Tribunal de Contas da União Número do documento: DC-0068-09/00-1 Identidade do documento: Decisão 68/2000 - Primeira Câmara Ementa: Pensão Especial da Lei 4.242/63. Ex-combatente. Falecimento da viúva. Reversão do benefício à filha. Legalidade. Determinação. - O direito da filha à pensão de ex-combatente é regido pelas normas em vigor na época do óbito do instituidor. Considerações. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo II - CLASSE V - 1ª Câmara Processo: 000.275/1983-2 Natureza: Pensão militar Entidade: Órgão de Origem: Ministério da Marinha Interessados: INTERESSADA: Zélia Xavier Macau Dados materiais: ATA 09/2000 DOU de 06/04/2000 INDEXAÇÃO Pensão Especial; Reversão de Pensão; Ex Combatente; Falecimento de Pensionista; Viúva; Beneficiário da Pensão; Filha Casada; Legislação; Sumário: Pensão especial da Lei 4.242/63. Ex-combatente. Reversão do benefício à filha do instituidor, com o falecimento da viúva. Jurisprudência do TCU em consonância com a orientação do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que o direito à pensão de ex-combatente se rege pelas normas legais em vigor no momento em que ele morre. Legalidade da pensão e registro do correspondente ato. Encaminhamento dos autos ao órgão de origem para ajustes necessários.
Relatório: Trata-se de processo que trata da reversão de pensão especial, instituída pelo ex-combatente João Xavier Macau (art. 30 da Lei 4.242/63), em favor de sua filha Zélia Xavier Macau, uma vez falecida a viúva Rosa Xavier Macau (fls. 7/10), incluídas as cotas de seus filhos, Zélia e Paulo Alberto, já julgada legal por este Tribunal na sessão de 12.4.83 (fl. 50). Na sessão de 9.12.84, foi julgada a cota parte de 1/10, em favor de Ana Rosa (fl. 60v), ficando em reserva as cotas das filhas Regina Célia e Raquel, todas de outro leito. Como a filha Zélia Xavier Macau já havia sido habilitada na concessão inicial, cuja cota foi incorporada à da mãe, a unidade técnica, em pareceres uniformes (fl. 110), sugere que o "título de fl. 72" deveria ser considerado como transferência. Quanto às filhas Regina Célia e Raquel, cujos requerimentos (fls. 74/5) foram indeferidos, propõe sejam expedidos os "títulos" em favor delas a partir de 18.1.84, com fundamento no art. 30 da Lei 4.242/63, observada a prescrição quinqüenal, uma vez que as cotas de 1/10 em favor dos beneficiários já se encontram em reserva desde o julgamento por este Tribunal em 12.4.83. O Ministério Público assim se manifestou (fls. 111/2): "A concessão da pensão especial prevista no art. 30 da Lei nº 4.242/63, em favor da Srª ROSA XAVIER MACAU e de ANA ROSA MACAU DOS SANTOS, respectivamente viúva e filha do ex-combatente JOÃO XAVIER MACAU, falecido em 05-08-81, em que ficaram em reserva as cotas-partes das filhas MARIA RAQUEL e REGINA CÉLIA, já mereceu o registro deste Tribunal (fls. 50vº e 60vº). Em exame, no momento, a reversão da pensão em favor da filha ZÉLIA XAVIER MACAU, em virtude do falecimento da viúva, Srª ROSA XAVIER MACAU, ocorrido em 01-01-89. O órgão concedente deferiu a pensão na razão de 1/4 (um quarto) para a filha ZÉLIA e alterou a cota-parte da filha habilitada, ANA ROSA, de 1/8 (um oitavo) para 1/4 (um quarto) (fls. 72 e 73), mas indeferiu os requerimentos das filhas MARIA RAQUEL e REGINA CÉLIA que pleiteavam a pensão especial do art. 53 do ADCT da Constituição de 1988, sob o argumento de que o ex-combatente não estava amparado pelo 2º do art. 1º da Lei nº 5.315/67 (fls. 74vº e 75vº).
