Biotecnologia As Oportunidades que Surgem a Partir da Vida Há mais de uma década, quase tudo dizia respeito à promessa e ao potencial da biotecnologia. Agora o que importa é a performance. E vocês [membros da BIO] conseguiram: agora existem tratamentos para uma longa lista de doenças devastadoras: câncer de colo e de pulmão, esclerose múltipla, artrite, ataque do coração, só para mencionar algumas; há novas aplicações agrícolas e industriais e direcionadas ao meio ambiente, que já reduziram o uso de pesticidas, além de promoverem processos industrias limpos Carl Feldbaum Ex-Presidente da Biotechnology Industry Organization, em discurso de transferência de seu cargo após 11 anos (Califórnia, 8 de junho de 2004) Há 51 anos, James Watson e Francis Crick s descobriram o segredo da vida ou a estrutura de dupla hélice do DNA. Há 31 anos, Stanley Cohen e Herbert Boyer aperfeiçoaram as técnicas que proporcionaram a criação dos DNA s recombinantes. No ano passado, cientistas do projeto GENOMA conseguiram concluir todo o mapeamento genético dos seres humanos. Todas essas atividades listadas acima são hoje facilmente reconhecidas como atividades da biotecnologia. A biotecnologia, entretanto, é tão antiga quanto a prática da agricultura e a produção de pães e vinhos. Quatro mil anos antes de cristo, a fermentação para a fabricação de pães e cervejas já era realizada no Egito, queijos e vinhos eram produzidos na China e os babilônios utilizavam o controle da população de palmeiras na região com polimerização das árvores fêmeas. Mesmo as práticas biotecnológicas mais recentes, como a produção de antibióticos e a inseminação artificial, já eram utilizadas de forma rudimentar entre os anos 100 e 1.800. Em 1.322, os árabes foram os primeiros a usarem técnicas de inseminação para produzirem cavalos de raça superiores. A partir dos anos de 1950, e mais intensivamente após a década de 80, a velocidade com que as descobertas e os avanços científicos ocorreram contribuíram para que o termo biotecnologia se popularizasse na literatura e na mídia. Também influenciaram o aumento dos atrativos comerciais em diversos setores e segmentos da indústria. Através desse estudo, mostramos o conceito teórico de biotecnologia, suas áreas de aplicação, o perfil das empresas de biotecnologia nos Estados Unidos e no Brasil, além de algumas tendências e oportunidades de negócio nas áreas que a biotecnologia engloba. Afinal de contas, o que é? De acordo com a Biotechnology Industry Organization (BIO), o novo termo empregado para biotecnologia (usado a partir de 1919), refere-se ao uso de células e biomoléculas para resolução de problemas ou transformação em produtos: biotecnologia é um conjunto de técnicas que potencializa as melhores características das células, como suas capacidades produtivas, e disponibiliza moléculas biológicas, como DNA e proteínas, para nos servir 1.
