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Transcrição:

"Processo compacto de preparação de peles caleiradas para o curtimento: substituição da desencalagem e do píquel por processo compacto de condicionamento" Francisco Fava (1), Renato Konrath (2), J. Everton Braun (3), Eduardo G.Dapper (4), Carlos H. Musskopf (5) (1) Gerente Pesquisa e Desenvolvimento, (2) (3) Técnico em Pesquisa e Desenvolvimento, (4) Gerente de Vendas Mercado Interno, (5) Técnico de Aplicação - Área Couro. Empresa: Seta-SA Resumo O presente trabalho refere-se a substituição das etapas tradicionais de desencalagem e píquel na preparação de peles caleiradas para o curtimento, por processo compacto de condicionamento. Um novo produto foi desenvolvido para compactar as etapas de preparação para o curtimento. No novo processo compacto, as peles caleiradas são preparadas para o curtimento sem a adição dos produtos químicos tradicionalmente utilizados em curtumes, como; sais amoniacais, ácido fórmico e sulfúrico. A adição de desencalantes e ácidos é excluída pois o novo produto substitui os mesmos. O ajuste de ph/condicionamento possibilita eliminar o píquel e iniciar o curtimento em ph's mais elevados. Obtém-se a redução de até 100 % na quantidade de NaCl ofertada tradicionalmente. As etapas do novo processo são exemplificado a seguir; - matéria prima: peles tripa caleiradas, (1) Lavagem (com tensoativos mais auxiliares), (2) Condicionamento/Purga (sem sais amoniacais, ácido fórmico e sulfúrico), (3) Curtimento (com sais de cromo 26/33) (4) Ajuste de ph. O condicionamento (etapa (2) ), é realizado com apenas um único produto. O novo produto é um sistema constituído por uma combinação sinérgica de sais de ácidos orgânicos com aldeídos modificados (patente SETA-SA). Com o novo produto elimina-se o risco de manipulação de produtos perigosos durante o processamento de peles caleiradas para o curtimento. Os ganhos com o novo processo também são identificados na redução no volume e na carga poluidora do efluente gerado, na otimização das etapas de preparação de peles caleiradas para o curtimento e na qualidade dos couros obtidos. No caso de curtimento ao cromo, com o novo processo, este é iniciado em ph=4,8-5,2. Observa-se grande exaustão do cromo ofertado e a possibilidade de reduzir a oferta do mesmo. A etapa de basificação, no novo processo é substituída por apenas um ajuste de ph. Os couros com esta nova tecnologia atendem a todos os parâmetros físico-químicos exigidos, seja no estágio de wet blue ou semi-acabado. O produto já está em teste em escala de produção. 1-Introdução As operações realizadas após a etapa de caleiro, na preparação para o curtimento wet-blue, vem sofrendo algumas modificações nos últimos cinqüenta anos. As novas tecnologias surgiram normalmente com o objetivo de suprir necessidades comuns a indústria curtidora como redução de impacto ambiental, redução de custos e melhoria na qualidade do produto final. No caso específico das etapas de desencalagem e píquel, observa-se uma tendência de redução no consumo de sais amoniacais, cloreto de sódio e ácidos inorgânicos, devido ao surgimento de novos produtos e tecnologias. Entretanto, quantidade expressiva de sais amoniacais, cloreto de sódio e ácidos inorgânicos ainda é utilizada no processamento de couros, nas etapas de desencalagem e píquel. O presente trabalho refere-se a uma nova tecnologia desenvolvida para otimizar, compactar e simplificar as operações realizadas após o caleiro, na preparação para o curtimento. A nova tecnologia oferece como vantagens em relação ao processo tradicional: 1) Simplificação de processo e aumento da segurança operacional: 1.1) Substituição das etapas de descalcinação e píquel por um único produto 1.2) Eliminação total do uso de ácidos perigosos 1.3) Diminuição do numero de insumos adicionados 1.4) Diminuição do número de etapas de controle