A zelosa 5ª IGCE, examinando o feito, entende que a concessão em favor da filha ZÉLIA XAVIER MACAU (fls. 72) deverá ser considerada como transferência, porque já foi habilitada na concessão inicial, cuja cota-parte foi incorporada à da mãe. Quanto às filhas REGINA CÉLIA e MARIA RAQUEL, cujos requerimentos de fls. 74 e 75 foram indeferidos, propõe a restituição do processo à origem, para que sejam expedidos os títulos em favor das requerentes, a partir de 12-01-84, com fundamento no art. 30 da Lei nº 4.242/63, observada a prescrição quinqüenal, uma vez que as cotas de 1/10 (um décimo) em favor das beneficiárias já se encontram em reserva, desde o julgamento por este Tribunal, em 12-04-83. Com as vênias de estilo, dissentimos da proposição da zelosa 5ª IGCE. A concessão em favor de ZÉLIA XAVIER MACAU deve ser examinada tão-somente como reversão, até porque, sendo filha da viúva habilitada com a pensão do art. 30 da Lei nº 4.242/63, c/c a Lei nº 3.765/60, ela não foi nem poderia ter sido habilitada na inicial, pois tem apenas uma expectativa de direito em relação à pensão. O direito somente se concretizará por reversão, quando a viúva perder o direito à pensão. A concessão da pensão, observados os critérios legais, gera um direito adquirido. A eventual hipótese de reversão gera uma expectativa de direito. Aquele está ao abrigo da lei nova, esta não. Num caso ou no outro vale e é aplicável a lei vigente na época do fato que lhe dá suporte. Nem teria sentido em caso de reversão a ultratividade de uma lei já revogada. Em 01-01-89, data do óbito da viúva, fato gerador da reversão, o dispositivo legal em vigor é o art. 53 do ADCT da Constituição Federal de 1988 e não a Lei nº 4.242/63. Já é jurisprudência remansosa deste Tribunal que a concessão da pensão, com fulcro no citado dispositivo do ADCT, não contempla as filhas maiores ou casadas, por estar descaracterizada a dependência em relação ao ex-combatente (cf. Decisão nº 185/91-Primeira Câmara, TC-006.968/90-2 e TC-008.733/90, Ata nº 27/91, Sessão de 10-09-91; Decisão nº 86/92-Primeira Câmara, Sessão de 24-03-92, TC-009.399/91-7, Ata nº 8/92; Decisão nº 214/92, Sessão de 14-05-92, TC-017.570/91-3, Ata nº 16/92, TC-017.570/91-3, Ata nº 16/92-2ª Câmara). Assim, entendemos que a concessão em favor da filha ZÉLIA XAVIER MACAU, que é maior e casada, deve ser considerada ilegal, com a recusa do
registro do ato de fls. 72. Quanto ao indeferimento do órgão concedente, entendemos correto, não pelo argumento oferecido, mas porque as filhas do ex-combatente, REGINA CÉLIA e MARIA RAQUEL, que são maiores e casadas, requererem a pensão do art. 53 do ADCT (fls. 74 e 75). No entanto, elas têm o direito à pensão do art. 30 da Lei nº 4.242/63, na cota que lhes é devida, como ressalta a 5ª IGCE. A apostila de fls. 73, embora não sujeita a exame, deve ser considerada ilegal, porque a cota-parte da filha ANA ROSA deve permanecer em 1/8 (um oitavo)." É o Relatório. Voto: Por se tratar de processo remanescente, ante a decisão proferida pelo Plenário em 24.3.99 (Ata 9/99-Plenário), fui sorteado relator destes autos. A questão central tratada neste processo refere-se à reversão da pensão em favor da filha Zélia Xavier Macau, em virtude do falecimento da viúva, srª Rosa Xavier Macau, ocorrido em 1º.1.89. O benefício vinha sendo concedido à viúva desde 5.8.81, em decorrência do óbito do instituidor, o ex-combatente João Xavier Macau. Lamento não poder acolher os entendimentos manifestados pela unidade técnica e pelo Ministério Público. A jurisprudência endossada pelo Tribunal em questões tais a presente se coloca em consonância com o entendimento do E. Supremo Tribunal Federal, firmado nos autos do MS 12.707-3/DF, segundo o qual "O direito à pensão de ex-combatente é regido pelas normas legais em vigor à data do evento morte. Tratando-se de reversão do benefício a filha mulher, em razão do falecimento da própria mãe que vinha recebendo, considerando-se não os preceitos em vigor quando do óbito desta última, mas do primeiro, ou seja, do ex-combatente." Desta forma, para o efeito da reversão da pensão especial, impõe, o referido julgado do STF, a observância exclusiva da legislação vigente por ocasião do óbito do ex-combatente, caso este tenha ocorrido antes da vigência da Constituição de 1988.
Assim, o benefício devido à srª Zélia Xavier Macau é o previsto na Lei 4.242/63, vigente à época em que faleceu o instituidor, sendo legal, portanto, o ato concessório de fl. 72. Ainda nestes autos, a unidade técnica e o Ministério Público fazem referência a duas questões. A primeira refere-se ao indeferimento pelo órgão concedente da pensão de Regina Célia Macau e Maria Raquel Macau de Lima (fls. 74 e 75), as quais detinham o direito à pensão prevista no art. 30 da Lei 4.242/63. A segunda reporta-se à apostila fl. 73, em desacordo com as normas vigentes à época, porque a cota-parte da filha Ana Rosa Macau dos Santos devia permanecer em 1/8 (um oitavo). Considerando que esses atos não são objeto de exame nesta oportunidade, entendo que os autos devem retornar ao órgão de origem para os ajustes necessários. Dessa forma, VOTO por que seja adotada a DECISÃO que ora submeto à Primeira Câmara. Sala das Sessões, em 28de março de 2000. WALTON ALENCAR RODRIGUES Ministro-Relator Assunto: V - pensão militar Relator: WALTON ALENCAR Representante do Ministério Público: JATIR BATISTA DA CUNHA Unidade técnica: 5ª SECEX Quórum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (Presidente), Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, Walton Alencar Rodrigues (Relator) e Guilherme Palmeira. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 28 de março de 2000
Decisão: A Primeira Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. considerar legal a reversão do benefício pensional instituído pelo ex-combatente João Xavier Macau a favor de sua filha Zélia Xavier Macau; 8.2. ordenar o registro do correspondente ato; e 8.3. encaminhar estes autos ao órgão de origem para ajustes dos atos referentes a Regina Célia Macau, Maria Raquel Macau de Lima e Ana Rosa Macau dos Santos.