A biotecnologia é uma ciência cujos conhecimentos são empregados em diversos segmentos e setores da economia, desde os mais tradicionais e amplamente difundidos entre as pessoas, até aqueles mais recentes, surgido a partir de inovações radicais. A indústria biotecnológica se refere ao conjunto de segmentos conforme apresentado na figura 1. Áreas de Inserção Áreas Principais Saúde Humana Saúde Animal Meio Ambiente Diagnósticos Fármacos Fitofármacos Vacinas e Soros Identificação Genética Reprodução Humana Veterinária Reprodução Animal Vacinas Aquacultura Identificação Genética Transgênicos Plantas Ornamentais e Medicinais Produtos Florestais Bioinseticidas Biofertilizantes Inoculantes Transgênicos Biorremediação Tratamento de Resíduos Análises Combustíveis Recuperação de florestas Instrumental Fornecedores Outros Atividades Sinérgicas Tecnologia da Informação Pesquisa básica Equipamentos Insumos Suprimentos em geral Biomateriais Química Fina Serviços Fonte: BIOMINAS, Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia, 2001 Análise e Construção Instituto Inovação Figura 1 Identificamos dois grupos de atividades relacionadas à biotecnologia. O primeiro abrange as atividades que desenvolvem tecnologias destinadas à saúde humana, saúde animal, agronegócios e meio ambiente. São caracterizados de acordo com a definição de biotecnologia estabelecida anteriormente. A esse grupo denominamos Áreas Principais. O segundo grupo oferece suporte a essas atividades principais. Nomeamos esse de Atividades Sinérgicas. Este grupo não desenvolve células ou manipula moléculas, mas produz equipamentos, softwares ou outros conhecimentos, servindo de base para as atividades do primeiro grupo. Para ilustrar melhor a divisão dos dois grupos, podemos tomar duas empresas como exemplo: a Biobrás, primeira empresa de biotecnologia do Brasil, produz insulina humana sintética, utilizada no controle e prevenção da diabetes, através da manipulação de proteínas em bactérias. Pelo outro lado, a CELM, empresa paulista, não utiliza células ou moléculas em seu processo produtivo, mas fornece máquinas e equipamentos ao primeiro grupo. O grupo Áreas Principais envolve atividades com quatro focos distintos. Há diversas empresas atuando no Brasil em cada uma dessas grandes áreas biotecnológicas. A figura 2 apresenta as atividades de algumas das principais empresas brasileiras.
Empresas de Biotecnologia no Brasil Área de Atuação Biodiversidade Diagnóstico Diagnóstico Farmacêutica, insulina Farmacêutica Farmaquímico Farmacêutico Farmacêutico Fitoterápico Fitoterápico Identificação Genética Identificação Genética Insulina Imunodiagnósticos Vacina, medicamento Vacina, probiótico Saúde Humana Empresa Biosintética Biogenes Dialab Biobrás Equiplex Microbiológica Pharma Nectar Silvestre Belém Jardim Simbios Biocod Trópicos Biomm FK-Biotecnologia FIOCRUZ Vallée UF PE GO RJ RJ RS GO RS RJ Área de Atuação Imunobiológico Reprodução Reprodução Veterinária Área de Atuação Aquacultura Bioinseticida Melhor. Genético Planta ornamental Área de Atuação Biorremediação Biorremediação Tratamento resíduos Tratamento resíduos Fonte: BIOMINAS, Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia, 2001; Pesquisa Instituto Inovação Saúde Animal Empresa Microvet Cenatte Taurus Tecsa Empresa Castagnolli Gravena In Vitro Atlântica Meio Ambiente Empresa Hábil LM Lab. Biotecnologia Brandt Genotox Figura 2 UF UF DF UF RS Essas atividades, apesar de se distribuirem entre quatro áreas, são passíveis de interação entre elas, ou seja, essa divisão não é completamente rígida. A Pharma Néctar, por exemplo, realiza inseminação artificial em abelhas de forma a maximizar a qualidade da produção de própolis utilizado em muitos fármacos. É uma técnica de saúde animal aplicada para melhoria da saúde