2) Redução de impacto ambiental, devido ao processo ser: 2.1) Sem sais amoniacais; 2.2) Permite redução na oferta de sal comum (NaCl) em até 100%; 2.3) Redução no volume de efluentes e na carga poluidora; 2.4) Redução no sal de cromo ofertado e melhor esgotamento do banho de curtimento; 2.5) Produto e processo, geram resíduos menos nocivos para operadores, máquinas e ao ambiente de trabalho; 3) Melhora na qualidade do produto final 3.1) Curtimento sem realização de píquel e suas conseqüências 3.2) Curtimento sem necessidades de basificação e suas conseqüências 3.3) Couros curtidos e acabados com características plenamente normais notando-se um maior enchimento e firmeza de flor nos artigo obtidos O novo processo apresentado, refere-se a realização do "condicionamento" em substituição as etapas de píquel e desencalagem. O seu desenvolvimento foi focado principalmente visando a simplificação de processo buscando conjuntamente, inovação tecnológica e redução de impacto ambiental. O produto desenvolvido para este processo trata-se de um composto de sais de ácidos orgânicos, co-adjuvantes e aldeídos modificados, dispensando conceitualmente o uso de sal (NaCl). Este novo sistema caracteriza-se pela sua compatibilidade na ampla faixa de ph na qual é utilizado. A adição do produto ocorre em dois momentos. A primeira adição inicia o condicionamento efetuando conjuntamente a desencalagem. Após pode-se optar pela realização da purga. A segunda adição conclui o condicionamento e ajusta o ph para o início da adição de cromo. As características do produto utilizado neste novo processo, possibilitam iniciar o curtimento ao cromo em ph's que variam entre 4,8 a 5,2. 2-Mecanismo de Ação: No processo tradicional a pele tem suas características físico-químicas alteradas de acordo com as condições as quais são submetidas. Isto é evidenciado através da medida do ponto isoelétrico após cada etapa. O ponto isoelétrico passa de 7,0 na pele salgada para 5,0 após o caleiro. Em ph's próximos a 3,0 no píquel, a proteína adquire caráter catiônico, devido a protonação dos grupos amínicos dos aminoácidos, que ocorre abaixo do ponto isoelétrico 1. Nestas condições a quantidade de grupos carboxílicos ionizados (R-COO - ) em relação aos amínicos ionizados (R-NH 3 + ) é muito pequena. Do total de grupos carboxílicos apenas de 15 a 25% se encontra ionizado (gráfico 1). A protonação dos grupos amínicos tem início na desencalagem, onde os sais amoniacais, devido ao seu caráter ácido, neutralizam os grupos carboxílicos e ionisam parte do amínicos. Este processo ocorre até o final do píquel, quando a quantidade de grupos (R-NH 3 + ) predomina. % de ionização 100 80 60 40 20 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ph ph = 5,0 - A ionização dos grupos carboxílicos pode ser representada pela seguinte fórmula: ph= pk + log [ COO - ] [ COOH ] - Onde o pk dos grupos ácidos da proteína situa-se próximo a 4,0 Figura-1: Fórmula representativa da ionização dos grupos carboxílicos Gráfico-1: Ionização dos grupos Carboxílicos em função do ph 1 O PI após o caleiro encontra-se em ph's próximos a 5,0, acima deste valor ocorre dissociação dos grupos carboxílicos ( RCOOH RCOO - ), a proteína adquire caráter aniônico, abaixo de ph 5,0 as carboxílas não estão dissociadas e o caráter da proteína é catiônico (NH 3 + - R - COOH). 2

