reflexão crítica e contemporânea sobre projetos de Educação Musical inclusiva. Embora já se configurem debates teóricos acerca da legitimação da Música nos currículos escolares das

escolas brasileiras, ainda há muito para se defender, discutir, argumentar e atuar efetivamente na perspectiva de uma EM para todos. Referências BRITO, Teca A. de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da Educação Musical. São Paulo: Petrópolis, 2001. DEWEY, John. Democracia e Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.. Democracia e Educação. Trad. Godofredo Rangel; Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959 GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009. LOURO, V. S. Educação musical inclusiva: desafios e reflexões. In: LOPES, Helena; ZILLES, José Antônio. Música e educação. Ensaios, v. 02. Barbacena, EduUEMG, 2015. Série Diálogos com o Som.