humana. Outras empresas chamam a atenção pela inovação tecnológica que representam dentro de suas áreas de atuação. A LM Tratamento de Resíduos trata lixões utilizando processos físicos, químicos e biológicos, entre eles a biorremediação, ou seja, a inserção de bactérias nas áreas a serem tratadas para a aceleração da decomposição dos rejeitos. Pelo lado da saúde animal, a Cenatte Embriões foi uma das pioneiras no melhoramento genético das raças zebus no Brasil, utilizando técnicas modernas de seleção de embriões e inseminação artificial. As principais características desse mercado Em 2001, de acordo com o estudo da Fundação Biominas 2, o Brasil posicionava-se entre os 10 países com o maior número de empresas de biotecnologia no mundo, com 304 identificadas. Esse mercado englobava um faturamento de aproximadamente US$4 bilhões, empregando mais de 27,8 mil pessoas, a maioria de alta capacitação técnica 3. Essas 304 empresas de biotecnologia do país se distribuíam da seguinte forma 4 : 24% Saúde Humana 20% Fornecedores e Instrumental Complementar 12% 4% Saúde Humana, Animal e Vegetal 4% Saúde Animal 4% Meio Ambiente
11% Outros As atividades de biotecnologia são, em geral, bastante intensivas em P&D. A média de investimentos nessas atividades chega a 55% do faturamento das empresas de biotecnologia americanas, conforme figura 3. Esses investimentos refletem no número de patentes. Anualmente, essas empresas patenteiam mais de 7.000 tecnologias e produtos. No Brasil, os dados disponíveis não nos permitem comparações exatas dos investimentos em P&D com relação à receita das empresas. Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Montes Claros 5 em 2002 mostra que 42% das empresas de biotecnologia mineiras investiam mais de 10% do seu faturamento em atividades de P&D, 27% alocavam menos de 2% do faturamento, ao passo que 30,77% das empresas investiam entre 4 e 10%. Comparando com dados do IBGE 6 para outros setores da economia brasileira, esses números são bastante elevados. Outro fator que impacta positivamente os investimentos em P&D é que 90% das empresas de biotecnologia possuem laboratórios próprios. Indicadores da Biotecnologia nos EUA e no Brasil Número de Empresas Faturamento (US$) Número de Empregos Investimento em P&D (US$) Patentes (patentes/empresa)** EUA 1.457 28,5 bilhões 191.000 15,7 bilhões 5,3 Brasil 304 3,9 bilhões 27.825 N/D 0,9 Investimento de Capital de Risco 31% das empresas 3% das empresas Produtividade (faturamento/empresa)* 19,6 milhões 12,8 milhões Produtividade (faturamento/empregado)* 149,2 mil 140,2 mil Fonte: BIO, Editor s and Report s Guide 2003-2004 BIOMINAS, Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia, 2001 *Análise Instituto Inovação ** No caso americano, referente ao número de patentes por ano; no caso brasileiro, patentes desde 1996. Figura 3 Apesar do investimento, o número de patentes por empresa brasileira ainda não é o desejável. O número médio de depósitos por empresa foi de apenas 0,9, considerando as patentes entre os anos de 1996 a 2001. Por pertencerem a setores intensivos em pesquisa, as empresas de biotecnologia demandam elevado nível de investimento. Normalmente, os empresários não dispõem de recursos suficientes para a alavancagem de seus negócios. Nesse sentido, o capital de risco executa um papel essencial. No Brasil, apesar de toda movimentação financeira para aporte a empresas nascentes de base tecnológica, a maioria dos investimentos é realizada em setores não tecnológicos 7. Em biotecnologia ainda é pequeno o número de empresas que receberam esse tipo de investimento no Brasil. De todas as empresas de biotecnologia identificadas, somente 3% tiveram aporte desses investidores. Como apresentado na figura 3, tal número era 10 vezes maior nos Estados Unidos.