No processo tradicional trabalha-se em uma faixa de ph (3,0) abaixo do PI, que após o caleiro situa-se em torno de ph =5,0 (figura-2). A adição de sal no píquel é necessária para evitar o intumescimento osmótico que ocorre nestas condições. Em ph próximo a 3, abaixo do ponto isoelétrico, a repulsão entre as cargas positivas (R-NH 3 + ) é muito intensa, provocando grande pressão osmótica, assim grande quantidade de água migrará para o interior da pele visando minimizar a repulsão entre as cargas positivas. Devido ao caráter catiônico que a proteína adquire após o píquel, o cromo ofertado penetra todo o corte da pele praticamente sem que ocorra reação. A fixação do cromo com a proteína será efetiva no momento da basificação, onde além das reações de complexação do cromo, ocorre também aumento no número de carboxilas ionizadas. Caráter Catiônico NH 3 Prot COOH ph < 3,0 OH - H + Caráter Neutro NH 3 Prot COO PI = ph ~ 5,0 OH - H + Caráer Aniônico NH 2 Prot COO ph > 5,0 - Baixa reatividade entre o cromo e a proteína, grupos carboxílicos não estão ionizados - A ionização dos grupos carboxílicos aumenta a basificação - Alta reatividade entre o cromo e os grupos ionizados - Risco de precipitação do cromo Figura-2: Representação do PI, ph e da ionização dos grupos carboxílicos e amínicos, no processo tradicional. No novo processo apresentado as etapas de desencalagem e píquel são substituídas por uma única etapa chamada condicionamento. O condicionamento é um processo compacto de preparação para o curtimento, realizado com apenas um único produto. Não são utilizados sais amoniacais e ácidos fortes (HCOOH e H 2 SO 4 ). Como conseqüência deste condicionamento tem-se a pele apta ao curtimento. No condicionamento efetua-se a desencalagem, ajuste de ph e reação química da proteína com aldeídos, via utilização de apenas um único produto (Figura-3). O produto condicionante não contém NaCl e sua características especiais possibilitam eliminar a adição de sal (2). O curtimento wet-blue é iniciado em ph mais alto que o convencionalmente utilizado, assim eliminando possíveis problemas decorrentes de hidrólise ácida que surgem no píquel (couros vazios, perda de resistência). Neste novo processo o decréscimo de ph é mais lento, gradual, eliminam-se picos de ph. Como outra grande vantagem deste novo processo destaca-se a possibilidade de substituir a basificação por um ajuste mais brando de ph (gráfico-2). ph 14 12 10 8 6 Tradicional Condicionamento Tradicional Compacto 1-Pele salgada 2-Remolho 3-Caleiro 4-Desencalagem 5-Píquel 6-Píquel 7-Curtimento 8-12-Basificação Condicionamento 1-Pele salgada 2-Remolho 3-Caleiro 4-Condicionamento 5-Condicionamento 6-Condicionamento 7-Curtimento 8-12-Ajuste de ph 4 2 0 2 4 6 8 10 12 Evolução de ph Remolho até curtimento Gráfico-2: Comparativo de evolução do ph no processamento de peles para Wet-Blue 2 Pequenas quantidades de sal foram necessárias com o fim de manter certa higroscopicidade nos couros acabados. 3

A basificação é substituída por um mero ajuste de ph, que é realizado de acordo com o ph final obtido após o atravessamento no corte transversal da pele. O ph final é governado pela quantidade de cromo e de condicionante previamente utilizado. Este ajuste pode ser realizado com formiato de sódio, bicarbonato de sódio ou carbonato de sódio, porém em qualquer dos casos a quantidade de neutralizante utilizada é sempre muito menor que no processo tradicional. O aquecimento ao final do processo melhora o esgotamento do banho e as características