Mesmo com essas diferenças, dois indicadores de produtividade mostram que as empresas brasileiras são bastante competitivas em relação às empresas americanas: faturamento por empresa (66% do indicador americano) e faturamento por empregado (94%). São Paulo é o estado brasileiro com o maior número de empresas inseridas nas Atividades Sinérgicas, enquanto Minas Gerais, por sua vez, é o estado com o maior número de empresas inseridas nas Áreas Principais, com destaque para saúde humana. Em maio de 2004, o Instituto Evaldo Lodi (IEL) lançou o diagnóstico das empresas de biotecnologia de Minas Gerais 8. Esse documento é o mais recente sobre o assunto 9 e permite tecer algumas considerações com relação à evolução da biotecnologia no país. A biotecnologia em Minas Gerais Número de Empresas Empresas com ISO 9000 (%) Patentes por empresa Empresas que receberam investimento de CR (%)* 2001 2004 78 75 26 48 0,94 1,30 0 24 Área de Atuação das Empresas de Biotecnologia em 2% 9% 18% 15% Saúde Humana Meio Ambiente Outros 56% Saúde Animal Fonte: FIE, Resumo Executivo do Diagnóstico do Setor de Biotecnologia em Minas Gerais, 2004 * O valor médio investido pelos fundos, por empresa, foi de R$ 943.000,00 Figura 4 Em 2001, haviam 78 empresas registradas no Estado. Nesse período surgiram 20 empresas e outras 23 passaram por um processo de fusão ou mudaram de área ou foram extintas. Esses dados mostram a consolidação das empresas ligadas aos setores de biotecnologia e também o potencial de inovação, ou seja, criação de novas empresas baseadas em novas tecnologias. Mais adiante mostraremos as áreas nas quais as novas tecnologias foram desenvolvidas. Durante o período de 2001 a 2004, 18 empresas mineiras receberam investimentos de fundos de capital de risco da ordem de R$943 mil por empresa. Em 2001, nenhuma empresa estabelecida no estado havia recebido esse tipo de investimento. Esses valores contribuíram também para o aumento do número de patentes, que apresentou um crescimento de 38% nos 3 anos. As empresas de biotecnologia também estão preocupadas com a manutenção da qualidade e prosperidade de seus empreendimentos e com as demandas de
certificações exigidas no mercado mundial. Enquanto em 2001, somente 26% das empresas de biotecnologia eram certificados pela ISO, hoje 48% já estão inseridos nesse padrão. Além da tecnologia em si, a qualidade dos processos também auxilia as empresas no atendimento a demandas externas. O estudo revela que 40% das empresas mineiras já exportam e outros 40% têm a intenção de exportar. Para os demais setores da economia, agregados, somente 6% dos empreendedores têm intenção de exportar 10, o que revela uma importante característica do mercado das empresas biotecnológicas. Para onde vai a biotecnologia no Brasil? Segundo a revista The Economis, publicada em 15 de maio de 2004 11, um estudo realizado pela Ernst & Young apontou uma tendência de crescimento das empresas de biotecnologia, tanto para os Estados Unidos quanto para os países Asiáticos. Isso, devido ao crescimento das receitas das empresas e também dos investimentos de risco aplicados. O mesmo não se confirma para a Europa, que diminuiu seus gastos em P&D e demitiu funcionários alocados em pesquisa. Para o Brasil, ainda não há um estudo concluído. Entretanto, considerando as informações para Minas Gerais em 2004, em comparação a 2001, percebemos a tendência de crescimento dos mesmos indicadores apontados pela Ernst & Young: em 2001 nenhuma empresa mineira havia recebido investimento em capital de risco, ao passo que em 2004 esse número era de 24%. Além do mais, desde aquele ano, o faturamento das empresas cresceu 32%. Para identificar as tendências das atividades de biotecnologia no Brasil, o Instituto Inovação investigou o perfil dos grupos de pesquisa em biotecnologia espalhados pelo país, as atividades realizadas pelas empresas incubadas nas principais incubadoras de foco em biotecnologia e as áreas de atuação das empresas start up identificadas pelo estudo do IEL entre os anos de 2002 e 2004. Os grupos de pesquisa representam o potencial de surgimento de novos produtos ou serviços baseados nas tecnologias pesquisadas por eles. Procurando por biotecnologia no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, foram identificados 350 grupos, que se distribuem de acordo com a figuira 5.
Mapeamento dos Grupos de Pesquisa em Biotecnologia 7% 5% 1 13 2 1 2 9 3 3 20 13 3 5 13 3 6 12% 16% Saúde Animal Quatro Áreas 20% 40% Saúde Humana Meio Ambiente Outros Fonte: CNPq, Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil. Base Corrente. No mapa estão os números de grupos de pesquisa por estado Figura 5 1 33 38 6 19 67 8 38 38 2 A maioria dos grupos de pesquisa se insere no desenvolvimento de tecnologias direcionadas ao agronegócio, seguido por aquelas focadas em saúde humana. Completam a seqüência grupos que pesquisam saúde animal e, por último, os de meio ambiente. Ainda, 7% dos grupos investigam tecnologias direcionadas às quatro áreas e 5% não pesquisam tecnologias, mas debatem legislações, história e fatores econômicos que interferem no desenvolvimento da biotecnologia. Pesquisando pelas principais incubadoras focadas em biotecnologia no país 12, podemos acompanhar o desenvolvimento de novos produtos para reconstituição de tecidos ósseos, identificação de princípios ativos de plantas da biodiversidade brasileira, identificação de genes de animais, manipulação de fungos para tratamento de rebanhos, desenvolvimento de bioinseticidas, controle e monitoramento ambiental, produção de enzimas para formulação de detergentes biodegradáveis, comercialização de biotecnologias via Internet, entre outras. As tecnologias incubadas nos mostram o que aparecerá no mercado no curto prazo. As empresas start up, por sua vez, apontam como o terceiro fator de composição das tendências. As tecnologias desenvolvidas por elas são aquelas que acabaram de atingir o mercado. A pesquisa recente do IEL apontou as atividades desenvolvidas pelas 20 empresas mineiras de biotecnologia que surgiram entre os anos de 2002 e 2004, conforme apresentado na figura 6.
Tecnologias Incubadas e Empresas Start Up Saúde Humana Saúde Animal Meio Ambiente Tecnologias Incubadas Reconstituição de tecidos ósseos Estudos de vínculos genéticos e citogenética humana. Identificação genes de animais Manipulação de fungos contra doenças em animais Construção de arquitetura básica de cultivares Monitoramento de resíduos agrotóxicos Controle e monitoramento ambiental Recuperação de áreas degradadas Empresas Start Up Combate e prevenção ao câncer; P&D relacionado a cirurgia cardíaca; Exames de condições físicas de atletas assistidos por marcadores Serviços de biologia molecular e identificação genética de uso forense Seleção genética animal assistida por marcadores especialmente voltados a produtividade Fonte: Pesquisa Instituto Inovação em diversas incubadoras nacionais e páginas de pesquisa Google FIE, Resumo Executivo do Diagnóstico do Setor de Biotecnologia em Minas Gerais, 2004 Figura 6 A grande maioria das atividades recém iniciadas se inserem na área da saúde humana. O IEL não identificou nenhuma nova empresa surgida nas áreas de agronegócio e meio ambiente, o que pode constituir alguma dificuldade de empresariamento das tecologias desenvolvidas nesses setores. Incentivadas pelas tendências apresentadas acima, é possível identificar algumas oportunidades no mercado de biotecnologia: Saúde Humana De acordo com Joaquim A. Machado, em estudo sobre as tendências futuras da biotecnologia, investidores procuram por pesquisas que analisam recombinações genéticas in vitro, possibilitando uma evolução celular direcionada, e também pesquisas de novas plataformas biotecnológicas, ou seja, pesquisas que abrangem diferentes áreas do conhecimento. A saúde humana abrange uma ampla variedade de setores. Especificamente para fármacos e soluções para doenças ainda não controladas, o desenvolvimento das pesquisas é intenso. Grande parte dos grupos de pesquisa atua no desenvolvimento genético de tecidos e modificação de microorganismos para fabricação de vacinas e outros medicamentos. A prestação de serviços, a venda e a comercialização de tecnologias podem se tornar uma oportunidade lucrativa para os primeiros entrantes. Segundo dados da UK Trade & Investment, o Brasil ainda importa cerca de US$1,5 bilhão em medicamentos, exportando apenas US$253 milhões. Atualmente, 65% dos medicamentos são compostos químicos produzidos em laboratórios, enquanto somente 10% são preparados a partir de animais ou microorganismos. Assim, o setor apresenta grandes perspectivas de crescimento, seja pela questão da balança comercial, seja pelo espaço de substituição de medicamentos sintéticos.