do Wet Blue. Processo Tradicional X Processo Condicionamento Compacto Caleiro Descalcinação Píquel wet-blue Sais de Amônia e enzimas Sal H 2 SO 4 Ácido fórmico Cromo Basificante Condicionante e enzimas Sal/ (opcional) Cromo Ajuste de ph se necessário Caleiro Condicionamento wet-blue Figura-3: Comparativo entre o processo tradicionalmente realizado e o novo processo Após o condicionamento o ph da pele situa-se próximo a 5,0 (4,8-5,2) em todo o corte e nestas condições é adicionado o sal de cromo 26/33. Para iniciar o curtimento nestas condições foi necessário modificar as características da pele via deslocamento do ponto isoelétrico da proteína colágeno. Através de reações com aldeídos (reação de Amadori, figura-4), os grupos amínicos da pele são bloqueados, com conseqüente diminuição da capacidade de reagir com substâncias ácidas. Isto faz com que o PI da proteína da pele seja alterado para valores próximos a ph 3,0-3,5. Assim, ao se trabalhar em valores de ph acima deste valor (ph 4,8-5,2), trabalha-se em condições aniônicas, onde o grupo de carboxilas ionizadas é consideravelmente maior em relação aos grupos amínicos ionizados. Esta alteração na reatividade da proteína, via ação do condicionante é essencial para atingir boa distribuição e fixação do cromo em todo o corte da pele. Sem este tratamento prévio com produto condicionante não foi possível adicionar o cromo 26/33 em ph's próximos a 5,0. O H H 3 N + Prot COO - + RC -H RC N Prot COO - Reação de Amadori OH - OH - R=NH Prot COOH R NH Prot COOH R=N Prot COO - ph < 3,0 H + ~ H + PI ph = 3,0-3,5 ph > 4,0 - Baixa reatividade entre cromo e a proteína Alta reatividade entre cromo e a proteína Figura-4: Reação de Amadori e consequente alteração no ponto isoelétrico da proteína 4

Com o processo compacto de condicionamento os riscos de precipitação de complexos de cromo sobre a superfície são minimizados pela hidrólise do sal de cromo e pelas características do produto condicionante. A hidrólise do sal de cromo fornece a acidez necessária para o processo, regula o ph do meio evitando a formação de complexos de cromo de basicidade elevada. O produto condicionante exerce efeito mascarante sobre o cromo, aumenta a estabilidade dos complexos de cromo formados, com conseqüente eliminação dos riscos de precipitação na faixa de ph deste novo processo. Constata-se que ao final do atravessamento tem-se um grau de fixação de cromo bastante alto, bem como o grau de curtimento, apesar do ph situar-se próximo a 3,0 (3,2-3,4). O conceito de basificação do curtimento ao cromo no processo tradicional não é o mesmo para este novo processo. A basificação no processo tradicional inicia a partir do momento que o sal de cromo tenha atravessado o corte transversal da pele, via a adição de álcalis e aquecimento. Esta etapa no processo tradicional deve ser lenta e controlada para que se atinjam características de um Wet-Blue de qualidade, evitando manchas ocasionais. No novo processo de condicionamento para curtimento, a fixação do cromo ocorre com bastante intensidade junto com o atravessamento, devido a alcalinidade e o grande número de grupos carboxílicos presentes. O ph, ao final do atravessamento situa-se próximo a faixa de 3,2 a 3,4, em função da acidez fornecida pela hidrólise dos sais de cromo. Então realiza-se o ajuste de ph até o valor desejado com formiato de sódio, bicarbonato de sódio ou carbonato de sódio. O aquecimento do sistema é indicado ao final como complementação do processo, melhorando as características do Wet Blue e o esgotamento do banho. Aplicação Prática: O