Saúde Animal O segmento de saúde animal é bastante desenvolvido no setor rural. Quase a totalidade dos grupos dessa área pesquisa técnicas de manipulação de gametas para melhoramento genético de rebanhos. Também, há grupos de pesquisa que buscam o tratamento para diversos tipos de doenças que atacam animais. Ainda é pouco explorado no Brasil, tanto pelo lado comercial, como em pesquisas, a biotecnologia destinada aos animais domésticos. Nas principais cidades brasileiras, há aproximadamente 35 milhões de animais entre gatos e cachorros de estimação, pertencentes às classes média e alta. Entre os campos a serem explorados está o desenvolvimento de vacinas, alimentos e diagnósticos mais eficientes. O Brasil é um dos maiores produtores de produtos agrícolas no mundo e constantemente desenvolve técnicas para aumento da competitividade. 40% dos grupos de pesquisa espalhados pelo país buscam novas tecnologias biotecnológicas para aumentar a produtividade das empresas desse segmento. O destaque são os alimentos transgênicos, cuja legislação ainda indefinida tem representado barreiras ao desenvolvimento de produtos e realização de novas pesquisas. Os transgênicos ainda são produzidos em um número reduzido de países e abrangem um pequeno número de culturas. O mercado fornecedor de insumos químicos para a agricultura também apresenta novas oportunidades. Com a preocupação ambiental e à saúde humana, adubos e fertilizantes, além de outros defensivos não químicos e não poluentes tornaram-se um atrativo para que as empresas de biotecnologia buscassem alternativas para o cultivo dos produtos agrícolas no mundo. Existem ainda oportunidades para a produção e a comercialização de mudas, tanto de culturas alimentícias, quanto de plantas ornamentais ainda pouco exploradas. As exportações dessas mudas não superam US$ 50 milhões anuais. Ainda há grande espaço para alcançar diversos mercados internacionais, visto que os principais clientes ainda são os países vizinhos, do Mercosul. Meio Ambiente A preocupação contínua com o meio ambiente, o destino dos lixos e a destruição acelerada das florestas faz com que pesquisadores ao redor do mundo procurem soluções para estes problemas. Diversas empresas já atuam no tratamento de efluentes industriais e domésticos, através de técnicas biológicas. Também os lixões das grandes cidades vêm sendo tratados biologicamente, de forma a diminuir seus efeitos de contaminação. Ainda há espaços para tecnologias destinadas à recuperação de florestas nativas, substituição de produtos derivados da madeira por compostos sintéticos e desenvolvimento de combustíveis não poluentes e de menor custo. O aperfeiçoamento da legislação ambiental e a mudança de consciência da população contribuem para a abertura de novos mercados.
Considerações finais De forma geral, todas os segmentos nos quais estão inseridas atividades de biotecnologia apresentam oportunidades de investimento. É através das atividades de P&D em biotecnologia que diversas soluções para doenças, reprodução, alimentação e meio ambiente serão encontradas. Como vimos, existem muitas oportunidades nos setores intensivos em biotecnologia, além das atividades de apoio à biotecnologia: tecnologia da informação, novos materiais, prestação de serviços (gestão da inovação, transferência de tecnologia, registro de produtos etc). As empresas ou empreendedores que desejam buscar oportunidades nesses mercados devem ficar atentos às legislações, às fontes de financiamento e de captação de recursos e às tendências de pesquisas nos laboratórios das universidades e de centros públicos e privados de pesquisa. Por fim, vale destacar que o mercado das empresas de biotecnologia apresenta algumas características peculiares que merecem ser consideradas. Primeiro, as atividades são bastante intensivas em P&D, o que normalmente implica na necessidade de laboratório próprio e estreita colaboração com centros de pesquisa e universidades. Por apresentar essa característica, os retornos sobre investimento são de longo prazo, não existem atalhos e as estratégias de curto prazo não são, em geral, recompensadoras. Outro fator que dever ser considerado é a gestão da inovação tecnológica. A maioria das empresas de biotecnologia é fundada por pesquisadores ou professores das universidades 13, que não possuem conhecimento gerencial e comercial para posicionamento da tecnologia no mercado. Isso pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de um empreendimento, cuja tecnologia apresenta um grande potencial de mercado. Este estudo foi originalmente publicado na 4ª edição do Radar do Inovação, boletim eletrônico mensal do Instituto Inovação, em 15 junho de 2004, disponível em http://www.institutoinovacao.com.br/radar/2004/04 1 Texto original: Biotechnology is a collection of technologies that capitalize on the attribute of cells, such as their manufacturing capabilities, and put biological molecules, such as DNA and proteins, to work for us. 2 Fonte: Fundação Biominas: Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia. Belo Horizonte, Dezembro de 2001. 3 O estudo da Universidade Estadual de Montes Claros revelou que as atividades relacionadas à biotecnologia são bastante especializadas, bastante intensivas em pesquisa. A grande maioria das empresas é fundada por especialistas no assunto e não por administradores. 4 Estudo Fundação Biominas 2001. 5 Fonte: SOUZA, S. Biotecnologia em Minas Gerais: Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Regional. Universidade Federal de Montes Claros. X Seminário de Economia Mineira. Diamantina, 2002. 6 Esses dados foram apresentados em estudo do Instituto Inovação no mês de abril.
7 De acordo com a Associação Brasileira de Capital de Risco, em 2002, 53,64% dos investimentos de risco foram em áreas não tecnológicas e 46,36% em áreas intensivas em pesquisa, como biotecnologia, medicina, tecnologia da informação e semicondutores. Em 2003, 85,59% dos investimentos foram direcionados a áreas não tecnológicas e somente 14,41% a empresas tecnológicas. Fonte: Associação Brasileira de Capital de Risco: Pesquisa ABCR/Thompson 4ª etapa. Segundo semestre de 2003. 8 Fonte: Instituto Evaldo Lodi: Diagnóstico do Setor de Biotecnologia em Minas Gerais Desafios Rumo a 2010. Resumo Execuivo. Belo Horizonte. Maio de 2004. 9 O documento de data anterior é o estudo sobre Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia 2001, da Fundação Biominas, também citado neste estudo. 10 Fonte: Global Enterpreurship Monitor (GEM). Empreendedorismo no Brasil: Relatório Global 2002. 11 Informações coletadas no site Economist.com. Acesso em: http://www.economist.com/business/displaystory.cfm?story_id=2670416. Título da reportagem: On the mend: Brighter prospects for biotech in America and Asia. 12 As incubadoras pesquisadas foram: Fundação BIOMIONAS (), IE-CBIOT (RS) e Fundação BIORIO (RJ). 13 De acordo com a pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Montes Claros, 77,22% das empresas mineiras foram fundadas por professores ou pesquisadores, enquanto que somente 19,44% foram fundadas por administradores de empresas. Outras referências: Biotechnology Industry Organization: Biotechnology: A New Link to Hope. Editor s and Report s Guide 2003-2004. Estudos de Competitividade de cadeias integradas no Brasil: Biotecnologia e. Campinas. Dezembro de 2002. FAJNZYLBER, P. Fatores de competitividade e barreiras ao crescimento no pólo de biotecnologia de Belo Horizonte. Departamento de Economia e CEDEPLAR. Belo Horizonte, abril de 2002. MACHADO, J. Tendências futuras da biotecnologia: perspectivas para o setor industrial. São Paulo. Setembro de 2001. RESENDE, V. The Biotechnology Market in Brazil. Canada s Business and Consumer Site. Dezembro de 2003. Acessado em: http://strategis.ic.gc.ca/epic/internet/inimr-ri.nsf/en/gr114487e.html UK Trade & Investment. Biotechnology and Pharmaceutical in Brazil: profile. Acessado em: http://www.uktradeinvest.gov.uk/biotechnology/brazil/profile/overview.shtml#characteristics%20of%20mar ket