processo aqui apresentado foi aplicado em escala de laboratório e industrial. Foram utilizadas para este trabalho peles em estado tripa divididas e integrais. As peles foram divididas nas espessuras de 3,0, 4,0, e 6,0 mm. Para as peles integrais padronizou-se uma espessura média entre 6,5-7,5 mm. O processo de condicionamento ocorreu conforme a formulação apresentada na tabela - 2 abaixo: Quantidade de Insumos 3,0 mm 4,0 mm 6,0 mm 7,0 mm % Total de Condicionante 5,2 5,5 6,0 6,5 % Total de sal de cromo 5,0 5,5 6,0 6,0 % Formiato de sódio 0,4 0, 5 0,6 0,7 Tabela - 1: Quantidade total de sal de cromo e condicionante ofertada, em função da espessura da pele caleada Processo Insumo Observações/Controles Lavagem 150 % Água 25 0 C 0,15% Tensoativo não-iônico R:30 Esgotar Condicionamento - I 30% Água sobra de banho X% Produto Condicionante R: 4 8 h ph = 8,5 9,0 Ø=100% Incolor com Fenolftaleína Purga 0,06 % Purga (10.000 ULV) R: 50' Lavagem 2 x 200% Água ambiente R: 15 Esgotar Condicionamento - II 30% Água sobra de banho 2% Sal (opcional) X% Produto condicionante R: 2 4 h ph = 4,8-5,2 Ø=100% corte Laranja com Indicador Universal Curtimento 30% Água ambiente X% Cromo 26/33 R: 6 12 h Ø = 100% atravessado 30% Água ambiente X% Formiato de Sódio Iniciar aquecimento até 45-50 0 C R: 2 4 h ph= 3,6-3,8 Temperatura Final : 45-50 0 C 0% de retração 1: 30 min. à 100 0 C Tabela - 2: Fórmula de aplicação onde as quantidades X % variaram de acordo com a espessura da pele. 5

Salienta-se que a utilização de produtos auxiliares como alvejantes e fungicidas pode ser efetuada de acordo com uso normal dos curtumes. O aquecimento até 45-50 0 C é efetuado dentro das condições normais, não sendo necessárias adaptações. Em laboratório foram realizados testes comparativos entre couros WB obtidos com a nova tecnologia e couros WB obtidos com formulação tradicional. Para o comparativo foram utilizadas peles integrais (6,5-7,5 mm) sendo a oferta de sal de cromo 26/33 de 6% (ver tabela - 1), no processo tradicional e no novo processo com condicionante. -Resultados comparativos, processo tradicional x novo processo de condicionamento compacto; Análise Química Referência * Valores Médios Lado Flor /Grupon Valores médios Meio/Grupon Valores Médios Carnal/Grupon Tradicional Condicion. Tradicional Condicion. Tradicional Condicion. Teor de Cr 2 O 3 % Mín. 3,5% 4,4 5,5 4,7 5,7 4,5 5,1 Cifra Diferencial Máx. 0,7 0,6 0,5 0,8 0,6 0,7 0,5 ph Mín. 3,5 3,3 3,5 3,1 3,6 3,2 3,5 Teor de Cálcio % Máx. 0,2 0,01 0,04 0,02 0,02 0,02 0,03 Subst. dérmica % Mín. 65 % 78 81 79 80 75 76 Testes Químicos Referência * Valores Médios Flor/Cabeça Valores Médios Meio/Cabeça Valores Médios Carnal/Cabeça Tradicional Condicion. Tradicional Condicion. Tradicional Condicion. Teor de Cr 2 O 3 % Mín. 3,5% 4,6 5,6 4,9 5,6 4,3 5,4 Cifra Diferencial Máx. 0,7 0,6 0,5 0,8 0,6 0,7 0,5 ph Mín. 3,5 3,4 3,5 3,3 3,6 3,3 3,5 Teor de Cálcio % Máx. 0,2 0,02 0,04 0,02 0,03 0,01 0,02 Subst. dérmica % Mín. 70 77 79 78 80 74 78 Tabela-3: Valores médios obtidos em Análise Química em camadas, das regiões cabeça e Grupon * Centro Tecnológico do Couro - Senai, Estância Velha - RS e ABNT Parâmetro Tradicional Condicionamento Cr 2 O 3 no banho 3,6 g/l 1,5 g/l Cloretos no banho 840 425 ph banho 3,6 3,6 Tabela - 4: Análise Química dos banhos ao final do processo. Os artigos realizados em cima dos WB's obtidos com a nova tecnologia atenderam as exigências e os padrões de mercado. A tabela a seguir mostra os valores médios dos testes físico-mecânicos obtidos em cima de dois artigos, napa estofamento moveleiro (1,0-1,2 mm) e semi-cromo para calçado (1,2-1,4 mm). Testes Recomendado* Napa - Estofamento Moveleiro - (1,0-1,2 mm) Cabedal - Calçado (1,2-1,4 mm) 1- Tração Tensão de Ruptura 18-25 N/mm 2 20 N/mm 2 22 N/mm 2 2- Rasgamento Progressivo Carga de Rasgamento 60-80 N/mm 70 N/mm 68 N/mm 3- Lastômetro Distensão na quebra da flor 7,0 mm 8,2 mm 7,5 mm Tabela-5: Ensaios Físico-Mecânicos em artigos realizados em cima dos WB obtidos com a nova tecnologia 6

O gráfico abaixo mostra o comparativo entre dois testes onde no primeiro terminou-se o curtimento com leve ajuste de ph até ph 3,41, apenas para atingir a temperatura de retração e o segundo sofre um ajuste maior até valor de ph 3,78. As peles foram estocadas e fez-se o acompanhamento de ph e cifra diferencial, mês a mês, por um período de seis meses. Observa-se que em ambos os casos o ph e a cifra diferencial se mantiveram constantes ao longo da estocagem. Esta estabilidade é um indicativo da eficiência do curtimento. Alterações nos valores de ph ao longo do tempo de estocagem, são evidências de que as reações de complexação do cromo não haviam sido totalmente concluídas ao final do processo de curtimento. A estabilidade do WB durante a estocagem é importante ao se buscar maior uniformização e padronização dos lotes. 3,8 ph inicial 3,78 ph inicial 3,41 3,7 3,6 Evolução do ph 3,5 3,4 3,3 3,2 3,1 3,0 0 1 2 3 4 5 6 N 0 de meses Gráfico- 3: acompanhamento da variação de ph do Wet-Blue estocado O novo processo apresentado também está sendo aplicado em escala industrial em um típico curtume de médio-porte do mercado brasileiro. Após a produção de cada lote teste realiza-se análise comparativa dos couros obtidos com a formulação utilizada rotineiramente no curtume e o novo processo. Os valores médios obtidos estão abaixo na tabela-6. -Matéria Prima: Tripa caleada dividida em 30-35 linhas - Quantidade: 4000 Kg Testes realizados em Junho de 2005 *Testes Químicos Tradicional c/ 6,0% sal de cromo 26/33 Novo processo c/ 5,2 % de sal de cromo 26/33 Teor de Cr 2 O 3 3,4 5,0 Cifra Diferencial 0,6 0,6 PH 3,7 3,7 Teor de Cálcio ND ND Tabela-6: Valores médios dos testes obtidos em curtume, *Cfe metodologia da ABNT Avaliação dos resultados: Resultados obtidos têm comprovado a total viabilidade do condicionamento compacto. Couros no estágio Wet-blue têm-se apresentado com características absolutamente normais, o mesmo valendo para artigos produzidos seja no estado semi-acabado ou acabado. 7

Considerações Finais: Em cima dos resultados obtidos concluímos que podemos oferecer com sucesso uma nova tecnologia. para a indústria curtidora: mais simplificada, limpa e segura ao operador, ao meio ambiente, ao curtidor e ao seu produto final: O Couro. Bibliografia: - Heidemann, E., Fundamentals of Leather Manufacture, Darmstadt, 1993. - Heidemann, E., XXII Congresso da IULTCS,Vol.1, 235, 1993. - Manzo, G., Chimica e tecnologia del cuio, Milão, 1998. - Manzo, G., XXVII Congresso IULTCS, 167, 2003. - Sammarco, U., XXII Congresso da IULTCS, Vol. 1, 468 - Gratacos, E., Boleda, J., Portavella, M. et al., Tecnologia Quimica del Cuero, Barcelona, 1962. - Hoinaki,E., Moreira, M.V., Kiefer, C.G., Manual Básico de Processamento do Couro, Senai/RS, Porto Alegre, 1994 - Hoinaki, E., Peles e Couros, 2 a Edição, Senai/RS, Porto Alegre, 1989 - Adzet Adzet.J.M., Química Técnica de Teneria, Igualada, 1965 - Amado, A., Varnali, T., JALCA 97, 167, 2002. - Borba, S.A.L, Peres,R.M., Weber,J.C., XXII Congresso da IULTCS, Vol.1, 55, 1993. - Covington, A.D., JALCA 96, 467, 2001. - Flôres,A.R., XXII Congresso da IULTCS, Vol. 1, 190, 1993. 8